A brincadeira como recurso
precursor El juego como recurso precursor del desarrollo motor de los niños |
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Graduandas em Educação Física pela Faculdade de Ciências e Tecnologia, UNESP (Brasil) |
Ricarla Avanzini Rampazzi Thais Negrizolli Lemes |
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Resumo Em grande parte das sociedades contemporâneas, a infância é marcada pelo brincar, nesse sentido, não cabe mais caracterizar a brincadeira como perda de tempo. Com o advento da tecnologia, o tempo que antes era destinado às brincadeiras mais tradicionais, vem sendo aos poucos ocupado pelos jogos eletrônicos. No entanto, as crianças, nos primeiros anos de vida, necessitam de vivências que explorem suas habilidades motoras fundamentais. Nesse sentido, o presente artigo apresenta algumas considerações a respeito da brincadeira como recurso precursor do desenvolvimento motor das crianças. A metodologia, de caráter qualitativo, fez uso do estudo bibliográfico como suporte metodológico. A partir da literatura estudada, concluímos que as brincadeiras contribuem significativamente na aquisição das habilidades motoras básicas das crianças. Unitermos: Criança. Brincadeira. Desenvolvimento motor.
Abstract In a big part of contemporary societies, childhood is marked by playing, therefore, no longer have fits characterized the play as a waste of time. With the advent of technology, the time before that was destined to play more traditionally, is being gradually occupied by video games. However, children, in the early years of life, need experiences that explore their fundamental motor skills. So, this paper presents some considerations about the game as precursor resource of motor development of children. The methodology, qualitative, made use of bibliographic and methodological support. From the studied literature, we can conclude that the plays contribute significantly in the acquisition of basic motor skills of children. Keywords: Children. Play. Motor development.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 177, Febrero de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Este artigo tem como objetivo compreender a importância da brincadeira no desenvolvimento motor das crianças. Partiu da problemática de que as brincadeiras tradicionais vêm perdendo espaço para os jogos eletrônicos, com isso, os aspectos motores ficam relegados a segundo plano.
Nesse sentido, foi elaborado um levantamento bibliográfico da temática, apontando algumas considerações da importância da brincadeira na primeira infância e as contribuições que ela acarreta na formação dessas.
Issa, Rodrigues e Oliveira (2009) apontam que, muitas das definições que se dão sobre o brincar incluem a ideia de uma experiência que proporciona somente o prazer, sem um produto final. No entanto, para Amorim (2008) a criança quando brinca se prepara para aprender novos conceitos e novas informações.
Com o avanço da tecnologia, percebe-se que as brincadeiras tradicionais, como esconde-esconde, amarelinha, pular corda, pega-pega, mãe da rua, que já fizeram parte de muitas gerações, vem sendo aos poucos substituídas pelos jogos eletrônicos. É sabido que a convivência com esses novos produtos vem se tornando cada vez mais comuns, porém, esses não devem se tornar a única forma das crianças vivenciarem a cultura lúdica.
A criança necessita da convivência com atividades que explorem suas habilidades motoras fundamentais. Nesse sentido, as instituições educacionais, principalmente aquelas que atendem as crianças no período da Educação Infantil e Ensino Fundamental Ciclo I, juntamente aos professores de Educação Física, apresentam-se como primordiais para que essas atividades sejam trabalhadas, visto que é nessa fase que ocorrem as mudanças mais acentuadas na vida das crianças, principalmente no que diz respeito à dimensão motora.
Metodologia
A metodologia adotada apresenta caráter qualitativo, tendo o estudo bibliográfico como suporte metodológico.
Como relata Gil (2008) a pesquisa bibliográfica é elaborada a partir de materiais já publicados e originais, a fim de que utilizando de conhecimentos já existentes, obtenham-se novas contribuições.
Para a autora acima, este tipo de pesquisa permite que o pesquisador interaja durante todo o processo como sujeito ativo, pois os processos de interpretação e análise dos conhecimentos pré-existentes se dão com o propósito de buscar soluções para os problemas.
Os estudos da presente pesquisa ocorreram a partir do levantamento, análise e interpretação de artigos, livros e dissertações do período de 1995 a 2009, buscados a partir das palavras chave criança, brincadeira e desenvolvimento motor.
Revisão de literatura
No entendimento de Queiroz, Maciel e Branco (2006, p. 169), “em grande parte das sociedades contemporâneas, a infância é marcada pelo brincar”, fazendo-se assim, parte da história e da cultura da humanidade (SILVA e SANTOS, 2009).
No entanto, Issa, Rodrigues e Oliveira (2009) apontam que, muitas das definições que se dão sobre o brincar incluem a ideia de uma experiência que proporciona somente o prazer, sem um produto final. Rodrigues (2009) vem completar que, para as crianças, a brincadeira além de proporcionar satisfação, é uma forma no qual elas interagem com os adultos e com outras crianças, e a partir disso, se apropriam criativamente de formas de ação social tipicamente humana e de práticas sociais específicas dos grupos aos quais pertencem, aprendendo assim, sobre si mesmas e sobre o mundo em que vivem.
Nesse sentido, salienta Fritzen (1995), que a brincadeira não deve ser vista como uma perda de tempo, pois para a criança, o brincar é a coisa mais séria do mundo, sendo tão necessária ao seu desenvolvimento quanto o alimento e o descanso.
Assim como descreve Amorim (2008), a criança quando brinca se prepara para aprender novos conceitos e novas informações. Veiga e Casteleins (2006), após observações realizadas com crianças na faixa da Educação Infantil, puderam constatar que as crianças apresentam maior facilidade de desenvolver diferentes atividades após as terem vivenciado com o corpo, salientando assim, a importância da brincadeira no desenvolvimento integral das crianças. Nesse sentido, compreende-se que por meio das brincadeiras, as crianças se desenvolvem em diferentes dimensões: cognitiva, afetiva, motora, linguística, ética, estética e sociocultural. Contudo, o artigo que segue se aterá no que diz respeito ao desenvolvimento motor.
Ao entrarmos na questão das mudanças referidas ao comportamento motor, surge o embate referente às perspectivas que levam em consideração os aspectos maturacionais, e as perspectivas que consideram as mudanças no desenvolvimento motor a partir de um sistema dinâmico. Isayama e Gallardo (1998), a partir de levantamentos de vários estudos referentes às duas perspectivas citadas, concluíram que apesar de os estudos apontarem bastante influência da perspectiva maturacional, ou seja, a perspectiva que leva em conta as fases do desenvolvimento das habilidades motoras, faz-se necessário considerar a efetiva participação dos estímulos externos como o meio ambiente físico e social dos indivíduos na aquisição das habilidades motoras.
Para Summers (1989, 1992) apud Tani (2005), embora reconhecendo que haja profundas diferenças entre as duas perspectivas, elas caminham mais num sentido de aproximação do que uma maior polarização, visto o número crescente de pesquisas incorporando ideias de ambas as posições.
Partilhando do conhecimento acima, buscamos compreender o papel que as brincadeiras, entendida por nós como um estímulo externo, exercem na aquisição do desenvolvimento motor das crianças, sem desconsiderar, contudo, a influência do processo maturacional nesse desenvolvimento.
O processo entendido como desenvolvimento motor revela-se basicamente por alterações que ocorrem no movimento do ser humano ao longo de sua vida (TANI, 2005). Todos nós, desde bebes a adultos, estamos envolvidos em um processo contínuo de aprendizagem motora, “em reação aos desafios que enfrentamos diariamente em um mundo em constante modificação” (GALLAHUE e OZMUN, 2005, p.55).
Para os autores supracitados, esse processo pode ser observado através de fases ou estágios, sendo elas: fase motora reflexa, fase de movimentos rudimentares, fase de movimentos fundamentais e fase de movimentos especializados. A fase motora reflexa é caracterizada por movimentos involuntários, no qual a partir da atividade reflexa o bebê obtém informações que os auxiliam a compreender mais sobre si e o mundo exterior. A fase de movimentos rudimentares é caracterizada por movimentos voluntários, no qual o bebê desempenha atividades necessárias a sua sobrevivência, como controle da cabeça, pescoço e músculos do tronco, tarefas manipulativas como agarrar, alcançar e soltar, além dos movimentos locomotores como arrastar-se, engatinhar e caminhar. A fase de movimentos fundamentais corresponde a uma etapa no qual os conhecimentos adquiridos na fase rudimentar serão mais exploradas pelas crianças, com isso, as tarefas manipulativas, locomotoras e estabilizadoras serão ajustadas. Por fim, a fase de movimentos especializados vão ao encontro de refinar as tarefas aprendidas anteriormente.
Para Isayama e Gallardo (1998), dentre as fases descritas anteriormente, a mais importante é a fase de movimentos fundamentais, pois é nessa em que ocorrem as mudanças mais significativas no aprendizado motor das crianças. Essa fase corresponde ao período em que as crianças estão frequentando o ensino infantil e o ensino fundamental ciclo I, que por sua vez, trazem em seu currículo, a brincadeira como um dos eixos norteadores. Nesse sentido, a brincadeira aparece como um dos recursos para que os movimentos fundamentais: locomotores (correr e pular), manipulativos (arremessar e apanhar) e estabilizadores (andar com firmeza e equilíbrio) sejam estimulados e apurados.
Como vimos, o brincar apresenta-se como uma das atividades que caracterizam a infância. Porém, o que se percebe atualmente, é que as crianças vêm se distanciando do convívio com as brincadeiras tradicionais.
Nos últimos anos tem sido notável a mudança na cultura lúdica da criança. Atualmente, a cultura lúdica está sendo direcionada constantemente para o domínio de objetos. De certa forma a cultura lúdica evoluiu, devido à chegada de novos brinquedos (RODRIGUES, 2009, p. 26).
A cultura lúdica infantil vem sendo modificada, principalmente influenciada pelo avanço tecnológico (RODRIGUES, 2009). Surgiram novos brinquedos, como os jogos eletrônicos e os videogames. A enormidade de aparelhos eletrônicos, como os celulares, smartphones, Ipad, Iphones e tablets são muitas, e vem atraindo olhares do público infantil, com isso, as brincadeiras que são desenvolvidas nas ruas em coletividade, geralmente transmitidas de geração para geração, vem aos poucos sendo substituídas (RODRIGUES, 2009).
Stabelini Neto et al. (2004), ao elaborarem um estudo com 80 crianças, sendo 40 de cada sexo (feminino e masculino), na faixa entre os 6 e 7 anos de idade a respeito da influencia dos fatores ambientais no desenvolvimento motor dessas, demonstraram que ambos os sexos utilizam diariamente o computador e a televisão, no qual em média 43% das crianças ficam de 1 a 2 horas na frente da televisão, e 51%, utilizam o computador de 0 a 1 hora. Esses aparelhos podem contribuir no “desenvolvimento de inúmeras capacidades da criança, porém os aspectos motores nessas atividades ficam relegados a segundo plano” (STABELINI NETO et al. 2004, p. 138). É notório que o convívio com esses novos produtos vem se tornando cada vez mais corriqueiro, porém, esses não podem se tornar a única forma de se vivenciar o lúdico.
Resultados e discussão
O presente estudo possibilitou perceber o quanto é importante se desenvolver um trabalho baseado em brincadeiras na Educação Infantil e Fundamental Ciclo I, visto o valor que essas apresentam no desenvolvimento motor das crianças nos primeiros anos de vida. Como é nessa faixa etária em que os movimentos fundamentais (correr, pular, arremessar, apanhar e equilibrar) estão sendo apurados, torna-se necessária uma intervenção orientada, para que essas ocorram de forma construtiva.
Ao encontro disso, a área da educação física e o professor assumem um papel relevante para o desenvolvimento dessas crianças, pois através da observação, estimulação das habilidades motoras fundamentais por meio de brincadeiras, propiciará que as crianças explorem seu próprio corpo, interaja com os outros e reproduzam situações reais, gerando novas aprendizagens.
O professor de educação física pode além de contribuir com o desenvolvimento das crianças, auxiliar no processo de interação entre o meio ambiente o que permitirá as crianças melhor compreensão de seu próprio corpo em relação às brincadeiras da cultura popular.
Como constatamos, as brincadeiras podem desenvolver diferentes habilidades, porém, é imprescindível que essas façam parte de um processo de formação que respeite a individualidade da criança e o nível de aptidão em que ela se encontra. Dessa forma, cabe aos professores de Educação Física estar atentos a esses fatores a fim de que as atividades sejam direcionadas de forma coerente.
Considerações finais
A partir da literatura estudada para a construção do presente artigo, notamos a importância que a brincadeira exerce no sentido de promover o desenvolvimento motor das crianças.
A infância é marcada pelo brincar, sendo isso o que de mais sério a criança faz, e é a partir dele e da interação com seus pares que são promovidas novas situações de aprendizagens. É nessa fase da primeira infância em que ocorrem as mudanças mais acentuadas nas crianças, principalmente em relação ao desenvolvimento das habilidades motoras básicas.
Porém, com o avanço da tecnologia as brincadeiras tradicionais vêm perdendo espaço. Nesse sentido, as instituições educacionais, principalmente as de Educação Infantil e as de Ensino Fundamental Ciclo I, juntamente aos professores de Educação Física exercem um papel fundamental na vida das crianças, pois, a partir da disponibilização de espaços adequados e vivências de diferentes atividades, estas contribuirão significativamente no desenvolvimento motor dessas crianças.
Referências
AMORIM, E. R. Jogos, Brinquedos e Brincadeiras no Desenvolvimento da Criança Disléxica. Disponível em: http://www.crda.com.br/tccdoc/17.pdf. Acesso em: 15 set. 2012.
EDUCERE, 2006, Curitiba. A Contribuição do Jogo para o Desenvolvimento Motor da Criança de Educação Infantil. Curitiba: Educere, 2006.
FRIETZEN, S, J. Dinâmicas de Recreação e Jogos. Ed. Petrópolis. 1995.
GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C.. Compreendendo o Desenvolvimento Motor: Bebês, Adultos, Adolescentes e Adultos. São Paulo: Editora Phorte, 2005.
GIL, A, C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4. Ed. São Paulo, SP: Atlas, 2008.
ISAYAMA, H. F.; GALLARDO, J. S. P. Desenvolvimento Motor: Análise dos Estudos Brasileiros sobre Habilidades Motoras Fundamentais. Revista Da Educação Física/UEM, Maringá, n. 1, p. 75-82, 1998.
ISSA, D. C.; RODRIGUES, N. A. B.; OLIVEIRA, R. M. S. G. de. O Brincar: A Importância do Brincar Utilizando a Sucata com Crianças Institucionalizadas de 0 a 6 Anos. Disponível em: http://www.unisalesiano.edu.br/encontro2009/trabalho/aceitos/PO22791271805.pdf. Acesso em: 12 ago. 2012
QUEIROZ, N. L. N. de; MACIEL, D. A.; BRANCO, A. U. Brincadeira e Desenvolvimento Infantil: Um Olhar Sociocultural Construtivista. Paidéia, 2006, 16(34), 169-179.
RODRIGUES, L. M. A criança e o brincar. Disponível em: http://www.ufrrj.br/graduacao/prodocencia/publicacoes/desafios-cotidianos/arquivos/integra/integra_RODRIGUES.pdf. Acesso em: 08 ago. 2012.
SANTOS, S.; DANTAS, L.; OLIVEIRA, J. A. de. Desenvolvimento Motor de Crianças, de Idosos e de Pessoas com Transtornos da Coordenação. Disponível em: http://www.luzimarteixeira.com.br/wp-content/uploads/2010/05/desenvolvimento-motor-e-transtornos-de-coordenacao.pdf. Acesso em: 20 ago. 2012.
SILVA, A. F. F. da; SANTOS, E. C. M. dos. A Importância do Brincar na Educação Infantil. Disponível em: http://www.ufrrj.br/graduacao/prodocencia/publicacoes/desafios-cotidianos/arquivos/integra/integra_SILVA%20e%20SANTOS.pdf. Acesso em: 08 ago. 2012.
STABELINI NETO, A. et al. Relação Entre Fatores Ambientais e Habilidades Motoras Básicas em Crianças de 6 e 7 Anos. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, São Paulo, n. 3, p.135-140, 2004.
TANI, G. (Ed.). Comportamento Motor: Aprendizagem e Desenvolvimento. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan S. A., 2005.
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