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Atuação do enfermeiro saúde da família no pré-natal de risco
habitual e na assistência oferecida à saúde da mulher gestante

La intervención del enfermero de salud de familia en el pre-natal de riesgo
habitual y en la asistencia ofrecida a la salud de la mujer embarazada

 

*Enfermeira

**Enfermeira/Docente das FIPMOC

(Brasil)

Sueli Aparecida Andrade*

Cláudia Versiane**

sueliboc@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo buscou conhecer a atuação do enfermeiro do Programa Saúde da Família no Pré-natal de risco habitual e na atenção à saúde da mulher gestante, em Montes Claros – MG, Brasil. Foi realizado um estudo de coorte, transversal e qualitativo. A amostra compôs-se de 4 enfermeiras que responderam a uma entrevista semi-estruturada composta por 11 questões subjetivas nas quais foram abordados os temas: esquema vacinal da gestante; fármacos administrados durante a gestação; doenças rastreadas no pré-natal; dificuldades encontradas pelos profissionais para sua atuação no pré-natal e ainda os procedimentos técnicos que são preconizados e realizados na consulta de enfermagem no pré-natal. Esse estudo nos possibilitou conhecer as atividades realizadas pelo enfermeiro na consulta de enfermagem no pré-natal de risco habitual e ainda reconhecer o significado de sua atuação profissional no acompanhamento gestacional perante a população. As atividades desenvolvidas pelos enfermeiros foram: planejamento familiar, anamnese, exame físico, solicitação e/ou interpretação de exames laboratoriais, orientações sobre vacinação, medicamentos, realização de atividades com grupos de gestantes e atualização do cartão da grávida a cada consulta, mostrando estar de acordo com a lei do exercício profissional. Os objetivos da pesquisa foram alcançados uma vez que os enfermeiros atuam junto as gestante, oferecendo-lhe apoio fisiológico, psicológico, educacional e emocional, contribuindo com precisão e dedicação para uma melhor qualidade de saúde da mulher e do novo ser humano que será acolhido pela humanidade.

          Unitermos: Consulta. Enfermagem. Pré-natal. Vacinação. Fármacos.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 176, Enero de 2013. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    De acordo com Lowdermilk et al. (2002) uma vez confirmada a gestação e comprovado o desejo de continuá-la, começa o cuidado pré-natal.

    O Ministério da Saúde recomenda iniciar o acompanhamento da gestante no primeiro trimestre de gravidez e realizar pelo menos seis consultas nesse acompanhamento (NEUMANN et al, 2003).

    Assim, o principal objetivo de atenção pré-natal e puerperal é acolher a mulher desde o início da gravidez, assegurando, no fim da gestação, o nascimento de uma criança saudável e a garantia do bem-estar materno e neonatal (BRASIL, 2000).

    Atualmente a consulta de enfermagem na rede básica é realizada de acordo com o roteiro estabelecido pelo Ministério da Saúde, garantida pela Lei do Exercício Profissional e pelo Decreto 94.406/87, e assegura que o enfermeiro pode acompanhar integralmente o pré-natal de risco habitual (BRASIL, 2000 citado por LIMA e MOURA, 2005).

    Todos os esforços na atenção básica devem ser desenvolvidos no sentido de garantir o desenvolvimento de uma gravidez segura, sendo preconizadas ações de prevenção de agravos, promoção da saúde e tratamento dos problemas que ocorrem durante o ciclo gravídico-puerperal (BRASIL, 2000).

    Desse modo, o objetivo deste estudo foi conhecer a atuação do enfermeiro saúde da família no pré-natal de risco habitual, quais são as atividades desempenhadas por ele e também identificar as dificuldades encontradas nessa atuação que interferem na qualidade e prestação dessa assistência.

2.     Material e métodos

    Este estudo é de caráter qualitativo, bibliográfico e uma vez que foram utilizados como técnicas de coleta de dados a pesquisa bibliográfica e o levantamento de dados por meio de roteiro semi-estruturado. O instrumento utilizado para sua efetivação foi uma entrevista semi-estruturada própria, composta por onze questões abertas.

    A coleta foi realizada em três PSF’s (PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA) de Montes Claros-MG, Brasil. A amostra compôs-se de quatro enfermeiras atuantes nesses os PSF’s. Os critérios de inclusão para participar da pesquisa foram o profissional ser graduado em Enfermagem e disponibilizar de tempo para realização da pesquisa.

    Foi elaborado um termo de consentimento livre e esclarecido enfatizando o tema da pesquisa os objetivos, a importância, os aspectos éticos e participação voluntária dos PSF’s e dos colaboradores da pesquisa. Cada gerente dos PSF’s recebeu uma cópia do termo de autorização assinado pela tutora do projeto, e cada participante recebeu uma cópia do termo de consentimento livre e esclarecido garantindo seu anonimato do estudo.

    Após a análise e interpretação dos dados obtidos, estabeleceu-se a ligação entre esses dados e o referencial teórico.

3.     Análise e discussão dos resultados

3.1.     Medicamentos prescritos no pré-natal de risco habitual

    De acordo com Del Fiol & Avallone (2005), a gestação representa um problema terapêutico único, quando ao se prescrever um medicamento nesta situação especial, na verdade se está atingindo dois organismos simultaneamente. O adequado tratamento de pacientes gestante deve considerar, além dos agentes etiológicos, o local da infecção, a farmacocinética do antimicrobiano e principalmente a possibilidade de efeito deletério para o binômio gestante-feto.

    Vejamos as respostas das enfermeiras quando questionadas sobre quais medicamentos são prescritos no acompanhamento do pré-natal de risco habitual:

  • Enfermeira 1: “Sulfato ferroso, ampicilina, ácido fólico e paracetamol”.

  • Enfermeira 2: “Sulfato ferroso, Dramin, Paracetamol e ácido fólico“.

  • Enfermeira 3: “Sulfato ferroso, amoxicilina, ácido fólico e nistatina”.

  • Enfermeira 4: “Sulfato ferroso, ácido fólico, ampicilina e paracetamol”.

    O ácido fólico, citado por todos os entrevistados, age como coenzima em várias reações celulares fundamentais, e é necessário na divisão celular devido ao seu papel na biossíntese de purinas e pirimidinas, e, conseqüentemente, na formação de DNA e do RNA. Em geral, o crescimento rápido e as multiplicações celulares, aspecto central do desenvolvimento fetal, requerem um suprimento adequado de folato. Baixa ingestão de folato na gravidez e baixas concentrações de folato materno podem acarretar anemia megaloblástica, parto prematuro e baixo peso ao nascer (FONSECA et al, 2003).

    Segundo Aguiar (2003) a deficiência de ácido fólico é o mais importante fator de risco para os defeitos do tubo neural identificado até hoje. A suplementação periconcepcional e durante o primeiro trimestre de gravidez tem reduzido o risco para os defeitos do tubo neural em cerca de 50 a 70%. Devido á gravidade desses defeitos e sua morbimortalidade, torna-se muito importante o aconselhamento genético, a suplementação dietética com ácido fólico e o diagnóstico pré-natal das malformações do tubo neural.

    A favor da prescrição de suplementos de ferro, está a recomendação da OMS (ORGANAZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD, 1986) de que devido ás altas taxas de anemia nos países de terceiro mundo, deve-se ministrar tais medicamentos a todas as mulheres nos últimos quatro a cinco messes de gravidez. Esse, o ferro, citado também por todas as entrevistadas, é nutriente essencial como participante da hemoglobina e da mioglobina e de numerosas enzimas, de tal modo que as necessidades se tornam maiores frente a condições onde há rápido aumento tecidual, como na gravidez (TEDESCO, 2002).

    A deficiência de ferro pode ocasionar: Astenia e cansaço; perversão de apetite (desejo de comer terra, gelo, farinha); palidez cutâneo-mucosa variável, conforme a intensidade da anemia; alteração de fâneros (cabelos quebradiços e com tendência a queda; alterações nas unhas); risco aumentado de trabalho de parto prematuro; recém-nascido com baixo peso; em alguns casos é observado aumento da massa placentária que pode gerar hipertensão arterial materna; nos casos graves pode ocorrer morte fetal (NETTO, 2004).

    Em relação a amoxicilina e a ampicilina, citados por duas enfermeiras esses devem ser administrados com cautela. De acordo com Moore e Persuad (2008), os antibióticos como as tetraciclinas cruzam a membrana placentária e se depositam nos ossos e nos dentes do embrião, local esse de calcificação ativa. Quantidades não maiores que 1g por dia de tetraciclina, durante o terceiro trimestre de gravidez, podem produzir manchas amarelas nos dentes decíduos ou nos dentes permanentes.

    No que se refere à prescrição de Dramin, Paracetamol e nistatina, uma racionalização sensata do profissional perante esta, demonstra que mais importante do racionalizar a utilização de medicamentos na gravidez é saber avaliar a relação risco-benefício em diferentes situações. Conhecer exatamente o nível das informações que se tem sobre os efeitos da droga a ser empregada e, acima de tudo, promover a conscientização da gestante sobre o risco potencial do uso inadvertido de medicamentos.

3.2.     Esquema vacinal ideal para a gestante e seu monitoramento

    O desejável é que a mulher esteja adequadamente imunizada antes de iniciar uma gestação, mas no caso de ser necessário vacinar a gestante, deve-se avaliar os riscos médicos, legais e sociais da vacinação nesse momento específico da vida, visando à proteção da grávida e do recém-nascido (BRENT, 2003; ALMEIDA, 2005 apud SUCCI & FARHAT, 2006).

  • Enfermeira 1: “Realizo a avaliação do cartão de vacina, oriento os agentes comunitários de saúde a fazerem busca ativa e orientação da vacina”.

  • Enfermeira 2: “Analiso as fichas das gestantes da unidade de saúde”.

  • Enfermeira 3: “Através das consultas de pré-natal, eu confiro o cartão e registro no prontuário através da visita dos agentes comunitários de saúde”.

  • Enfermeira 4 dizendo a respeito do tétano neonatal “Oriento sobre os riscos da doença para a mãe e especialmente para o feto”.

    A imunização da gestante deve obedecer a algumas condições quanto à vacina se tem remotas chances de causar danos e se o risco de exposição à doença for alto e a infecção apresentar risco significativo para a mãe ou para o feto (GILIO, 2006).

    Tedesco (2002) diz que é recomendada a aplicação da vacina de Hepatite B em gestantes susceptíveis e de risco para a infecção como as profissionais da saúde, usuárias de drogas, parceiras de portadores de doenças sexualmente transmissíveis ou portadoras de doenças sexualmente transmissíveis. Afirma ainda que a vacinação antitetânica é a única indicada rotineiramente no pré-natal.

    Pikering (2000) afirma que a vacina contra a difteria e tétano é rotineiramente recomendada para as mulheres grávidas.

    O fato é que na gestação, as vacinas podem ser divididas em três categorias: vacina com indicação de uso, vacinas que podem ser utilizadas em situações especiais e vacinas que estão contra-indicadas (GILIO, 2006).

    Segundo Cha (2004), as vacinas que podem ser aplicadas durante a gravidez são difteria, tétano e hepatite B e as vacinas com risco potencial na gravidez são rubéola, varicela, sarampo e caxumba.

    De acordo com TEDESCO (2002), a vacina contra hepatite A, também não é recomendada durante a gravidez.

    As respostas transcritas a seguir, expressam a atuação dos enfermeiros de acordo com os princípios citados acima:

  • Enfermeiras 1 e 2: “A vacina indicada para as gestantes é a TT”.

  • Enfermeira 3: “É indicada a dT sendo três doses para as nunca vacinadas, uma dose reforço para as vacinadas a mais de cinco anos ou completar cartão”.

  • Enfermeira 4: “São indicadas a TT e Hepatite B para menores de 19 anos”.

    Duarte e Andrade (2006) explicam que é utilizada a vacina dupla, tipo adulto (dT) ou, na falta desta, com o toxóide tetânico (TT). Essa vacina tem por finalidade proteger a gestante e o recém-nascido contra o tétano.

    Ainda de acordo com Duarte e Andrade (2006), o esquema vacinal é feito de acordo com a história de vacinação anterior; a gestante que não recebeu nenhuma dose de vacina com o toxóide tetânico: DPT, DT, dT ou TT, ou que não completou o esquema proposto deverá ser considerada não vacinada. Providencia-se então a atualização da vacina, cujo esquema básico consta de três doses com intervalos de 60 dias entre elas, podendo este esquema ser alterado de acordo com a idade gestacional e o risco potencial para o binômio. Se a gestante estiver imunizada (aquela que recebeu as três doses de vacinas que contenham o toxóide tetânico), verifica-se se há necessidade de vacina de reforço que, no caso da grávida, é de cinco anos após a última dose.

    Segundo Gilio (2006), sempre que possível deve-se retardar a vacinação até o segundo ou terceiro trimestre de gestação para reduzir o risco de teratogenicidade.

    É aconselhável que se inicie a vacinação após o primeiro trimestre da gestação. Para a prevenção primária são administradas três doses intramusculares. Entre a 1ª e a 2ª dose. Para a prevenção secundária, dose única a cada 10 anos após completar a série primária. (AMARANTE, 2000).

    No entanto, Cha (2004) afirma que a vacina antitetânica pode ser administrada na gestante desde o primeiro trimestre da gestação, uma que os estudos mostram que há maior risco de suscetibilidade materno e fetal nesse período. Preconiza-se que a última dose seja administrada pelo menos duas a quatro semanas antes da data provável do parto, possibilitando a transferência de anticorpos sintetizados para o feto.

    Zugaib e Ruocco (2005) lembram que se a imunização prévia a gestação for incompleta, ou seja, se foram realizados apenas uma ou duas doses, deve-se completar a prevenção primária com três doses.

    Para a Hepatite B, citada em apenas uma das quatro respostas, na profilaxia de pré-exposição é recomendado o esquema de três doses, sendo a 1ª e a 2ª doses administradas com intervalo de um mês e a 3ª dose realizada cinco meses após a 2ª dose (ZUGAIB & RUOCCO, 2005).

    Segundo Cha (2004) essa vacina é raramente indicada durante a gravidez, podendo ser utilizada em situações de profilaxia pós-exposição, nos casos de contato sexual portadores crônicos acidentes percutâneos com agulha ou instrumental cirúrgico contaminado associando-se a administração de imunoglobulinas hiperimune.

    Entre os efeitos adversos mais freqüentes da vacina estão a dor no local de aplicação e mais raramente a febre baixa (ZUGAIB & RUOCCO, 2005).

3.3.     Doenças infecciosas de maior prevalência diagnosticadas nas consultas de pré-natal de risco habitual e condutas apresentadas frente a esses diagnósticos

    No Brasil, doenças infecciosas durante a gravidez são relativamente freqüentes, afetando especialmente populações menos favorecidas. De acordo com Figueiró Filho et al. (2007), o período gestacional não é isento de infecções que comprometam a saúde materno-fetal.

    Segundo Alvim, et al, (2007) ainda na primeira consulta, deve ser iniciada avaliação laboratorial, que deve constar dos seguintes exames: tipagem sanguínea, hemograma completo, glicemia de jejum, VDRL, exame comum de urina, anti-HIV, pesquisa de toxoplasmose IgG e IgM.

    Neste contexto inserem-se as principais doenças infecciosas encontradas em gestantes, que são: a tripanossomíase americana, a sífilis, a toxoplasmose, a rubéola, a hepatite B, a hepatite C e a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) (REICHE et al. 1999).

    No entanto, na prática de nossas entrevistadas, como podemos ver a seguir, a doença infecciosa mais encontrada é a infecção do trato urinário (ITU):

  • Enfermeira 1: “Infecção do trato urinário (ITU), verminoses, IRA's”.

  • Enfermeira 2: “Infecção do trato urinário (ITU), candidíase (vulvovaginites)”.

  • Enfermeira 3: “Infecção urinária”.

  • Enfermeira 4: “Infecção urinária”.

    Em relação a esta discordância, entre literatura e atuação, Figueiró Filho et al (2007) dizem que a literatura mostra evidências da importância em Saúde Pública das doenças infecciosas transmitidas verticalmente, enfatizando a necessidade de triagem abrangente das mais diversas infecções, agindo de forma a programar medidas de saúde preventivas que alcancem de modo mais efetivo o controle nas mais diversas populações.

    Silva (2000) relata que apesar dos dados clínicos e laboratoriais, contribuírem para o estabelecimento do diagnóstico, não é possível identificar o agente causal específico responsável pela doença infecciosa, tendo por base unicamente os sinais clínicos e os sintomas. Deste modo, a identificação do agente etiológico será através de testes Sorológicos.

    O enfermeiro, segundo Duarte & Andrade (2006), elabora o plano de assistência na consulta de enfermagem pré-natal e, de acordo com as necessidades identificadas e priorizadas, estabelece as intervenções, orientações e encaminhamentos a outros serviços, promovendo a interdisciplinaridade das ações, principalmente com a odontologia, medicina, nutrição e psicologia.

  • Enfermeira 1: “Orientações sobre condutas e se necessário prescrever o cuidado e medicamentos”.

  • Enfermeira 2: “Tratamento conforme o protocolo. Encaminhamento ao pré-natal de alto risco se necessário”.

  • Enfermeira 3: “Tratamento; aumento da ingesta de líquidos; higiene adequada e retorno após o tratamento”.

  • Enfermeira 4: “Além da prescrição de medicamento conforme protocolo, orientações: ingesta de líquidos, higienização, sintomas, etc.”.

3.4.     Ações desenvolvidas pelo profissional enfermeiro nas consultas de pré-natal

    Em muitas instituições de saúde, na rede básica de saúde e nos Programas de Saúde da Família que estão amplamente difundidos no país, é esperado que as enfermeiras se responsabilizem pela assistência pré-natal. Para tanto, a enfermeira, no seu processo de formação, deve receber treinamento das habilidades necessárias para atingir a proficiência e competência no atendimento à gestante durante o acompanhamento do mesmo (DOTTO et. al., 2006).

    A avaliação inicial abrange uma história de saúde, completa, enfatizando a gestação atual, as anteriores, a família, o perfil psicossocial, o exame físico, os testes diagnósticos e a investigação dos riscos em geral. Um formulário da história pré-natal é a melhor maneira de documentar as informações obtidas. O exame físico inicial proporciona a linha basal para a investigação das mudanças subseqüentes: o exame físico começa com a verificação dos sinais vitais, pressão sanguínea, altura e peso. A bexiga deve ser esvaziada antes do exame pélvico. A altura do fundo uterino é anotada se o primeiro exame for feito após o primeiro trimestre de gestação (LOWDERMILK et al, 2002).

    Essas ações são aqui relatadas pelas enfermeiras 1 e 2:

    “A consulta de enfermagem com todas as fases da SAE, anamnese, exame físico e ginecológico alimentação dos bancos de dados-SIS Pré-natal, SISVAM, suplementação de ferro e acido fólico, algumas orientações gerais, alimentação, atividade sexual, higiene, hidratação, ingesta hídrica, avaliação do esquema vacinal”.

    Para Sogimig (2003) o exame físico da gestante é de fundamental importância no sentido de surpreender doenças maternas que, de alguma forma, comprometem o binômio mãe-feto. Esse deve ser feito de forma sistêmica, ou seja, analisando os diferentes sistemas, e não apenas os que diretamente dizem respeito à gestante.

    Nesse exame deve-se avaliar: mucosas, varizes, temperatura, glândulas tireóides, pulso, ausculta cardíaca, cabeça, abdome, peso, pressão arterial, mamas, o períneo, a vulva, ainda se há presença de edemas. Medir a altura uterina e faze a coleta de PCCU (SOGIMIG, 2003).

    No exame ginecológico-obstétrico, avaliar a genitália externa, vagina, colo uterino e, no toque bidigital, quando necessário, avaliar o útero, anexos e fazer coleta de material para exame colpocitológico. Após 12ª semana medir a altura do fundo uterino da sínfise pubiana até o limite superior do fundo uterino. A ausculta fetal será possível após a 10/12ª semana com sonardoppler (PEREIRA & BACHION, 2005).

    As enfermeiras 3 e 4 ressaltam a solicitação de exames laboratoriais e a realização do exame ginecológico:

    “O exame físico completo, cadastro SIS-PRÉ-NATAL, classificação do risco, encaminhar ao pré-natal de alto risco, solicitar exames laboratoriais, prescrever sulfato ferroso e ácido fólico, coleta de PCCU, exame de mamas, solicitar ultra som, encaminhar ao grupo de gestante, educação em saúde”.

    Observa-se que as ações desenvolvidas pelo enfermeiro nas consultas de pré-natal de risco habitual são fazer a consulta de enfermagem (SAE), anamnese, exame físico e ginecológico, alimentação, uso de suplementações (ferro e ácido fólico), hidratação, higiene, avaliação do esquema vacinal, coleta de PCCU, exame de mamas, solicitar ultra som, entre outros.

3.5.     Dificuldades encontradas na prestação da assistência e que interferem na qualidade do acompanhamento do pré-natal

    A consulta de enfermagem oferece um instrumento, um vínculo de interação, de aproximação, de efetivo contato com o ser humano. Coloca o profissional enfermeiro em contato direto com o cliente, possibilitando desvelar a compreensão, a descoberta de dados que subsidiam todo o seguimento de seu estado de saúde ou de doença. Este espaço de relações em que se evidencia o cuidado coloca em ação a escuta atentiva, a observação e, principalmente a tomada de decisão (ZAGONEL, 2001 apud NERY & TOCANTINS, 2006).

  • Enfermeira 1: “As principais dificuldades referem-se aos aspectos comunitários e socioeconômicos como a demora na realização dos exames laboratoriais por falta de dinheiro para a gestação”.

    Em relação aos conhecimentos da realidade socioeconômica da cliente, de acordo com Zampieri et al (2001) apud Rios & Vieira (2007), isso só se faz possível com a utilização de estratégias como a escuta aberta, sem julgamento e preconceitos e o dialogo franco, permitindo a mulher falar de suas dúvidas e necessidades, possibilitando assim, o estabelecimento e fortalecimento do vínculo profissional-cliente.

  • Enfermeira 3: “A participação (adesão) aos grupos educativos, falta de exames (U.S, laboratorial)”.

    O Ministério da Saúde ressalta que as atividades educativas a serem realizadas em grupo ou individualmente devem conter uma linguagem clara e compreensível, a fim de promover orientações gerais sobre os cuidados na gestação, alterações fisiológicas e emocionais, cuidados com o recém-nascido, amamentação e planejamento familiar, assim como envolver o pai, respeitando a cultura e o saber popular para facilitar a participação ativa no parto. A promoção à saúde no pré-natal ocorre quando possibilitamos à mulher conhecimento sobre seu corpo e compreensão das alterações ocorridas, atuando de forma mais consciente e positiva no seu gestar (BRAZIL, 2000).

  • Enfermeiras 2 e 4: “As dificuldades encontradas na gestante como: não adesão ao uso da medicação sulfato e acido fólico, dificuldades em realizar os exames solicitados”.

    As necessidades gravídicas do ácido fólico preconizadas sugerem aumento ao dobro em relação à pré-gravídicas passando de cerca de 200 microgramas para 400 microgramas por dia (TEDESCO, 2002).

    De acordo com Neto (2004), a deficiência de fero é a etiologia mais freqüente da anemia verdadeira da gestação, iniciando em 55% das pacientes no terceiro trimestre da gravidez.

3.6.     Aceitação da consulta de enfermagem pelas gestantes

    Sabatino (1987, apud CARDOSO et al., 2007) defende o atendimento humanizado com ênfase na educação ao casal grávido com o objetivo de promover a participação ativa e informando sobre a gestação, trabalho de parto, parto e nascimento, por acreditar no poder e na autonomia feminina. Enfatiza que gravidez e parto são acontecimentos fisiológicos e que, com pouquíssima freqüência, necessitam de intervenção ativa de especialistas. Sua visão de pré-natal ativo e participativo favorece a promoção da saúde do casal grávido e do bebê.

    Para as enfermeiras colaboradoras, a aceitação da consulta de enfermagem no pré-natal é avaliada da seguinte forma:

  • Enfermeira 1: “Boa, as gestantes referem que o enfermeiro tem um cuidado mais humanizado, escuta qualificada e acolhimento”.

  • Enfermeira 2: “Considero de ótima aceitação e com ótima adesão”.

  • Enfermeira 3: “Não tenho problemas com aceitação. Muitas acham que os enfermeiros dão mais atenção, explica melhor”.

  • Enfermeira 4: “Ótima. São raras as gestantes na área de abrangência que se opõe a consulta de enfermagem”.

    A atuação do enfermeiro no pré-natal deve dar especial atenção aos órgãos dos sentidos como um dos instrumentos utilizados na prestação de um cuidado sensível, facilitador da aproximação entre o cuidador e o cliente. Saber utilizar os cinco sentidos com sensibilidade é requisito primordial no trabalho com a mulher grávida, dada a sensibilidade emocional por ela manifestada (DUARTE & ANDRADE, 2006).

Conclusões

    O reconhecimento do enfermeiro, por parte das gestantes, como profissional apto para o acompanhamento do pré-natal de risco habitual é resultado da qualidade dessa assistência prestada.

    No entanto, é relevante lembrar que esses resultados são indicativos de que essa sistematização e qualidade da assistência precisam na prática diária ser mantidos e atualizados uma vez que permitem uma melhora dos serviços oferecidos e uma satisfação da cliente em questão. A medida mais eficaz para essa atuação é a busca pelo profissional enfermeiro do conhecimento e a disponibilidade de usar sua sensibilidade durante sua prática de atuação.

Referências

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