Ocorrências de fraturas durante a prática do downhill Fracturas como resultado de la práctica del downhill Occurrences of fractures during the practice of downhill |
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*Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB) **Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) Grupo de Pesquisa em Cineantropometria, Performance Humana e Treinamento de Força, GPCiPeHTF/UFRRJ/CNPq (Brasil) |
Daniel Melchioretto* Maxvel Ludtke** Vladimir Schuindt da Silva** |
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Resumo O downhill tem por principal objetivo a descida de percursos contendo diversos obstáculos em um menor tempo, implicando em simples contusões até fraturas ósseas. Buscou-se investigar as regiões corporais acometidas por fraturas durante a prática de downhill. Investigou-se 21 atletas, do sexo masculino, competidores na 8ª Etapa do Campeonato Estadual de Downhill - Mafra/SC Brasil. Dos entrevistados, 43% reportaram a ocorrência de fraturas, 50% destas no tronco, as demais nos membros superiores e inferior direito. Sugere-se a adoção de estratégias úteis à prevenção de acidentes e demais estudos para verificar a efetividade dos equipamentos de proteção. Unitermos : Downhill. Lesões esportivas. Atividades de aventura.
Abstract In pratice of downhill have various obstacles in route, implying in falls and injuries. Investigated the body parts affected by fractures during practice of downhill in 21 athletes during a championship of downhill in Mafra/SC - Brazil. Of the respondents, 43% reported the occurrence of fractures. It is suggested the adoption of strategies useful for the prevention of accidents and other studies to verify the effectiveness of protective equipment. Keywords: Downhill. Sports injuries. Adventure activities.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 176, Enero de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A busca da sociedade por aventuras, o contato com a natureza e as recentes tecnologias, promoveram o surgimento de novas práticas esportivas, os esportes radicais e de aventura, que em geral resultam de adaptações de modalidades tradicionais, tais como: o snowboarding, o rafting, e o mountain bike, derivados do esqui, da canoagem e do ciclismo, respectivamente (Bruhns, 2003).
Pelo mountain bike, em específico, Schwartz (2006) menciona que sua prática ocorre em trajetos com diferentes características em termos de terreno, com derivação em diversas outras práticas, a mais conhecida é o downhill, que tem por principal objetivo a descida de percursos pré-determinados, contendo diversos obstáculos, em um menor tempo, implicando em um grande índice de acidentes e lesões, desde simples contusões até fraturas ósseas. Segundo Alencar, Matias e Andrade (2011), os traumas agudos relacionados à prática da modalidade não são raros e têm um impacto significativo sobre as áreas corporais geralmente desprovidas de proteção.
Downhill
Neste sentido, pelo presente estudo buscou-se investigar as regiões corporais acometidas por fraturas durante a prática de downhill.
Métodos
A presente pesquisa é de natureza descritiva exploratória, tendo como base a ideia de que a problemática analisada pode ser melhor compreendida por se adequar às exigências das dinâmicas envolvendo os fenômenos sociais (Thomas, Nelson & Silverman, 2007).
Para o desenvolvimento da pesquisa, foi utilizado um questionário contendo questões fechadas, validado por três especialistas da área, com título de doutor.
Foi selecionada uma amostra intencional, de 21 atletas, do sexo masculino, com tempo de prática de no mínimo 6 meses, maiores de 18 anos de idade, devidamente inscritos na 8ª Etapa do Campeonato Estadual de Downhill, ocorrida em Mafra (SC) nos dias 13 e 14 de outubro de 2012.
Todos os atletas foram esclarecidos quanto à natureza e os objetivos do estudo e responderam ao questionário apenas após assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), de acordo com a Resolução n°196/96 do Conselho Nacional da Saúde, do Ministério da Saúde do Governo Brasileiro.
O projeto de pesquisa, base para o presente estudo, foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos da Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB) e aprovado sob o número de protocolo 134/12.
Análise dos dados
Utilizou-se a estatística descritiva em termos porcentagem. Os dados foram analisados através do software da Microsoft Office Excel® versão 2007.
Resultados
Após a aplicação do questionário verificou-se que a média de idade dos atletas de downhill entrevistados era de 25,2 anos. E que possuíam tempo médio de prática de 4,8 anos, com frequência semanal de treinamento de menos de 2, de 2 a 3 e de 3 a 5 dias para 33, 48, e 19%, respectivamente. Com treinamento em horas diárias na ordem de até 2 h (5%), de 2 a 4 h (57%), de 4 a 6 h (29%) e a partir de 6 h (9%).
Considerando o (s) turno (s) do dia em que treinavam o downhill, observou-se os períodos matutino e vespertino (29%), vespertino e noturno (9%), e apenas os períodos vespertino (48%) e noturno (11%) em específicos, realizado em pistas de terra.
Sobre a ocorrência de fraturas na prática do downhill, foco principal do presente estudo, 43% afirmaram já ter se fraturado, pelo menos 1 vez, já os demais nunca haviam se fraturado durante a prática do downhill, até o momento da coleta dos dados. Em relação a região corporal acometida pela fratura para 50% foi em algum osso do tronco, e para 10% ocorreu em um osso do membro superior direito, para 20% em um osso do membro superior esquerdo, com os 20% restantes da amostra com fraturas em algum osso do membro inferior direito.
Quando questionados quanto à utilização de equipamentos de proteção no local da ocasião da ocorrência da fratura, 44% referiram à utilização dos mesmos, entretanto os demais reportaram não utilização. Porém durante a competição, os 21 atletas reportaram utilizar equipamentos de proteção, tais como: colete, cotoveleiras e óculos (95,23%), capacete com proteção para o queixo (85,7%), luvas (42,8%), joelheiras (28,57%), caneleiras (23,8%), protetor cervical (19%).
Discussão
No presente estudo, buscou-se obter informações pertinentes a ocorrência de fraturas durante a prática do downhill, de uma amostra caracterizada exclusivamente de jovens do sexo masculino, dos quais 43% reportaram algum tipo de fratura, e possuíam tempo de prática em anos, do downhill, corroborado aos achados de Nelson & McKenzie (2010) e Soares & Machado (2004).
Segundo Adams e Hamblen (1994), as fraturas podem ser subdivididas, de acordo com sua etiologia, em três grupos distintos, tais como: fraturas causadas exclusivamente por traumas; fraturas de fadiga ou estresse; e fraturas patológicas. Neste estudo investigou-se, exclusivamente, fraturas causadas por traumas, que é o grupo que engloba a maioria das fraturas (Adams e Hamblen, 1994).
O mountain bike é praticado em pista de terra com diferentes características em termos de terreno (pedras, raízes e outros obstáculos), bem como na principal variação deste esporte, o downhill, e a probabilidade de haver quedas pela perda de controle/ estabilidade ou outros fatores é comum neste esporte (Schwartz, 2006). Apsingi, Dussa e Soni (2005), afirmam que os fatores associados a lesões de mountain bike são o excesso de velocidade, terreno desconhecido, falta de equipamento e desatenção.
Chow e Kronisch (2002) demonstraram uma alta incidência de acidentes, pela análise dos mecanismos de lesões, em competidores de mountain bike, no entanto Carmont (2008) afirma que apesar do downhill ser um esporte de aventura e haver riscos de lesões graves, a maioria das lesões é menos grave e poderia-se minimizá-las através de cuidados e precauções.
De acordo com Chow e Kronisch (2002) o mecanismo mais comum de lesão envolve uma queda para frente sobre o guidão, geralmente nas descidas, o que pode resultar em um trauma direto na cabeça, tronco e membros superiores. Neste contexto, através das informações obtidas no presente estudo, as fraturas na região do tronco foram responsáveis por 50% do total das demais relatadas. Nelson e Mckenzie (2010), quando realizaram levantamento nos dados do Sistema Nacional de Vigilância Eletrônica de Lesões dos Estados Unidos da América com 4624 mountain bikers, tratados nos departamentos de emergência entre os anos de 1994-2007, verificaram que as lesões mais comuns foram dos membros superiores (10,6%) e fraturas de clavículas e ombros (8,3%).
O fato dos ciclistas perderem o controle da bicicleta, e consequentemente como resposta natural buscarem o apoio pelos membros superiores na tentativa de proteger suas cabeças (Carmont, 2008; Patel, 2004), em parte explica os números anteriores. No presente estudo, 30% dos atletas fraturam os membros superiores e 20% os membros inferiores, similarmente aos achados de Chow e Kronisch (2002), que reportaram a ocorrência de lesões na ordem de 34,2 e 36,3% para membros superiores e inferiores, respectivamente.
Levantamento de Alencar, Matias e Andrade (2011) apontou que as lesões mais graves ocorreram por fraturas faciais (55%), lesões dento-alveolares (22%) e lesões em tecidos moles (23%), porém estes resultados contradizem os do presente estudo, que não evidenciou quaisquer fraturas na região da cabeça pelos atletas de downhill. Fato que poderia ocorrer mesmo com a utilização de capacete com proteção para o queixo (Chow e Kronisch, 2002.
Os equipamentos de proteção são importantes para a absorção de impactos e aumento da resistência corporal, consequentemente, diminuem a possibilidade de haver lesões mais graves, como uma fratura óssea. Em relação ao uso do capacete em específico, poucos estudos trazem evidências sobre a redução de ferimentos na cabeça, muito embora Thompson & Rivara, (2001) e Mattei et al. (2012) ressaltam que os capacetes podem reduzir em até 87% a aceleração experimentada pelo crânio durante um impacto. Alencar, Matias e Andrade (2011) ainda, afirmam que, em razão dos modelos tradicionais de capacete geralmente não oferecerem proteção contra traumas maxilo-faciais, o ciclista torna-se vulnerável ao acometimento de fraturas dos ossos da face, principalmente no terço médio e inferior. Muito embora, Nelson e McKenzie (2010) relatam um alto grau de utilização de capacete com proteção para o queixo (80% a 90%), o que pode explicar a baixa proporção de lesões na cabeça, corroborando com os achados do presente estudo.
Neste sentido, investigações visando analisar a segurança de ciclistas devem ser estimuladas, pois podem contribuir com a identificação de mecanismos preventivos aos acidentes, tal como o estudo de Ettlinger, Johnson e Shealy (1995) que analisaram quedas com resultantes de entorse do ligamento cruzado anterior (ELCA) em esquiadores e desenvolveram um conjunto de recomendações para os esquiadores profissionais, com finalidade de treiná-los, caso da ocorrência de quedas, deste modo buscando reduzir a incidência de ECLA. Similarmente, podem existir manobras e/ou posições a serem adotadas por ciclistas, visando à prevenção de inúmeras lesões, bem como resultar em ferimentos menos graves.
Considerações finais e recomendações
Tendo em vista que no presente estudo examinou-se apenas ciclistas de downhill, ainda sim, considera-se que as informações obtidas podem ser aplicáveis aos demais ciclistas off-road, incluindo os de práticas recreativas e/ou de lazer, pela tomada da análise dos mecanismos de lesão e não pelas taxas das mesmas.
De acordo com os achados do presente estudo, que apontou 43% de casos com alguma fratura, nas regiões corporais do tronco e membros, sugere-se que haja uma estratégia conjunta entre atletas/ praticantes e entidades responsáveis do ciclismo off-road, para implementação de diretrizes efetivas sobre estratégias úteis à prevenção de acidentes, pois desta maneira poderia haver considerável redução da quantidade de fraturas ocorridas nas práticas e competições das modalidades de ciclismo off-road, incluindo o downhill, realizadas no país.
Por fim, demais estudos são necessários para verificar a efetividade dos equipamentos de proteção, visto que 44% dos atletas utilizavam equipamentos de proteção durante a prática do downhill, entretanto não impediram a ocorrência das fraturas.
Referências
ADAMS, J.C., HAMBLEN, D.L. Manual de fraturas: incluindo lesões articulares. 10. ed. Porto Alegre: Artes Medicas, 1994.
ALENCAR, T.A.M., MATIAS, K.F.S., ANDRADE, L.A. Fratura facial em ciclista profissional: relato de caso. Revista de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial, v.11, n.3, p.29-32, 2011.
APSINGI, S., DUSSA, C.U., SONI, B.M. Acute cervical spine injuries in mountain biking: a report of 3 cases. American Journal of Sports Medicine, v.34, n.3, p.487-489, 2005.
BRUHNS, H.T. No ritmo da aventura: explorando sensações e emoções. In: Bruhns, H.T.; Marinho, A. (Org.). Turismo, lazer e natureza. São Paulo: Manole, 2003.
CARMONT, M.R. Mountain bike injuries: a review. British Medical Bulletin, v.85, n.1, p.101-112, 2008.
CHOW, T.K., KRONISCH, R.L. Mechanisms of injury in competitive off-road bicycling. Wilderness and Environmental Medicine, v.13, n.1, p.27-30, 2002.
ETTLINGER, C.F., JOHNSON, R.J., SHEALY, J.E. A method to help reduce the risk of serious knee sprains incurred in alpine skiing. American Journal of Sports Medicine, v.23, n.5, p.531-537, 1995.
MATTEI, T.A. et al. Performance analysis of the protective effects of bicycle helmets during impact and crush tests in pediatric skull models: laboratory investigation. Journal of Neurosurgery: Pediatrics, v.10, n.6, p.490-497, 2012.
NELSON, N.G. & MCKENZIE, L.B. Mountain biking-related injurie treated in emergency departaments in the United States, 1994-2007. The American Journal of Sports Medicine, v.39, n.2, p.404-409, 2010.
PATEL, N.D. Mountain bike injuries and clipless pedals: a review of three cases. British Journal of Sports Medicine, v.38, n.3, p.340-341, 2004.
SCHWARTZ, G.M. A aventura no âmbito do lazer: as AFAN em foco. In: Schwartz, G.M. (Org.). Aventuras na natureza: consolidando significados. Jundiaí: Fontoura, 2006.
SOARES, E.D.F., MACHADO, A.J.S. Perfil do atleta de mountain bike da cidade de Ipatinga-MG. Revista On-line Unileste, v.2, p. 1-17, 2004.
THOMAS, J.R., NELSON, J.K., SILVERMAN, S.J. Métodos de pesquisa em atividade física. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.
THOMPSON, M.J., RIVARA, F.P. Bicycle-related injuries. American Family Physician, v.63, n.10, 2001.
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