Nutrição e atividade física na prevenção e tratamento da osteoporose Nutrición y actividad física en la prevención y tratamiento de la osteoporosis |
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*Educador Físico graduado pela Universidade Estadualde Montes Claros, Unimontes, Montes Claros, Minas Gerais **Acadêmico do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Estadual de Montes Claros ***Nutricionista. Professora da Universidade Estadual de Montes Claros****Médica. Especialista em Saúde da Família pela Universidade Federal de Minas Gerais *****Enfermeira/o. Professor/a da Universidade Estadual de Montes Claros(Brasil) |
Paulo Henrique Souza e Souza* Luís Paulo Souza e Souza** Jaqueline Teixeira Teles Gonçalves*** Ilka Santos Pinto**** Ricardo Soares de Oliveira***** Simone Guimarães Teixeira Souto***** |
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Resumo Os ossos sofrem um processo de remodelação contínua, e o suprimento adequado de nutrientes e substratos é essencial para apoiar essa fase. Este trabalho objetiva fazer uma abordagem da osteoporose, abordando o papel da nutrição na sua prevenção e tratamento, assim como o papel da atividade física. Trata-se de revisão da literatura, realizada nas bases Scielo, Medline e Lilacs. Utilizou-se os descritores osteoporose, tratamento, prevenção, fraturas ósseas, nutriente, no período de publicação de 2001 a 2012. A nutrição está diretamente relacionada ao aparecimento ou não de casos de osteoporose. O cálcio e a proteína são nutrientes ativos no metabolismo de ossos, como também são o fósforo e a vitamina D. Destaca-se outras vitaminas e outros elementos minerais necessários para os processos metabólicos de formação óssea, incluindo-se vitamina K, vitaminas do complexo B, magnésio, manganês, silício. Além de a nutrição adequada contribuir na redução dos quadros de osteoporose, a prática de atividade física reduz o risco de fraturas, uma vez que proporciona a não perda óssea, a qual pode ocorre com a inatividade. Conclui-se que a osteoporose tem atingido números cada vez mais crescentes, cabendo aos profissionais que lidam diretamente com esses pacientes a detecção precoce e efetiva intervenção, atentando-se sempre para a ingesta adequada dos alimentos essenciais na formação óssea e nas práticas de atividades físicas, melhorando a qualidade de vida dos pacientes com osteoporose. Unitermos: Osteoporose. Tratamento. Prevenção. Nutriente.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 176, Enero de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Caracteriza-se osteoporose como um comprometimento da força óssea que predispõe a aumento do risco de fratura, sendo essa força a integração entre a densidade mineral óssea e a qualidade óssea. A doença tem alto impacto social e econômico, com aumento da incidência nos últimos anos e alta mortalidade em decorrência das fraturas (PEREIRA et al., 2009).
A osteoporose participa não só para aumentar a frequência das fraturas, mas também para aumentar as possibilidades de formatos diferentes, desde fraturas sem manifestação clínica, como as chamadas fraturas morfométricas do corpo vertebral, passando por fraturas incompletas, até fraturas cominutivas muito instáveis que apresentam impossibilidade técnica de remontagem anatômica do osso. Algumas fraturas podem não ser detectáveis, outras, como as do corpo vertebral, podem deixar sequelas muito dolorosas; e outras podem levar o paciente ao óbito ou à incapacidade física permanente, como as fraturas da extremidade proximal do fêmur (SOUZA, 2010; DOMICIANO e PINHEIRO, 2011).
Com o aumento da expectativa de vida, a osteoporose é uma doença cada vez mais diagnosticada em mulheres e homens de todo o mundo. A osteoporose é muito mais comum em mulheres, mas a Organização Mundial da Saúde (OMS) também considera sua presença em homens como um problema de Saúde Pública. É preocupante que a mortalidade em virtude da fratura osteoporótica é duas vezes maior em homens que em mulheres. Considera-se, ainda, que o risco absoluto de fratura não é diferente entre homens e mulheres da mesma idade e com a mesma densidade mineral óssea (KIEBZAK et al., 2002; SEEMAN et al., 2006).
A identificação precoce dos fatores de risco associados à baixa massa óssea e às fraturas é fundamental para o manuseio de pacientes de risco, especialmente para a introdução de estratégias efetivas de prevenção, diagnóstico e tratamento. Além disso, apresentam baixo custo e são de fácil execução e implementação, especialmente em países em desenvolvimento (CADARETTE et al., 2000; SEM et al., 2005; HENRY et al., 2006).
Segundo a OMS, a osteoporose atinge mais de 75 milhões de pessoas na Europa, no Japão e nos Estados Unidos. Na Europa, a cada trinta segundos acontece uma fratura por osteoporose. A osteoporose é responsável por cerca de 2,3 milhões de fraturas por ano na Europa e nos Estados Unidos (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2003).
A ingestão inadequada de nutrientes impede a remodelação óssea. Como consequência, há perda da densidade óssea e fraturas. Sendo assim, a ingestão alimentar de nutrientes envolvidos na saúde óssea é um objetivo desejável para prevenir e tratar osteoporose, assim como a prática de atividade física, dentro das limitações de cada indivíduo (FERRETTI et al., 2008).
Assim, a partir do exposto, este estudo objetiva fazer uma abordagem sobre a osteoporose, destacando o papel da nutrição diante da prevenção e tratamento de tal agravo, assim como o papel da atividade física.
Metodologia
Trata-se de uma revisão da literatura científica sobre a osteoporose e o papel da nutrição e da atividade física em sua prevenção e tratamento. Marconi e Lakatos (2003) informam que tal técnica é metodológica ampla, que permite inclusão de estudos experimentais e não experimentais para uma compreensão completa do fenômeno analisado, podendo também ser combinada com literatura teórica e empírica. Para tanto, procedeu-se a busca de publicações disponíveis nas principais bases eletrônicas de periódicos: Medline, Scielo e Lilacs.
Tal busca foi iniciada utilizando os descritores osteoporose, tratamento, prevenção, fraturas ósseas e nutriente, no período de publicação de 2001 a 2012. Após a pesquisa com os descritores, os artigos foram identificados por área temática, autores, ano e resumos, selecionando aqueles que se enquadravam ao objetivo dessa pesquisa. Adicionalmente, foram consultados livros-textos contemporâneos de especialistas da área sobre o tema.
Realizou-se uma leitura de forma reflexiva, buscando identificar concepções teóricas sobre o tema proposto.
Desenvolvimento
Os ossos passam por um processo de remodelação contínua, e a ingesta adequada de nutrientes e substratos é necessária para apoiar essa fase. O cálcio dietético e a proteína são nutrientes ativos no metabolismo de ossos, como também são o fósforo e a vitamina D. Há outras vitaminas e outros elementos minerais necessários para os processos metabólicos de formação óssea, incluindo-se vitamina K, vitamina C, vitaminas do complexo B, magnésio, cobre, zinco, manganês, potássio, boro, silício (ALBERTAZZI e COUPLAND, 2002).
Outros nutrientes, como ômega 3 e fibras, também são citados na prevenção e no tratamento da osteoporose. Reduzem a produção de citocinas pró-inflamatórias e produzem alta concentração de ácidos carboxílicos de cadeia curta, o que aumenta a acidez intestinal e a absorção de minerais (ALBERTAZZI e COUPLAND, 2002; PEREIRA et al., 2012).
Cálcio
O cálcio participa do cristal de hidroxiapatita (Ca10(PO4)6(OH)2) que dá resistência mecânica ao osso. Na composição do tecido ósseo este cristal corresponde a 65%. O cálcio existe na natureza em todos os seres vivos. As maiores fontes são o leite e os laticínios. Também são muito ricos: a sardinha, o feijão e os vegetais de folhas escuras (SOUZA, 2010). As doenças esqueléticas estão associadas à deficiência de cálcio (COZZOLINO, 2007; LEIS e WINDSCHHOFER; 2008).
A administração isolada de cálcio é eficiente para diminuir a incidência de fraturas (SOUZA, 2010).
Vitamina D
A vitamina D é um “quase hormônio”. Atua na absorção intestinal do cálcio alimentar e na reabsorção tubular renal do cálcio urinário. Reduz os níveis de PTH e estimula a osteogênese pelos osteoblastos.
Sem vitamina D, somente 10% a 15% do cálcio dietético e cerca de 60% do fósforo são absorvidos. A deficiência de vitamina D aumenta o risco de fraturas em idosos, pois a absorção subótima de cálcio aumenta a reabsorção óssea e diminui a força muscular (DELUCA, 2004; BROWN, 2008).
Bischoff-Ferrari, Willett e Wong (2005), em estudo, encontraram média de redução de 25% do risco de fraturas não vertebrais e na articulação do quadril quando os pacientes foram suplementados com 700 UI a 800 UI de vitamina D por dia.
Magnésio
O magnésio é necessário para a formação óssea, e a deficiência desse nutriente é frequentemente verificada em pacientes com osteoporose. A deficiência de magnésio está relacionada à formação óssea inadequada, que colabora com a perda de massa óssea (RUDE et al., 2003).
Manganês
O manganês é necessário para a síntese de um mucopolissacarídeo que fornece estrutura para a calcificação óssea. A deficiência de manganês, quando induzida em animais, reduz a concentração de cálcio nos ossos, o que acarreta ossos mais frágeis (FERRETTI et al., 2008).
Vitamina K
A vitamina K é responsável pela manutenção da integridade óssea e formação normal do osso, pois atua no processo de carboxilação de osteocalcina (proteína Gla – ácido gama-carboxiglutâmico do osso), que atua como matriz proteica para nova formação óssea.
Diversos estudos têm mostrado que a suplementação de vitamina K na osteoporose promove aumento da densidade óssea (IWAMOTO, TAKEDA e SATO, 2004).
Silício
O silício atua na formação da matriz óssea, cria ligações de colágeno e proteoglicanos durante o crescimento ósseo. Uma interessante relação ocorre entre o silício e o cálcio, dois importantes elementos para a formação óssea. Mesmo em dietas pobres em cálcio, mas ricas em silício, a mineralização óssea é satisfatória (HING, REVELL e SMITH, 2006).
Vitaminas do complexo B
As deficiências de vitaminas do complexo B, inclusive a B12, e o aumento de homocisteína, aumentam o risco de desenvolvimento da osteoporose.
Níveis inadequados de folato, B6 e B12 originam acúmulo de hemocistéina intracelular, que estimulará os osteoclastos, mas causará aterosclerose nos vasos sanguíneos dos ossos com redução da perfusão óssea, processos que levam à osteoporose (HERRMANN, SCHIMIDT e UMANKAYA, 2007).
Atividade física
A massa óssea é relacionada à ação da musculatura sobre o osso, portanto exercícios gravitacionais são mais efetivos. Autores destacam que os exercícios aeróbios de baixo impacto, como as caminhadas, excitam a formação osteoblástica e previnem a reabsorção; exercícios com pesos leves aumentam a massa muscular e a força dos músculos esqueléticos. A diminuição da força do quadríceps é um risco para ocorrência de fraturas do quadril (GALI, 2001; DALLANEZI et al., 2011; DOMICIANO e PINHEIRO, 2011).
Ocarino e Serakides (2006) informam que natação pode contribuir no relaxamento global e manutenção da amplitude de movimentos do que para estimular a produção óssea.
Gali (2001) esclarece que o benefício primário da atividade física estar no evitar perda óssea que ocorre com a inatividade, o que de certa maneira pode reduzir o risco de fraturas. Entretanto, informa que não pode ser recomendada como substituta do tratamento medicamentoso apropriado.
Considerações finais
Conclui-se que a osteoporose é uma doença crescente, refletindo acúmulo inadequado de massa óssea durante crescimento e maturidade, perda excessiva ou ambos. Visto que não há nenhuma medida efetiva para se reconstruir o esqueleto, a prevenção se constitui na estratégia primordial.
A detecção precoce de fatores que favoreçam a prevenção e tratamento da osteoporose deve ser preocupação de profissionais de saúde. Faz-se necessário analisar a ingestão alimentar com o objetivo de detectar nutrientes essenciais à saúde óssea que estão em baixo consumo, assim como a prática de atividade física, respeitando sempre as particularidades de cada pessoa, a fim de proporcionar uma melhor qualidade de vida aos pacientes com osteoporose.
Referências
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