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Adaptações morfofuncionais de indivíduos após 

programa de reabilitação cardiovascular

Adaptaciones morfofuncionales de personas luego de un programa de rehabilitación cardiovascular

Morphological and functional adaptations of individuals after cardiovascular rehabilitation program

 

Departamento de Educação Física

Unidade Acadêmica de Humanidades Ciências e Educação

Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC

Criciúma, Santa Catarina

(Brasil)

Bárbara Regina Alvarez

Tatyana Nery

Josete Mazon

Daniela Simon

Rodrigo Alvarez Cardoso

bra@unesc.net

 

 

 

 

Resumo

          Os programas de reabilitação cardíaca (PRC) são determinantes para a diminuição dos efeitos deletérios e limitantes da patologia causadas por doenças cardiovasculares. As ações realizadas nesses programas asseguram diminuir os efeitos limitantes da patologia e melhoram as condições físicas, psicológicas e sociais. Este artigo é resultado de uma pesquisa descritiva e comparativa , focado no estudo de caso, submetido e aprovado Comitê de Ética em Pesquisa da UNESC, protocolo nº 413/2011. Teve como objetivo verificar as adaptações morfofuncionais de indivíduos participantes de um PRC. Participaram da pesquisa 6 indivíduos cardiopatas, com média de idade de 57,83 anos (sd 9,09) do sexo masculino, sob tratamento farmacológico. Foram prescritos exercícios de alongamento, aeróbios a 70% RFC e resistidos (RML), com 3 sessões por semana com duração de 75 minutos. As variáveis antropométricas, neuromotoras e cardiovasculares foram comparadas após 4 meses de treinamento. Dos 6 pacientes avaliados, observou-se redução de peso e do IMC, cuja média classificava-os como Obeso Classe I, e após 4 meses de participação, os valores foram reduzidos, classificando-os como excesso de peso. Houve redução média do perímetro abdominal de 107 cm para 104 cm (p<0,05). E média do percentual de gordura de 29,03% para 25,79% (p<0,003). Observou-se aumento na flexibilidade, e força dos músculos abdominais e nas mãos. A partir dessas análises, pode-se concluir que a reabilitação cardíaca através da prática de exercícios físicos promoveu significativamente aptidão física relacionada à saúde dos indivíduos cardiopatas e deve ser incluída como uma opção de tratamento vinculado ao farmacológico.

          Unitermos: Doença cardiovascular. Reabilitação cardíaca. Exercício físico.

 

Abstract

          Cardiac rehabilitation programs (PRC) are important to reduce the evil effects and constraints of the pathology caused by cardiovascular diseases. The actions taken in these programs seek to reduce limiting effects of the condition and improve physical, psychological and social conditions. This article is the result of a descriptive and comparative, focused on case study, submitted and approved the Ethics in Research UNESC, protocol nr. 413/2011. Aimed to verify the morphofunctional adaptations of individuals participating in a CRP. Participants were 6 individuals with heart disease, with a mean age of 57.83 years (sd 9.09) males under pharmacological treatment. Were prescribed stretching exercises, aerobic and 70% RFC and resistance (RML), with 3 sessions per week lasting 75 minutes. Anthropometric, cardiovascular and neuromotor were compared after 4 months of training. Of the 6 patients, IMC and weight reduction, with an average ranking as Obesity class I, and after 4 months of participation, the values were reduced, classifying as overweight. There was a reduction of average abdominal girth of 107 cm 104 cm (p<0.05). And the average fat percentage of 29.03% to 25.79% (p<0.003). We observed increase in flexibility, and strength of abdominal muscles and hands. Cardiac rehabilitation through physical exercise significantly promoted health-related physical fitness of individuals with heart disease and needs to be included as a treatment option that is associated with the drug

          Keywords: Cardiovascular disease. Cardiac rehabilitation. Exercise.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 177, Febrero de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Embora apresente uma redução substancial na taxa de mortalidade atribuída à Doença Cardiovascular (DCV) nos últimos 30 anos, é a principal causa de morte prematura nos Estados Unidos e em outros países desenvolvidos (POLLOCK, 2003).

    No Brasil, as principais causas de óbito são as doenças cardiovasculares e a doença vascular cerebral. Estudos comprovam que a constante participação em Grupos de Reabilitação Cardíaca conduz a uma melhora da qualidade de vida e a redução da mortalidade (KEMPF & REUB, 2000).

    Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2010) a Reabilitação Cardíaca (RC) é um processo contínuo de desenvolvimento e manutenção do conjunto de mecanismos necessários para assegurar ao indivíduo melhores condições físicas, mentais e sociais, de modo que possibilite a manutenção e/ou retome suas atividades sócio-profissionais e familiares pelos seus próprios meios.

    Especialmente para a estruturação de um comportamento estável em relação à saúde. Os diversos fatores de risco cardiovasculares influenciam taxas de doença em todas as idades, mas com intensidades diferentes (LEITE, 1994).

    Um fator de risco pode associar ou desencadear um distúrbio metabólico e, desta forma, potencializar o risco cardiovascular. Quanto maior o tempo de ação de um fator de risco cardiovascular e quanto mais interações aterogênicas existirem, maior a probabilidade do desenvolvimento das doenças ateroscleróticas cardiovasculares (POLLOCK, 2003).

    Estudos comprovam que a constante participação em PRC, conduz a uma melhora da qualidade de vida e a uma redução da mortalidade. O principal objetivo dos Programas de Reabilitação Cardiovascular (PRCV) é permitir aos cardiopatas retornar, o quanto antes, à vida produtiva e ativa, a despeito de possíveis limitações impostas pelo seu processo patológico. Portanto, a RC pode ser definida como o processo de desenvolvimento e manutenção de níveis de atividade física, social e psicológica após o início da doença coronária sintomática (PULZ et al. 2006).

    Pacientes que aderem a programas de reabilitação cardíaca apresentam inúmeras mudanças hemodinâmicas, metabólicas, miocárdicas, vasculares, alimentares e psicológicas que estão associadas ao melhor controle dos fatores de risco e à melhora da qualidade de vida (CARVALHO et al. 2011).

    O treinamento físico tem sido o componente mais visível dos PRCV durante as três últimas décadas. Melhora extra do sistema de transporte de oxigênio da maioria dos pacientes com DAC ocorre com o treinamento físico habitual e pode ser verificado diretamente através da medida do VO2máx (POLLOCK, 2003).

    A magnitude e o tipo da resposta cardiovascular dependem das características do exercício executado, ou seja, o tipo, a intensidade, a duração e a massa muscular envolvida (BRUM et al. 2004).

    A prática regular de exercícios aeróbios é capaz de proporcionar benefícios cardiorrespiratórios, motores e psicossociais (NUNES, 2010).

    Entre outros benefícios como redução do percentual de gordura corporal, manutenção e/ou aumento da massa magra, maior disposição para atividades do cotidiano bem como redução do estresse e melhora da autoestima (POLLOCK, 2003).

Metodologia

    Estudo descritivo, com caráter comparativo, participaram voluntariamente da amostra 6 pacientes cardíacos, com idade superior a 48 anos, pertencentes ao grupo de Prevenção Secundária de Doenças Cardiovasculares da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC de Criciúma, SC.

    Este estudo foi registrado no CONEP, Comissão Nacional de Ética em Pesquisa e encaminhado ao CEP - Comitê de Ética e Pesquisa – UNESC, e recebido o aceite sob o número 413/2011. Os indivíduos foram avaliados pré-participação no programa, e após quatro meses de participação no mesmo. Os critérios de inclusão considerados foram: assiduidade mínima de 75% nas seções de exercício físico; apresentação de atestado médico de cardiologista; apresentação de teste de esforço e eletrocardiograma. Foram excluídos os pacientes que possuíam qualquer condição aguda ou crônica no seu estado clínico, que comprometesse ou impedisse a prática dos exercícios físicos supervisionados.

    A prescrição do exercício foi individual, com frequência de três vezes por semana e duração de 75 minutos por sessão. Foram prescritos exercícios de alongamento, aeróbios a 70% da frequência cardíaca de reserva (FCR), segundo Karvonen (CUNHA, 2006) e exercícios resistidos (RML). A antropometria foi realizada através do peso, estatura (m) foi utilizado um estadiômetro (Cardiomed), a circunferência da cintura, abdome e quadril foi mensurada por meio de uma fita métrica flexível (Mabbis Gulick) e as dobras mensuradas com um Plicômetro Científico Premier (Cescorf) foram aferidas as dobras: subescapular, tríceps, supra-ilíaca e panturrilha medial. O percentual de gordura corporal foi calculado através da equação: %G = (495/D(g/ml)) – 450 onde, D= densidade corporal. A densidade corporal foi estimada através da equação de Petroski, 1995 (PETROSKI, 2007).

    D= 1,10726863 - 0,00081201(x4) + 0,00000212(x4)2 – 0,00041761(ID) para homens, onde x4 = somatório das dobras cutâneas (subescapular, tríceps, supra-ilíaca e panturrilha medial).

    Para avaliar a flexibilidade foi utilizado o teste de sentar e alcançar, no Banco de Wells (PITANGA, 2008). Para avaliar a força/resistência dos músculos da região abdominal foi utilizado o teste abdominal modificado (NAHAS, 2006). Para verificar a força de membros superiores, foi utilizado o teste de preensão manual, com dinamômetro de mão (Smedley).

    Os procedimentos e classificação seguiram os parâmetros sugeridos por Guedes (2006). Um dos critérios de inclusão para avaliação da aptidão cardiorrespiratória deste estudo foi à realização de um eletrocardiograma (ECG) de esforço para estratificação de risco e inclusão dos indivíduos e no programa foi realizado o teste de 6 minutos (T6). Utilizou-se para cálculo do valor previsto, ou de referência as equações propostas por Enright e Sherril (MOREIRA, 2011) determinando-se o percentual previsto para cada teste realizado:

Homens: dist. T6 (m) = (7,57 x altura cm) – (5,02 x idade) – (1,76 x peso) – 309 m

    Considerou-se melhora do teste da caminhada um incremento de 54m em relação ao teste pré-treinamento Redelmeier (MOREIRA, 2001). Os dados foram tabulados e calculados as freqüências absolutas e relativas, médias e desvio-padrão e os resultados apresentados por meio de tabelas e gráficos. Para identificar melhoras nos resultados pós-programa utilizou-se o teste t de Student com nível de significância de p<0,05.

Resultados e discussão dos dados

    A amostra selecionada para este estudo foi formada por 6 indivíduos do gênero masculino, com media de idade 57,83 anos, hipertensos e com acometimentos cardiovasculares que já passaram por um procedimento cirúrgico mais de uma vez (revascularização miocárdica e angioplastia) que os caracteriza como um grupo de alto risco e podem vir a sofrer um segundo evento cardíaco.

Quadro 1. Caracterização dos participantes do PRCV

    O quadro 1 mostra a caracterização dos participantes, pré e pós-programa, com a média e desvio padrão, média mínima e máxima dos respectivos valores. Pode-se observar que a média dos valores de IMC de 30,35 kg/m2, no início do programa, classificava-os como Obeso Classe I, com Risco Moderado a complicações cardiovasculares. Após quatro meses de participação, os valores de IMC diminuíram para 29,97kg/m2 (p<0,030), classificando-os “ainda” com Excesso de Peso e Risco Aumentado, porém, a diminuição desses valores encontra-se mais próximo da normalidade e a continuidade no programa é fundamental para estes indivíduos atingirem a meta de IMC < 25 kg/m2. A média do perímetro do abdômen de 107 cm diminuiu para 104 cm (p<0,05) e a média do percentual de gordura de 29,03% para 25,79% (p<0,003), diminuição estatisticamente significativa

Figura 1. % de Gordura Corporal

    A figura 1 mostra o % de gordura corporal pré e pós PRCV. Pode-se observar mudança estatisticamente significativa (p<0,003). A diminuição do % de gordura é um dos objetivos do PRCV, pois é uma importante variável da composição corporal, relacionada com os fatores de risco modificáveis.

Quadro 2. Variáveis Neuromotoras

    O quadro 2 mostra as variáveis neuromotoras, avaliadas nos testes de flexibilidade e resistência muscular localizada de abdômen pré e pós PRCV. Pode-se observar que houve aumento significativo em ambas as variáveis. Houve aumento nas variáveis de força de membros superiores: mão direita e mão esquerda, porém não foram significativos. Tal fato pode estar associado ao tipo de treinamento que foi de RML e não de força. O desenvolvimento da flexibilidade proporciona melhoras importantes na capacidade funcional para a realização das atividades diárias e autonomia, descrevendo assim a importância das atividades realizadas para manutenção e melhora dessa capacidade física.

Quadro 3. Análise descritiva do T6

    O quadro 3 mostra a análise descritiva da distância percorrida no T6, no inicio e final do PRCV. Observou-se aumento significativo na distância caminhada no T6 após o programa (p<0,05). De acordo com Regenga et al. (2000) esta melhora na capacidade funcional está relacionada com uma maior extração, transporte e utilização de O2 pelo músculo (VO2máx), devido à maior densidade dos capilares. A diminuição da FC e PAS possibilita a realização de maior quantidade de trabalho, antes de atingir o limiar de angina e/ou alterações do segmento ST, apresentando assim uma maior tolerância ao esforço, e menor consumo de O2 pelo miocárdio por atividade realizada.

Figura 2. Velocidade Média de Caminhada em Esteira

    A figura 2 mostra a velocidade média atingida pelos participantes durante caminhada em esteira ergométrica pré e pós PRCV. Pode-se observar que houve um aumento significativo na velocidade da esteira para a mesma FC de exercício (RFC). Este ajuste na capacidade aeróbia também foi descrito no estudo realizado por Monteiro (2007).

Considerações finais

    Remetendo aos objetivos do proposto estudo, quanto às variáveis antropométricas observou-se redução significativa (p< 0,05) do peso, IMC, perímetro abdominal e percentual de gordura. Nas variáveis neuromotoras, houve aumento significativo nas variáveis relacionadas à flexibilidade, resistência muscular localizada e aumento nas variáveis de força de membros superiores, porém não foram significativas.

    Quanto ao teste utilizado para identificar a condição cardiovascular observou-se um incremento médio de 73.65 metros, o que demonstra uma melhora do sistema cardiovascular.

    Durante 4 meses de exercício físico de um PRCV, e a partir dos resultados da pesquisa pode-se concluir que a prática de exercícios físicos supervisionados promoveu significativamente aptidão física relacionada à saúde dos indivíduos cardiopatas e deve ser incluída como uma opção de tratamento vinculado ao tratamento farmacológico.

Referências bibliográficas

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  • NAHAS, M.V. Atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos, sugestões para um estilo de vida ativo. 4.ed. Londrina: Midiograf, 284p, 2006.

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  • PETROSKI, E.L. Antropometria: técnicas e padronizações. 3.ed. Blumenau, SC: Nova Letra, 2007. 182p.

  • PITANGA, F.J.G. Testes, medidas e avaliação em educação física e esportes. 5.ed. São Paulo: Phorte, 2008.

  • POLLOCK, Michael; DONALD, Schmidt. Doença cardíaca e reabilitação. 3. ed. Revinter: Rio de Janeiro, 2003.

  • REGENGA, M.M. Fisioterapia em cardiologia: da unidade de terapia intensiva à reabilitação. São Paulo: Roca, 2000.

  • PULZ, C. et al. Fisioterapia em cardiologia: aspectos práticos. São Paulo: Editora Atheneu, 2006.

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