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Iniciação à pesquisa no ensino médio: revelando possibilidades

La iniciación a la investigación en la escuela secundaria: revelando posibilidades

Research initiation on secondary education: revealing possibilities

Initiation à la recherche dans l’enseignement secondaire: dévoiler les possibilités

 

*Mestre em Ciência do Movimento Humano, UFSM. Professor e Coordenador do Curso

de Educação Física - Licenciatura. Centro Universitário UNIVATES. Lajeado, RS

**Doutor em Filosofia, PUC, RS. Professor do Centro de Ciências Humanas

e Jurídicas do Centro Universitário UNIVATES. Lajeado, RS

***Mestre em Educação pela UFSM. Professor do Centro de Ciências Exatas

e Tecnológicas do Centro Universitário UNIVATES. Lajeado, RS

****Mestre em História pela UNISINOS/RS. Doutorando no PPGH da PUC, RS

Prof. da rede privada e da rede estadual de ensino. Lajeado, RS

(Brasil)

Derli Juliano Neuenfeldt*

derlijul@univates.br

Rogério José Schuck**

rogerios@univates.br

Adriano Edo Neuenfeldt***

adrianoneuenfeldt@univates.br

Tiago Weizenmann****

tiagoweizenmann@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O estudo teve por objetivo identificar e analisar propostas de iniciação à pesquisa desenvolvidas com alunos de Ensino Médio. Caracteriza-se como uma pesquisa-participante realizada em uma escola de Ensino Médio, da rede de ensino privada, de um município do Vale do Taquari/RS/BRA. As informações são oriundas das reuniões do grupo de pesquisa com o coordenador do Ensino Médio e três professores da escola participante na pesquisa. Os instrumentos para a coleta dos dados foram os registros em atas, entrevistas e acompanhamento do cotidiano escolar das práticas pedagógicas relacionadas à pesquisa registradas em diário de campo. Durante a pesquisa foi organizada uma Viagem de Estudos das turmas de segundos anos, da qual fazem parte três disciplinas: História, Geografia e Biologia. Percebeu-se que a escola preocupa-se com a iniciação à pesquisa, possuiu material didático para orientar a escrita dos trabalhos escolares, busca conciliar a teoria (sala de aula) com a prática (saída a campo), despertando a curiosidade dos estudantes. Além disso, concilia também o uso de recursos tecnológicos na busca e coleta de informações e na divulgação dos resultados, contribuindo com o processo de ensino aprendizagem.

          Unitermos: Iniciação à pesquisa. Ensino Médio. Tecnologias. Ensino.

 

Resumen

          El presente estudio tuvo como objetivo identificar y analizar propuestas de iniciación a la investigación desarrolladas con alumnos de la Escuela Secundaria. Se caracteriza como una investigación participante realizada en una escuela secundaria, de la red privada, de un municipio del Vale do Taquari, RS, Brasil. Las informaciones se han obtenido de reuniones del grupo de investigación con el coordinador de la Escuela Secundaria y tres profesores de la escuela que participaron de la investigación. Los instrumentos para la recolección de los datos fueron los registros de actas, entrevistas y acompañamiento del día a día escolar de las prácticas pedagógicas relacionadas a la investigación, registradas en un diario de campo. Durante la investigación se ha organizado un Viaje de Estudio de los alumnos de los segundos años, del cual formaron parte tres asignaturas: Historia, Geografía y Biología. Se ha notado que la escuela se preocupa con la iniciación a la investigación, posee material didáctico para orientar la producción de los trabajos escolares, busca conciliar la teoría (aulas de clase) con la práctica (salida de campo), y eso hace despertar la curiosidad de los estudiantes. Además, concilia también el uso de recursos tecnológicos en la búsqueda y recolección de informaciones y en la divulgación de los resultados, lo que contribuye con el proceso de enseñanza-aprendizaje.

          Palabras clave: Iniciación a la investigación. Escuela Secundaria. Tecnologías. Enseñanza.

 

Abstract

          The study aimed to identify and analyze research initiation proposals developed on Secondary Education. It is a participation-research carried out in a Private Secondary School in a town from Taquari Valley, RS, Brazil. Data came from the meetings with research group, coordinator of the Secondary Education, and three teachers of the research participant school. Data collection came from minute records, interviews, and accompaniment of pedagogical school practice routine concerning the research registered in field diary. A Field Trip was carried out with the second year groups during the research contemplating three subjects: History, Geography and Biology. It was found out that the school is concerned with research initiation, has educational material to orient school written tasks, and aims to integrate theory (classroom) with practice (field trip) stimulating students’ curiosity. It also integrates the use of technological resources on searching and collecting information and displaying results, therefore contributing for the learning and teaching process.

          Keywords: Research initiation. Secondary Education. Technology. Education.

 

Résumé

          L'objectif de l’étude a été d’identifier et analyser les propositions d’initiation à la recherche entreprises auprès des élèves d’enseignement secondaire. Elle se caractérise en tant que recherche-participante dans un établissement d’enseignement secondaire, du système scolaire privé, d’une municipalité de la Vallée du Taquari, RS, Brésil. Les informations sont issues des réunions du groupe de recherche avec le coordinateur de l’enseignement secondaire et trois enseignants de l’établissement participant à la recherche. Les instruments de collecte de données ont consisté dans les registres des actes, les entretiens et l'accompagnement du quotidien scolaire des pratiques pédagogiques liées à la recherche enregistrées dans le journal de terrain. Pendant la recherche un voyage d’études a été organisé avec des classes de deuxième année, de trois disciplines: histoire, géographie et biologie. Il a été remarqué que l'école est préoccupée par l’initiation à la recherche, elle possède du matériel didactique pour guider la rédaction des travaux scolaires, elle cherche à concilier la théorie (en classe) et la pratique (sortie sur le terrain), suscitant la curiosité des élèves. De plus, elle concilie également l'utilisation des ressources technologiques dans la recherche et la collecte d'informations et la diffusion des résultats, contribuant au processus de l'enseignement apprentissage.

          Mots-clés: Initiation à la recherche. Enseignement secondaire. Technologies. Enseignement.

 

Projeto aprovado pelo COEP/UNIVATES. COMUNICAÇÃO n.º 50/11, protocolo COEP/Univates 021/11.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 176, Enero de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Contemporaneamente, com o advento de novas ferramentas tecnológicas, como é o caso do computador e da Internet, cresce a preocupação com relação a novas posturas em relação ao conhecimento. Não se trata de questionar a utilidade das novas ferramentas, mas antes percebermos em que medidas fazem parte da vida de nossos discentes, assim como a forma que elas vêm sendo utilizadas na iniciação à pesquisa propriamente dita.

    Os resultados dos estudos realizados pelo presente grupo de pesquisa (SCHUCK et. al. 2010, NEUENFELDT et al. 2008) sobre a compreensão de pesquisa dos alunos de Ensino Médio, chamou a atenção dos pesquisadores. Ao se investigar 373 alunos do 3.º ano do Ensino Médio dos municípios de Lajeado, Estrela, Arroio do Meio e Encantado, RS/BRA, em 2008, Neuenfeldt et al. (2008), em focando a análise do uso da Internet como fonte de pesquisa e como ela é utilizada para elaboração de trabalhos escolares, evidenciou-se que há uma insuficiente preocupação com plágios e direitos autorais, sendo prática muito difundida a cópia literal dos textos.

    O uso indevido dos recursos tecnológicos na iniciação à pesquisa é um tema que desafia educadores. Estas questões também são identificadas no Ensino Superior. Schuck et al (2010) constataram que há falta de reflexão em relação à pesquisa pelo aluno universitário, apontando que há fortes indícios de uma ligação direta entre a escola básica e a falta de compreensão metodológica de pesquisa, predominando entre os alunos uma postura passiva frente à pesquisa. Corroborando com este quadro, Neuenfeldt et al. (2011), ao buscarem compreender o modo como se dá a iniciação à pesquisa no Ensino Superior, partindo dos professores que atuam com as disciplinas relacionadas a essa área no Centro Universitário UNIVATES/RS, constaram, entre os professores, uma preocupação em relação à compreensão de ciência e de pesquisa com a qual os alunos estão ingressando no Ensino Superior. Além disso, os docentes destacam a necessidade de desenvolver nos alunos a autonomia na busca pelo conhecimento e a autoria nos textos que escrevem.

    Dessa forma, o presente estudo, ao enfocar o Ensino Médio, apresenta algumas questões: a) A escola tem se preocupado com o processo de iniciação à pesquisa? É possível evidenciar práticas de iniciação à pesquisa? De que forma os recursos tecnológicos têm sido utilizados pelos alunos e como está sendo construída essa nova relação no acesso e na construção do conhecimento?

    Como objetivo, buscou-se identificar e analisar propostas de iniciação à pesquisa, desenvolvidas com os alunos de Ensino Médio, a partir das disciplinas que compõe o currículo, para depois problematizá-las face à decorrente reprodução e apropriação indevida do conhecimento.

    O estudo se deu em conjunto com professores de uma escola de Rede Particular de Ensino, da Região do Vale do Taquari/RS. O enfoque se manteve no processo de compreensão e efetivação de pesquisas pelos alunos.

Metodologia

    Tendo em vista os propósitos pertinentes a este processo investigativo, entende-se que a pesquisa participante é que se mostra mais adequada aos mesmos. A pesquisa participante pressupõe o envolvimento da comunidade observada, aqui representada pelas turmas de alunos e seus respectivos professores, que durante o desenvolvimento da pesquisa refletem e analisam a sua própria realidade. Concorda-se neste ínterim com Demo (1997) que, da mesma forma que a pesquisa-ação, na pesquisa participante há uma preocupação com a prática.

    De acordo com Matos (2001, p. 46), a pesquisa participante “caracteriza-se pelo envolvimento e identificação do pesquisador com as pessoas investigadas.” Desta forma percebe-se que os pesquisadores se envolvem com o objeto pesquisado, o que dificulta, de certo modo, a neutralidade diante do exposto, haja vista que em determinados momentos partilham e compartilham das atividades desenvolvidas na comunidade pesquisada.

Participantes

    O desenvolvimento do estudo ocorreu junto a uma escola da rede particular do Ensino Médio do Vale do Taquari/RS, contando com a participação do coordenador pedagógico do Ensino Médio e três professores dos segundos anos.

    O objeto de investigação foram as práticas relacionadas à iniciação à pesquisa. Inicialmente fez-se contato com a equipe diretiva, que conversou com os professores e indicou o coordenador pedagógico do Ensino Médio para participar e acompanhar o processo. Por seu intermédio, chegamos aos professores das disciplinas de História, Geografia e Biologia.

    Entre os critérios de escolha e exclusão dos participantes, elegemos a disponibilidade de participar dos encontros do grupo de pesquisa; a adesão voluntária e a viabilização do estudo a partir da proximidade com a Univates. Este último critério se justifica devido à necessidade de deslocamento dos pesquisadores para registro das práticas relacionadas à iniciação à pesquisa desenvolvidas pelos professores participantes do estudo.

Técnicas e procedimentos de coleta de informações

    A coleta dos dados foi realizada mediante uma pesquisa de campo e sob observação participante. Bogdan e Biklen (1994) comentam que a maioria dos investigadores qualitativos se utilizam-se do trabalho de campo. Nestes locais eles encontram-se com os sujeitos, passando muito tempo juntos no território destes, tais como: escolas, recreios... Mas, mesmo o investigador entrando no mundo do sujeito, continua a estar do lado de fora.

    As reuniões do grupo de pesquisa contaram com a participação do coordenador do Ensino Médio. Elas foram registradas em atas e disponibilizadas em Ambiente Virtual, no site de acesso restrito aos participantes da pesquisa, constituindo-se como canal de aproximação entre o grupo de pesquisa e os professores da escola. Num segundo momento, houve a aproximação com os demais professores do Ensino Médio (Geografia, Biologia e História) dos segundos anos. Por fim, foram feitos registro em Diário de Campo das práticas de pesquisa observadas, sendo que houve o acompanhamento, por um bolsista de iniciação à pesquisa, na Viagem de Estudos feita pelas turmas dos segundos anos a Garopaba/SC, no período de 19 a 22 de outubro de 2011.

    Em determinados momentos fez-se necessário a realização de entrevistas. Todos os entrevistados foram comunicados do objetivo do estudo, leram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, aprovado pelo Comitê de Ética da Univates. As entrevistas foram agendadas e realizadas em local reservado. Foram gravadas, transcritas e entregues aos entrevistados para que pudessem ler e validar as informações. Eles também tiveram a liberdade para acrescentar ou excluir trechos de suas falas. A entrega aos informantes foi feita em cópia impressa ou via e-mail, buscando o recurso que o entrevistado considerasse mais adequado.

    Por fim, foram registradas por meio de fotografias as atividades desenvolvidas na Viagem de Estudos e os painéis elaborados pelos alunos para divulgação da pesquisa realizada.

Análise das informações

    As informações obtidas foram estruturadas em uma categoria de análise, que conforme Gomes (2004), significa agrupar elementos, ideias e expressões em torno de um conceito com características comuns, ou que se relacionam entre si.

    Além disso, foi realizada a triangulação das informações obtidas nas entrevistas com os referenciais teóricos, principalmente Demo (2007), que defendem a necessidade de se educar pela pesquisa e que este processo deve ser iniciado na Educação Básica. O mesmo aspecto já fora percebido no estudo de Neuenfeldt et al. (2008) sobre a produção do conhecimento no Ensino Médio, frente à presença das novas tecnologias de informação (Internet), com as Novas Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio (BRASIL, 2011), entre outros. A triangulação das informações, conforme Triviños (1987, p. 138), “tem por objetivo abranger a máxima amplitude na descrição, explicação e compreensão do foco em estudo”.

    Para se preservar a identidade e o sigilo das informações dos professores e da instituição de ensino, utilizamos os seguintes códigos: “escola do estudo”, “coordenador do Ensino Médio”, “professor 1”, “professor 2” e “professor 3”.

Práticas de pesquisa no ensino médio: revelando possibilidades

    Na escola do estudo percebeu-se que há preocupação com a iniciação à pesquisa. O coordenador do Ensino Médio destaca que “um dos objetivos da escola é instrumentalizar os alunos para a pesquisa, desde o Ensino Fundamental, séries iniciais até as finais. Há um manual de pesquisa elaborado pelos professores de Linguagem” (Ata n.º4, 06/05/2011). Este material didático-pedagógico é denominado “Elementos Constitutivos de um Projeto de Pesquisa e do Trabalho” (FORNECK, SCHRAMMEL, SENGER, 2008) e tem como objetivo orientar os alunos na escrita dos trabalhos solicitados pelos professores.

    Em relação ao Ensino Médio, este “recebe um material específico para sua formação que está em constante evolução, existindo trabalhos maiores a cada ano letivo, com a extração de ideias centrais e trabalhos na execução de trabalhos multidisciplinares, com viagens onde se trabalha a prática e a teoria. O 2.º ano vai para Garopaba/SC onde faz estudos relacionados à vida marinha, geografia, entre outros. O 3.º ano tem a experiência de acompanhar a atuação de um profissional por um dia e a partir desta vivência faz-se um trabalho de pesquisa e relatam a experiência. Nestes, há várias disciplinas trabalhando juntas na execução do estudo da pesquisa” (Ata n.º4, 06/05/2011). Nas novas diretrizes para o Ensino Médio encontramos que:

    A pesquisa, associada ao desenvolvimento de projetos contextualizados e interdisciplinares/articuladores de saberes, ganha maior significado para os estudantes. Se a pesquisa e os projetos objetivarem, também, conhecimentos para atuação na comunidade, terão maior relevância, além de seu forte sentido ético-social (BRASIL, 2011, p. 22).

    Ainda, em relação à questão da iniciação à pesquisa, o Professor 1 menciona: “Atualmente a escola tem o compromisso com o conhecimento, não significando apenas a sua reprodução pura, trabalha-se um espaço de construção e discussão, não se apropriando de forma indevida do conhecimento que já existe” (Ata n.º 08, 22/06/2011).

    Nesta mesma direção, Demo (2007, p. 08) sintetiza o que se espera em relação ao processo de iniciação à pesquisa:

    A pesquisa inclui sempre a percepção emancipatória do sujeito que busca fazer e fazer-se oportunidade, à medida que começa e se reconstitui pelo questionamento sistemático da realidade. Incluindo a prática como componente necessário da teoria, e vice-versa, englobando a ética dos fins e valores.

    Contudo, em relação ao uso da internet, o Professor 1 comenta que “existe os dois extremos, onde alunos a usam como entretenimento e bate papo assim como para a leitura de textos ou através de indicação de professores na busca de materiais de apoio” (Ata n.º 08, 22/06/2011). Ao se reportar sobre a elaboração dos trabalhos, este professor comenta que

    “a maioria são desenvolvidos em grupos, na maior parte em sala de aula, onde os professores disponibilizam o material didático, bem como, em outros momentos, é contemplada a realização de trabalhos individuais. Explica que em alguns momentos os professores solicitam aos alunos que tragam seu notebook para a realização de pesquisas e trabalhos orientados em sala de aula, para que os alunos saibam utilizar esta ferramenta de pesquisa” (Ata n.º 08, 22/06/2011).

    O impacto das novas tecnologias sobre as escolas, afeta a ideia da instituição escolar como único centro do conhecimento. O conhecimento passa a estar disponível em outras instituições e espaços. No entanto, a informação não pode ser confundida com conhecimento. “O fato dessas novas tecnologias se aproximarem da escola, onde os alunos, às vezes, chegam com muitas informações, reforça o papel dos professores no tocante às formas de sistematização dos conteúdos e de estabelecimento de valores” (BRASIL, 2011, p. 21).

    Ao buscarmos evidências de práticas de iniciação à pesquisa no Ensino Médio, na escola do estudo, percebemos que há uma vinculação dela com Viagens de Estudo. Isso é comentado pelo coordenador do Ensino Médio:

    “A Escola já trabalha com projetos de pesquisa, porém com o aumento da carga horária de aula os trabalhos foram organizados por viagens de estudos, onde os alunos recebem orientações de profissionais das regiões que estão conhecendo (Missões e Garopaba). Ao retornarem à escola organizam trabalhos em grupos, utilizando-se de diferentes temas e referências para sua composição. Assim a escola procura explorara o espírito investigativo e crítico do aluno” (Entrevista, 29/11/2011).

    Dessa forma, acompanhou-se o processo de estruturação e efetivação da Viagem de estudos à Garopaba/SC/BRA das turmas de segundos anos, à qual é associado um trabalho de pesquisa relacionado a três disciplinas: História, Geografia e Biologia. A viagem de estudos ocorreu de 19 a 22 de outubro de 2011. Acompanharam a viagem dois professores do Ensino Médio, o de Geografia e o de Biologia, e um membro do grupo de pesquisa.

    “No local, orientações também foram passadas por uma equipe de quatro professores que prestam serviço educacional especializado que tem por objetivo criar, através de práticas educativas e de lazer, uma nova consciência ecológica, mostrando como cada um pode e deve fazer para suavizar as agressões ao meio ambiente” (Diário de campo, 20/10/2011).

    O Professor 1, em reunião do grupo de pesquisa, comenta que

    “[...] esse trabalho iniciou com a disciplina de Biologia, mas que se percebeu que a mesma possui grande aproximação com Geografia e História, então se pensou em fazer um trabalho diferente, um trabalho interdisciplinar. Antes dos alunos irem para a viagem, eles já sabem como serão avaliados, pois elaboram de uma forma geral o que deve ser contemplado dentro desse trabalho” (Ata n.º 9, 14/07/2011).

    Ao serem apresentadas as relações entre o ensino e a viagem de estudos nas reuniões do grupo de pesquisa, percebemos que uma das preocupações dos três professores envolvidos diz respeito a não tornar a pesquisa solicitada aos alunos algo repetitivo de um ano para outro, bem como estimular o uso de novas tecnologias. Em discussão com o grupo foi sugerido, para 2011, ampliar a divulgação, que era restrita às turmas e à entrega do trabalho escrito. O Professor 2 comenta que “o que pode ser pensado é o aluno ter o compromisso de após a viagem, expor e divulgar o seu trabalho na escola, pensar em estratégias onde os trabalhos não apresentassem a mesma coisa, pois seria repetitivo”. O Professor 3 comenta que “já teve uma experiência de criação de um vídeo com seus alunos do Ensino Fundamental, e relatou que foi uma experiência muito boa, pois eles adoram ter o contado com a tecnologia, internet, movie maker” (Ata n.º 9, 14/07/2009).

    Barbosa et al. (2007) alertam que a tecnologia, tal como a informática, não deve ser vista como salvadora da educação, mas como uma ferramenta a mais que contribui no trabalho com as diversas disciplinas e na busca de uma educação de qualidade. Além disso, deve ajudar os professores na sua prática pedagógica e aos alunos servir como fonte de pesquisa e investigação.

    A partir disso, os professores propuseram aos alunos a realização de um vídeo em grupo (documentário) a partir da Viagem de Estudos. Como orientações gerais, passaram aos alunos que o vídeo deveria abordar os conteúdos das disciplinas envolvidas. Na Biologia, o propósito foi eleger cinco ambientes. Em cada um deles deveriam fazer registros fotográficos, identificar no mínimo três espécies que ali vivem, classificá-las, descrever o modo de vida, as características deste ambiente e sua importância no ecossistema.

    Para a disciplina de Geografia, a tarefa exigiu apresentar informações que caracterizassem aspectos geográficos das praias visitadas, coletando informações referentes às características naturais e humanas (ocupação). Para tal, foram utilizados mapas e/ou imagens de satélites como base para demarcar os locais percorridos e explorados. Em relação à disciplina de História, os alunos tiveram que ressaltar, descrever e analisar os principais registros históricos que confirmam a presença de indígenas antes da ocupação européia, além de destacar marcos da fundação da cidade, relacionando-os à imigração açoriana. E, como uma segunda tarefa solicitou-se a elaboração de um pôster a partir de temáticas pré-determinadas.

    Em tempos contemporâneos, modelos do espaço do conhecimento começam a ser construídos com as novas tecnologias. As representações em escalas lineares e paralelas, em pirâmides estruturadas em “níveis”, organizadas pela noção de pré-requisitos e convergindo para saberes “superiores”, serão substituídas pela imagem de espaços de conhecimentos emergentes, abertos, contínuos, em fluxo, não lineares, se reorganizando de acordo com os objetivos ou os contextos, nos quais cada um ocupa uma posição singular e evolutiva (LÉVY, 2003).

    No período da viagem foram construídas relações de aprendizagem com os locais visitados e as disciplinas.

    “O grupo fez uma caminhada de cerca de seis quilômetros pela beira do mar até a pousada. Encontraram pelo caminho uma tartaruga que havia sido atacada em alto mar por predadores, porém ela se encontrava morta à beira da praia. Foi comentado que ela já havia sofrido mutações por já ter nadadeiras em vez de patas” (Diário de campo, 21/10/2011).

Figura 1: Temas dos estudos eram abordados a partir do que se encontra na Orla

    Em outra atividade os alunos foram divididos em grupos. “Um foi para a coleta de dados sobre as algas e outro foi fazer coleta e classificação de moluscos, assim fotografando-os e catalogando-os de acordo com as espécies” (Diário de campo, Pesquisador 1, 20/10/2011). Percebe-se o interesse dos alunos em registrar, com uso dos recursos tecnológicos, as algas.

Figura 2. Coleta de algas e registro pelos alunos com uso recursos tecnológicos

    No diário de campo ficou registrado:

    “No dia vinte e um de outubro, pela manhã, um grupo se deslocou até a praia da Ferrugem, onde conheceram o Sambaqui, sítios líticos, formações de correntes oceânicas, formações das praias e habitat dos índios. No mesmo momento, outro grupo recebia instruções da diversidade marinha, tais como anêmonas, ouriços e algas. Percebe-se que há interesse dos alunos, que questionam” (Diário de campo, 21/10/2011).

Figura 3. Estrutura rochosa utilizada pelos indígenas para afiar seus utensílios.

    “No último dia, na parte da manhã, a turma se dirigiu até o projeto Baleia Franca, onde foi proferida uma palestra sobre os costumes das baleias, suas características e como elas foram caçadas por muitos anos. Após foi abordada a história de Garopaba/SC, como surgiu o nome do município, as origens de sua arquitetura, e os costumes relacionados á colonização Açoriana. Após estas instruções foram passear pela vila do município, onde visitaram a igreja e a praça, analisando as casas de arquitetura europeia” (Diário de Campo, pesquisador 1, 22/10/2011).

Figura 4. Presença da arquitetura europeia na cidade de Garopaba/SC.

    Após o retorno da viagem os alunos tiveram o desafio de, a partir das imagens coletadas, elaborarem um vídeo e um banner que foi exposto no Hall de entrada da escola.

Figura 5. Divulgação da pesquisa realizada a toda a escola.

    Ao perguntar aos professores que acompanharam a viagem, sobre a relevância desta atividade, eles comentaram:

    “A viagem colocou em prática o que os alunos estudavam. Tiveram oportunidade de ir além dos conteúdos que aprenderam em sala de aula, e o interessante é que tiveram esta vivência com uma mescla das outras disciplinas, como História e Geografia”. (Entrevista Professor. 2, 08/12/2011)

    Outro docente acrescenta: “Trabalhei com conteúdo teórico pré-viagem, mas não focado na viagem em si, mas com urbanização, população, migração, colonizações e atividades econômicas” (Entrevista Professor 3, 07/12/2011).

    Há que se ressaltar que as atividades desenvolvidas pelos alunos, na saída de campo ou na sistematização do conteúdo, atenderam a um propósito interdisciplinar, uma experiência que buscou aplicar o princípio da transversalidade, a partir das disciplinas de Biologia, Geografia e História. Assim como afirma Freitas Neto (2010), essa experiência busca um conhecimento aplicável à realidade e à construção por alunos e professores. Não se trata de demonstrar fórmulas ou soluções para as questões que são estudadas, mas para identificar procedimentos e visualizar possibilidades e limites. A transversalidade, como destaca o mesmo autor, “ultrapassa a fragmentação dos conteúdos, das disciplinas, prevendo um trabalho cujo conhecimento seja construído em função dos temas e dos propósitos apresentados” (FREITAS NETO, 2010, p. 59).

Considerações finais

    A iniciação à pesquisa no Ensino Médio, no contexto brasileiro, mostra-se como um campo promissor de estudos e aprendizagens. No final de 2011 foram apresentadas novas diretrizes curriculares para o Ensino Médio. Nestas destaca-se que a pesquisa como fundamento pedagógico pode propiciar a participação do estudante tanto na prática pedagógica quanto colaborar para o relacionamento entre a escola e a comunidade (BRASIL, 2011).

    Neste processo, cada escola terá que trilhar seu caminho. A escola do estudo possui preocupação com a iniciação à pesquisa, elaborou seu próprio material didático para orientar a escrita dos trabalhos escolares, busca associar a pesquisa à viagens de estudos, visando conciliar a teoria (sala de aula) com a prática (saída a campo), despertando assim a curiosidade nos estudantes. Além disso, atenta às mudanças ao perfil do aluno do Ensino Médio, também fez uso de recursos tecnológicos no processo de coleta de informações e divulgação dos resultados, tanto na elaboração de um vídeo (documentário) quanto do pôster.

    Uma consequência da sociedade de informação é que a sobrevivência nesse ambiente requer que o aluno, para além de adquirir determinadas informações e desenvolver habilidades para realizar certas tarefas, aprenda a aprender. Para isso é necessário novo comportamento dos professores, que devem estimular a realização de pesquisas, a produção de conhecimentos e o trabalho em grupo (BRASIL, 2011).

    Dessa forma, a proposta de pesquisa que foi desenvolvida com os alunos de Ensino Médio, contemplou a “necessidade de promover o conhecimento capaz de apreender problemas globais e fundamentais para neles inserir os conhecimentos parciais e locais” (MORIN, 2000, 14). O cenário e o contexto de Garopaba/SC, tornaram-se propícios para discutir temas que se fundem, relacionam e completam. Assim, por exemplo, a biodiversidade local pode ser melhor compreendida quando os alunos reconhecem que fatores históricos e geográficos influenciaram e continuam agindo sobre a sua existência, conservação ou depredação.

    Esta constatação vai ao encontro das ideias de Morin que defende a existência de um conhecimento que possa abranger os objetos em seu contexto, sua complexidade, seu conjunto. Para tanto, como destaca o autor, “é necessário desenvolver a aptidão natural do espírito humano para situar todas essas informações em um contexto e um conjunto” (2000, p. 14). Enfim, a proposta interdisciplinar, mencionada neste texto, buscou colocar em prática exercício que permitisse estabelecer as relações mútuas e as influências recíprocas entre as partes e o todo em um mundo complexo, onde o uso de ferramentas tecnológicas é uma realidade que não pode ser ignorada, sendo que quando bem utilizada, torna-se ferramenta no auxílio ao ensino e na aprendizagem.

Referências

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