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Influência do aquecimento passivo dos membros
inferiores na flexibilidade dos músculos flexores do joelho

Influencia del calentamiento pasivo de las extremidades inferiores en la flexibilidad de los músculos flexores de la rodilla

Influence of passive heating of the lower limbs on flexibility in the flexor muscles of the knee

 

*Pós Graduando em Treinamento Esportivo pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Membro e pesquisador do Centro de Estudos em Cognição e Ação (CECA/UFMG), Belo Horizonte, MG

**Pós Graduado em Treinamento Esportivo e Fisiologia do Exercício pela Faculdade Pitágoras

Membro e pesquisador do Laboratório de Avaliação da Carga (LAC/UFMG), Belo Horizonte, MG

***Professor Mestre. Docente do Curso de Educação Física

do Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH), Belo Horizonte, MG

****Professor Mestre. Docente do Curso de Educação Física da Universidade Federal

do Vale do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Diamantina, MG

*****Professor Mestre pelo Laboratório de Fisiologia do Exercício da Universidade Federal

de Minas Gerais (LAFISE/UFMG), Belo Horizonte, MG

******Professor Mestre. Docente do Curso de Educação Física

da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Ouro Preto, MG

Henrique de Oliveira Castro*

Amon Rafael de Carvalho Mol**

Flávio de Oliveira Pires***

Fernando Joaquim Gripp Lopes****

Moisés Vieira de Carvalho*****

Kelerson Mauro de Castro Pinto******

henriquecastro88@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo do presente estudo foi verificar a influência do aquecimento passivo dos membros inferiores na flexibilidade dos músculos flexores do joelho. A amostra foi composta por seis indivíduos do sexo masculino com média de idade de 23,7 ± 2,7 anos, fisicamente ativos. O grau de flexibilidade dos músculos flexores do joelho foi medido por um flexímetro. Os indivíduos foram submetidos a dois testes de flexibilidade e em duas situações experimentais (com e sem aquecimento passivo). Estas situações ocorreram em ordem aleatória e em dias diferentes. As variáveis de temperatura timpânica e da pele (perna, coxa, peito e braço) foram controladas em todas as situações. Os resultados demostraram um aumento significativo da temperatura dos membros inferiores (p=0,018) e variação significativa do grau de flexibilidade dos músculos flexores do joelho (p=0,011) após o aquecimento passivo. Conclui-se com o presente estudo que a flexibilidade dos músculos flexores do joelho aumentam após o aquecimento passivo.

          Unitermos: Flexibilidade. Aquecimento passivo. Membros inferiores.

 

Abstract

          The purpose of this study was to determine the effect of heating liability of the lower limbs in the flexibility in the flexor muscles of the knee. The sample comprised six males with a mean age of 23.7 ± 2.7 years, physically active. The degree of flexibility of the flexor muscles of the knee was measured by a fleximeter Leighton® for better assessment and an equipment was developed to better stabilization of the joints. Subjects were tested twice for flexibility in each experimental situation (with heating and without heating). The first measurement was performed at rest and the second after 15 minutes of passive warming or in the same position before, but without heating. The experimental conditions occurred in random order and on different days. The temperature and tympanic temperature of the skin (leg, thigh, chest and arm) were controlled in all situations. The results showed a significant rise in temperature of the lower limbs (p = 0.018) and significant variation in the degree of flexibility of the knee flexor muscles (p = 0.011) after the passive heating. We conclude with this study that the flexibility increases after passive heating.

          Keywords: Flexibility. Heating passive. Ballistic stretching.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 176, Enero de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Níveis adequados de flexibilidade permanecem sendo um importante atributo físico para o desempenho de modalidades esportivas, atividades relacionados à vida diária e para a manutenção de um estilo de vida independente1. Anderson e Burke (1991)2 definem a flexibilidade como amplitude de movimento disponível em uma articulação ou grupo de articulações influenciadas por músculos, tendões, ligamentos e ossos.

    O alongamento é uma prática comum no treinamento da flexibilidade3. Existem diversas técnicas de alongamento descritas na literatura, sendo que grande parte dos estudos abordam exercícios estáticos4-8.

    Exercícios de alongamento têm sido freqüentemente combinados com a aplicação de agentes térmicos9.

    O aquecimento pode ser do tipo ativo ou passivo, geral ou especí­fico. Aquecimento ativo consiste em movimentos de baixa intensidade e que são eficazes na elevação da temperatura corporal, promovendo aquecimento dos tecidos e produzindo uma variedade de melhorias nas funções fisiológicas. Já o aquecimento passivo inclui fontes de calor externas como duchas quentes, fricção, massagem ou até mesmo diatermia10.

    O aquecimento específico consiste em exercícios específicos para uma modalidade, vi­sando grupos musculares mais selecionados, provocando redistribuição do sangue que se encontra em grande porcentagem retido no trato gastrointestinal, de modo a favorecer maior irrigação da musculatura a ser recrutada, suprindo-a com mais oxigênio e possibilitando alcançar uma temperatura ideal11.

    A termoterapia refere-se a manobras de imersão em água que promovem o aumento da temperatura corporal, o que ocorre quando a temperatura da água é maior que 36º C12.

    Dentre os benefícios do aquecimento estão relacionados aumento da temperatura muscular e do metabolismo energético, aumento da elasticidade do tecido (os músculos, os tendões e os ligamentos tor­nam-se mais elásticos, o que proporciona diminuição do risco de lesão), aumenta a produção do líquido sinovial (aumentando a lubrificação das articulações), aumento do débito cardíaco e do fluxo sanguíneo perifé­rico, melhora da função do sistema nervoso central e do recrutamento das unidades motoras neuromusculares10.

    Os estudos que relacionam a temperatura com a flexibilidade apresentam resultados contraditórios. Alguns estudos demonstraram que a flexibilidade não é influenciada pelo aquecimento muscular13,14. Burke et al. (2001)9, não observaram melhora na flexão máxima de quadril após imersão em água quente (44º C) por 10 minutos. Ainda, Kubo, Kanehisa e Fukunaga (2005)15 relatam que a imersão em água quente não melhora propriedades mecânicas, como alongamento e geração de força de músculos e tendões.

    Por outro lado, Strickler, Malone e Garrett (1990)16 sugerem que a extensibilidade da unidade musculotendínea aumenta com a elevação da temperatura de forma passiva. Já com a pesquisa desenvolvida por Safran et al. (1988)17, concluí-se que o aquecimento ativo prévio aprimora a flexibilidade.

    Com isso, o objetivo do presente estudo é verificar a influência do aquecimento passivo dos membros inferiores na flexibilidade dos músculos flexores do joelho.

Metodologia

    Foram selecionados oito indivíduos para participar do estudo, porém somente seis finalizaram a pesquisa. Para participar como voluntário, cada indivíduo atendeu às seguintes exigências: ser do sexo masculino; ser considerado apto para atividade física de acordo com o Questionário para determinação da prontidão para atividades físicas (PAR-Q); não fumar; ter consumo máximo de oxigênio (VO2máx) estimado entre 35 e 50 mlO2.kg-1.min-1; ter idade entre 20 e 30 anos e não apresentar nenhuma patologia do sistema músculo esquelético, ou fratura do membro inferior dominante. Os voluntários que apresentaram alguma patologia ou dor durante o período de avaliação foram excluídos da amostra. Para caracterizar a amostra, foi utilizada a avaliação da composição corporal, juntamente com a medida da massa corporal, a estatura, e a estimativa do consumo máximo de oxigênio através do protocolo proposto por Balke18.

    Todas as normas da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde para pesquisas com seres humanos foram respeitadas, onde todos os indivíduos participaram voluntariamente e foram informados acerca dos procedimentos, objetivos do estudo e benefícios relacionados à participação nos experimentos, bem como dos possíveis riscos e desconfortos. Todos os voluntários assinaram um termo de autorização e consentimento por escrito, estando todos cientes de que a qualquer momento poderiam, sem constrangimento, deixar de participar do mesmo, e não tiveram suas identidades reveladas em nenhuma hipótese.

    Na tabela 1, estão apresentados os resultados das características antropométricas e VO2máx dos voluntários. Todos os dados estão expressos sob a forma de média ± desvio-padrão.

Tabela 1. Média e desvio-padrão de idade, massa corporal, gordura, estatura e VO2máx dos voluntários

Legenda: Idade (anos); Massa Corporal (kg); Gordura (%); Estatura (cm); VO2máx (mlO2.kg-1.min-1).

    A avaliação da composição corporal, a medida da massa corporal total e a estatura dos indivíduos foram realizados previamente aos tratamentos experimentais, no mesmo dia da medida do VO2máx. Em todas as condições experimentais, os voluntários trajavam somente calção.

    Para a medida da massa corporal total e estatura foi utilizada uma balança com estadiomêtro acoplado da marca Welmy® (com precisão em centímetros e 10 gramas). Para a estimativa da composição corporal e percentual de gordura foi realizada as medidas de dobras cutâneas, com a utilização do plicômetro da marca Lange® (com precisão de 1 mm) e utilizada a fórmula proposta por Brozek et al. (1963)19.

    O VO2máx foi estimado por método indireto. Para essa medida, cada indivíduo foi submetido a um exercício de intensidade progressiva até a fadiga voluntária máxima em um cicloergômetro padrão Monark® (Maxx II) de acordo com o protocolo proposto por Balke, em que são empregados estágios múltiplos, iniciando de 50 watt e aumentando a carga em estágio de dois minutos me 50 watts. Para a determinação do VO2máx foi verificada a última carga completada pelo indivíduo em watts18. A fadiga voluntária máxima era caracteriazada pela interrupção voluntária do exercício ou a partir do momento no qual o indivíduo não conseguia manter a potência solicitada.

    Para o aquecimento dos membros inferiores, foi utilizado um turbilhão da marca Galano® com água aquecida à temperatura de 44ºC9.

    A flexibilidade dos músculos flexores do joelho foi aferida através de um Flexímetro de Leighton da marca Sanny®, que utiliza uma escala angular para avaliar a ADM das articulações. Este instrumento foi colocado acima dos maléolos laterais da perna testada, partindo de 0º na posição inicial (posição de flexão de quadril e joelho a 90º) até o grau de movimentação de amplitude máxima, em que foi feita a leitura. Foi utilizado também um equipamento específico para a melhor estabilização das articulações para a realização deste. Trata-se de uma plataforma horizontal, semelhante a uma maca, assentada ao piso. Sobre ela, no seu meio-comprimento, é afixada uma estrutura metálica leve, com design apropriado, de forma a permitir que a pessoa deitada em decúbito dorsal sobre a maca possa estar com uma perna apoiada sobre esta, em descanso, em posição completamente estendida no sentido horizontal, e a outra, a qual será o alvo das medições, “obrigada” na posição vertical, e o joelho flexionado a 90º em relação àquela, com o calcanhar nela apoiado. Esta é a posição inicial do corpo para as medições. A fim de garantir a precisão destas medições, e considerando que a estatura varia de pessoa para pessoa, o equipamento possui alguns controles de ajustes para compensar estas variações. O primeiro deles tem a função de “batente”, ou “limite de encosto” para a coxa do membro inferior a ser medida, o que garante o ponto de partida idêntico a todos os voluntários. O segundo controle ajusta a altura da estrutura metálica, aquela que “obriga” a perna do teste à posição vertical, o que garante que as pessoas de maior comprimento de coxa tenham também o joelho flexionado a 90º daquela, já que ambas estarão com o calcanhar nela apoiados. Para garantir a imobilidade do voluntário, o equipamento possui duas cintas de amarração, com fecho em “velcro”; uma que fixa a coxa em descanso na maca, e a outra que fixa a coxa da medição na estrutura metálica. Estas afixações devem ser efetuadas somente após efetuados os dois primeiros ajustes descritos. O terceiro ajuste garante a perfeita verticalização da perna. Desta forma, estão descritos os controles que garantem a imobilidade do voluntário com o corpo e a perna na posição correta para medição, ou seja, corpo na horizontal; coxa na vertical; joelho flexionado a 90º. Os demais ajustes atuam diretamente no posicionamento correto do conjunto de “controle da medição” em relação aos eixos de rotação do fêmur, do joelho e do tornozelo, aos quais, conforme descrito, já foram assegurados formarem ângulo reto. O quarto e quinto ajuste, concatenados, permitem a centralização perfeita do eixo do transferidor com o eixo de rotação do joelho. A haste pendular afixada no centro do transferidor é instrumento referencial para o alinhamento vertical perfeito dos eixos de rotação do fêmur e do joelho. O sexto ajuste garante o grau “zero” do transferidor na linha que une os eixos do joelho e tornozelo. E o sétimo ajuste “fixa” o ponteiro do transferidor à perna do voluntário. A partir desta posição qualquer elevação da perna terá seu ângulo de variação precisamente registrado pelo conjunto de “controle da medição”. Importa saber que o ponteiro registra a angulação máxima alcançada pela perna, e assim permanece mesmo que o voluntário retorne a perna para a posição inicial.

    Cada voluntário compareceu ao laboratório em três ocasiões distintas, sendo uma para caracterização da amostra e duas para a realização dos procedimentos experimentais.

    Cada indivíduo foi submetido a dois testes de flexibilidade, sob condições distintas: em repouso, com e sem aquecimento passivo dos membros inferiores. Todos os testes foram realizados entre 15 e 21 horas, respeitando-se, desta forma, o ritmo circadiano dos voluntários20, sendo que a ordem dos exercícios foi feita de forma aleatória e em dias diferentes.

    Antes do início das medições e coletas dos primeiros dados avaliativos, as avaliadoras foram previamente treinadas quanto à utilização do flexímetro e do equipamento utilizado para a melhor posição de medida. Todas as medidas foram realizadas por duas avaliadoras. Os valores foram registrados e não houve comunicação do resultado entre elas, para não haver nenhuma influência.

    Primeiramente, o indivíduo permanecia deitado na maca com cabeceira regulável da marca Inframed® e, sob condições de repouso, era medida a frequência cardíaca através do cardiofrequencímetro da marca Polar® modelo S610. Neste estado, também foram medidas as temperaturas da pele (perna, coxa, peito e braço), com o termômetro infravermelho da marca Scantle MP®, nas devidas marcações feitas em seu corpo com pincel atômico da marca Pilot®, e a temperatura timpânica (Ttim) com o termômetro auditivo Omron®. A temperatura média da pele foi determinada através da equação proposta por Ramanathan (1964)21.

    Após essas medidas, o indivíduo se posicionava imediatamente no aparelho para realizar a medida da ADM de extensão da articulação do joelho da perna dominante, com os pés em posição neutra, utilizando também o flexímetro. Durante todo o estudo, o movimento era realizado sem a ajuda dos avaliadores.

    Logo após a situação de repouso, o indivíduo foi submetido ao aquecimento passivo dos membros inferiores, em que permaneceu por 15 minutos com as pernas submersas no turbilhão com água aquecida à temperatura de 43ºC, até a altura da cintura22. Dentro do turbilhão havia um termômetro da marca Incoterm® para garantir que a temperatura permanecesse sempre a mesma. Após os 15 minutos, os indivíduos se secavam rapidamente com uma toalha, eram medidas a temperatura da pele e a temperatura timpânica e os mesmos se posicionavam imediatamente no aparelho para ser realizada novamente a medida da flexibilidade articular do joelho, utilizando o mesmo aparelho e o flexímetro.

    No teste sem aquecimento passivo dos membros inferiores, os voluntários permaneceram assentados com as pernas posicionadas de forma similar à situação com aquecimento, durante 15 minutos, após as medidas em repouso. Da mesma forma, após os 15 minutos eram medidas as temperaturas da pele e timpânica e os indivíduos se posicionavam imediatamente no aparelho para ser realizada novamente a medida da flexibilidade articular do joelho.

    A temperatura ambiente e a umidade relativa do ar foram mensuradas por um higrômero da marca Incoterm®, e foram mantidas dentro da zona de neutralidade térmica (21-24ºC de temperatura seca e 50-70% de umidade relativa do ar)23, tanto na caracterização da amostra, quanto nas condições experimentais.

    As seguintes recomendações foram feitas por escrito e reforçadas verbalmente aos voluntários para serem seguidas ao longo de todo o estudo: não realizar atividade física de intensidade moderada a intensa nas 24 horas anteriores aos testes; informar o uso de quaisquer medicamentos utilizados; realizar oito horas de sono; não fazer uso de bebida alcoólica nas 24 horas anteriores aos testes; ingerir 500 ml de água duas horas antes de cada situação experimental24.

    A cada comparecimento ao laboratório, previamente à realização dos experimentos, os indivíduos foram questionados sobre o cumprimento das recomendações acima e quanto a possíveis intercorrências ou modificações na rotina diária ocorrida ao longo do estudo.

    Para análise estatísitica foi realizado um teste t student pareado. O nível de significância adotado foi de 5%. Todos os procedimentos estatísticos foram realizados no pacote estatístico SPSS (Statistical Package for Social Sciences) for Windows, versão 11.0.

Resultados

* Diferença estatisticamente significativa comparando a temperatura da perna em repouso (33,3±0,7) e após 15 minutos (31,7±1,4) (p=0,008).

** Diferença estatisticamente significativa comparando a temperatura do braço em repouso (34,4±0,7) e após 15 minutos (33,3±1,3) (p=0,012).

Gráfico 1. Variação da temperatura da pele (perna, coxa, braço e peito) e timpânica, medidas em repouso e após 15 minutos, na situação experimental sem aquecimento.

 Houve uma diferença significativa nos valores da temperatura da perna (p=0,008) e braço (p=0,012), porém a temperatura timpânica permaneceu constante.

 

* Diferença estatisticamente significativa comparando a temperatura da perna em repouso (32,1±2,2) e após 15 minutos (34,3±1,0) (p=0,018).

** Diferença estatisticamente significativa comparando a temperatura da coxa em repouso (32,3±2,6) e após 15 minutos (34,7±0,6) (p=0,044).

*** Diferença estatisticamente significativa comparando a temperatura timpânica em repouso (36,5±0,5) e após 15 minutos (37,7±0,5) (p=0,002).

Gráfico 2. Variação da temperatura da pele (perna, coxa, braço e peito) e timpânica, medidas em repouso e após 15 minutos de aquecimento passivo dos 

membros inferiores. Observa-se que houve uma diferença significativa nos valores da temperatura da perna (p=0,018), coxa (p=0,044), e timpânica (p=0,002).

 

Gráfico 3. Variação da flexibilidade medida em repouso e após 15 minutos, na situação experimental sem aquecimento. Não houve variação significativa do grau de flexibilidade (p>0,05).

 

 

* Diferença estatisticamente significativa comparando o grau de flexibilidade em repouso (67,3±12,7) e após 15 minutos 

de aquecimento passivo dos membros inferiores (73,6±9,7) utilizando o flexômetro (p=0,011).

Gráfico 4. Variação da flexibilidade medida em repouso e após 15 minutos de aquecimento passivo dos membros inferiores. 

Houve variação significativa do grau de flexibilidade após o aquecimento nos valores obtidos pelo flexômetro (p=0,011).

 

Gráfico 5. Comparação dos valores obtidos pelo flexômetro nas medidas realizadas em repouso, entre as situações 

experimentais sem aquecimento e com aquecimento. Não houve variação significativa dos valores obtidos pelo flexômetro (p=0,309).

Discussão

    À medida em que a temperatura au­menta, dentro de limites, aumenta a quantidade de O2 liberado da he­moglobina. O calor é subproduto das reações metabólicas de todas as células, e o calor liberado pela contração das fibras musculares durante o aquecimento tende a elevar a temperatura do corpo promovendo a liberação de O2 da oxiemoglobina e o aumento do aporte sanguíneo em direção aos músculos envolvidos10.

    Safran et al. (1988)17 realizaram um estudo para verificar se o aquecimento prévio ao exercício reduz a incidência de lesão muscular. Comparando o grupo experimental, que realizou aquecimento ativo (contração isométrica) antes do alongamento, com o grupo controle, que realizou somente o alongamento, observaram que a extensibilidade dos tecidos colágenos aumenta ligeiramente com a elevação da temperatura, sugerindo que os exercícios de aquecimento podem aprimorar a ADM articular.

    Outro estudo mostra que ocorre aumento da ADM do quadril resultante redução da tensão de repouso nos músculos isquiotibiais pelo aquecimento ativo de 15 minutos de bicicleta estacionária25 porém, diferente do nosso estudo, com o exercício não é possível saber se foi a temperatura ou o exercício que alterou a flexibilidade do quadril.

    A pesquisa realizada por Taylor, Waring e Brashear (1995)26, mostrou um aumento significativo na flexibilidade do grupo que foi submetido ao aquecimento passivo antes do alongamento estático, quando comparado ao grupo controle e ao grupo submetido ao resfriamento. No presente estudo, apesar de encontrarmos resultados semelhantes, a medida da flexibilidade não foi realizada com um alongamento estático.

    Para avaliar os efeitos do aquecimento através de corrida antes do alongamento no ganho de flexibilidade articular, Williford el at. (1986)27 dividiram 44 indivíduos em três grupos: um grupo que realizou corrida antes do alongamento (CA), um grupo que realizou apenas o alongamento (A) e um grupo controle, que não realizou nenhuma destas atividades. O programa de treinamento de flexibilidade foi realizado por nove semanas, sendo duas vezes por semana, 15 minutos por sessão, e era composto por exercícios de alongamento específicos para ombro, isquiotibiais, tronco e tornozelo. O grupo CA realizou uma corrida leve (Cooper), com progressão gradativa de cinco minutos antes dos exercícios de alongamento para aquecer os músculos e tecidos conectivos. Após a corrida, o grupo CA se unia ao A para realizar os exercícios de alongamento. O movimento articular de cada grupo muscular dos indivíduos foi avaliado com um flexômetro de Leighton, antes e depois do programa de treinamento, na mesma hora do dia e do mesmo lado do corpo. Foi observado um aumento na ADM em cada articulação dos dois grupos experimentais. O grupo CA apresentou melhoras significativas na flexibilidade. Apesar da hipótese de que o próprio alongamento produz aquecimento suficiente na musculatura, favorecendo o ganho de flexibilidade, o aumento de ADM do grupo A não foi significante. Os autores sugerem que ganhos de flexibilidade podem ocorrer como resultado de um programa de treinamento estático de flexibilidade. Entretanto, os resultados não comprovam a hipótese de que o aquecimento da musculatura através da corrida antes do alongamento produz aumento na flexibilidade articular.

    Knight et al. (2001)14 avaliaram os efeitos do calor superficial, calor profundo, e exercício de aquecimento ativo prévios ao alongamento comparado com o alongamento sem aquecimento prévio na extensibilidade dos músculos flexores plantares. Participaram do estudo 97 indivíduos divididos em cinco grupos, sendo um grupo controle, que não executou alongamento, e quatro grupos experimentais, que executaram o protocolo de alongamento três dias por semana, durante seis semanas. O grupo dois executou somente o protocolo de alongamento estático. O grupo três realizou exercícios de aquecimento ativo (saltos) prévios ao alongamento. O grupo quatro foi submetido a 15 minutos de calor superficial úmido nos músculos flexores plantar antes do alongamento. O grupo cinco foi submetido à ultra-som contínuo durante sete minutos antes do alongamento. A ADM da dorsoflexão foi medida depois de duas, quatro e seis semanas. O grupo controle não apresentou aumento da ADM e todos os grupos experimentais aprimoraram a ADM, sendo que o grupo cinco apresentou maior aumento. Porém, verificaram que o alongamento estático precedido por um aquecimento com exercícios, calor superficial ou ultra-som produz efeitos semelhantes quando comparado com o alongamento estático sem aquecimento.

    Com o objetivo de analisar os efeitos do resfriamento e aquecimento sobre a flexibilidade dos músculos ísquiotibiais, Brasileiro et al. (2007)28 encontraram um aumento da flexibilidade em ambas situações sendo que o grupo que passou pelo resfriamento obteve maior aumento da flexibilidade em relação ao grupo que passou pelo aquecimento com diatermia com ondas curtas.

    Burke et al. (2001)9 concluíram que a técnica de alongamento FNP modificado produz aumento da flexibilidade se realizado com ou sem imersão em água fria ou quente.

    Em relação à temperatura e a umidade do ar no dia da realização dos testes, no presente estudo estavam respectivamente entre 21-24ºC de temperatura seca e 50-70% de umidade relativa do ar, mantendo-se dentro da zona de neutralidade térmica, tanto na caracterização da amostra, quanto nas condições experimentais. Desta maneira em ambientes termoneutros, com temperaturas entre 21 e 24 °C e umidade relativa do ar entre 30 e 70%, os mecanismos termorregulatórios não estarão sendo muito solicitados29.

Considerações finais

    A partir dos dados obtidos neste estudo, pode-se concluir que o aquecimento passivo dos membros inferiores após 15 minutos de imersão em água com temperatura a 43ºC aprimora a flexibilidade dos músculos flexores do joelho.

    Para estudos futuros, sugere-se realizar este estudo com outras populações, utilizar uma amostra mais significativa, utilizar outras formas de aquecimento passivo, verificar a influência do aquecimento passivo na flexibilidade de outras articulações e comparar a influência do aquecimento ativo e passivo na flexibilidade.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 176 | Buenos Aires, Enero de 2013
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