Influência do treinamento de
natação na ocorrência La influencia del entrenamiento de la natación en la aparición de lesiones y desviaciones posturales Influence of swim training on the occurrence of injuries and postural deviations |
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*Professor Mestre em Educação Física - Universidade Federal de Santa Catarina Pesquisador colaborador do Laboratório de Biomecânica, Centro de Desportos. Florianópolis, SC **Professora Mestre em Educação Física - Universidade Federal de Santa Catarina Pesquisadora colaboradora do Laboratório de Biomecânica, Centro de Desportos. Florianópolis, SC ***Professora Doutora em Engenharia de Produção. Universidade Federal de Santa Catarina Laboratório de Biomecânica, Centro de Desportos, Florianópolis, SC Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Campus Universitário da Trindade (Brasil)
| Julio Francisco Kleinpaul* Luana Mann** Saray Giovana dos Santos***
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Resumo Introdução: O objetivo deste estudo foi analisar características relacionadas à ocorrência de lesões (mecanismo da lesão, tipo, local de ocorrência, freqüência de cada lesão) em atletas de natação, bem como verificar se o histórico de lesões é influenciado pelo tempo de prática e volume de treinamento, e se este tem relação com desvios posturais. Método: Participaram deste estudo 20 nadadores, 10 homens e 10 mulheres, praticantes de natação pelo menos três vezes por semana, por pelo menos um ano. Estes atletas foram divididos em dois grupos: grupo um (G1) formado por 12 nadadores que sofreram lesões relacionadas a prática de natação; e grupo dois (G2) composto por 8 atletas que não tiveram lesões. Para obter as informações sobre o histórico de lesões dos atletas, um questionário foi adotado. Foi verificado o alinhamento postural utilizando um protocolo específico para conferir as alterações posturais. Resultados: Ambos os grupos mostraram mudanças no alinhamento corporal. Os maiores desvios posturais encontrados foram no alinhamento horizontal da cabeça em relação a C7 e no alinhamento vertical da cabeça em relação ao acrômio em ambos os grupos. Considerando as lesões no G1, as mais freqüentes foram igualmente entorse e tendinopatia e as regiões mais afetadas foram igualmente o ombro e o tornozelo. O mecanismo responsável pela maioria das lesões foi a braçada. Conclusão: O tempo de prática e o volume de treinamento semanal não apresentaram associação significativa com o histórico de lesões, assim como a presença de desvios posturais não teve relação com o histórico de lesões. Unitermos: Lesão. Treinamento. Postura. Natação.
Abstract Introduction: The aim of this study was examined characteristics related to occurrence of injury (mechanism of injury, type, place of occurrence, frequency of each injury) in athletes from swimming, to verify the report of injury is influenced by the time of practice and volume of training, and if this is related to postural deviations. Method: The study included 20 swimmers, 10 men and 10 women, practitioners of swimming at least three times per week for at least a year. These athletes were divided into two groups: one group (G1) comprised of 12 swimmers who have suffered injuries related to swimming practice, and group two (G2), consisting of eight athletes who had no injuries. For obtain the information on the history of injuries of athletes, a questionnaire was adopted. Postural alignment was verified using a specific protocol to check the postural alterations. Results: Both groups showed changes in body alignment. The highest postural deviations found were in horizontal alignment of the head in relation to C7 and the vertical alignment of the head relative to the acromion in both groups. Whereas lesions in G1, were the most frequent injuries were sprains and tendinopathy equally and regions most affected were the shoulder and ankle equally. The mechanism responsible for most of the injuries was the stroke. Conclusion: The time of practice and volume of weekly training showed no significant association with a history of injuries, as well as the presence of postural deviations was not related to the history of injuries. Keywords: Injury. Training. Posture. Swimming.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 176, Enero de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A natação como esporte competitivo implica para o atleta volumes elevados de tempo e carga de treinamento. Tais níveis de exigência geram um estresse considerável sobre as estruturas articulares e musculoesqueléticas do indivíduo, as quais se associam a uma variada gama de lesões (ARAYA, 2000; OSAWA; ANDRIES JÚNIOR, 2003).
Os nadadores, assim como os praticantes de voleibol e pólo aquático, encontram-se no grupo de atletas que exercem atividades físicas repetitivas com a mão acima do nível da cabeça. Este tipo de movimento proporciona alterações particulares na biomecânica da articulação glenoumeral, incluindo a discinesia e o desequilíbrio das forças musculares, hipertrofiando os grupos dos rotadores internos e adutores, com fadiga da musculatura dos rotadores externos e abdutores, que agem como antagonistas (AGUIAR, 2008).
Nadadores têm maior amplitude de movimento de ombro que não nadadores (BEACH; WHITNEY; HOFFMAN, 1992). Comparado com nadadores recreacionais, nadadores de elite têm maior hipermobilidade das articulações em geral e hiper frouxidão da articulação glenoumeral (ZEMEK; MAGEE, 1996). Não há um consenso se isto é um fator adquirido ou uma condição inerente. Porém, esta flexibilidade é imperativa para se atingir a elevação e rotação extrema do ombro exigida para alcançar uma boa posição para nadar rapidamente (BLANCH, 2004). Na natação, os atletas realizam amplitudes extremas de movimento, especialmente na cintura escapular (YANAI; HAY, 2000), e eles também devem ser capazes de realizar estas posições com o menor custo mecânico (sem ter que aplicar força para isso) (BLANCH, 2004).
De acordo com Carazzato, Campos e Carazzato (1992) a necessidade da evidência e do sucesso impõe aos atletas uma necessária e inevitável condição em que são submetidos a esforços físicos e psíquicos muito próximos de seus limites fisiológicos, expondo-os conseqüentemente a uma faixa de atividade física potencialmente lesiva, que é agravada pela predisposição, pela somatotipologia, pela dinâmica do esporte, resultando em um alto número de lesões atléticas, principalmente do aparelho locomotor, com gravidade variada e sequelas, muitas vezes limitantes ou incapacitantes.
As exigências do treinamento intenso e repetitivo comum em esportes de rendimento têm conduzido além de alta incidência de lesões a uma hipertrofia muscular e diminuição da flexibilidade, desequilibrando as capacidades físicas dos músculos agonistas e antagonistas, favorecendo a ocorrência de mudanças posturais, dores lombares e até mesmo fraturas (YANAI; HAY, 2000; CARAZZATO; CAMPOS; CARAZZATO, 1992). Quando isso ocorre o atleta sofre um processo de adaptação orgânica, como desvios posturais e alterações musculoesqueléticas, que resulta em efeitos deletérios para a postura, o que, adicionado a gestos específicos da modalidade e erros na técnica de execução dos movimentos pode aumentar a prevalência de lesões durante os exercícios (RIBEIRO, 2003; DETANICO, 2008).
Deste modo, tendo-se em vista a relevância do tema e as limitações que as lesões poderão provocar em atletas de diferentes modalidades esportivas, bem como a importância da tomada de medidas preventivas, e o conhecimento dos principais desvios posturais, para este estudo delimitou-se as seguintes questões a serem investigadas: quais são as características das lesões e os principais desvios posturais em atletas de natação, e existe relação entre a ocorrência de lesões e desvios posturais?
Para responder as questões do estudo objetivou-se analisar características relacionadas à ocorrência de lesões (mecanismo da lesão, tipo, local de ocorrência, freqüência de cada lesão), bem como verificar se o histórico de lesões é influenciado pelo tempo de prática e volume de treinamento, os principais desvios posturais nos atletas e a possível relação entre as lesões e os desvios posturais, em atletas de natação.
Materiais e métodos
Participaram deste estudo descritivo, de forma voluntária, 20 nadadores de uma equipe de natação da cidade de Santa Maria/RS, 10 homens e 10 mulheres, selecionados de forma não-probabilística intencional. Este estudo foi aprovado pelo comitê de ética da instituição na qual foi desenvolvido, sob número de protocolo 23081.007411/2007-53, sendo cumpridos os princípios éticos contidos na declaração de Helsinque, além do atendimento a legislação vigente.
Os critérios para participação no estudo foram:
Praticar natação por pelo menos um ano;
Freqüência mínima de treinamento de três vezes por semana;
Volume de treinamento semanal mínimo de 8.000 m.
A coleta dos dados foi realizada nas dependências do Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal de Santa Maria, com a presença de atletas que treinam na equipe de natação desta instituição e que participam de competições estaduais e nacionais.
Para obter as informações sobre o histórico de lesões foi utilizado um questionário, adaptado do formulado por Santos, Piucco e Reis (2007), o qual foi aplicado diretamente com os atletas em dias e horários previamente agendados, após assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. A análise retrospectiva foi referente a temporada de 2009.
A definição de lesão utilizada no estudo foi proposta por Schmidt-Olsen et al. (1991) e por Junge, Chomiak e Dvorak (2000), sendo esta qualquer acontecimento ocorrido durante competições ou treinos do clube, com redução ou afastamento completo da participação dos atletas nas atividades esportivas, ou que requerem tratamento especial para que ele continue competindo.
Todas as lesões foram classificadas de acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID) e foram descritas em relação à natureza (mecanismo da lesão), localização e gravidade (dada pelo tempo de afastamento de competições ou treinos). Estes atletas foram divididos em dois grupos: o grupo um (G1) foi formado por 12 nadadores que sofreram lesões relacionadas a prática de natação; e o grupo dois (G2) composto por 8 atletas que não tiveram lesões.
A coleta dos dados posturais foi feita por fotografia digital, com câmera PowerShot A590 IS da marca Canon com resolução de 8.0 mega pixels com utilização de flash e sem utilização de zoom. A câmera foi posicionada a dois metros de distância da amostra e a um metro de altura do chão. A máquina digital ficou perpendicular ao indivíduo evitando erros de paralaxia, e as fotos foram tiradas no plano frontal, vista posterior e plano sagital, vista lateral direita. Foi colocado um fio de prumo perpendicular ao chão, sendo utilizado 1 m de seu comprimento para a calibração da foto.
A avaliação da postura foi realizada por meio de análise computadorizada de fotografias baseada no protocolo de avaliação SAPO – software de avaliação postural – Fapesp (2003). Foram afixados marcadores semi-esféricos nos pontos anatômicos, avaliados por palpação, e preconizados pelo software para a avaliação, sendo que o pesquisador que realizou as marcações anatômicas foi o mesmo que analisou as imagens, sendo que a avaliação seguiu a seqüência pré estabelecida pelo software.
As análises estatísticas foram feitas utilizando-se o pacote estatístico SPSS for Windows versão 15 (SPSS Inc., Chicago IL, EUA). A fim de verificar se os dados possuíam distribuição normal, aplicou-se o teste de Shapiro-Wilk, o qual comprovou a normalidade dos mesmos. Para comparar os grupos com e sem lesão em relação aos desvios posturais utilizou-se o teste-t de Student. Para verificar a associação entre tempo de prática e ocorrência de lesões e entre volume de treinamento e ocorrência de lesões, utilizou-se o teste Qui-quadrado. Todos os testes apresentam nível de significância de 0,05.
Resultados
Os 20 nadadores avaliados possuíam as seguintes características, média de idade de 26,4±10,2 anos, massa corporal média de 70,9±15,9 kg e estatura corporal média de 1,72±0,13 m e volume de treino semanal médio de 10.500 ± 3.500 m.
Referindo-se ao tempo de experiência de prática, a maioria dos atletas possui uma duração que excede 4 anos; a mais baixa freqüência está situada entre um e dois anos (5/20) e a mais alta maior ou igual a um período de sete anos, somando 10/20. Todos os atletas declararam que treinam entre três e cinco dias por semana dentro de intervalos que variam diariamente de uma a uma hora e meia.
Em relação ao estilo de nado competido pelos atletas, o nado crawl foi o mais freqüente (8/20), seguido por crawl/costas (3/20), crawl/peito (2/20), peito (2/20), crawl/peito/borboleta (2/20), crawl/borboleta (1/20), crawl/peito/medley (1/20), e crawl/costas/peito/borboleta/medley (1/20).
Para todo o histórico de lesões dos atletas, oito nadadores nunca apresentaram lesões; quatro apresentaram apenas uma lesão; e os demais apresentaram duas lesões ou mais. Relativo às lesões que ocorreram durante o período da última temporada (último ano), 17/20 dos atletas não apresentaram lesões e apenas três mencionaram um único evento (que ocorreram no braço, no tornozelo e na perna). O Quadro 1 apresenta quatro aspectos diferentes das lesões do presente estudo: o tipo de lesão, a estrutura de corpo atingida, o mecanismo causador da lesão correspondente aos eventos atléticos e o número de vezes de cada lesão.
Quadro 1. Tipo de lesão, local onde ocorreu, mecanismo da lesão e o número de vezes de cada lesão
Sujeito |
Tipo de lesão |
Local |
Direito |
Esquerdo |
Mecanismo da lesão |
N° de vezes |
1 |
Entorse |
Tornozelo |
x |
- |
1 |
|
Hérnia discal |
Lombar |
- |
Crônica |
|||
2 |
Dor aguda inespecífica |
Coxa anterior |
x |
x |
Musculação |
5 |
Pescoço |
Musculação |
5 |
||||
3 |
Contusão |
Braço |
x |
x |
Braçada |
1 |
Entorse |
Punho |
x |
Braçada |
1 |
||
Mão (dedos) |
x |
x |
Braçada |
2 |
||
4 |
Dor crônica inespecífica |
Cotovelo |
x |
Braçada |
Crônica |
|
5 |
- |
- |
- |
- |
- |
0 |
6 |
Distensão muscular |
Panturrilha |
x |
Pernada |
2 |
|
7 |
Contratura muscular |
Trapézio |
x |
Braçada |
Crônica |
|
Dor crônica inespecífica |
Lombar |
- |
Crônica |
|||
8 |
Tendinopatia |
Ombro |
x |
x |
Braçada |
2 |
Contratura muscular |
Perna |
x |
x |
Saída |
1 |
|
Distensão muscular |
Coxa posterior |
x |
Pernada |
1 |
||
9 |
- |
- |
- |
- |
- |
0 |
10 |
Dor aguda inespecífica |
Pescoço |
Braçada |
1 |
||
11 |
- |
- |
- |
- |
- |
0 |
12 |
Dor aguda inespecífica |
Braço |
x |
Braçada |
1 |
|
Tendinopatia |
Tornozelo |
x |
- |
Crônica |
||
13 |
- |
- |
- |
- |
- |
0 |
14 |
Tendinopatia |
Ombro |
x |
Braçada |
1 |
|
Entorse |
Tornozelo |
x |
Condicionamento aeróbico |
1 |
||
15 |
Tendinopatia |
Ombro |
x |
Braçada |
Crônica |
|
Distensão muscular |
Perna |
x |
Musculação |
1 |
||
16 |
Bursite/tendinopatia |
Ombro |
x |
x |
Braçada |
3 |
Mialgia |
Braço |
x |
x |
Braçada |
1 |
|
Entorse |
Tornozelo |
x |
x |
Musculação |
2 |
|
17, 18, 19, 20 |
- |
- |
- |
- |
- |
0 |
Na distribuição da freqüência de lesões (Quadro 1), um gradiente foi achado: entorse = tendinopatia > dor aguda inespecífica = distensão muscular > dor crônica inespecífica = contratura muscular > bursite = mialgia = contusão = hérnia discal. As regiões mais afetadas pelas lesões foram igualmente o ombro e o tornozelo, seguidos pelo braço e, em menor escala pela perna, coxa, pescoço e coluna lombar. O mecanismo responsável pela maioria das lesões foi a braçada, seguido pelo treinamento auxiliar de musculação.
Em condições mais amplas, pode-se dizer que mais de uma lesão foi reportada por indivíduo (24/20) resultando em 1,2 lesões por atleta.
Quanto à gravidade das lesões encontradas no estudo, estas podem ser classificadas como leves, já que apenas uma necessitou de tratamento cirúrgico e afastamento dos treinamentos por seis meses, essa representada por uma lesão do tendão de Aquiles. Uma tendinopatia de ombro necessitou de afastamento dos treinos por quatro meses e uma dor crônica inespecífica de cotovelo necessitou afastamento de uma semana. Nas demais lesões, o afastamento dos treinamentos não foi observado. Outro dado que pode ser considerado na caracterização das lesões como leves, foi que apenas cinco delas necessitaram de consulta médica e tratamento fisioterápico e medicamentoso.
Em relação ao tempo de prática, dos 11 atletas que treinam a menos de sete anos, cinco apresentaram histórico de lesões e dos nove atletas que treinam há sete anos ou mais, cinco deles apresentaram lesões. Em relação ao volume de treinamento semanal, dos 10 atletas que treinam menos de 10.000 m semanais, cinco deles apresentaram histórico de lesões e dos 10 atletas que treinam 10.000 m ou mais, cinco deles apresentaram histórico de lesões.
As Tabelas 1 e 2 são referentes a avaliação postural dos sujeitos com e sem lesão, respectivamente. O protocolo considera valores positivos como sendo desvios no sentido anti-horário (na horizontal significa que a esquerda está mais alta que a direita ou que a porção anterior está mais alta que a posterior; na vertical indica uma rotação para o lado direito). Na presente metodologia, todos os valores deveriam ser zero para o alinhamento ser considerado ideal, com exceção do alinhamento horizontal da cabeça em relação a C7 (AHC(C7)) o qual possui padrão de normalidade de 47,06º ± 4,77 Ferreira (2005), sendo que valores superiores a estes evidenciam uma protusão da cabeça.
Informações dos valores percentuais que representam o equilíbrio muscular se encontram disponíveis na literatura (DVIR, 2004; CARPES et al., 2007), sugerido-se que até 10% de diferença possa ser considerada normal no que diz respeito ao déficit de um segmento em relação ao seu contra-lateral.
Os principais desvios posturais encontrados foram no alinhamento horizontal da cabeça em relação a C7 e no alinhamento vertical da cabeça em relação ao acrômio, em ambos os grupos, como mostram as tabelas 1 e 2.
Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas quando foram comparados os grupos com e sem lesão para todas as variáveis posturais analisadas.
Tabela 1. Medidas segundo protocolo SAPO-1. Alinhamentos e ângulos em graus, assimetria em porcentagem dos
nadadores com lesão. Valores positivos indicam desvio para a direita e, no caso do joelho, ângulo negativo indica hiper-extensão
Tabela 2. Medidas segundo protocolo SAPO-1. Alinhamentos e ângulos em graus, assimetria em porcentagem dos nadadores
sem lesão. Valores positivos indicam desvio para a direita e, no caso do joelho, ângulo negativo indica hiper-extensão
Em relação a associação entre tempo de prática e ocorrência de lesões e entre volume de treinamento e ocorrência de lesões, não foram encontradas associações significativas, indicando que esses fatores não são responsáveis pela ocorrência de lesões em atletas de natação.
Tabela 3. Associação entre o tempo de prática e a ocorrência de lesões em atletas de natação
Tabela 4. Associação entre o volume de treinamento semanal e a ocorrência de lesões em atletas de natação.
Discussão
Segundo Bak e Fauno (1997), a queixa do nadador de elite geralmente tem início depois de seis a oito anos de experiência no esporte, o que equivale a aproximadamente dez mil quilômetros nadados ou a cerca de três a quatro milhões de braçadas em cada braço. Neste estudo, isso foi confirmado, pois a minoria dos atletas (5/20) apresentaram tempo de prática menor que 2 anos e grande parte deles (10/20) apresentou tempo de prática maior que 7 anos. Tais fatos podem ser explicados em razão de a maioria das lesões encontradas terem sido classificadas como tendinopatia, lesões estas que apresentam características de sobrecarga e que podem estar relacionadas ao tempo de prática do esporte. Nossos dados vão ao encontro dos dados apresentados por Bak e Fauno (1997) e Aguiar et al. (2010), pois houve uma tendência de ocorrência mais freqüente de lesões com o aumento do tempo de prática. O mesmo não se confirmou em relação ao volume de treinamento.
Mello, Silva e José (2007) avaliando nadadores competitivos encontraram, quanto à região anatômica das lesões, que estas ocorreram predominantemente nos membros superiores (61,4%), localizadas principalmente no ombro (49,4% do total das lesões), e seguidas do cotovelo (12%). Os membros inferiores aparecem em segundo lugar (21,7%), com as lesões sendo localizadas principalmente no joelho (14,4%), seguidas do tornozelo (4,8%), pé (1,2%) e perna/coxa (1,2%). A região do tronco aparece com menor freqüência (16,9%), apresentando um acometimento maior na região dorsal da coluna vertebral e tórax (9,6%), seguida da região lombar da coluna vertebral e cintura pélvica (6%) e cabeça/pescoço (1,2%). Quanto à associação entre a classificação da lesão segundo o diagnóstico, observaram que a maioria das regiões apresentou um único tipo de lesão, sendo que no ombro 97,57% das lesões foram classificadas como tendinite/bursite; no joelho 66,67% das lesões foram classificadas como tendinite/bursite; no cotovelo, no tornozelo e no pé 100% das lesões foram classificadas como tendinite/bursite; na região dorsal, torácica e lombar da coluna vertebral, e na perna/coxa 100% das lesões foram classificadas como mialgia; e na cabeça/pescoço 100% das lesões foram classificadas como cervicobraquialgia. Os dados do presente estudo concordam com o exposto acima quanto ao local de maior ocorrência e também quanto ao tipo de lesão mais freqüente.
Em estudo pioneiro Counsilman (1968) descreveu as lesões que ocorrem na natação competitiva, identificando um maior acometimento do ombro, com 37% do total, seguida do joelho, com 28%, e do pé e do tornozelo, ambos com 19%. Relatou ainda que as lesões musculoesqueléticas nos nadadores podem ser de origem traumática ou secundária, ou por excesso de treinamento, que é predominante em atletas de competição.
Quanto ao tipo de lesão mais comum, estas foram classificadas no presente estudo como entorse e tendinopatia, ambas com cinco dos casos, sendo estas mais representativas respectivamente no tornozelo, com três casos, e no ombro, com quatro casos. Tais resultados se confirmaram na literatura que relata a predominância da tendinopatia em atletas de natação (ARAYA, 2000; AGUIAR et al., 2010; MELLO; SILVA; JOSÉ, 2007; KENAL; KNAPP, 1996; RODEO, 1999; JONES, 1999; JOHNSON, 2003). Quanto às entorses, as mesmas são mais freqüentes nos esportes em geral, sendo sua ocorrência principalmente no tornozelo (SAMMARCO, 2003; NAWATA, 2005) e pouco relatadas na natação (OSAWA; ANDRIES JÚNIOR, 2003; MELLO; SILVA; JOSÉ, 2007; COUNSILMAN, 1968). Os demais tipos de lesão encontrados no presente estudo não apresentaram grande diferença entre si, sendo três casos classificados como distensão muscular e dor aguda inespecífica e dois casos de contratura muscular e dor crônica inespecífica.
Em relação à região anatômica agrupada (tronco, membros superiores e membros inferiores), a literatura que aborda a natação relata os membros superiores como região mais acometida por lesões (ARAYA, 2000; OSAWA; ANDRIES JÚNIOR, 2003; RODEO, 1999; JOHNSON, 2003). Neste estudo, isso se confirmou, sendo que os membros superiores foram responsáveis por 10/24 das lesões, seguidos por membros inferiores, com 9/24 casos e tronco com 5/24 lesões. Resultados que diferem dos encontrados por Richardson (1999), no qual a prevalência das lesões ocorreu principalmente nos membros inferiores, nas pernas e nos pés (32% do total das lesões) e nos joelhos (5%) de competidores de natação. Os membros superiores também apresentaram alto grau de lesões, sendo que os braços e mãos apresentaram 18% do total das lesões.
Quanto à localização anatômica específica da lesão na natação, a literatura relata a região do ombro como sendo a mais acometida (ARAYA, 2000; OSAWA; ANDRIES JÚNIOR, 2003; AGUIAR et al., 2010; KENAL; KNAPP, 1996; RODEO, 1999; JONES, 1999; JOHNSON, 2003). Os resultados do presente estudo corroboram com tais dados, sendo que as lesões localizadas no ombro representaram 4/24 casos, o que pode ser explicado pelo fato de o ombro ser o propulsor primário nos estilos crawl, costas e borboleta, sendo que o crawl é o principal estilo praticado pelos nadadores avaliados neste estudo.
Segundo Araya (2000) as lesões no ombro do nadador podem ser causadas por diversos fatores, como os movimentos repetitivos acima de 90° de abdução, instabilidade articular, hipovascularização, fadiga do manguito rotador, disfunção escapular, fortalecimento muscular realizado em solo com cargas excessivas, má técnica de nado e desequilíbrio entre força e flexibilidade muscular do ombro e estabilizadores da escápula. Para Vieira e Lianza (2001), o ombro do nadador é uma condição patológica causada por inflamação dos tendões do músculo supra-espinhoso e da porção longa do bíceps braquial que, devido a excessivos movimentos giratórios do úmero, impactam contra o arco coracoacromial. Outra possível causa das lesões no ombro pode ser o fato dos músculos rotadores mediais do ombro serem significativamente mais fortes nos nadadores do que na população em geral, diferença essa que não é significativa com relação aos rotadores laterais (VIEIRA; LIANZA, 2001).
No estudo realizado por Araya (2000), as lesões localizadas no ombro foram relacionadas principalmente ao estilo crawl, mas também se relacionam ao estilo borboleta e costas. Vieira e Lianza (2001) relacionam a dor no ombro ao nado crawl e borboleta, mas não citam as lesões no ombro em atletas de costas e peito. Rodeo (1999) relaciona as lesões no ombro aos estilos crawl e borboleta, mas não relacionam ao estilo costas e sim ao estilo peito, ocasionalmente. Bak e Fauno (1997) afirmam que independentemente do estilo de nado preferido, todo nadador pratica o nado crawl por mais de 50% de seu tempo de treinamento, dados esses que se confirmaram no presente estudo e que podem ser a justificativa para a ocorrência de lesões no ombro em todos os estilos.
De acordo com Osawa e Andries Júnior (2003) a lesão do ombro é uma lesão comum em nadadores dos estilos borboleta, crawl e costas em ordem decrescente. Cunha, Marchiori e Ribeiro (2007) avaliaram as lesões tendíneas do manguito rotador em 11 nadadores de elite, independentemente dos sintomas, concluindo que estes não têm maior incidência de lesões tendíneas quando comparados com a população geral, e que a prevalência da dor nestes atletas resulta, na maioria das vezes, de um processo inflamatório que ocorre na bursa subacromiodeltoideana. Os mesmos afirmam que a dor no ombro é uma queixa comum entre os nadadores, acometendo mais de 60% dos nadadores de elite.
Foi possível observar através dos resultados da avaliação postural computadorizada que apenas três dos atletas avaliados não apresentaram nenhum tipo de desvio postural (sujeitos 2 e 8 do G1 e sujeito 11 do G2). A protusão da cabeça (AHC(C7)) foi encontrada em 8/12 do G1 e em 5/8 do G2. Detanico et al. (2008) afirmam que o encurtamento da cadeia posterior em decorrência de mecanismos compensatórios, pode estar associado com essa protusão.
Outro desvio importante encontrado no presente estudo foi o AVC (acrômio), onde 7/12 dos atletas do G1 e 6/8 do G2 apresentaram esta assimetria, concordando com os achados de Ribeiro et al. (2003). Estudo de Mansoldo e Nobre (2007), realizado com atletas de natação mostrou alta incidência de escoliose entre estes atletas, e ainda relatou que 94,6% dos judocas e 100% dos atletas de basquete apresentaram esta alteração, indo de encontro ao presente estudo, pois não encontramos desvios em relação ao AVT.
Não foi possível estabelecer uma relação estatística entre os dados de alterações posturais e lesões sofridas, assim como também foi relatado em estudo de Ribeiro et al. (2003); Detanico et al. (2008); Kleinpaul, Mann e Santos (2010). Modificações no sistema de treinamento de jovens atletas, focando a técnica e habilidade além da parte física, podem minimizar a incidência de lesões esportivas (PETERSON et al., 2000).
Há um consenso na literatura de que a avaliação postural é de fundamental importância para o planejamento do tratamento fisioterapêutico e da longevidade da saúde e performance do atleta (KLEINPAUL; MANN; SANTOS, 2010). Para Iunes et al. (2005) embora exista a concordância de que uma boa postura é importante, trata-se de um fenômeno complexo e difícil de quantificar, o que pode explicar por que há poucos resultados de estudos associando desvios posturais a problemas físicos específicos e ou lesões.
Kendall, Mccreary e Provance (1995) afirmam que o alinhamento de determinadas estruturas corporais permite uma eficiência máxima do corpo, o contrário acarretará alterações posturais, o que segundo Arnheim e Prentice (2002) pode acarretar assimetrias corporais unilaterais dos músculos e dos tecidos moles e assimetrias ósseas, podendo diminuir a eficiência mecânica na execução do movimento.
Conclusão
Neste estudo as entorses constituíram as lesões mais comuns da natação, juntamente com a tendinopatia, seguidas por dor aguda inespecífica e distensão muscular. Ombros e tornozelos foram as regiões mais afetadas. Os atletas que treinam há mais tempo, geralmente apresentam maior histórico de lesões, sendo que o mesmo não se aplica ao volume de treinamento. Os atletas são mais suscetíveis a lesões quando praticam o estilo crawl.
Mesmo sendo um estudo com caráter retrospectivo, pois normalmente atletas acabam esquecendo-se de suas lesões, os resultados aqui obtidos servem como informativos para atletas e técnicos adotarem iniciativas para prevenir novas lesões e ou minimizar os efeitos das já existentes para que as mesmas não se tornem crônicas.
Em relação a postura, não foram encontrados muitos desvios posturais, não havendo diferenças entre os grupos com e sem lesão. Porém os cuidados com a postura precisam ser estimulados e os exercícios preventivos devem contemplar uma variedade de movimentos corporais e explorar diferentes canais de sensação, despertando a consciência corporal de cada movimento realizado.
Referências
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