Investigação da prevalência de lesões bucofaciais em atletas de futsal Investigación sobre el predominio de lesiones bucofaciales en jugadores de futsal Investigation of bucofacial lesions in indoor soccer athletes |
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*Graduados em Odontologia, Universidade de Fortaleza, UNIFOR **Aluno de graduação em Odontologia. Universidade de Fortaleza, UNIFOR ***Doutor em Ciências da Saúde. PPGCSA-UFRN Professor Assistente de Clínica Odontológica Universidade de Fortaleza, UNIFOR (Brasil) |
Sylvya Valéria Maia Fernandes* Mariana dos Reis Lima* Mariana Melo da Silva* Sandro Dias Rocha Mendes Carneiro** Danilo Lopes Ferreira Lima*** |
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Resumo Introdução: Define-se Odontologia Esportiva como a área da Odontologia voltada para o conhecimento, prevenção e tratamento das lesões e doenças do sistema estomatognático na prática esportiva. Objetivo: O objetivo do presente estudo foi investigar a prevalência de lesões bucofaciais em atletas profissionais e amadores de Futsal. Metodologia: Foram entrevistados 80 atletas da modalidade envolvida utilizando um questionário estruturado que contém: categoria (amador ou profissional), tempo e frequência semanal de prática do esporte, utilização de protetores bucais e tipos de lesões sofridas (fratura dentária, fratura de ossos da face, laceração de mucosa). Resultados: Quanto à ocorrência de trauma bucofacial, 17 (21,3%) atletas afirmaram já ter sofrido algum tipo de trauma, enquanto 63 (78,7%) nada sofreram. Dentre as causas dos traumas foram observados 5 (6,3%) casos em decorrência do impacto por bola, 1 (1,3%) caso em decorrência de queda, 9 (11,3%) casos por choque com parceiro e 2 (2,5%) por outros motivos. Conclusão: O presente estudo verificou que lesões bucofaciais em atletas ocorrem com frequência e que a saúde bucal e proteção frente a possíveis danos físicos devem ser levadas em consideração. Unitermos: Saúde bucal. Esportes. Traumatismos em atletas.
Abstract Introduction: Sports Dentistry is defined as the area of Dentistry concerned with the knowledge, prevention and treatment of the lesions and diseases of the stomatognathic system in the sports practice. The goal of the present study is to investigate the prevalence of bucofacial lesions in professional and amateur indoor soccer athletes. Methodology: 80 athletes of the involved sport were evaluated using a structured questionnaire that contains: category (amateur or professional), time and week frequency of the sport practicing, use of mouth protectors and types of lesions (dental fractures, face bones fractures, mucous membrane lacerations). Results: About the occurrence of bucofacial trauma, 17 (21.3%) athletes related they had already suffered some type of trauma, while 63 (78.7%) had not suffered any. Among the bucofacial trauma causes was observed 5 (6.3%) cases of trauma due ball impact, 1 (1.3%) for falling, 9 (11.3%) cases for crashing with a partner and 2 (2.5%) for other reasons. Conclusion: The present study pointed that bucofacial lesions in athletes happen with frequency and their oral health and protection to possible physics damage have to be considered. Keywords: Oral health. Sports. Trauma in athletes.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 176, Enero de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A Odontologia Esportiva, apesar de não ser reconhecida como uma especialidade odontológica, pode ser considerada como uma área da Odontologia que trata e previne os traumatismos bucofaciais e as doenças bucais relacionadas ao atleta e com sua performance. Seu principal objetivo é garantir uma excelente saúde bucal ao esportista, detectando fatores prejudiciais a ele como presença de infecções bucais, disfunção temporomandibular, respiração bucal e o mau posicionamento dos dentes, além de orientar sobre a administração de medicamentos isentos de substâncias que possam causar doping positivo (LIMA, 2012).
No esporte, os traumas ocorrem, predominantemente, nos impactos com outros jogadores, como, por exemplo, através de chutes e cotoveladas involuntárias (TANAKA, 1996). A maioria das fraturas maxilofaciais relacionadas ao esporte ocorrem durante a prática de esportes coletivos com grande contato interpessoal, como judô, jiu-jitsu, karatê, handebol, futebol, entre outros.
Futsal é um esporte coletivo derivado do futebol. Chamado inicialmente de Futebol de salão é considerado, hoje, o esporte mais praticado do nosso país. Devido à imensa quantidade de praticantes de ambos os sexos que começam a jogar na infância, seja na escola ou nos clubes, a possibilidade de problemas bucofaciais ocorrerem por causa da prática esportiva ou afetando esta prática é notória, sendo a investigação de lesões bucofaciais em atletas profissionais e amadores de Futsal o objetivo do presente estudo.
Metodologia
Este trabalho é um estudo do tipo observacional transversal que avaliou 80 praticantes de Futsal. Foram incluídos somente indivíduos adultos, independentemente de gênero e idade, que praticam o esporte, pelo menos, duas vezes por semana. Foram excluídos aqueles que não participam de competições amadoras e/ou profissionais.
Para verificar traumas decorrentes da prática esportiva foi utilizado como instrumento de coleta de dados um questionário estruturado contendo as seguintes perguntas: categoria (amador ou profissional), tempo e frequência semanal de prática do esporte, utilização de protetores bucais, tipos de lesões sofridas (fratura dentária, fratura de ossos da face, laceração de lábio, laceração de bochecha, avulsão dentária) e a forma de como ocorreu a lesão (devido à bola, queda, contato com o parceiro ou por outros motivos). Os dados foram tabulados e a estatística descritiva realizada através do programa Microsoft Office Excel ®. O presente estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade de Fortaleza sob parecer nº 142/2011.
Resultados
Foram entrevistados 80 atletas, sendo 48 do gênero feminino e 32 do gênero masculino, destes 48 eram profissionais e 32 amadores. Entre as atletas, 26 eram amadoras e 22 profissionais, e entre os jogadores, 6 eram amadores e 26 profissionais. As idades variaram entre 18 e 32 anos com média de 21,6±4,1 anos.
Quando questionados sobre o uso de protetor bucal, 4 (5%) atletas afirmaram fazer uso deste, enquanto 76 (95%) não o fazem. Dentre os atletas que utilizavam o artifício todas pertenciam ao gênero feminino, sendo 3 atletas amadoras e 1 profissional.
Quando questionados sobre já terem sofrido trauma bucofacial, 17 (21,3%) atletas afirmaram já ter sofrido algum tipo de trauma, enquanto 63 (78,7%) afirmaram nada ter sofrido. Ao dividir o grupo que sofreu alguma lesão pelo gênero verificou-se que 11 (64,7%) eram mulheres, onde 7 pertenciam à categoria amadora e 4 profissionais, enquanto 6 (35,3%) eram homens, sendo que somente 1 pertencia à categoria amadora e 5 à categoria profissional.
Observou-se que 16 atletas sofreram laceração de mucosa sendo que 13 atletas afirmaram ter sofrido laceração de lábio e 3 laceração de bochecha. Verificou-se também que 2 afirmam ter sofrido fratura de ossos da face, 5 tiveram fratura dentária e apenas 1 jogador sofreu avulsão dentária, sendo do gênero feminino (Tabela 1). Vale salientar que alguns atletas sofreram mais de um trauma.
Tabela 1. Tipos de traumas orofaciais relacionados ao gênero
Relacionando os tipos de traumas bucofaciais à categoria (amador e profissional), dos 13 atletas que relataram ter sofrido laceração de lábio, 7 eram amadores e 6 profissionais; dos 3 que sofreram laceração de bochecha, 1 era amador e 2 eram profissionais. As fraturas ósseas ocorreram somente em atletas profissionais e dos 5 que afirmam ter sofrido fratura dentária, 2 eram amadores e 3 profissionais. A única atleta que sofreu avulsão dentária era amadora (Tabela 2).
Tabela 2. Tipos de traumas orofaciais relacionados à categoria
Dentre as causas das lesões, 5 (29,4%) ocorreram devido à bola, sendo 4 no gênero feminino e 1 no masculino; 1 (5,9%) devido à queda, no gênero masculino; 9 (52,9%) traumas devido ao contato com o parceiro, sendo 4 em mulheres e 5 em homens, e 2 (11,8%), relatados como por outros motivos, ocorreram no gênero feminino.
Discussão
Epstein, em 1962, afirmou que as lesões causadas por pancadas nos dentes e tecidos de proteção e sustentação levam a injúrias que podem resultar desde o abalo dentário até a perda do elemento associada a fraturas dos tecidos de sustentação e dilacerações do tecido de proteção, além da frequente mortificação pulpar.
Com a análise do questionário aplicado pode-se observar que 21,3% dos entrevistados já sofreram trauma bucofacial. Os resultados também demonstram que apenas 5% dos atletas fazem uso de protetor bucal e que tal uso só se deu em decorrência de trauma pregresso. Quando verificados atletas de artes marciais, 81,7% dos entrevistados reportaram alguma lesão (ROSSAS; LIMA, 2012)
Em relação ao mecanismo da ação dos protetores bucais, Josell; Abrams (1982) afirmaram que estes dispositivos funcionam como almofada, distribuindo as forças durante o golpe, prevenindo a laceração e equimose dos lábios e bochechas durante o impacto, evitando que os dentes do arco oposto sofram contatos traumáticos, os quais poderiam fraturá-los ou danificar suas estruturas de suporte.
Os traumatismos dentários no esporte possuem a particularidade de poderem ser prevenidos pelo uso de protetores bucais. Assim, cabe ressaltar a necessidade de maior conscientização e divulgação no Brasil, sobretudo entre os atletas profissionais, das vantagens do uso de protetores bucais na prática esportiva, minimizando e, até mesmo, prevenindo, a ocorrência de injúrias aos tecidos moles bucais e peribucais (RIBEIRO et al., 2002). De acordo com De Wet (1981), no momento da ocorrência de um traumatismo dentário, a maior parte dos pais e alguns cirurgiões-dentistas têm dúvidas de como proceder.
Muitas universidades e clubes esportivos ainda ignoram a Odontologia direcionada ao esporte. Cabe aos cirurgiões-dentistas reivindicar seu espaço, promovendo campanhas de conscientização. Para tanto, estes devem possuir conhecimento suficiente para orientar os atletas sobre o tipo de proteção mais eficaz e adequada para cada esporte (SIZO et al, 2009).
Conclusão
Traumas bucofaciais apresentam significativa ocorrência em atletas de Futsal. Dentre os traumas que acometem os atletas de Futsal, a laceração de lábio é o mais prevalente. A saúde bucal e proteção frente a possíveis danos físicos devem ser levadas em consideração pelo atleta.
Referências bibliográficas
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LIMA, D.L.F. Odontologia Esportiva: o cirurgião-dentista no cuidado do esportista. 1ª Ed. Editora Santos: São Paulo, 2012.
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RIBEIRO, A.A.; GUEDES, R.S.; SOUZA, I.P.R. Recuperação da confiança do atleta com o uso de protetores bucais na prática de esporte – relato de caso. J Bras Odontopediatr Odontol Bebê, v.5, n.23, p.11-15, 2002.
RODRIGUES, H.J.G.; SILVA, R.P.R.; BASTOS, R.S.; BASTOS, J.R.M. Odontologia esportiva: atenção dos atletas amadores aos cuidados de saúde bucal na cidade de Bauru (SP). Rev. ABO Nac, v.17, p.35-39, 2009.
ROSSAS, I.L.; LIMA, D.L.F. Investigação de lesões bucofaciais em praticantes de artes marciais. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, 169(17). http://www.efdeportes.com/efd169/lesoes-bucofaciais-em-artes-marciais.htm
SIZO, S.R.; SILVA, E.S.; ROCHA, M.P.C.; KLATAU, E.B. Avaliação do conhecimento em odontologia e educação física acerca dos protetores bucais. Rev Bras Med Esporte, v.15, n.4, p.282-286, 2009.
TANAKA, N.; HAYASH, S.; AMAGASA, T.; KOHAMA, G.. Maxillofacial fractures sustained during sport. J. Oral Maxillofac. Surg, v. 54, n. 6, p. 715-19, 1996.
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