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Perfil epidemiológico dos hipertensos e fatores de risco
em um município do Noroeste do Rio Grande do Sul, Brasil

Perfil epidemiológico de hipertensos y factores de riesgo en un municipio del Noroeste de Río Grande do Sul, Brasil

 

*Fisioterapeuta. Graduado pela Universidade de Cruz Alta

**Fisioterapeuta. Secretaria Municipal de Saúde. Cruz Alta, RS

***Fisioterapeuta. Mestre em Saúde Coletiva. Professor Adjunto

da Universidade de Cruz Alta. UNICRUZ, Cruz Alta, RS

(Brasil)

Manuele Pimentel Gomes*

Rogério Denilson Capeletti Lima*

Elisa Gisélia dos Santos Barbosa**

Giovani Sturmer***

giovanisturmer@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          As doenças cardiovasculares são desencadeadas a partir de fator de risco como a Hipertensão Arterial Sistêmica que é considerada um problema de saúde pública. O objetivo do estudo foi de analisar o perfil epidemiológico dos hipertensos do município de Cruz Alta, fatores de risco e hábitos saudáveis. Estudo transversal quantitativo descritivo, a partir de dados secundários da Secretaria Municipal de Saúde que teve como amostra 118 pacientes hipertensos moradores de 4 bairros do município, selecionados a partir de um inquerito domiciliar. Os dados foram coletados através de questionário fechado, com sujeitos entre 21 e 60 anos. A partir dos resultados verificou-se que a prevalência de hipertensos encontrada foi de 20,91%, os principais fatores de risco nos hipertensos foram o tabagismo 58,5% e a obesidade presente em 47,4%. O sedentarismo alcançou uma prevalência de 74,36% e o consumo de gordura em excesso 37,3%. O número de hipertensos que consultaram pelo menos uma vez ao ano para cuidar da hipertensão foi de 80,5%. As consultas no posto de saúde do bairro para hipertensão foi de 69,5%. O uso correto de medicamento foi observado em 77,1% da amostra. Apenas 6,8% dos hipertensos não tiveram indicação de tratamento medicamentoso.

          Unitermos: Hipertensão arterial sistêmica. Fatores de risco. Prevalência.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 176, Enero de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    De acordo com a Organização Mundial de Saúde, as Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNTs) exercem papel muito importante no perfil atual de saúde das populações humanas. Estimativas apontam que as DCNTs já são responsáveis por 58,5% de todas as mortes ocorridas no mundo e por 45,9% da carga global de doença (MOURA et al, 2008).

    As doenças crônicas são definidas como afecções de saúde que acompanham os indivíduos por longo período de tempo, podendo apresentar momentos de piora (episódios agudos) ou melhora sensível (ALMEIDA et al, 2002).

    A magnitude do grupo dessas doenças vem sendo classificados como modificáveis ou não modificáveis. Entre os fatores modificáveis, está a Hipertensão Arterial Sistêmica (CASADO, et al, 2009).

    A hipertensão arterial sistêmica é uma condição clínica multifatorial caracterizada por níveis elevados e sustentados de pressão arterial. Ela associa-se frequentemente a alterações funcionais e/ou estruturais dos órgãos-alvo (coração, encéfalo, rins e vasos sanguíneos) e a alterações metabólicas, com consequente aumento do risco de eventos cardiovasculares fatais e não-fatais (SBH, 2010).

    Considerada um problema de saúde pública, a hipertensão é um fator de risco bem estabelecido para as doenças cardiovasculares. Sua prevalência sofre influência de uma série de fatores de risco, como idade, estado nutricional, gênero, etnia, ingestão de sal, de álcool e posição socioeconômico (OLMOS E LOTUFO, 2002). Esses fatores de risco frequentemente se apresentam de forma agregada, a predisposição genética e os fatores ambientais tendem a contribuir para essa combinação em famílias com estilo de vida pouco saudável (SBH, 2010).

    Estudos clínicos demonstraram que a detecção, o tratamento e o controle da HAS são fundamentais para a redução dos eventos cardiovasculares (SBH, 2010). Estima-se que a hipertensão arterial atinja aproximadamente 22% da população brasileira acima de vinte anos, sendo responsável por 80% dos casos de acidente cérebro vascular, 60% dos casos de infarto agudo do miocárdio e 40% das aposentadorias precoces (ZAITUNE, et al, 2006).

    Como medidas de prevenção e acompanhamento, o trabalho da equipe multiprofissional contribui para oferecer ao paciente e à comunidade uma visão mais ampla dessa doença dando lhes conhecimento e motivação para vencer o desafio e adotar atitudes de mudanças de hábitos de vida e adesão real ao tratamento proposto com base no risco cardiovascular global (SBH, 2006).

    A partir do que foi exposto o objetivo da pesquisa foi identificar os fatores de risco nos hipertensos no município de Cruz Alta/RS.

Métodos

    O estudo caracterizou-se por ser um estudo transversal quantitativo descritivo, utilizando dados secundários do projeto “Cruz Alta em Movimento e Ação” da Secretaria Municipal de Saúde de Cruz Alta/RS. A amostra foi composta por 118 pacientes hipertensos de ambos os gênero, moradores de 4 bairros cobertos pela Estratégia Saúde da Família no Município de Cruz Alta, selecionados a partir de um inquerito domiciliar.

    Na pesquisa realizada pelo projeto, foram visitadas 20% das residências de cada bairro, onde foram entrevistados sujeitos entre 21 e 60 anos, nos quais foi aplicado um questionário, com perguntas fechadas.

    Com objetivo de escolher o conjunto de informações a serem abordadas no instrumento de coleta da pesquisa, o Inquérito Domiciliar utilizou instrumentos para avaliar o comportamento de risco e morbidade referida de doenças e agravos não transmissíveis, alem do questionário internacional de atividade física forma curta (IPAQ- versão oito).

    Para este estudo, foram utilizadas informações de parte do instrumento completo, as quais traziam informações de interesse para este estudo, como dados sociodemográficos e questões relacionadas a hipertensão arterial sistêmica, entre elas o tabagismo, nível de atividade física, avaliação antropométrica, consumo de álcool, avaliação de hábitos alimentares, diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica, hipercolesterolemia, infarto do miocárdio, angina, acidente vascular encefálico.

    Os procedimentos do projeto “Cruz Alta em Movimento e Ação” foram desenvolvidos respeitando os preceitos éticos descritos pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996).

    Os dados para nossa pesquisa foram adquiridos diretamente do banco de dados da Secretaria Municipal de Saúde, mediante autorização do responsável pelo referido projeto.

    Para a análise dos dados foi utilizado pacote estatístico adequado e os resultados são apresentados através de frequência e percentual. Também foram avaliados os indicadores de prevalência das doenças e agravos não transmissíveis e dos fatores de risco associados.

Resultados e discussão

    Foram entrevistados no estudo do projeto 526 adultos, sendo 118 classificados como hipertensos, por referir apresentar hipertensão arterial sistêmica. A prevalência de hipertensão encontrada na amostra foi de 20,91% (Tabela 1).

Tabela 1. Dados sociodemográficos da amostra

    A amostra foi composta por 78,6% de mulheres, a média de idade de 41,41 (±11,60), predominando cor da pele branca 472 (87,7%) e 50,4% casados. Observa-se um maior número de hipertensos nas faixas etárias maiores (Tabela 1), no entanto, a proporção da população também tem predominância de cor da pele branca.

    No Brasil, projeções da Organização das Nações Unidas (ONU) (WHO, 2002) indicam que a mediana da idade populacional passará, de 25,4 anos em 2000 a 38,2 anos em 2050. Uma das conseqüências desse envelhecimento populacional é o aumento das prevalências de doenças crônicas, entre elas a hipertensão. Estudos de prevalência da hipertensão no Brasil, entre 1970 e início dos anos 90, revelam valores de prevalência entre 7,2 e 40,3% na Região Nordeste, 5,04 a 37,9% na Região Sudeste, 1,28 a 27,1% na Região Sul e 6,3 a 16,75% na Região Centro-Oeste. Esses estudos de prevalência são importantes fontes de conhecimento da freqüência de agravos na população: servem, também, para a verificação de mudanças ocorridas após as intervenções (PASSOS, et al, 2006).

    Nos negros, a prevalência e a gravidade da hipertensão são maiores, o que pode estar relacionado a fatores étnicos e/ou socioeconômicos. Em nosso país predominam os miscigenados, que podem diferir dos negros quanto às características da hipertensão (SAMPAIO e FILHO, 2006).

    A Hipertensão Arterial Sistêmica configura-se como importante problema de saúde pública no Brasil. Com o intuito de minimizá-la, no ano 2000 foi lançado o Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial Sistêmica e ao Diabetes mellitus no Brasil. Diversas ações foram implementadas nos estados e municípios, como capacitações profissionais na atenção básica, pactuação de normas e metas entre as três esferas da gestão de saúde, atenção à assistência (BOING E BOING, 2007).

    As evidências para o correto tratamento da hipertensão arterial estão estabelecidas. Entretanto, em termos de saúde pública, os resultados clínicos obtidos não atingem os esperados (CASTRO e FUCHS, 2008).

    Uma das dificuldades encontradas no atendimento a pessoas hipertensas é a falta de adesão ao tratamento, pois 50% dos hipertensos diagnosticados não fazem nenhum tratamento e dentre aqueles que o fazem, poucos têm a pressão arterial controlada (SANTOS et al, 2005; STURMER, et al, 2006).

    A não adesão do cliente ao tratamento tem constituído um grande desafio para os profissionais que o acompanham, e possivelmente têm sido responsável pelo aumento dos custos sociais com absenteísmo ao trabalho, licenças para tratamento de saúde, e aposentadorias por invalidez, haja vista que a hipertensão arterial tem sido responsável pelo aumento destes custos (SANTOS et al, 2005).

    Pode-se observar que devido as reorganizações na Saúde Publica está havendo um aumento da disponibilidade de acesso e do uso desse serviço. A utilização é de grande relevância, pois 76 (67,8%) dos entrevistados com hipertensão arterial sistêmica durante o ultimo ano consultaram com um médico, sendo que 69,5% da população consultam no seu bairro no Posto de Saúde. Entretanto, salienta-se que ainda foram observados 38 (32,2%) indivíduos que não realizaram consulta médica no ano que antecedeu a entrevista (Tabela 2).

Tabela 2. Variáveis relacionadas ao uso do serviço de saúde

    O Ministério da Saúde Brasileiro orienta que a prevenção primária da doença deve ser direcionada para remover os fatores de risco associados à doença (SILVA, 2006).

    Nas consultas médicas o processo educativo preconiza a orientação de medidas que comprovadamente reduzam a pressão arterial, entre elas: hábitos alimentares adequados para manutenção do peso corporal e de um perfil lipídico desejável, estímulo à vida ativa e aos exercícios físicos regulares, redução da ingestão de sódio, redução do consumo de bebidas alcoólicas, redução do estresse e abandono do tabagismo (FERREIRA, et al, 2009).

    A Tabela 3 demonstra a avaliação das recomendações realizadas pelo médico para o controle da doença.

Tabela 3. Variáveis relacionadas a realização de orientações médicas e seguimento do tratamento pelo paciente

    As indicações de modificações no estilo de vida são importantes, pois já existem evidências do seu efeito na redução da pressão arterial, possuem baixo custo, ajudam no controle de fatores de risco para outros agravos, aumentam a eficácia do tratamento medicamentoso (gerando necessidade de menores doses e de menor número de fármacos) e reduzem o risco Cardiovascular (STURMER, 2006; FERREIRA et al, 2009).

    Receber orientações médicas para seguir e melhorar a qualidade de vida foi avaliado nos entrevistados, sendo que, 85 (72,1%) receberam e seguiram as orientações para diminuir o uso do sal na comida, 54 (45,7%) conseguiram fazer dieta para emagrecer, 85 (72,0%) reduziram o consumo de gordura nas refeições, 61 (51,6%) pararam de consumir bebidas alcoólicas e 58 (49,1%) cessaram o vicio parando de fumar. A prática de exercício físico 59 (50,0%) dos entrevistados seguiram as orientações, conforme o pedido do médico (Tabela 3).

    A identificação de vários fatores de risco para hipertensão arterial, tais como: a hereditariedade, a idade, o gênero, o grupo étnico, o nível de escolaridade, o nível socioeconômico, a obesidade, o etilismo e o tabagismo muito colaboraram para os avanços na epidemiologia cardiovascular (ZAITUNE, et al, 2006).

Tabela 4. Fatores de risco presentes na amostra

    Em relação aos fatores de risco, o sobrepeso 35 (30,2%) e os obesos 55 (47,4%) destacaram-se na amostra. O nível de atividade física mais freqüente foi o sedentário, com 88 (74,6 %), a não diminuição do consumo de gordura foi detectado em 74 (62,7%). Os sujeitos não fumantes encontrados na amostra foram 69 (58,5 %) e com pais hipertensos (66,1%) (Tabela 4).

    O consumo de álcool somente foi questionado diretamente, não sendo avaliada a quantidade real consumida, o que pode subestimar a prevalência de alcoolismo na população. Entretanto, associado a hipertensão, o excesso no consumo de álcool além de aumentar os níveis pressóricos, constitui uma das causas de resistência à terapêutica anti-hipertensiva. O consumo de álcool deve ser limitado a no máximo 30 ml/dia de etanol para homens, e 15 ml/dia para mulheres ou indivíduos de baixo peso (SBH, 2006).

    O tabagismo é um dos maiores fatores ligados a incidência e mortalidade das doenças coronária, cerebrovascular e vascular de extremidades (SBH, 2002).

    O surgimento do sobrepeso e da obesidade é resultado deste processo dinâmico de transição nutricional que ocorre juntamente com a transição epidemiológica, estando também associado às transformações socioeconômicas, ambientais e culturais. Essas mudanças podem ser observadas em escala mundial, por meio das suas repercussões no incremento das prevalências de acúmulo de gordura corporal e das DANT em todas as regiões do mundo. Estimou-se para o ano de 2005, que em estudos recentes realizados nas Regiões Norte, Centro-oeste e Sudeste, a prevalência de excesso de peso (IMC ≥ 25) em adultos variou de 1,8% a valores superiores a 50%. Em alguns desses locais a obesidade em mulheres alcançou prevalências em torno de 40% (PASSOS, et al, 2006).

    O diagnóstico em hipertensão arterial sistêmica é baseado na anamnese, exame físico e exames complementares que auxiliam na realização do diagnóstico da doença propriamente dita, sua etiologia, grau de comprometimento de órgãos alvo e na identificação dos fatores de risco cardiovasculares associados (MION JR, et al, 1996).

    Cuidados e acompanhamento da doença em relação aos exames solicitados pelo médico, foi observada a realização de exames de sangue em 106 (89,8%) e de urina 106 (89,8%) como os mais requisitados, o eletrocardiograma foi um pouco menos frequente, com 89% (Tabela 5).

Tabela 5. Exames de acompanhamento e complementares diagnósticos

    O sucesso do tratamento depende fundamentalmente de mudança comportamental e da adesão do tratamento (SBH, 2010).

    Observou-se que 7,8% não tomam medicamentos corretamente, 110 (93,2%) tomam algum tipo de medicamento receitado pelo medico para hipertensão arterial sistêmica, quanto ao uso diário de medicamento 91 (77,1%) toma sempre, conforme o tratamento (Tabela 6).

Tabela 6. Consumo dos medicamentos para tratamento da hipertensão

    O tratamento medicamentoso associado ao tratamento não medicamentoso objetiva a redução da pressão arterial para valores inferiores a 140 mmHg de pressão sistólica e 90 mmHg de pressão diastolica138,139,155 (A), respeitando-se as características individuais, a presença de doenças ou condições associadas ou características peculiares e a qualidade de vida dos pacientes (SBH, 2006).

Considerações finais

    A partir dos resultados apresentados verificou-se que a prevalência de hipertensos encontrada foi de 20,91%, os principais fatores de risco nos hipertensos foram o tabagismo 58,5% e a obesidade presente em 47,4%. O sedentarismo alcançou uma prevalência de 74,36% e o consumo de gordura em excesso 37,3%.

    O número de hipertensos que consultaram pelo menos uma vez ao ano para cuidar da hipertensão foi de 80,5%. As consultas no posto de saúde do bairro para hipertensão foi de 69,5%.

    O consumo correto de medicamento foi observado em 77,1% da amostra. Apenas 6,8% dos hipertensos não tiveram indicação de tratamento medicamentoso.

Referências

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