Contextualizando e ressignificando o xadrez nas aulas de Educação Física Contextualizando y resignificando el ajedrez en las clases de Educación Física |
|||
Mestranda em Gestão e Prática Educacional UNINOVE, com formação em Pedagogia UNINOVE e Educação Física pela FEFISO, com Pós- Graduação em Educação Física Escolar pela FMU-SP Membro efetivo do Grupo de Estudo em Educação Física Escolar- FEUSP Atualmente trabalha como Coordenadora da Educação Infantil na Secretaria Municipal da Educação da cidade de Jandira-SP |
Alessandra Aparecida Dias Aguiar (Brasil) |
|
|
Resumo O xadrez é um jogo e está relacionado com a visão de mundo, através do seu processo histórico de criação, cada vez mais freqüente no contexto escolar associado à organização do raciocínio lógico, tendo como objetivo estimular a imaginação e a criatividade. Apontado, como um instrumento de suporte pedagógico em algumas disciplinas, tais como matemática e educação física. Porém, o presente artigo tem a finalidade colocar em pauta um xadrez ancorado na concepção da cultura corporal. Questiona sua origem e as relações de poder e, desta forma, pretende-se contextualizar e ressignificar o xadrez nas aulas de educação física escolar. Unitermos: Xadrez. Escola. Educação Física.
Resumen El ajedrez es un juego y está relacionado con la visión del mundo, a través de su proceso histórico de creación, cada vez más común en el contexto escolar relacionado con la organización de razonamiento lógico, y tiene el objetivo de estimular la imaginación y la creatividad. Es considerado un instrumento de apoyo a la educación en algunas disciplinas, como las matemáticas y educación física. Sin embargo, este artículo tiene la intención de incluir en el programa el juego de ajedrez anclado en el concepto de la cultura corporal. Interrogando su origen y las relaciones de poder, por lo tanto, tiene como objetivo contextualizar y replantear el ajedrez en las clases de educación física escolar. Palabras clave: Ajedrez. Escuela. Educación Física.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 176, Enero de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
1 / 1
Nos últimos anos, a prática do xadrez nas escolas teve um aumento significativo, geralmente se justifica através de vários artigos científicos publicados com o objetivo de demonstrar que o xadrez desenvolve o raciocínio lógico, assim como estimular a concentração. Diante deste fato, cabe questionar: como a história do xadrez está relacionada às relações de poder? Como avaliar através da cultural corporal? Como contextualizar e ressignificar o xadrez utilizando a cultura corporal? Este texto levanta o seguinte questionamento: como o jogo de xadrez pode contribuir para uma formação crítica dos alunos e alunas?
Tais reflexões propiciam uma análise do xadrez por meio da perspectiva da cultura corporal, possibilitando um acréscimo de novos olhares nas relações de poder e suas representações. Deste modo, este artigo tem a intenção de apontar outros caminhos metodológicos na utilização do xadrez enquanto manifestação da cultura corporal.
Síntese histórica e suas relações de poder
Sabe-se que a história dos povos, sempre foi contada pelo ponto de vista dos vencedores e que as lembranças são facilmente distorcidas ao decorrer do tempo não sendo confiáveis, assim, o discurso sobre o xadrez vem nesta lógica. A memória não é aqui pensada na perspectiva psicológica e nem estritamente subjetiva. Trata-se de uma abordagem que concebe a memória enquanto potencialidade problematizadora das relações culturais e historicamente construídas. Desta forma, pretende-se analisar quais são os discursos históricos e suas relações de poder que estão presentes neste jogo.
Conforme Aguiar (2012), por falta de documentos científicos, é muito difícil obter uma fonte clara sobre a data de invenção do xadrez, talvez por isto, sua origem seja incerta. Historiadores discutem várias possibilidades de surgimentos, deste modo, o registro mais antigo é uma pintura egípcia em Sakarah que mostra duas pessoas jogando algo parecido com o jogo cerca de 3000 anos a.C.
Pintura mural da câmara mortuária de Mera.
Fonte: http://www.nuted.ufrgs.br/objetos_de_aprendizagem/2011/JogoEdu/modulo3_iframe.html
Data de acesso 20/08/2012
O xadrez é um jogo clássico de estratégia e, seu antecessor é um jogo indiano do século VI denominado “Chaturanga”. Segundo Horton (1973), o antigo jogo hindu é considerado o antepassado do jogo de xadrez. O Chaturanga foi difundido basicamente em dois sentidos, um em direção ao Leste, e o outro ao Oeste. Por um lado, na região situada ao Leste, o Chaturanga: na China, é denominado Siang K’i - “jogo do elefante”; na Coréia e no Japão, respectivamente, Tjyang Keui e Sho-gi, ambos são reconhecidos como “jogo do general”. Na região situada ao Oeste – na Pérsia, o referido jogo indiano é designado Chatrang, ou seja, “jogo de xadrez” (SÁ e ROCHA, 1997).
Tabuleiro de jogo de Chatrang.
Fonte: http://carlos-umpensador.blogspot.com.br/2011/05/o-enigma-do-nascimento-do-xadrez.html
Data de acesso: 20/08/2012
De acordo com alguns historiadores, os persas valorizaram o Chatrang, atribuindo-lhe novos significados que aos poucos se tornou reconhecido internacionalmente. Com a conquista do árabes islâmicos sobre a Pérsia, o Chatrang foi substituído pelo Shatranj. Os mulçumanos árabes mudaram a palavra Chatrang para Shatranj e, em pouco tempo se apropriaram do jogo.
Fazendo uma análise deste contexto, para que determinadas culturas conquistassem uma posição hegemônica foi necessário silenciar outras, no qual foram esquecidas e excluídas das memórias. A história dominante sempre tem assegurado um lugar privilegiado para os heróis e desconsiderando, os demais sujeitos que efetivamente participaram da história. Como sintetiza Stuart Hall (1999), a estrutura de poder cultural se formou com a imposição – violência, na maioria das vezes é apagada – de uma cultura, classe social, grupo étnico e de gênero sobre outros.
De diferentes modos e através dos discursos, as classes dominantes renegaram ao silêncio e ao esquecimento, a história e a cultura dos grupos populares. Sendo assim, o discurso produzido pelos grupos hegemônicos é muitas vezes, incorporado de forma acrítica pela escola. Para Foucault (2006), o discurso não é somente lugar de expressão de um saber, mas que através dele o poder se exerce, há em todo discurso uma “vontade de verdade” que ao trazer em si a oposição entre o verdadeiro e o falso classifica algo como verdadeiro.
Em continuidade com a história do xadrez, a introdução deste jogo na Europa se deu através dos árabes, no século IX. Eles levaram o xadrez, bem como outros conhecimentos no âmbito das ciências, no campo da matemática e na esfera da literatura clássica. Na Idade Média, o xadrez foi alterado de tal modo que ficou sendo uma representação da sociedade medieval, como o casal monárquico, a cavalaria, os bispos e os peões.
O jogo de xadrez, de Charles Bargue (1825-1883)
Está no museu do Petit-Palais, Paris.
Fonte: http://xadrezpt.com/blog/tag/pintura/ Data de acesso 20/08/2012
A prática do xadrez era compartilhada entre aquelas pessoas que gozavam de privilégio na sociedade, conhecido como “jogo dos reis” devido à elitização que ocorrera na Idade Média, passou a ser um dos jogos mais praticados do mundo. O xadrez não era uma modalidade popular era simplesmente a recreação da elite. Desta forma, Aguiar (2012) contextualiza que o xadrez foi reconhecido como um jogo hegemônico e de guerra, possível de ser praticado como exercício mental relacionado a estratégias e táticas de guerra.
Sofonisba Anguissola (1532-1625), Jogo de Xadrez, 1555.
Fonte: http://prosimetron.blogspot.com.br/2012/02/ambientes-femininos-ix.html
Data de acesso 20/08/2012
Ao aprofundar no conhecimento histórico sobre a origem e o desenvolvimento do xadrez, pode-se constatar diversas transformações que fizeram deste jogo algo parecido como uma guerra. É claro que, os objetivos políticos e econômicos, as motivações e as justificativas para travar literalmente uma guerra são mais complexas do que o jogo de xadrez. Porém, “o xadrez é efetivamente uma guerra, porém uma guerra institucionalizada, regrada, codificada, com uma fronte, uma retaguarda, batalhas.” (DELEUZE & GUATTARI, 1997:14).
Aguiar (2012) aponta que a guerra no tabuleiro de xadrez é uma luta de ideias, oportunidade de diversão por meio de uma atividade essencialmente de calcular. Na guerra real, o combate ocorre em grande escala, e envolve séries de elementos que ultrapassam a complexidade do tabuleiro de xadrez e suas respectivas peças – forças semelhantes, no qual podemos analisar esta representação do xadrez com a guerra, e compreender as relações de poder existentes.
Em suma, considera importante fazer esta análise histórica e observar em qual contexto e época o xadrez se tornou institucionalizado e como o jogo que conhecemos hoje, sofreu suas transformações históricas.
Se analisarmos o xadrez atualmente no mundo globalizado, podemos citar a utilização das novas tecnologias; conhecimento de inúmeros aplicativos em sites na web e a proximidade com o computador disponibilizado nos laboratórios de informática das escolas, através do uso da internet pode-se jogar o xadrez com softwares muito bem elaborados. Esses sofisticados computadores também são empregados na iniciação ao xadrez, na análise profunda de partidas e detalhado estudo de temáticas.
Ainda mais, o xadrez possui uma estrutura resultante de um longo processo histórico, e está sujeito a novas alterações provocadas pelas transformações sociais da atualidade. O jogo é objeto de pesquisa em diversas áreas de conhecimento como etnologia, antropologia, pedagogia, matemática, educação física, filosofia, linguística, sociologia, história entre outras.
Entretanto, é preciso dizer que associar o jogo como um patrimônio cultural também é de extrema importância, principalmente em uma perspectiva histórica cultural que mostra como as transformações sociais ocorridas na sociedade moderna e contemporânea resultaram em efeitos de várias ordens no jogo, estudar o contexto histórico do jogo é uma forma de compreender a sociedade onde ele está inserido.
Outra análise talvez a ser considerada no jogo de xadrez, seria o controle do tempo através do relógio em competições enxadrístico, sendo que o tempo é controlado através do relógio especial para o xadrez, composto de dispositivos manuseados pelos enxadristas. Trata-se de dois relógios que marcam alternadamente o início do lance de cada um dos competidores, ao ser acionado por um dos competidores, imediatamente é interrompida a contagem de tempo1 do outro.
Uma associação para a questão do relógio com a atualidade, seria a fundamentação dos valores do capitalismo, em que a lógica do mercado é o consumo, cuja preocupação está em fixar indústrias pautadas no lucro e o tempo esta relacionado ao capital e como diz um dito popular no Brasil “tempo é dinheiro”.
Sendo assim, a principal missão da escola deve ser a formação de um cidadão e não de um produto recém confeccionado para o mercado de trabalho. O aluno deve buscar e a escola fornecer condições para o desenvolvimento do raciocínio, senso crítico, criatividade, adaptação às diferentes situações dentro de uma sociedade e a capacidade de interagir. De uma forma bem sucinta, pode-se dizer que o aluno deve sair da escola sabendo pensar e sabendo analisar a sociedade em que vivemos e o seu contexto histórico.
Cultura corporal e o xadrez
A cultura corporal apontada neste artigo tem como referencial teórico, Neira e Nunes (2006), nesta concepção e segundo estes autores a cultura corporal são diferentes manifestações da dança, esporte, brincadeira, jogo, luta, ginástica no qual cada manifestação terá uma identidade, sentido e significados diferentes dependendo do local onde estão inseridos. Falar sobre o xadrez, enquanto manifestação da cultura corporal significa discutir o que este conteúdo foi desde sua origem histórica até a atualidade.
Refletir sobre as práticas corporais significa buscar superação de uma visão que vinculou, por muito tempo, a educação física a uma perspectiva tecnicista voltada para o desenvolvimento de aptidões físicas e no caso do xadrez apenas o conhecimento e a execução das peças.
O xadrez na escola deve desenvolver uma abordagem histórica, e partir de quais interesses o conhecimento que compõe o campo deste estudo foi produzido e validado, propõe desta forma, desnaturalizar as práticas que compõem o desenvolvimento teórico-prático do ensino da educação física na escola. Tendo a cultura corporal, como fundamento para o estudo e o ensino, possibilitando a análise crítica das mais diversas práticas corporais, não restringindo o conhecimento da disciplina somente aos aspectos técnicos e táticos.
Nesta perspectiva Neira e Nunes (2006), acreditam que a “educação física possa proporcionar o estudo, a aproximação e a valorização de diversas formas de produção e expressão cultural dos/ as alunos/as e de outros grupos, ser um agente, através de seus professores, verossímil de um multiculturalismo crítico e possibilitar uma escola multicultural democrática que favoreça as relações humanas.” (p. 233-234).
Avaliação na perspectiva cultural
A avaliação está presente em várias situações, mesmo de forma implícita, no cotidiano das pessoas. O homem cria valores e, a partir deles, estabelece metas a ser alcançadas. Pois é na realização de suas metas, derivados de seus valores éticos, que ele constrói sua própria realidade humana. Entretanto, para verificar se seus objetivos foram alcançados, ele averigua constantemente e, portanto faz avaliação.
Pensar na avaliação no contexto escolar é enxergá-la como parte de um processo mais amplo de discussão dos mecanismos que o constitui o princípio de sucesso escolar das crianças.
Segundo Esteban (2000), a reflexão sobre a avaliação só tem sentido se estiver atrelada pela reflexão sobre a produção do fracasso/ sucesso escolar no processo de inclusão/ exclusão social. Devemos defender o direito das crianças em aprender os conhecimentos e formas de vida divulgadas pelos sujeitos como saberes válidos. A perspectiva de Canen (2000), dialoga que as relações de poder existentes entre as culturas devem sempre ser objeto de debates e discussões, com vistas a construir e reforçar a alteridade, o respeito mútuo e a superação dos preconceitos.
Como avaliar o xadrez no espaço escolar? Uma avaliação uniforme é justa, frente à pluralidade dos grupos humanos presentes no espaço escolar? Como lidar com as tensões relativas às diferenças culturais existentes entre o educador e seus alunos? Pensar na perspectiva cultural onde as práticas se manifestam, e a maneira como as pessoas dançam, joga está relacionada com as experiências sociais e culturais no qual estão inseridas. Assim torna-se impossível determinar a maneira “correta” de executar estas manifestações, avaliar não é avaliar o aluno e sim avaliar para que o professor possa fazer uma reflexão de sua prática.
Escudero (2011) acrescenta que o mapeamento realizado pelo professor se configura como instrumento para escolha da temática a ser estudado, ele não se caracteriza em um único mapa, mas sim em vários. Estes mapeamentos não necessariamente se dão no inicio dos trabalhos, pois não é linear este processo, pois depende dos registros feitos pelos professores e suas intervenções.
Avaliação no currículo cultural se caracteriza por uma postura etnográfica, que vai além da observação, o professor poderá registrar as atividades por meio de portfólios, diários, fotografias, imagens e materiais produzidos pelos alunos, sendo este um procedimento característico no fazer pedagógico culturalmente orientado.
Ainda de acordo com a mesma autora e ano, o registro representa a materialização das lembranças, inquietações, desejos, conflitos, projetos, vivências, dúvidas e incertezas de forma a realimentar as atividades das próximas aulas.
Sendo assim, a avaliação na escola deve caracterizar-se pela multiplicidade de experiências, de realidade, de relações sociais, de estruturas de poder, de tradições históricas e vivências culturais diversificadas e o professor deve realizar estes registros de forma a transformar sua própria prática e através de uma visão de respeito à alteridade, aos vários grupos sociais existentes. Assim, será plausível o papel da escola, contribuindo com uma sociedade realmente moderna e talvez, menos injusta.
Enfim, é importante convencer da urgência de uma releitura das práticas avaliativas, de maneira que assuma uma postura ética sobre a crítica epistemológica rigorosa e a auto-reflexão. É necessária que a avaliação em educação física escolar nesta perspectiva da cultura corporal, e a utilização do xadrez seja uma prática qualitativa, desde o inicio com o mapeamento e durante todo o processo, sendo assim, capaz de produzir novas identidades.
Contextualizando e ressignificando o xadrez nas aulas de educação física
Através do Projeto Pedagógico da escola, os alunos poderão estudar o xadrez: vivenciar, interpretar, compreender as manifestações em diferentes espaços pedagógicos e utilizando os instrumentos tecnológicos.
Compreender a cultura corporal como movimento de resistência e luta; reconhecer as manifestações culturais de diversos grupos, pesquisando e analisando criticamente os assuntos veiculados pela mídia; adotando atitudes não discriminatórias e relacionando as transformações históricas e sociais e por meio da intervenção e da mediação dos professores de educação física, proporcionar aos alunos uma melhor compreensão das diversas transformações do xadrez.
A concepção da cultural corporal aqui apresentada têm como aporte teórico Neira e Nunes (2006) e para a utilização do xadrez nas aulas de Educação Física nesta perspectiva, faz a tentativa de indicar alguns caminhos de acordo com estes autores. Porém não se tem a intenção de se colocar etapas e nem modelos a serem seguidos e sim possíveis encaminhamentos.
Sendo assim, o mapeamento, como já foi citado anteriormente, tem como objetivo coletar informações a respeito de quais manifestações os alunos e alunas conhecem e quais estão presentes na comunidade, esta etapa visa coletar informação acerca do patrimônio da cultura corporal análise e interpretação dos aspectos da linguagem corporal dos alunos e da comunidade. Este mapeamento pode ser feito através de observações, perguntas para os estudantes e comunidade sobre quais manifestações da cultura corporal ocorrem naquele espaço social. Uma vez feita esta investigação, o professor deve perguntar o que eles sabem sobre o assunto e posteriormente selecionar as expectativas de aprendizagem a serem utilizadas.
O professor deve estimular os alunos a elaborarem novas formas de experimentar o xadrez, por exemplo, ressignificando as vivencias da cultura corporal e reconhecendo os signos e seus diversos significados, conforme as características culturais do grupo. O professor poderá convidar pessoas da comunidade ou alunos que tenham tido vivencias e experiências na temática estudada, convidar um enxadrista para contar sua experiência e desta forma, fazer um aprofundamento possibilitando novos olhares sobre esta prática e levando o professor a planejar novas estratégias de ensino, teorizando a prática e registrando as ações. Já na ampliação os alunos terão a oportunidade de conhecer outras possibilidades de vivenciar a temática estudada.
Durante todo o percurso, o professor e os alunos devem adotar hábito do registro, documentando de forma a identificar as experiências pedagógicas, sendo uma reflexão da própria prática de ensino, ajudando o educador a planejar, revisar e refletir durante sua prática. Esta reflexão é um ponto importante para análise permitindo reajustes permanentes.
Desta forma, o xadrez nas aulas de educação física terá um lugar de formação social e conhecimentos, através de uma cultura crítica, para além da cultura reflexiva, isto é, descrevendo, informando, confrontando, transformando e reconstruindo os saberes aprendidos.
Considerações finais
Para concluirmos essas breves considerações acerca das mudanças promovidas pelo jogo de xadrez, utiliza-se de Moreira e Candau (2003), que aponta a escola como uma instituição construída historicamente, no qual têm a função fundamental de transmitir cultura.
Nesse sentido, os caminhos de reflexão que aqui nos aprouve trilhar, percebe a partir deste estudo, que somente o conhecimento da movimentação das peças não é suficiente para desenvolver um trabalho pedagógico, tornando – se um dos agravantes para que se inicie o exercício pedagógico em sua totalidade, ou seja, para tecer uma aproximação maior entre objeto de conhecimento, são necessárias outras possibilidades de aplicação do conteúdo.
A discussão que se pretendeu colocar em pauta através deste artigo, não seria negar o xadrez na escola de forma alguma e sim, pensar neste jogo com outras possibilidades de execução através da cultural corporal e questionar como o jogo de xadrez pode contribuir para uma formação crítica dos alunos e alunas, pensar de que forma as questões do tempo presente nos ajudam a interpretar o passado de tal maneira que as memórias silenciadas ganhem visibilidade e força de transformação.
Porém e conforme Foucault, o que são verdades? O mundo é regido por relações de poder que estabelecem os critérios de verdade e legitimidade segundo os quais algo pode ser tomado como verdade ou falso. O que podemos ter são hipóteses provisórias e parciais que nos dão segurança temporária. Por isto, os apontamentos levantados neste texto, não se esgotam nele mesmo é preciso articular com as práticas daqueles que atuam com os alunos nas instituições escolares, durante as aulas de educação física. Nesta perspectiva, aquilo que aqui pontuamos, são apenas alguns olhares que objetivam dar continuidade ao debate.
Em suma, deve-se ter em mente, que a educação escolar não pode ser pensada como algo neutro em relação ao mundo, mas ação social concreta em função de interesses e necessidades dos próprios alunos. Faz-se necessário questionar a realidade, cujo lócus passe pela formação docente ampla, crítica, consciente dos desafios imperativos da sociedade globalizada, excludente e, ao mesmo tempo, multicultural em que vivemos.
Foucault nos alerta que devemos desconfiar da ordem das coisas, daquilo que está ausente, do que é normativo; desconfiar das linhas de divisão que fazem com que algo seja tido como normal ou anormal, o estranhamento que perturba a nossa percepção do mundo, que provoca o riso por inverter a ordem familiar das coisas, é essa experiência de estranhamento que culmina no riso cara à Filosofia, pois ela é capaz de engendrar em nós a experiência de olhar o mundo com outros olhos, fazendo com que seja abalada a percepção do outro, e ao mesmo tempo a percepção que temos de nós.
Dessa maneira, ensinar o jogo de xadrez nas aulas de educação física, não deve resumir apenas, na apresentação de regras e execução de jogadas, por isto, têm sim que causar estranhamento, uma vez que sua prática está naturalizada apenas no objetivo de se adquirir o raciocínio lógico e a concentração, portanto, deve pensar neste jogo no intuito de contribuir para uma formação crítica dos alunos e alunas e assim contextualizar e ressignificar o xadrez na educação física. Finaliza estas escritas, fazendo referência ao Grupo de Pesquisas em Educação Física Escolar da FEUSP2, que tanto tem se dedicado ao estudo e prática de uma educação física escolar crítica, com intuito de possibilitar um ambiente educacional mais democrático.
Notas
O jogo de xadrez, até o século XVII, era jogado sem relógios. Em 1881, no Torneio de Xadrez de Nova Iorque, o público reclamou por que em alguns jogos a demora era de até 2 horas por lance. As primeiras soluções foram o uso de ampulhetas para controlar o tempo de cada jogador e o uso de secretárias que faziam o mesmo controle, mas logo ficou claro a necessidade de uma maneira confiável de controlar o tempo.
http://www.gpef.fe.usp.br
Referências
AGUIAR, A. A. D. Xadrez na escola: uma análise crítica através dos estudos culturais. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 170, 2012. http://www.efdeportes.com/efd170/xadrez-na-escola-uma-analise-critica.htm
BECKER, Idel. Manual de Xadrez. 7ª edição. São Paulo: Ed. Nobel, 1978.
CANEN, A. Avaliação da aprendizagem em sociedades multiculturais. Rio de Janeiro: Papel Virtual, 2000.
CASTRO, Celso. Uma história cultural do xadrez. Caderno de Teoria da Comunicação, Rio de Janeiro, V.1, nº 2, p.3-12, 1994.
DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix./ Mil Platôs - Capitalismo e esquizofrenia. Vol. 5.
ESCUDERO, N. T. G.; NEIRA M. G. Avaliação da aprendizagem em educação física: uma escrita autopoiética. Est. Aval. Educ., São Paulo, v. 22, n. 49, p. 285-304, maio/ago. 2011.
ESTEBAN, Maria Tereza. Avaliação: uma prática em busca de novos sentidos. 2. Ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso: aula inaugural no Collège de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970. 13 ed. Tradução Laura F. A. Sampaio. São Paulo: Loyola, 2006.
________. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979.
________. Em defesa da sociedade: Curso no Collège de France (1975-1976), (trad. De Maria Ermantina Galvão). São Paulo: Martins Fontes, 2000.
GPEF. Grupo de pesquisas em educação física escolar- http://www.gpef.fe.usp.br/ - data de acesso 30/08/2012.
HALL, Stuart, Identidade cultural na pós-modernidade. 5.ed. Rio de Janeiro; DP&A, 1999.
________. A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso tempo. Educação & Realidade, v. 22, nº 2, jul./dez.1997.
HORTON, B. J. Moderno dicionário de xadrez. Tradução de Flávio de Carvalho Junior. 3. ed.São Paulo: Ibrasa, 1973.
MOREIRA, A. F. B. e CANDAU, V. M. Educação escolar e cultura(s): construindo caminhos. Revista Brasileira de Educação. N. 23, p. 156-168, 2003.
NEIRA, M. e NUNES, M.. Educação Física, Currículo e Cultura. São Paulo: Phorte, 2009.
________. Pedagogia da cultura corporal: crítica e alternativas. São Paulo: Phorte Editora. 2006.
ROCHA, Wesley Rodrigues. Projeto de Xadrez. Estado de Goiás - Secretaria de Estado da Educação /Subsecretaria Metropolitana de Educação: Escola Estadual Major Alberto Nóbrega.Goiânia, 5 de março de 2009.
SÁ, Antônio Villar Marques de.; ROCHA, Rodrigues Rocha. Iniciação ao xadrez escolar. 2 ed. Goiânia: Potência, 1997. Editora 34- São Paulo, 1997.
TZU, Sun. A Arte da Guerra. Coleção Leitura. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1996.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista
Digital · Año 17 · N° 176 | Buenos Aires,
Enero de 2013 |