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Metodologia abordada por profissionais de Educação Física
no treinamento de força para idosos em academias de ginástica
do Rio de Janeiro

Metodología abordada por los profesionales de Educación Física en el entrenamiento
de la fuerza para personas mayores en gimnasios de Río de Janeiro

 

*Graduado em Educação Física – UGF/RJ

**Mestre em Educação Física – UGF/RJ

***Mestrando em Educação Física – PPGCEE/UGF/RJ

****Doutor em Educação Física – UGF/UFRJ/RJ

(Brasil)

Henrique Matos Baptista*

Elen Salas Furtado**

Thulyo Lutz***

Silvio Telles****

thulyolutz@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O aumento da expectativa de vida e a procura por melhor qualidade de vida têm levado idosos a praticarem atividade física regularmente. As academias de ginástica e seus programas de treinamento de força têm sido um dos principais campos de procura. Este estudo teve como objetivo investigar a metodologia utilizada por profissionais de Educação Física que atuam com prescrição de exercícios/treinamento de força para idosos em academias de ginástica da cidade do Rio de Janeiro. Trata-se de uma pesquisa descritiva (GIL, 2002), em que utilizamos como instrumento para coleta de dados um questionário semiestruturado, a fim de investigar questões como a identificação e atualização do profissional; prováveis motivos da adesão dos praticantes à atividade; freqüência semanal; escolha dos equipamentos; método de disposição; protocolo utilizado para determinação da intensidade; nível de intensidade. Após a análise e discussão dos resultados, podemos concluir que os profissionais investigados estão elaborando e prescrevendo programas de exercícios de força de acordo com diretrizes e propostas apontadas no campo científico.

          Unitermos: Idosos. Treinamento de força. Metodologia.

 

Abstract

          The increase of life's expectation and the search for better quality of life have been make elderly people to practice physical activity regularly. The gyms and their strength training programs has been one of the principal fields that those people are searching. This study had as a goal the investigation of the methodology using by the professionals of Physical Education that act doing the prescription of these kind of physical exercises to elderly people in the city of Rio de Janeiro. This is about a descriptive transversal research (GIL, 2002), in with a survey is used as an instrument to collect information in order to investigate some questions like identification and updating of the professional; the main reasons that the person has to do the activity; weekly frequency; choice of equipment; intensity method; intensity level. After the analyses and discussion of the results we can conclude that the professionals investigated are elaborating and prescribing strength training according to the proposals pointed at the scientific field.

          Keywords: Elderly People. Strength training. Methodology.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 176, Enero de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A expectativa de vida dos brasileiros vem aumentando nos últimos anos, e o desejo de melhorar a qualidade de vida, bem como as recomendações médicas, têm levado os idosos a praticarem atividades físicas regularmente.

    Sabemos dos possíveis benefícios da prática regular de atividades físicas para a população idosa, e as academias de ginástica, especificamente por meio do treinamento de força, têm sido um dos principais nichos de procura.

    Um programa de exercícios/treinamento de força bem elaborado por profissionais de Educação Física pode gerar mudanças significativas na saúde e bem-estar do idoso, contribuindo para o aumento da massa muscular e da capacidade funcional, facilitando assim a realização das atividades rotineiras.

    Diante dos fatores supracitados, a fim de contribuir para o enriquecimento acadêmico/profissional e analisar a atuação dos profissionais neste campo, é necessário investigar quais são os procedimentos metodológicos utilizados pelos profissionais de Educação Física na prescrição de programas de treinamento de força para idosos em academias de ginástica da cidade do Rio de Janeiro?

Procedimentos metodológicos

    Trata-se de uma pesquisa descritiva (GIL, 2002), na qual para o alcance do objetivo proposto foi utilizado um questionário semiestruturado contendo questões a respeito da identificação e atualização do profissional; prováveis motivos da adesão dos praticantes à atividade; freqüência semanal de prescrição de exercícios; escolha dos equipamentos; método de disposição; intensidade. O instrumento de pesquisa foi aplicado aos entrevistados no local de trabalho dos mesmos, sem qualquer interferência do pesquisador.

    Participaram do estudo vinte e sete profissionais de ambos os sexos, com média de idade de 31,9 anos, sendo 23 homens com média de idade de 35,6 anos e quatro mulheres com média de idade de 33,3 anos, atuantes na modalidade musculação em academias de ginásticas localizadas nos bairros do Flamengo, Botafogo, Tijuca, Ipanema e Copacabana. Do total de entrevistados, 14 são especialistas, com cursos em fisiologia do exercício, treinamento desportivo, musculação, biomecânica, futebol, neurociência, ciência do desempenho humano e reabilitação cardíaca.

Referencial teórico

    A principal causa da diminuição da força muscular é a sarcopenia, que é caracterizada pela diminuição da massa muscular e está relacionada a fatores hormonais, metabólicos, nutricionais e imunológicos. Isto posto, há correlação entre o declínio da produção de testosterona, gerando perda da massa muscular, com quedas e acidentes em geral (DOHERTY, 2003 apud SILVA et al., 2006).

    O exercício físico contribui para a prevenção de quedas e lesões em idosos, pois fortalece a musculatura dos membros inferiores e da região dorsal, melhora os reflexos, a sinergia motora das reações posturais, a velocidade da marcha, o incremento da flexibilidade e a manutenção do peso corporal, além de reduzir o risco doença cardiovascular (SIMÃO, 2003).

    Matusdo (2002) também contribui para esta discussão, ao afirmar que indivíduos envolvidos na prática regular de exercícios físicos apresentam melhor desempenho das funções cognitivas por ação de mecanismos diretos (melhora na circulação cerebral, alteração na síntese e degradação de neurotransmissores) e indiretos (redução da pressão arterial em repouso e dos níveis plasmáticos de triglicerídeos, além de inibir agregação plaquetária).

    No que se refere à elaboração de um programa de exercícios, especificamente um treinamento de força, algumas variáveis interferem diretamente em cada sessão de treinamento. Com isso, Kraemer (1983) apud Fleck (1999) desenvolveu uma abordagem apontando grupos de variáveis a serem observados, pois manipulando cada grupo é capaz de se ter um número de protocolo de sessões.

    A escolha dos exercícios para cada grupamento muscular deve estar relacionada às condições e necessidades do idoso, bem como apresentar relação direta entre os exercícios multiarticulares, tipos de contração (isotônica; isométrica; isocinética) e equipamentos (máquinas simples; máquinas articuladas; pesos livres). É importante destacar também, que a elaboração de um programa de exercícios deve respeitar os princípios do treinamento físico, tais como: Individualidade biológica; adaptação; sobrecarga; interdependência volume e intensidade; continuidade; especificidade e reversibilidade. (GODOY, 1994; FLECK & KRAEMER, 2006; STOPPANI, 2008).

    É sabido que o desempenho da força e potência muscular é altamente dependente do metabolismo energético anaeróbio, principalmente da fonte energética dos fosfagênios (VOLEK & KRAEMER, 1996 apud FLECK & KRAEMER, 2006; MCARDLE et al., 2008). A maior parte da restituição dos fosfagênios ocorre em três minutos. Assim, os intervalos de recuperação devem ser, inicialmente, de dois a três minutos, e à medida que o indivíduo se adapta ao exercício, pode haver redução para um a dois minutos (ACSM, 2002). Da Silva e Farinatti (2007) preconizam intervalos de um a três minutos, por justificar a necessidade de restituição completa de fosfagênio em três minutos.

    No que se refere à intensidade do programa de exercícios, Simão (2003) diz que o percentual da carga a ser utilizado é o principal estímulo relacionado às mensurações da força e da resistência muscular. Contudo, há necessidade de utilizar cargas leves e moderadas no início do programa, a fim de permitir melhor familiarização e adaptação do idoso ao aprendizado dos movimentos (BOMPA & CORNACCHIA, 2000).

    Em relação à alta intensidade (>75% de 1RM) e baixa intensidade (<65% de 1RM), é valido destacar que Vicente e Braith (2002) apud Da Silva e Farinatti (2007) constataram que após 24 semanas de treinamento, realizando apenas uma série durante três vezes por semana com 80% de 1RM, um grupo de idosos obteve 79% de aumento de força. Já o outro grupo que treinou a 50% de 1RM obteve 52,4% de aumento.

    Côrtes e Silva (2005) concluíram que um programa de treinamento prescrito para ser realizado duas vezes na semana com três séries de oito repetições a 60% de 1RM, e posteriormente realizado três vezes na semana com 75% a 85% de 1RM, conforme diretrizes do ACSM (2002), foi suficiente para ganhos de força. Houve aumento de 10% a 14% para membros inferiores e 25% a 43% para membros inferiores, após 12 semanas de treinamento com idosos de 60 a 79 anos.

    Da Silva e Farinatti (2007) apontam que em relação ao número de séries e de repetições para os exercícios, o melhor resultado para ganhos de força se deu ao grupo que realizou apenas duas séries com alta intensidade (>75% de 1 Repetição Máxima – 1 RM), totalizando 48% de aumento de força em 12 semanas de treinamento, com 42 idosos de ambos os sexos. Fleck e Kraemer (2006); ACSM (2002) recomendam programas de exercícios com freqüência de duas a três vezes por semana.

Resultados e discussão

    De imediato, nosso propósito era conhecer a maneira pela qual os profissionais se atualizam. Assim, podemos concluir que 48,4% buscam conhecimentos contemporâneos em livros; já 32,2% se atualizam em artigos de revistas, periódicos e congressos locais; 19,4% só utilizam cursos e simpósios regionais.

    Perguntamos também aos profissionais de Educação Física entrevistados, quais eram os principais motivos e fatores que levam os idosos à prática de atividade física em academias, especificamente musculação. Por se tratar de investigação feita aos profissionais, e não aos idosos, nos preocupamos apenas em apontar as respostas fornecidas, sem a intenção de classifica-las e/ou segregá-las.

    Assim, foi possível apontar que os idosos procuram as academias a fim de melhorar a qualidade de vida, execução das atividades diárias e o bem-estar. É valido destacar que a recomendação médica apareceu como resposta de 90% dos entrevistados.

    Em relação à metodologia utilizada pelos profissionais para a elaboração e prescrição de exercícios, buscamos obter informações tais como: freqüência semanal; escolha dos equipamentos; método de disposição dos exercícios; protocolo utilizado para determinação da intensidade; nível de intensidade.

    Ao analisar os resultados, é possível perceber que 70,4% dos entrevistados prescrevem o treinamento para se realizado três vezes por semana. Já 14,8% defendem a freqüência de duas vezes. Os demais professores, representando também 14,8%, preferem que o treinamento seja realizado com freqüência de quatro vezes ou mais. Para enriquecer a discussão, o ACSM (2002) afirma que é adequado e seguro, para quem inicia um programa de treinamento de força, realizá-lo com freqüência de uma a duas vezes por semana; podendo chegar a três, como afirmam Fleck e Kraemer (2006).

    Em relação ao tipo de equipamento utilizado para a realização do programa de exercícios, 51,8% relataram usar máquinas simples e de fácil ajuste, já 29,6% optam por máquinas simples de fácil ajuste em conjunto com pesos livres, e apenas 3,7% utilizam outros tipos de máquinas articuladas. Contudo, 14,9% dos profissionais relatam prescrever os programas utilizando várias combinações de instrumentos.

    Para Fleck e Kraemer (2006), as máquinas simples devem ser prescritas com o propósito de ajustar facilmente o idoso ao aparelho no período de adaptação, porém ao longo do treinamento é importante e necessário que os exercícios com pesos livres sejam inseridos, a fim de promover melhores adaptações na coordenação e propriocepção (BOMPA & CORNACCHIA, 2000; FLECK & KRAEMER, 2006). Já para Uchida et al. (2004), é necessário trabalhar com pesos livres em razão da “liberdade de movimento”, bem como a favor da consciência corporal, melhora de equilíbrio, ritmo, estabilidade e concentração.

    O ACSM (2002) orienta que sejam escolhidos equipamentos e aparelhos confortáveis e seguros, porém cabe ao profissional qualificar-se para melhor identificar as necessidades do praticante.

    No que se refere ao método utilizado pelos profissionais para disposição dos exercícios, é possível observar que 55% dos entrevistados utilizam, preferencialmente, o método alternado por segmento.

    Em razão da escolha do método alternado por segmento, Uchida et al. (2004) defendem sua utilização a fim de evitar fadiga precoce durante os exercícios. Tal justificativa é semelhante a de Stopanni (2008); Cossenza e Carnaval (1985); Bittencourt (1986), pois afirmam que indivíduos idosos necessitam de maior tempo de recuperação muscular. O ACSM (2002) defende que sejam elaborados programas de treinamento de força que sigam essa diretriz. No entanto, Fleck e Kraemer (2006) defendem a diversificação do programa como forma de evitar a estabilidade e o plato de desenvolvimento.

    Silva et al. (2009), ao investigarem mulheres idosas, observaram que a alternância dos exercicios não influênciou diretamente nos resultados, porém é importante ressaltar a preocupação e o cuidado com a ordenação deles, a fim de evitar que os músculos sinérgicos percam seu rendimento ao serem treinados antes dos músculos maiores (SILVA et al., 2009; FLECK & KRAEMER, 2006; BOMPA & CORNACCHIA, 2000).

    Ao analisarmos a escolha dos protocolos para a determinação da intensidade do programa de exercicios, é possível depreender que 40,8% dos profissionais informaram usar como parâmetro de intensidade a escala subjetiva de esfoço (BORG). Já 37% dos profissionais utilizam o protocolo de Repetições Máximas (RMs), e apenas 3,7% relataram usar o teste de 1RM. Já 18,5% relataram não usar padrão algum para determinação da intensidade.

    É seguro a utilização do protocolo de 1RM, porém torna-se desgastante à medida que o indivíduo aumenta seus níveis de força, sendo necessário nova mensuração do nível força em curtos espaços de tempo (FLECK & KRAEMER, 2006; SIMÃO, 2006; SILVA et al.,2009).

    A escala de BORG, que também foi citada pelos profissionais entrevistados para o acompanhamento e a determinação da intensidade do treinamento, não determina, estatisticamente, a intensidade que está sendo utilizada (FLECK & KRAEMER, 2006). Desta forma, não parece ser um método adequado para tal objetivo.

    A determinação do percentual da carga é motivo de diversos estudos. Sobre esse tema, observamos que 55,5% dos entrevistados optaram por prescrever o treinamento com intensidade entre 60% a 70% de 1RM. Para 25,9% dos profissionais, a prescrição ficou entre 50% a 60% de 1 RM. No entanto, 11,5% optam por intensidade entre 40% a 50%, e 7,5% utilizam um quantitativo iguai ou maior que 75% de 1RM.

    No estudo de Côrtes e Silva (2005), a manutenção da força foi preservada em indivíduos idosos após realizarem treinamento de força de alta intensidade (>75% de 1 RM). Em relação a isto, apenas 14,8% dos profissionais por nós investigados relataram prescrever o treinamento de força com intensidade acima de 75% de 1RM. O ACSM (2002) reforça a utilização da progressão do treinamento sobre a variável intensidade, que pode chegar até 85% de 1RM.

Considerações finais

    É possível afirmar, conforme apresentado e discutido anteriormente, que os profissionais investigados estão elaborando e prescrevendo programas de exercícios de força de acordo com aquilo defendido no campo cientifico de tal assunto. Isto se destaca, principalmente em relação à freqüência semanal de prática, equipamentos utilizados e método de disposição dos exercícios. No entanto, as recomendações gerais reforçam que o controle da intensidade da carga (% de 1RM) pode variar de 50% a 85%, e nós não encontramos valores médios maiores que 70% de 1RM. Como discutido durante o texto, é sabido que os melhores ganhos de força ocorrem em intensidade igual ou superior a 75% de 1RM.

    É válido destacar que a prática regular de atividade física por idosos, especialmente o treinamento de força/musculação, aliada a um estilo de vida saudável e melhoria do aporte de saúde governamental, contribui significativamente para a promoção da saúde. Para tanto, é necessário que a prática seja prescrita, orientada e avaliada por um profissional de Educação Física.

    Acreditamos que nossa discussão e investigação sejam significativas para o debate em torno do tema proposto, tendo em vista o aumento da expectativa de vida e o avanço profissional no campo da promoção da saúde, com destaque para a prática de atividades físicas. Portanto, é importante que outros estudos possam ser realizados a fim de contribuir, cada vez mais, para a adesão, manutenção e permanência de idosos na prática, bem como para o aperfeiçoamento profissional.

Referências

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 176 | Buenos Aires, Enero de 2013
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