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A capoeira na escola ajuda no desenvolvimento
motor na Educação Infantil

La capoeira en la escuela ayuda al desarrollo motor en La Educación Inicial

 

*Discente da Faculdade de Educação Física

**Orientadora e Docente da Faculdade de Educação Física

da Universidade de Santo Amaro

(Brasil)

Daniele da Silva dos Santos*

José Carlos da Silva*

Patrícia Sanches Paixão*

Profª. Ms. Carmen Lúcia Dalano**

patty_14paixao@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste estudo foi verificar as mudanças no comportamento motor, em crianças de quatro a seis anos, ocasionadas pela prática da capoeira na escola, através da Teoria Ecológica dos Sistemas Dinâmicos. Para isso, levou-se em consideração o indivíduo, a tarefa e o ambiente. Para a definição do indivíduo foram realizadas pesquisas teóricas com os principais autores da área, entre eles: Gallahue, que define o aprendizado motor das crianças nesta idade; Piaget, que contribui para a compreensão do sistema cognitivo da criança; e Paoliemo, que descreve a Teoria do Mecanismo de Processamento de Informação, uma teoria de circuito fechado. Para o estudo da Capoeira, levou-se em conta sua origem histórica, seus principais expoentes, estilos de luta, descrição dos golpes que a criança nesta idade conseguiria realizar para desenvolver e aprimorar suas habilidades básicas, sempre pensando como a capoeira pode contribuir para o aprendizado. Por último colocamos a importância da capoeira como bem cultural inserida na Educação, que não só aprimora as habilidades motoras, cognitivas e sociais, mas também pode, através da estratégia das aulas, motivação e da progressão didática, fornecer uma evolução na qual o aluno consegue desenvolver e aperfeiçoar suas habilidades e transferi-las para outras tarefas.

          Unitermos: Crianças. Capoeira. Escola.

 

Abstract

          The goal of this study was to assess the changes in motor behavior on children at ages from four to six years, caused by the practice of Capoeira at school, throughout the Ecological Theory of Dynamic Systems. The work took into consideration the individual, the task and the environment. In order to define the singular person some theoretical researches using the leading authors in the field were performed, among them: Gallahue, which defines the learning motor process for children at that age, Piaget, which contributes to the children’s cognitive system understanding, and Paoliemo, which describes the theory of the Information Processing Mechanism, a closed-loop theory. The study of Capoeira took into consideration its historical origins, its main exponents, fighting styles, describing the coups that the child at this age could perform to develop and improve their basic skills, always thinking on how Capoeira can contribute to the learning process. Finally we put the importance of Capoeira as a cultural wealth inserted in our educational system, which not only improves motor, cognitive and social skills, but can also, if strategically prepared, motivated and teached, provide an evolution in which the student can develop and refine his/her skills and transfer them to other tasks.

          Keywords: Children. Capoeira. School.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 176, Enero de 2013. http://www.efdeportes.com/

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 “...capoeira é muito mais que uma luta, capoeira é ritmo,

é música, é malandragem, é poesia, é um jogo, é religião ...

ser Capoeirista não é aquele que sabe movimentar

o corpo, e sim aquele que se deixa movimentar pela alma".

Mestre Pastinha

Introdução

    Entre as diversas práticas que podem ser trabalhadas nas aulas de Educação Física, as artes marciais, também conhecidas como lutas, destacam-se por proporcionar aos jovens uma experiência única ao ensinar símbolos e filosofias. Tendo nascido na China ou na Índia por volta do século VI (REID, 2003), as artes marciais fazem parte dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), criados pelo governo para se trabalhar nas escolas.

    No entanto, apenas recentemente a prática destes esportes no Brasil teve um crescimento mais acentuado, em grande parte, graças à atenção da mídia para esportes como o AMM (Artes Marciais Mistas), mais conhecida como MMA (Mixed Martial Arts). Nota-se que a partir da popularização desta modalidade tem crescido o número de adeptos de lutas no país; aliado à melhora nos quadros de medalha nos Mundiais/Pan-americanos de esportes como o Judô, Tae-kwon-do, Karatê, etc. Tudo isso culmina com um aumento do interesse, dos jovens em geral e do estado, por esta categoria de esportes, o que antes só era visto em escolas particulares.

    Segundo Brasil (1998, p.70), lutas podem ser definidas como:

    Disputas em que o(s) oponente(s) deve(m) ser subjugado(s), com técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um determinado espaço na combinação de ações de ataque e defesa. Caracterizam-se por uma regulamentação específica a fim de punir atitudes de violência e de deslealdade. Podem ser citados como exemplos de lutas desde as brincadeiras de cabo-de-guerra e braço-de-ferro até as práticas mais complexas da capoeira, do judô e do caratê.

    O tema deste trabalho, a Capoeira, possui grande importância como instrumento socioeducativo na formação escolar brasileira. A principal razão da escolha da Capoeira deu-se por ser uma prática genuinamente brasileira, que faz parte da cultura e história deste povo e contemplar a arte, a música, a ginga, o que permite ao aluno a possibilidade de trabalhar e conhecer seu próprio corpo. Aliado a isso, a própria Constituição Brasileira (1988) em seus artigos 23 e 24, define como competência da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios a busca, entre outros, assegurar a preservação da cultura e bens históricos brasileiros, assim como proporcionar livre acesso a estes e incentivar o seu fomento.

    A Capoeira tem relação com todos os blocos de conteúdos e auxilia na compreensão conceitual, procedimental e atitudinal, na relação tarefa, ambiente e indivíduo, permitindo ao aluno não somente o desenvolvimento de suas habilidades motoras, mas também cognitivas, afetivas e sociais.

    No contexto da teoria dos Sistemas Dinâmicos de Gallahue (2005), a capoeira é uma excelente tarefa quando realizada em um ambiente adequado e motivador terá um desenvolvimento mais rápido e proveitoso do indivíduo com vistas à totalidade do ser humano.

    A principal contribuição deste estudo será a comprovação, através de uma revisão bibliográfica das mudanças no comportamento motor em crianças de quatro a seis anos ocasionadas pela prática da capoeira. Como objetivos específicos e contribuições secundárias destacam-se a apresentação e o uso da teoria ecológica dos sistemas dinâmicos e a verificação de como esta última se aplica no desenvolvimento motor caracterizando as crianças dos 04 a 06 anos na fase fundamental, estágios elementar e maduro; a caracterização da capoeira como tarefa a ser desenvolvida para a melhora no desenvolvimento motor da criança abordando, entre outros, sua história, características e principais habilidades desenvolvidas; e o estudo de como a escola, o material e a ação do professor juntos podem se caracterizar como a estratégia do ambiente.

    O trabalho está organizado da seguinte forma: o capítulo um apresenta o indivíduo, sua formação e desenvolvimento motor seguindo a teoria de Gallahue, Piaget e Magill. No capítulo dois é abordado a tarefa, com sua história, movimentos e tipos da capoeira. Por sua vez, o capítulo três traz o ambiente de aprendizagem, como o professor trabalha o feedback extrínseco, a motivação e o local que se da esta habilidade.

1.     A formação da criança de quatro a seis anos e seu desenvolvimento

    Segundo Gallahue (2005) crianças de quatro a seis anos estão na Fase Motora Fundamental. Esta é a fase na qual a criança conhece seu próprio corpo no que diz respeito à realização de alguma tarefa motora espontânea, como colocar-se de pé de forma segura, andar com maior desenvoltura, passando ainda a outras etapas um pouco mais complexas como correr ou mesmo saltar utilizando os braços para ajudar no controle do equilíbrio, bem como saltar o objeto no chão ou jogá-lo próximo e apanhá-lo em seguida, agachando usando ou não apoio.

    Este é um período para descobrir como desempenhar uma variedade de movimentos estabilizadores, locomotores e manipulativos, primeiro isoladamente e, então de modo combinado. Os padrões de movimentos fundamentais são padrões básicos de comportamento observáveis. Atividades locomotoras (correr e pular), manipulativas (arremessar e apanhar), e estabilizadoras (andar com firmeza e o equilíbrio em um pé só) são exemplos de movimentos que devem ser desenvolvidos nos primeiros anos da infância (GALLAHUE, 2005).

    Os movimentos estabilizadores permitem á criança manter seu centro gravitacional em um ponto de equilíbrio. Traduzindo para a capoeira podemos citar o caso da Estrela ou AU, onde a criança em determinado momento se utiliza de um dos braços para manter o equilíbrio, à medida que uma das pernas não está apoiada ao solo. Já nos movimentos locomotores a criança se encontra em um ponto e vai deste á outro ponto para em seguida retornar ao ponto de partida, portanto podemos citar como exemplo a Ginga, onde a criança se desloca em direções variadas retornando ao local de origem, lateralmente sai para o lado direito, retorna ao ponto para em seguida sair para o lado esquerdo, o mesmo ocorre quando o deslocamento é para frente e para trás.

    O estágio elementar envolve maior controle e melhor coordenação rítmica dos movimentos fundamentais. Aprimora-se a sincronização dos elementos temporais e espaciais do movimento, mas os padrões de movimento neste estágio são ainda geralmente restritos ou exagerados, embora mais bem coordenados. O estágio maduro é uma evolução do estágio elementar no qual a criança começa a trabalhar melhor com os grandes grupos musculares e inicia um trabalho mais focado com os pequenos grupos musculares (GALLAHUE, 2005).

    A teoria de Piaget apud Gallahue (2005) apresenta as fases do desenvolvimento cognitivo, pelo processo de adaptação neural da aprendizagem de novos conteúdos. A criança irá acomodar os dados e adaptar-se ao ambiente quando novas informações chegarem ao seu repertório.

    A primeira fase do desenvolvimento cognitivo é o sensório motor, do nascimento aos dois anos. A segunda fase é do pensamento pré-operacional, dos dois aos sete anos. A terceira fase é das operações concretas de sete aos onze anos. E a quarta fase é das operações formais de onze anos em diante. Focaremos a fase do pensamento pré-operacional de dois ao sete anos, especificamente, entre quatro aos seis anos, para demonstrarmos como a capoeira pode ajudar no desenvolvimento motor dentro das escolas.

    A criança na fase do pensamento pré-operacional ainda não é capaz de manipular objetos mentalmente, precisa ver para conseguir entender, como por exemplo: se colocarmos um copo estreito e longo e outro menor e mais amplo horizontalmente, a criança dirá que no copo maior cabe mais líquido, mesmo que os dois copos caibam a mesma quantia.

    Piaget apud Gallahue (2005) relata que por estarem em período de transição de comportamento direcionado para a auto-satisfação para um comportamento socializado rudimentar as crianças pequenas, tentam ajustar novas experiências aos padrões anteriores de pensamento, ou seja, os conhecimentos estão sendo agregados dia-a-dia, a interpretação do mundo é feita pelas crianças através da observação, em seu próprio mundo.

    Surge a ênfase no “por quê” e no “como”, em perguntas constantes, uma das ferramentas básicas para que a compreensão ocorra (assimilação).

    A atividade sensório-motora começa a ser substituída pela linguagem, como processo facilitador de aprendizagem; é uma das maneiras favoritas de expressar os pensamentos.

    “A criança de acordo com Piaget é egocêntrica (isto é, centrada em si mesmo) em seu relacionamento com o mundo, ao invés de autista (isto é, sem relacionamento), como na fase sensório-motora.” (GALLAHUE,2005,p.48)

    Segundo a teoria piagetiana, a brincadeira faz parte do maior tempo do dia das crianças. Imaginárias ou paralelas, são importantes ferramentas para o aprendizado. Brincar também serve para demonstrar as regras e valores dos familiares, ampliando e aumentando o interesse social por seu mundo, diminuindo egocentrismo e a participação social. Há interesse nos relacionamentos entre as pessoas, e na compreensão dos papéis sociais, pais, irmãos, tios, avós, de grande importância para a criança nesta fase o relacionamento entre os familiares.

    Os autores Singer (1980), Atkinson e Shiffrin (1968) apud Paolielo (2008) relatam a importância do processamento e armazenamento da informação. Segundo eles todo indivíduo capta informações do meio ambiente e da tarefa que irá ser realizada por registros sensoriais (visão, audição, tátil e propriocepção), os neurônios aferentes recebem esta informação e passam ao Sistema Nervoso Central onde a informação é processada (Repetição, Decodificação, Decisão e Estratégia de Recuperação). Assim que for criada a resposta, é transmitida aos neurônios eferentes que vão levar a resposta aos músculos e articulações que realizarão a atividade. Neste momento há a percepção do indivíduo para a atividade realizada e a retro informação é feita, caso ocorra algum tipo de erro em uma atividade de circuito fechado, o feedback Intrínseco volta ao inicio nos órgãos sensoriais para que o indivíduo refaça sua resposta.

    Feedback intrínseco à tarefa,que consiste no feedback sensorial disponível durante ou depois da pessoa desempenhar uma habilidade e que é uma parte da própria situação de desempenho da habilidade que ocorre naturalmente. (MAGILL, 2000, p.199)

    O feedback intrínseco, também é conhecido como retro informação, e utilizado pelo indivíduo durante todo o tempo para corrigir erros durante a realização de uma tarefa. A teoria de circuito fechado é quando o ajuste da ação ocorre durante a execução do movimento. Ex: Rabo de Arraia. O circuito aberto são aquelas que não podemos corrigir durante a execução, ajuste apenas na próxima tentativa. Ex. defesa Aú.

    Este processo descrito ocorre em centésimos de segundos para que sua realização.

    Uma criança de quatro a seis anos está formando sua habilidade motora e cognitiva, saindo do campo das capacidades condicionais (determinações genéticas de resistência, força, velocidade) e capacidades coordenativas (capacidade de diferenciação sensorial, etc.) para a elaboração e treino das habilidades que irão guardar durante toda a sua vida na memória permanente. Este mecanismo de processamento de informações é ativado e requisitado a todo instante.

    A criança de quatro a seis anos, ainda esta em desenvolvimento tanto cognitivo, quanto motor. Tem seu desenvolvimento motor concentrado nas atividades que envolvem os grandes grupos musculares, o que facilita para a capoeira que por trabalhar o todo, está inserida neste tipo de atividade, esta brincadeira também trabalha o conhecimento do corpo, a socialização o desenvolvimento das habilidades.

2.     A capoeira no aprendizado, desenvolvimento e aperfeiçoamento das habilidades do indivíduo

    Segundo Martins (2004), o vocábulo capoeira tem sido tratado por vários estudiosos. Vieira (2004) mostra que o vocábulo tem origem indígena Tupi e significava “mato”. A expressão serviu originalmente para designar negros quilombolas como “negros das capoeiras”, ou seja, “negros dos matos”. Com o passar do tempo o significado foi mudando para “capoeiras”. Sendo assim:

    Aquilo que antes etimologicamente significava “mato” passou a designar “pessoas” e as atividades destas pessoas, “capoeiragem”. (VIEIRA, 2004).

    Os autores também afirmam que em 1712 foi registrado pela primeira vez o termo “capoeira”, por Raphael Bluteau, seguido por Hermeto Lima, 1777, que definiu o termo com o sentido de “luta”. Este termo foi posteriormente utilizado pelo tenente João Moreira e ficou conhecido como “amotinado”. Com isto, o vocábulo “Capoeira” passou a estar associado a uma forma de luta praticada pelos negros.

    Em Porto Seguro, o termo certo é Capoeira. “Atualmente, são quase unânimes os tupinólogos em aceitarem o étimo Caã, mato, floresta virgem, mais Puêra, pretérito nominal que quer dizer o que foi, o que não existe mais”. (CAMPOS, 1990, p.19 apud MARTINS, 2004).

    Segundo Campos (1990) apud Martins (2004), a capoeira surgiu com os escravos que eram trazidos ao Brasil da Angola, Congo e Moçambique, no século XVI. Souza (2010) afirma que as origens da Capoeira remontam a Angola, com técnicas de mobilização do corpo sendo a capoeira de angola, a capoeira “mãe”, que tem como principal referência mestre Pastinha, a capoeira regional seria uma variação criada por mestre Bimba.

    Souza (2010) define que a Capoeira de Angola é a original, tradicional, tem seu jogo baixo, mais lento, está envolta em religiosidade e misticismo, está inserida na cultura do brasileiro mais pobre, marginalizado. Segundo o autor, seus principais golpes são: aú alto ou com cabeça no chão; rabo de arraria; benção; bananeira; passagem lateral; queda de rim; parada de mão; cocorinha; chamada de angola; rolê; carneirinho; macaquinho; currupio; tesoura; transformação; rasteira; cabeçada; volta ao mundo e aranha.

    Já a Capoeira Regional é considerada pelo autor como a evolução da Capoeira de Angola. Ela é mais moderna, tem um jogo alto onde os participantes ficam mais de pé e se movimentam mais rapidamente, é isenta de símbolos religiosos, e goza de uma popularização entre a população branca, normalmente pertencente a uma classe com maior renda (mais abastada). Novamente , de acordo com Souza (2010), os principais movimentos são: aú; aú de frente; aú de costas; aú voltando; aú batendo; aú com cabeça no chão; arrependido; armada; queixada; meia lua de frente; meia lua de compasso; salto mortal, grupada; parafuso; martelo rodado; “s” dobrado; bananeira; rasteira; parafuso; peão com braços; peão com cabeça; benção; martelo; galopante; rolê; negativa; parafuso com os braços; parafuso com a cabeça; queda de rim; macaco; carneirinho; transformação e ponteira.

    Há outros estilos de Capoeira assim como o Miudinho, que não são considerados tão importantes para a história do esporte.

    “A capoeira evolui muito devido aos seus movimentos de grande agilidade, equilíbrio, flexibilidade e destreza passou a ser vista como uma excelente atividade física” (SANTOS, 1985 p.30 apud MARTINS, 2004).

    A principal característica da Capoeira para o jogo é a formação de uma roda. Nela os alunos e seu mestre são dispostos em um círculo concêntrico e permanecem todos sentados, tendo como parte integrante do grupo os instrumentos peculiares da capoeira: Atabaque, Pandeiro, Berimbau e Ganza, entre outros. Os principais golpes normalmente sofrem variação e são diferentes em cada ambiente ou academia de capoeira.

    Vieira (2003) define os movimentos básicos da capoeira, apresentados a seguir:

    É possível detectar os movimentos estabilizadores na capoeira a partir da utilização de alguns golpes como: o Aú, a benção, a chapa, o martelo, a queixada, entre outros, à medida que esta situação acontece, a criança tem seu centro de gravidade no eixo horizontal com apenas um pequeno ponto de equilíbrio, assim realizando enorme esforço contra a força da gravidade que tenta desestabiliza-la do sentido vertical.

    No caso dos movimentos locomotores fica evidente quando se trabalha a ginga, armadinha, rabo-de-raia, chapa giratória e a meia-lua de compasso. Durante a execução destes golpes há um deslocamento de um ponto inicial, para outro ponto, o final. Isso ocorre dentro da roda em cada execução dos mesmos.

    Entre as habilidades motoras segundo Magill (2000) podemos observar que a capoeira trabalha com a precisão de movimentos globais, ou seja, grandes grupos musculares e não finos ou pequenos grupos musculares como a escrita, o que facilita na execução de acordo com a idade proposta, já que eles têm maiores controlo destes músculos.

    Paolielo (2008) nos descreve que qualquer atividade deve ter pontos iniciais e finais bem definidos sendo: Discretas, pontos definidos do início ao fim. Ex: martelo, para-se com a perna no ar para durante a execução do movimento do pontapé; Contínuas, não tem pontos definidos. Ex: ginga, parte de um movimento e sai para outro sem interromper o movimento

    Além dos movimentos, outra característica identificadora da Capoeira são as músicas (ladainhas, chulas, corridos ou quadras) próprias do jogo. Estas são cantorias exaltando os antigos mestres, os praticantes no geral, as mulheres no jogo de capoeira, os lamentos a as agruras do passado escravagista brasileiro.

    A parte dos instrumentos da capoeira ou ritmicidade, que por sua vez, só embeleza a arte com estímulos de ludicidade e prazer, através de associação de outros estímulos a movimentação tais como, a imagem propiciada pelo som e a musicalidade (cantando, tocando, batendo palma). (VIEIRA, 2003)

    Usada como forma de incentivo, a maneira mais comum de se premiar o praticante é através de cordões com diferentes colorações. A graduação segue o sistema da Confederação Brasileira de Capoeira (2001).

    No âmbito organizacional, a capoeira hoje é representada por várias entidades classificadas como Ligas, Federações e Confederações. A Capoeira trabalha com diversas manifestações artísticas. Martins (2004) classifica, cita e explica as diferentes formas de manifestação deste esporte:

    Ou seja, com relação à tarefa temos vários movimentos como o Aú, Benção, Chapa, Cocorinha e Rasteira. Que a criança neste estágio consegue realizar nesse interim ocorre o aprimoramento dos movimentos habituais como correr, saltar, agachar, entre outros, os quais são ajustados através da prática habitual da capoeira, na interlocução com o ambiente.

3.     A interferência da escola e do professor no desenvolvimento motor

    No aprendizado sócio-cultural-cognitivo o ambiente é tão importante quanto os demais sistemas, pois é nele que as diferenças culturais e experiências entre os indivíduos podem ser observadas e trabalhadas. O aprendizado do indivíduo nunca se limita na escola ao relacionamento entre o mestre (o ser que detém o conhecimento) e seu pupilo (o aprendiz, ser que deve absorver este conhecimento), mas há neste contexto um multiculturalismo, onde todos podem aprender uns com os outros, fortalecendo assim a identidade cultural da comunidade enquanto mantém a individualidade de cada ser.

    Ao se pensar na Educação Física, normalmente as primeiras lembranças que vêm à tona são àquelas das brincadeiras de rua da infância, das danças e festas típicas, das cantigas de roda que fazem parte da cultura corporal infantil, segundo Wiggers apud Neira (2008). Ainda segundo o autor, o processo de construção da identidade implica no compartilhamento de algumas características, ou seja, a presença de um currículo multicultural da à percepção aos alunos do mundo ao seu redor e aos professores condições de trabalhar temas como o racismo e os preconceitos sociais. Tais temas estão inseridos no patrimônio cultural, e possibilita a compreensão das características principais da manifestação corporal e do próprio grupo cultural.

    Mas, as manifestações corporais culturais estão mudando, segundo Costa apud Portilho (2005), as manifestações culturais que eram vistas na Idade Moderna estão aos poucos deixando de existir. As brincadeiras de roda, nas quais o movimento era o principal objetivo da criança, passam a não ser mais o foco. O sonho de consumo das crianças agora passou a ser um brinquedo mecânico, que brinca sozinho. Estes indivíduos, portanto, mudaram seus hábitos e deixaram de brincar na terra, passando para o cimento dentro de casa.

    Quando a criança entra na escola, ela já possui conhecimentos previamente adquiridos na sua formação dentro da comunidade e da família que está inserida e isso deve ser considerado quando o professor apresentar suas aulas. Segundo Neira (2008), a escola é o local propício para o professor, indivíduo que detém o conhecimento, passar parte dele para os alunos, mas isso não significa que a voz cultural de cada indivíduo deva ser silenciada.

    É tarefa da escola, estimular as crianças, partindo do que elas já sabem, não acelerando o processo de desenvolvimento e de alfabetização. Porém deve-se pensar em não tratá-los iguais em tudo, respeitando-as como individuo participantes de uma sociedade, mas com experiências, conceitos e características. (PORTILHO, 2005).

    Como se pode compreender, o principal objetivo da escola é a construção do conhecimento através das trocas de experiências e vivências sobre os assuntos abordados.

    Assim como a linguagem verbal falada pelo professor em sala de aula é por vezes incompreensível para os alunos, também a linguagem corporal pode sê-lo, se não se referir, de inicio, a cultura que é própria dos alunos.(FREIRE, 1989, p.24).

    Segundo Martins (2004), a capoeira está comprometida com a formação integral do indivíduo, e por isso o professor deve objetivar o desenvolvimento global do aluno, criando condições para que este se torne autônomo e realize com consciência as práticas para que possa ser entendido como uma educação corporal.

    Martins (2004) também nos descreve que o professor ao idealizar uma aula de capoeira deve sempre seguir a progressão didática (do mais simples para o mais complexo), criando desafios para que os alunos se motivem e participem das aulas, buscando também variações dos movimentos, atividades e materiais a serem propostos. As metas das aulas devem estar bem definidas e claras aos alunos, para que estes vejam sentido nos movimentos e não os percebam ou façam apenas de forma adestrada.

    A estratégia do professor depende não somente do seu estilo de aula ou do plano pedagógico da escola, mas também da formação cultural da sociedade que está no seu entorno, e a forma de aprendizado de cada indivíduo.

    Entre as metodologias do ensino aprendizagem Magill (2000) destaca a prática parcial e prática total. A primeira (prática parcial) subdivide a tarefa em várias partes (ex.: ginga, aú, cocorinha, rolê, etc.) para facilitar o aprendizado, treinando-as separadamente para depois uni-las. Já a prática total parte do completo, ou seja, o aluno é inserido diretamente na roda de capoeira e experimenta realizar os movimentos que já viu ou experimentou direto no jogo.

    O autor também cita que há as prática em blocos e a prática randômica. As práticas em bloco são separadas por blocos de atividades, que o indivíduo deve realizar, repetindo a atividade por uma quantidade de tempo ou vezes antes de passar para a próxima, até que todas as tarefas programadas tenham sido realizadas. Já na prática randômica, o indivíduo irá realizar as diferentes tarefas aleatoriamente, sem repetir consecutivamente nenhuma tarefa. Essas práticas podem ser trabalhadas com intensidades constantes ou variáveis. Como o próprio nome sugere, na prática constante o indivíduo treina uma tarefa sem nenhuma variação de intensidade, ao passo que na prática variada o indivíduo treina uma única tarefa, porém com variações de intensidade.

    ...atividades que levem a criança a conhecer a origem e história da capoeira, aplicar atividades recreativas de capoeira, trabalhar o ritmo através dos instrumentos que compõe a capoeira e seus movimentos, realizar atividades pedagógicas como: pesquisa, confecção de mural, recorte e colagem, pintura e desenho, realizar a roda de capoeira buscando a participação de todas as crianças e auxiliar no desenvolvimento psicomotor dos alunos. (MARTINS, 2004, p. 39).

    A motivação é muito importante. Segundo Magill (2000) “a afirmação verbal pode demonstrar que a pessoa está sendo bem–sucedido numa atividade”, Vieira (2003) nos afirma a importância de um ambiente lúdico ao trabalhar com crianças pequenas, para que todas participem, observando seu próprio sucesso ou seu fracasso no desempenho, havendo uma percepção da pessoa em sua própria capacidade.

    É essencial que as atividades propostas não somente motivem as crianças na realização dos exercícios, mas façam também com que elas consigam compreender o exercício. A busca desta consciência corporal é o que permitirá que o jogo da capoeira não se torne somente ditado pelo professor, mas que seja livre, visando à totalidade do ser humano e a transferência de aprendizagem.

    Toda atividade que é significativa para o indivíduo é armazenada, caso contrário é esquecida dez minutos depois de recebê-la. Segundo Fernandes apud Portilho (2005), “o essencial do aprender é que ao mesmo tempo se constrói o próprio sujeito”. Para que este último seja autônomo e possa aprender não somente com seus erros e dificuldades, mas com os símbolos, o professor deve também lembrar-se de:

    ...nunca enfatizar comparações de desempenho permitindo que o próprio aluno desenvolva seu senso critico a partir das suas conquistas ou não na realização das atividades, procurar estar sempre atento as dificuldades dos alunos, mostrando que os seus erros não determinam um fracasso, abordar as inaptidões sem criticá-los conhecendo antes de tudo, aonde se localiza a falha do aluno que executa a tarefa... (MARTINS, 2004, p.39).

    Magill (2000) descreve o que a transferência de aprendizado, é a “influencia da experiência anterior no desempenho de uma habilidade em um novo contexto ou na aprendizagem de uma nova habilidade. Esta influência pode ser positiva, negativa ou neutra”, quando uma criança consegue compreender os movimentos de uma habilidade para que a partir dela possa modificar para realizar uma tarefa semelhante a anterior dizemos que este ganho é uma transferência positiva de habilidades. Já a transferência negativa ocorre quando uma habilidade adquirida atrapalha na aquisição de uma nova tarefa, normalmente ocorre com quem aprende primeiro as tarefas mais complexas. E a transferência zero, é quando uma habilidade adquirida não tem influencia nenhuma na nova tarefa.

    O aluno precisa saber transferir a aprendizagem de uma atividade para outra. Portilho (2005) exemplifica isso quando ensina a capoeira conjuntamente com as atividades selecionadas por Freitas (2003) e que trabalham a atenção, a memória, a cognição e os trabalhos motores. Com isso, ele busca com que tais habilidades sejam transferidas das outras atividades para jogo da capoeira e vice-versa. O indivíduo, ao aprender uma atividade simples como o “Aú de Angola”, deve evoluir para o mais complexo, o “Aú Regional”.

    Uma das coisas que o professor precisa garantir é a retenção da informação, Magill (2000), nos descreve inúmeros tipos de avaliação do conhecimento, para que isso possa ser observado assim como seus conhecimentos prévios e sua evolução, Avaliação da aprendizagem através da pratica de desempenho, o aluno irá praticar durante algum tempo a atividade observando seus acertos, para ver como se dá sua curva de desempenho; Avaliação da aprendizagem através de testes de retenção, depois de uma semana trabalhando uma tarefa, passasse uma outra que não tem nada a ver com a anterior, após alguns dia volta a atividade anterior com o objetivo de verificar o que os alunos retiveram e os testes de transferência de uma tarefa a outra.

    Os alunos trazem da vida conhecimentos anteriores, o professor deve conhecer este aluno para conseguir progredir suas habilidades e utilizar a progressão didática, metodologias específicas e a transferência de conhecimentos anteriores para a atividade proposta, sempre motivando os alunos e mostrar para eles suas respectivas evoluções, tendo a avaliação para verificação da aprendizagem.

Considerações finais

    De acordo com o estudo realizado, pautado na teoria ecológica do sistema dinâmico, crianças de quatro a seis anos estão em estágio de desenvolvimento motor e cognitivo, sendo importante fundamentar as habilidades por teóricos, para que através da compreensão do indivíduo seja possível identificar os benefícios desta tarefa, identificando as habilidades que normalmente os alunos apresentam nesta idade. Este passo foi importante e permitiu posteriormente a realização de uma ligação das habilidades com o conteúdo proposto: a Capoeira.

    Através da Capoeira o indivíduo vivencia uma experiência diferenciada, pois realiza vários movimentos básicos que garantem o desenvolvimento e aperfeiçoamento de suas habilidades, ou seja, aquisição de destreza motora. Estas tarefas têm seu desenvolvimento motor concentrado nas atividades que envolvem os grandes grupos musculares, trabalhando o corpo humano como um todo e melhorando o conhecimento do corpo, a socialização e o aprendizado da cultura nacional vinculada à Educação.

    Os estudos mostraram e pode-se concluir que o ambiente deve ser adequado para que ocorra uma melhor compreensão dos exercícios e posteriormente a aprendizagem de tarefas mais complexas, ou simplesmente da transferência das tarefas aqui apresentadas a outros conteúdos didáticos. A motivação também é importante para que o aluno participe da aula, pois nesta idade o trabalho do professor deve ser lúdico e seguir uma progressão didática.

    Por último, para o professor, a compreensão de onde deve iniciar suas atividades, ou até mesmo a retenção de informação que os alunos têm, é de suma importância. Portanto cabe a ele avaliar continuamente seus alunos, verificando a evolução individual de cada um e a evolução coletiva da sala.

Referências

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