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A musculação como ferramenta para o gerenciamento do estresse

La musculación como recurso para el manejo del estrés

Bodybuilding as a tool for management of stress

 

*Graduada em Educação Física pela FACOS

Especialista em Personal Trainer: Saúde e Performance pela FACOS

**Graduado em Psicologia pela Unisinos

Mestre em Ciências do Movimento Humano pela UFRGS

Doutor em Ciências do Movimento Humano pela UFRGS

Esp. Adriana Girardi*

Dr. Marcus Levi Lopes Barbosa**

marcus_barbosa@yahoo.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo desse artigo foi o de apresentar a musculação como ferramenta para o manejo do estresse. Para bem responder a este objetivo, realizou-se, de uma lado, uma revisão bibliográfica e, de outro lado, uma relação com o conhecimento oriundo da prática profissional. Buscou-se desmistificar e esclarecer as questões envolvidas com o tema, uma vez que as pessoas tendem a maximizar os problemas cotidianos com base no estresse, ou ao contrário não darem a devida importância aos primeiros sintomas do estresse e negligenciar esse fato, podendo com isso realmente permitir que a conificação de estresse se instale. Através da literatura das áreas da psicologia e treinamento físico fez-se um apanhado geral de questões relevantes sobre o tema em questão destacando a importância de da prática da musculação como uma forma de lidar com o estresse.

          Unitermos: Musculação. Estresse. Saúde.

 

Abstract

          The aim of this article was to present the bodybuilding as a tool for stress management. To meet this purpose well, held in a hand, a literature review and on the other hand, a relationship with the knowledge from professional practice. We sought to demystify and clarify the issues involved with the issue, since people tend to maximize everyday problems based on stress, or rather not give due importance to the early symptoms of stress and neglect this fact, and this may actually allow the tapering stress is install. Through literature from the fields of psychology and physical training became an overview of issues relevant to the topic at hand highlighting the importance of the practice of bodybuilding as a way of dealing with stress.

          Keywords: Body Building. Health. Stress.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 176, Enero de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Durante o ciclo de vida normal de qualquer pessoa períodos de maior ou menor estresse estão presentes (PAPALIA OLDS e FILDMAN, 2000). Há alguns eventos que exigem dos indivíduos uma reação adaptativa mais elaborada, estes eventos são denominados estressores e podem ser de diversos tipos, a saber: acontecimentos biográficos críticos, como casamento, nascimento de um filho, morte súbita de uma pessoa, acidente, etc. Estressores traumáticos, acontecimentos biográficos críticos de grande intensidade; estressores quotidianos, como problemas com o peso ou com a aparência, problemas de saúde, cuidados com a casa, aumento de preços, preocupações financeiras, etc... Estressores crônicos, como excesso de trabalho, desemprego, divórcio etc. (PERREZ; LAIREITER; BAUMANN, 2005).

    Na pratica profissional do Educador Físico observa-se que dois destes quatro tipos de estressores aparecem freqüentemente nas pessoas que procuram academias de musculação. São eles os estressores quotidianos e crônicos. Observa-se que a sociedade moderna está cada vez mais preocupada com responsabilidades e metas, prazos a cumprir, e ainda a vida familiar e social, deixando com isso de realizar as atividades que proporcionam prazer, ficando o indivíduo sobrecarregado mentalmente, gerando assim quadros de estresse. O contexto tipicamente urbano da sociedade contemporânea é o resultado de transformações no estilo de vida que há algum tempo era tipicamente rural (LOPES, 1978). Esta transformação no estilo de vida implicou em excesso de ocupações somada a uma relativa sedentariedade. Contribuem para este quadro, aspectos ambientais como a evolução tecnológica, que implica em facilidade, conforto e comodidade, tais como a acesso cada vez maior a veículos automotor, eletrodomésticos, Internet, telefone celular e muitos outros. Estas facilidades implicam em uma redução nos deslocamentos comuns do dia a dia, tais como caminhar até o vizinho para lhe falar (preferindo usar o telefone), deixamos de ir até a mesa de trabalho de um colega (preferindo enviar-lhe um e-mail), ir ao mercado que está a poucas quadras de carro (deixando de dar está pequena caminhada) e uma diversidade de outras situações.

    Estas mudanças que, em maior ou menor grau, atingem boa parcela da população urbana, contribuem para que o indivíduo deixe em segundo plano algumas necessidades básicas do ser humano, entre elas a da prática regular de atividade física. Estudos apontam a busca pelo “controle do estresse” como um dos motivos para a procura da prática regular de atividade física em academias (BALBINOTTI; CAPOZZOLI; 2008; BARBOSA, 2006; AMORIM, 2010), mais especificamente a prática da musculação A prática regular de atividades físicas tem a propriedade de dar a seu praticante um tempo de reflexão que lhe permite, entre outras coisas, uma espécie de olhar para dentro de si e reavaliar situações especialmente as estressoras.

    Sendo assim a atividade física coloca-se como uma maneira de lidar com o estresse. A literatura da área indica haver diversas maneiras de lidar com o estresse. Estas maneiras de lidar com o estresse são chamadas de comportamentos de coping (FOLKMAN; LAZARUS, 1985). Os comportamentos de coping são divididos em dois grupos: coping de aproximação (formas de lidar com o estresse que tem foco em resolver a situação que está causando o estresse) e coping de evitação (formas de lidar com o estresse que tem como foco afastar-se, mesmo que temporariamente, da situação que está causando o estresse) (HOLAHAN; MOOS, 1985). Sendo assim, a prática da musculação, pode funcionar, por um lado, como uma “válvula de escape”, ou seja, como uma estratégia de evitação para quem tem que lidar com “estressores crônicos”, como excesso de trabalho, desemprego, divórcio, e, por outro lado, como uma estratégia de aproximação para quem tem que lidar com estressores quotidianos, tais como problemas com o peso ou com a aparência, problemas de saúde. Para boa parte de seus praticantes, a musculação funciona como um momento de diversão. Permite a pessoa um momento para relaxar, descarregar, dissipar emoções como raiva, medo, frustração. Os exercícios também têm o poder de elevar nossa auto-estima e aumentar a confiança em nossa capacidade de lidar com situações que produzem estresse. Somam-se a estes benefícios as mudanças bioquímicas produzidas pelo exercício. Durante o exercício os níveis de norepinefrina plasmática aumentam, o que pode ajudar a aliviar os sintomas de depressão. Também pode o exercício ajudar a manter os níveis de beta endorfinas no sangue, substância opióide que exerce sentimento de prazer e bem estar (GOULD; WEINBERG, 2002).

    Posto estes aspectos introdutórios, se pode mencionar agora que o objetivo deste trabalho é apontar os benefícios fisiológicos e psicológicos que a atividade física regular, mais especificamente a musculação, oferece na diminuição dos níveis de estresse. Para dar conta deste objetivo vai-se, inicialmente, apresentar aspectos teóricos relativos ao estresse, para logo após explorar aspectos teóricos relativos à musculação. Finalmente, serão discutidos os benefícios fisiológicos e psicológicos da musculação no controle do estresse.

Referencial teórico

    No decorrer desse estudo será mencionado em algumas ocasiões a expressão atividade física e em outras a expressão exercício físico, no caso a modalidade esportiva especificada, (musculação) se trata de um exercício físico. É importante conceituar para que o entendimento do assunto em questão se de da forma mais clara possível.

    De acordo com o Conselho Federal de Educação Física (CONFEF), atividade física é todo movimento corporal voluntário humano, que resulta num gasto energético acima dos níveis de repouso, caracterizado pela atividade do cotidiano e pelos exercícios físicos. Trata-se de comportamento inerente ao ser humano com características biológicas e sócio-culturais. (SABA, 2003)

    O Conselho Federal de Educação Física (CONFEF) define exercício físico como uma seqüência sistematizada de movimentos de diferentes segmentos corporais, executados de forma planejada, segundo um determinado objetivo a atingir. Uma das formas de atividade física planejada, estruturada, repetitiva, que objetiva o desenvolvimento da aptidão física, do condicionamento físico, de habilidades motoras ou de reabilitação orgânico-funcional, definido de acordo com diagnóstico de necessidade ou carências específicas de seus praticantes, em contextos sociais diferenciados. (SABA, 2003).

    O estresse tem sido investigado por diversos autores (CALAIS; ANDRADE LIPP, 2003, SILVA, 2006; PERREZ; BAUMANN, 2005, FALLER, HERRMANN & LANG; HERRMANN, 2006). É de consenso de todos que a atividade física desempenha importante função para prevenir; doenças, ainda que um percentual alarmante de adultos não pratica nenhuma atividade física nas horas de lazer. A inatividade física levou a um aumento de doenças crônicas, pessoas que não se exercitam regularmente apresentam risco maior de desenvolver estresse, e também doenças crônicas como cardiopatia coronariana, hipertensão, hipercolesterolemia, câncer, obesidade, distúrbios musculoesqueléticos (BORGES; PARIZOTTO 2001, HEYWARD, 2004).

    A atividade física apresenta clara evidência cientifica na prevenção das doenças citadas, e ainda trás outros benefícios a saúde como melhora dos sintomas do estresse, elevação do ânimo e disposição geral, melhora da flexibilidade, melhora da circulação sanguínea, da coordenação motora, aumento de força, acelera o metabolismo, ou seja, queima-se mais calorias mesmo em repouso, e ainda pode conquistar um corpo além de mais saudável, também mais bonito (SABA, 2003).

    Mesmo com toda divulgação da mídia e campanhas de incentivo a saúde muitas pessoas, como já mencionado, ainda resistem a aderir a um programa de exercícios físicos, alegando uma série de motivos como falta de tempo, dinheiro, motivação. Assim o início das suas atividades esportivas é protelado. Para sair da condição de “sedentário” basta iniciar uma atividade física no mínimo duas vezes por semana, sem interrupções, e no prazo de três meses já se sai da condição de sedentário e passa a ser praticante de atividade física (CALAIS; ANDRADE; LIPP, 2003, SABA, 2003).

    A preocupação com a saúde, em parte devido aos meios de comunicação, tem ganhado cada vez mais espaço. É freqüente ouvirmos falar em vida saudável, viver com saúde (GRAÇA; BENTO, 1993). Mas o afinal o que é saúde? Segundo a Organização Mundial de Saúde (WHS, 2004), definição de 1940: “saúde é um estado completo de bem-estar físico, mental, social e espiritual e não somente a ausência de enfermidades”.

    Buscar a saúde hoje, não significa apenas evitar a morte ou tratar das enfermidades, mas principalmente aproveitar a vida com total disposição. E como conseguir isso? São diversas as maneiras de se buscar uma melhoria na saúde, através de bons hábitos alimentares, higiene, interação social, mas o foco desse estudo é o exercício físico, como forma de melhoria na qualidade de vida, e combate ao estresse que é um dos vilões de uma saúde perfeita (GRAÇA; BENTO, 1993, SABA, 2003). Sendo assim, vamos explorar o estresse um pouco mais profundamente.

Estresse

    O grande interesse no tema tem, em alguns casos, gerado confusões. Há quem acredite que se trata de uma doença. Na verdade, o estresse já foi considerado uma doença, mas hoje se sabe que ele nada mais é do que um aspecto natural cada vez mais presente na vida do ser humano. É uma conseqüência normal do nosso envolvimento com as situações do dia-a-dia que nos exigem responsabilidades, decisões, obrigações e nos levam a conflitos. Uma explicação simples é que o estresse é nossa resposta emocional para os acontecimentos da nossa vida (SABA, 2003).

    As concepções cientificas do estresse baseiam-se na idéia do equilíbrio das funções corporais, o que é chamado de homeostase. Estímulos do meio ambiente podem alterar esse equilíbrio do corpo, fazendo com que gastemos energia tentando reabastece-lo, no que seria uma reação de emergência do nosso corpo a um estímulo forte do meio. Em geral estresse é entendido como qualquer fator que perturbe o equilíbrio homeostático do corpo. A homeostase corporal de cada pessoa varia conforme a idade, a condição física e a suscetibilidade individual para a perturbação pessoal do equilíbrio. Devido a isso é comum exigirmos do nosso organismo mais do que ele está esperando, mas isto não é necessariamente ruim, pois a monotonia também não faz bem (SAMLUSKI, 2002),

    Existem dois tipos de estresse: O estresse bom (eustress) ocorre em situações agradáveis, como quando nos apaixonamos, quando nos envolvemos com algum projeto no qual estamos entusiasmados, ou quando praticamos algum exercício que nos de prazer. Já o estresse ruim (distress) aparece associado ás exigências, cobranças e riscos (SABA, 2003). Existe o estresse agudo que é momentâneo, mas especialmente preocupante é o estresse crônico, tão comum ao nosso modo de vida, principalmente nos grandes centros urbanos. È o que a Organização Mundial de Saúde chama de epidemia global, ao lado da obesidade.

    De uma forma geral o estresse é produto da interação do homem com seu meio ambiente, físico e sócio-cultural. De acordo com Nitsch (1981), existem fatores pessoais (processos psíquicos e somáticos) e fatores ambientais (ambiente físico e social) que se entregam no processo de surgimento e gerenciamento do estresse. Essa interação gera duas questões básicas na discussão sobre o assunto: Quais são os determinantes nesta relação de influencia mútua, entre o individuo e o meio ambiente, e como se pode influenciar este processo de interação?

    A partir deste ponto surgem outras questões que norteiam a analise do estresse: O que é o estresse? Como se origina? E quais são seus riscos (causas e efeitos)? O termo estresse foi tomado emprestado da física, onde designa a tensão e o desgaste a que estão expostos os materiais, e usado pela primeira vez no sentido hodierno em 1936 pelo médico Hans Selye na revista cientifica Nature (SEYLE, 1976). Estresse pode ser definido como a soma das respostas físicas e mentais causadas por determinados estímulos externos (estressores) e que permitem ao individuo (humano ou animal) superar determinadas exigências do meio ambiente, e o desgaste físico e mental causado por esse processo (NITSCH, 1981).

    Na busca da conceitualização do problema, chegou aos seguintes pontos: O estresse surge de acordo com as condições internas e externas e de suas proporções. O meio ambiente (condições externas) indica com qual probabilidade uma determinada realidade provoca o estresse (tipologia do estresse) e com que freqüência se encontra esta na realidade do dia-a-dia (epidemologia). Em relação à pessoa (condições internas), fica claro que sob condições iguais as pessoas podem reagir de forma diferente, assim como sob distintas condições os indivíduos podem apresentar um mesmo comportamento. Isto está relacionado ao processo de avaliação subjetiva da cada indivíduo sobre a situação a enfrentar (NITSCH, 1981).

    A concepção do estresse, compartilhada entre diversos autores (NITSCH, 1976; McGRATH, 1981; SAMLUSKI, 1995; SELYE, 1981) mostra uma concordância no que se refere à desestabilização psicofísica do equilíbrio pessoa-meio ambiente. Ao se referir ao estresse, os autores tendem a compreendê-lo como resultante da totalidade das reações de adaptação orgânica, as quais subjetivam a manutenção ou restabelecimento do equilíbrio interno e/ou externo (LEVI, 1972; SELYE, 1981).

    Entretanto, em uma certa medida o estresse faz parte da vida para a manutenção e aperfeiçoamento da capacidade funcional, autoproteção e conhecimento dos próprios limites. Uma característica importante na pesquisa do estresse diz respeito aos aspectos que se relacionam com o processo de sua analise. Se o ponto principal da observação da analise do estresse é o organismo, a personalidade ou o sistema social podemos compreender o conceito de estresse como um produto tridimensional, ou seja, biológico, psicológico e social (SELYE, 1981). Ainda para esse autor, os conceitos biológicos, psicológicos e sociológicos devem ser sempre pensados numa dependência recíproca, pois, processos psíquicos e sociais são ligados, de uma determinada forma a processos biológicos. Processos sociais, por sua vez, são influenciados por meio de aspectos psicológicos e ambos podem tornar-se grandes influenciadores de respostas biológicas.

    A pesquisa do estresse psicológico partiu originalmente de um conceito empregado na linguagem psiquiátrica e cotidiana, que o caracterizava como estados de excitação e tensão emocional. A ênfase não estava nos aspectos fisiológicos, mas sim nos sintomas psíquicos do estresse, modificações do bem-estar, decurso das funções cognitivas e da execução da ação. Podemos dizer que o aspecto central ficou relacionado com a influência das estruturas cognitivas e emocionais (NITSCH, 1981).

    Existem na literatura três hipóteses de estágios para descrever a reação do corpo ao stress, primeiro estágio-reação de alarme, segundo estágio resistência e adaptação, e terceiro estagio o exaustivo. Agora veremos mais detalhadamente todos eles:

  1. No primeiro estágio conhecido como reação de alarme o corpo percebe o stress e a resposta ataque-defesa é ativada.

  2. No segundo estágio conhecido como resistência e adaptação o corpo continua a resistir e adapta-se ao estressor, se o estresse for muito intenso ou prolongado, o corpo perde sua capacidade de resistir ao estressor e então tem início o terceiro estágio.

  3. No terceiro estágio conhecido como, o exaustivo caracterizado por enfermidade ou mesmo morte em alguns casos (SELYE, 1981).

    Os sinais da síndrome de adaptação geral podem ser diferenciados da seguinte forma: Na reação de alarme o organismo mostra as mudanças características para a primeira ação do estressor. Ao mesmo tempo baixa a sua resistência e se o estressor é suficientemente forte, pode até levar a morte. O estágio de resistência aparece se for compatível com a ação prolongada o estressor com uma adaptação à situação estressante. Os sinais corporais característicos da reação de alarme desaparecem totalmente, e a resistência eleva-se acima das condições normais. O estágio de esgotamento se desenvolve quando a ação do estressor, ao qual o organismo adaptou-se, permanecer por um longo período até finalmente esgotar-se a energia da adaptação (SELYE, 1981).

    Os fatores estressantes podem se dar devido a diversos problemas como: intervenção cirúrgica, excitação emocional, cansaço mental e corporal, fadiga, dor, medo, exigência da concentração, frustrações, perda de sangue, ou em um resultado inesperado que exige necessariamente uma mudança no estilo de vida. Ainda que os indivíduos se confrontem com todos estes diferentes problemas, eles reagem com padrão bioquímico estereotipado e modificações funcionais e estruturais ligadas fundamentalmente ao domínio de cada uma dessas elevadas exigências da vida, especialmente a necessidade de adaptar-se a novas situações. Todos esses fatores endógenos ou exógenos são os tais fatores estressores (SAMULSKI, 2002).

    Alguns sintomas do estresse como uma pequena dor de estomago, uma certa insônia, uma relação sexual sem prazer, fazem parte da chamada fase de resistência, a qual é muito perigosa pois muitas vezes não prestamos atenção aos sintomas e não procuramos soluções. O estresse aparece também em sintomas psicossociais, falta de concentração, hostilidade, uso excessivo de palavrões, falta de vontade de sair de casa, pessimismo, impaciência com coisas simples, brigas constantes, perda do sentido da vida, a produtividade cai, até que algum órgão pode entrar em colapso, essa é a fase de exaustão (SABA, 2003).

    Portanto analisando todos esses males que o estresse pode ocasionar torna-se primordial a inclusão de uma válvula de escape, um meio para que o indivíduo se renove tanto física quanto mentalmente, é ai que entram os exercícios físicos, mais especificamente a musculação como forma de gerenciamento do estresse. Para tanto através da literatura especificada área da saúde e treinamento físico fez-se a seguinte pesquisa sobre a musculação, onde se pode dizer que: os exercícios podem funcionar como um comportamento de coping de aproximação ou de evitação, de acordo com o estressor enfrentado. De maneira geral os autores da área consideram que as estratégias de evitação são negativas, já que não ajudam a resolver a situação estressora (BALBINOTTI; BARBOSA; WIETHAEUPER 2006). Ainda assim o exercício físico, como a musculação, é uma estratégia de evitação que traz numerosos benefícios ao praticante, tanto no âmbito psicológico quanto no físico.

Musculação

    Antes de discursar sobre os benefícios da musculação, seria interessante contar um pouco da história da musculação. Segundo a mitologia grega (500 a 580 a. C.) um sujeito que viveu em Crotona na Grécia, chamado Milo, queria ser o homem mais forte do mundo e sem querer associou um fundamento usado até hoje: a teoria da adaptação fisiológica, com um treinamento lento, gradual e progressivo. Milo simplesmente passou a levantar um bezerrinho e á medida que ele ia crescendo a sua força também ia aumentando. Quando o bezerrinho virou touro, Milo não só o levantava como também o carregava de um lado para outro. Milo também foi o primeiro a se preocupar com a suplementação alimentar, relatos afirmam que ele comia por dia 9 kg de carne, 9 kg de pão e 10 litros de vinho, gerando um total de 57 mil kcal. Também era capaz de matar um boi com as mãos e depois come-lo sozinho. O nome da cidade de Milão é em sua homenagem. Morreu devorado por lobos, pois ficou preso ao dar um golpe em uma árvore (GIANOLLA, 2003).

    De acordo com a fisiologia, o músculo esquelético é um tecido com uma surpreendente capacidade de adaptar-se as cargas (estresse) que lhe são impostas, isso implica um processo que inicia com a contração muscular, ou ação muscular e que perdura muito após ter sido interrompida. Quando se menciona contração, refere-se ao treinamento que consiste em incontáveis contrações ao longo das sessões de treinamento, e cada contração em cada treino contribui para o processo de adaptação. Uma vez que todo movimento envolve contrações musculares observa-se que diferentes tipo de exercícios podem resultar em adaptações específicas contribuindo assim para um famoso principio biológico do treinamento, o da especificidade (UCHIDA, 2003).

    A literatura indica que o treinamento físico cria uma espécie de proteção contra o estresse, o que leva o indivíduo a se tornar mais resistente (SELYE, 1981). Segundo Vries (2001) experimentos feitos com alguns exercícios intensos e de pouca duração demonstraram redução considerável da tensão neuromuscular, esse autor reforça que aplicando exercícios intensos provoca-se inicialmente um estado de choque, mas, por outro lado o efeito geral dos exercícios leva a um estado de contrachoque que desenvolverá certa resistência contra doenças nervosas e relacionadas à tensão. A musculação é basicamente resumida em contração muscular, a partir daí inclui-se suas especificidades e objetivos.

    Antigamente a musculação era conhecida como halterofilismo, termo que agora tende ao desuso. Designava os atletas que treinavam com fins competitivos. Diversos termos são comuns em nosso país para descrever a musculação, como fisioculturismo e fisiculturismo, bodybuilding, culturismo. Os termos fisioculturismo e fisiculturismo não foram dicionarizados e também devem com tempo cair em desuso, fisiculturismo é um termo utilizado para descrever o esporte dos músculos nos países de língua hispânica, bodybuilding é a palavra usada nos países de língua inglesa e culturismo é um termo ainda usado no Brasil. Utiliza-se essa denominação porque o nosso esporte sofreu uma influência da França, onde é conhecido como culturisme (GIANOLLA, 2003).

    A musculação no Brasil cresceu nos anos 70, não só por atrair novos adeptos marombeiros, mas também por tentar desmistificar certos preconceitos que havia com relação ao halterofilismo. Puxar ferro era sinônimo de homens fortes e atividades exclusivamente para homens. Hoje a musculação graças à ciência, tem evoluído muito assumindo uma grande importância na Educação Física de acordo com os objetivos individuais, tanto que passou a apresentar importante função para se ter uma vida saudável, (UCHIDA, 2004). Inúmeros trabalhos têm sido publicados a favor dessa atividade e para se desvincular definitivamente dos mitos e preconceitos começa a surgir um outro nome associado. “Exercícios Resistidos” que traz uma abordagem mais cientifica do que simplesmente uma malhação qualquer.

    A musculação atualmente é uma das atividades físicas mais recomendadas para o público de todas as idades, inclusive para os idosos por se tratar de uma atividade segura. Levantar pesos rejuvenesce os músculos e pode ser mais segura do que a caminhada. Isso porque os aparelhos de musculação permitem um controle completo do esforço exigido. Ainda na terceira idade a musculação pode ajudar a reverter o processo de envelhecimento muscular, ajuda no ganho de força e resistência e também melhora a coordenação motora, agilidade e percepção, previne doenças do coração, diabetes, osteoporose, SABA (2003). Oportunizando assim que os seus praticantes ocupem seu tempo, gozando de todos os benefícios dessa modalidade, afastando assim doenças e males, dentre eles o estresse.

    A ginástica com pesos é a atividade física sistemática que mais cresce no mundo hoje, em número de praticantes, as mulheres são um público que vem crescendo muito nos últimos anos, pois elas perceberam a importância dos exercícios com pesos, tanto para fins estéticos como para a própria qualidade de vida (GIANOLLA, 2003). A musculação é uma ferramenta eficiente para quem quer emagrecer, aumentar ou definir a musculatura. Pode ser eficiente para evitar lesões ou até tratá-las (MOTA, et al. 2003). Além de ficar com um corpo forte, bonito e saudável. E isso gera auto-estima, fazendo com que o indivíduo se sinta melhor de uma forma global, com isso atenuando os sintomas do estresse (GOULD; WEINBERG, 2002).

    A prática de musculação após os 60 anos só trás benefícios para os praticantes, minimizando as possibilidades de doenças diversas, desde que seja orientada por um profissional de Educação Física, uma vez que para se elaborar um treino para um aluno temos que levar em consideração vários fatores como: sexo, idade, capacidade física atual, objetivos do aluno, entre outras coisas (LA ROSA, 2001).

    Estudiosos da área da saúde e treinamento físico, (LA ROSA, 2001; UCHIDA, et al., 2004; JUNIOR, 2000) orientam que deve ser feito um questionário chamado de ANAMNESE, que tem por objetivo descobrir informações importantes do aluno para se prescrever um treino adequado e individualizado. Pois nesses casos não existe “receita de bolo”, deve se respeitar à individualidade biológica de cada pessoa. Segundo esse grupo de autores eis alguns benefícios fisiológicos da musculação:

    Ajuda a emagrecer, pois aumenta a taxa metabólica basal, ameniza celulite, promove redução de gordura, aumenta a força não só muscular, mas também do músculo cardíaco, ao treinar também se exercia o cérebro, que ficará mais eficiente, músculos fortes, freqüência cardíaca e pressão arterial sobem menos, o corpo fica mais saudável, melhora a postura, pois a maioria dos casos de dores nas costas é relacionada à fraqueza muscular, e a falta de flexibilidade, trabalhando os músculos eles ficarão mais fortalecidos, o que aliviará as dores, melhora a auto-estima, ficando bonito, ágil, saudável, e de bem consigo mesmo, melhora o sono e o bem estar, rejuvenesce e mantém jovem. A partir dos 30 anos inicia-se o processo de perda da massa muscular, essa perda pode chegar a 30% até os 80 anos. Todos envelhecem, mas quem faz musculação retarda o envelhecimento, a perda muscular e amenizada, evita doenças como osteoporose, artrose, diabetes, doenças relacionadas ao coração.

    Estes autores salientam que é fundamental um dia de descanso para cada dia de treino com pesos para a recuperação do tecido muscular. Os exercícios com pesos fascinam as pessoas fortalecendo-as em vários sentidos, por perceber os progressos, por sentir os músculos e a força corporal aumentar, por perceber que a qualidade de vida se beneficia. Gianolla (2003) afirma que todos esses aspectos se combinam para que o ser humano se torne mais forte internamente, para que vença os problemas da vida ou ao menos os encare com mais coragem, visto que treinar musculação é vencer resistências. Os exercícios com pesos melhoram a auto-imagem, a autoconfiança.

    Observa-se na pratica profissional do personal trainer que os exercícios favorecem o convívio social, os aparelhos muitas vezes são usados em revezamento, as pessoas acabam trocando palavras, conversando entre uma série e outra. Muitos ajudam a guardar os pesos, a realizar série mais pesada. O círculo de amizades aumenta naturalmente, pois todos sentem que a academia é um lugar para treinar e para encontrar amigos, conhecer pessoas, criar um ambiente de convívio social saudável. Pode-se dizer que os exercícios colaboram para uma vida mais saudável, as pessoas passam a também a se alimentar melhor, dormir melhor, e a ter hábitos mais saudáveis, evitam álcool, cigarro e drogas.

    Este novo milênio faz emergir uma imperiosa carência humana de auto-imagem e comunicação. A musculação é um bom instrumento para favorecer a interação de grupos e contribui, entre outras coisas, para o processo do desenvolvimento, para o companheirismo e o crescimento pessoal (SABA, 2003).

Considerações finais

    Como podemos perceber os exercícios formam uma cadeia globalizada de fatores que convergem para combater o estresse, ou mesmo da redução deste. Pois além dos benefícios fisiológicos provocados pelos exercícios sistemáticos há ainda os fatores psicológicos como a interação social que contribuem para uma vida mais plena de saúde e qualidade de vida. Todas as formas de combate ao estresse são válidas, como as terapias, como o uso de medicação, entre outros. É nesse cenário que, após apresentadas as diferentes evidencias oriundas da área da psicologia e do treinamento físico, fica em evidencia que a musculação é uma importante opção de ferramenta para lidar com o estresse.

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