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Stress e atividade física. Um diagnóstico dos profissionais
de segurança pública do Centro Integrado de Operações
da Região Metropolitana da cidade de Natal, RN

Estrés y actividad física. Um diagnóstico de la profesionales de la seguridad pública del
Centro Integrado de Operaciones de la Región Metropolitana de la ciudad de Natal, RN

 

*Discente do curso de Educação Física da UFRN

**Prof. Dr. Universidade Federal do Rio Grande do Norte

(Brasil)

Tiago Luís Juvêncio Teixeira*

tiagoluis1@hotmail.com

Marcos Aurélio de Albuquerque Costa**

maac@ufrnet.br

 

 

 

 

Resumo

          Introdução: O stress atinge grande parte da população mundial. No que diz respeito ao trabalho, algumas categorias profissionais estão mais sujeitas a exposição ao stress, entre elas o que lidam com a Segurança Pública. Assim, o presente estudo procurou revelar evidências sobre a relação entre atividade física e stress, nesse grupo particular de profissionais. Objetivos: Diagnosticar o nível de stress e de atividade física habitual dos profissionais que trabalham no Centro Integrado de Segurança Pública – CIOSP/RN, e verificar se há correlação entre as variáveis. Método: O estudo foi do tipo descritivo com corte transversal, cuja população foi composta de 194 indivíduos, da qual foi utilizada uma amostra estratificada (n=141) agentes de segurança, com idade entre 20 a 55 anos, de ambos os gêneros. A seleção da amostra foi do tipo não probabilística intencional, em cada extrato. Os dados foram coletados através do Inventário de Sintomas de Stress de Lipp para Adulto e do Questionário Internacional de Atividade Física – IPAQ, em sua versão curta. Na análise dos dados foi utilizada a estatística descritiva Básica e Qui-quadrado (χ²), utilizando-se o pacote estatístico SPSS - versão 19.0. Resultados: Foram encontrados níveis consideráveis de stress nos servidores do CIOSP/RN (43%), sendo a fase de resistência a predominante (38,3%) e a sintomatologia psicológica como prevalente (24,8%). Já a variável Atividade Física, predominou o nível baixo (47%) e moderado (38%). Estatisticamente não houve relação significância entre as variáveis stress e atividade física. Conclusões: O percentual considerável de indivíduos com stress e um baixo nível de Atividade Física, permite concluir pela existência de um quadro preocupante, uma vez que este cenário pode comprometer a saúde física e mental dos pesquisados, caso não haja uma intervenção dos gestores responsáveis pela segurança pública do estado. Recomenda-se uma ação preventiva por parte dos dirigentes do órgão como: implantação de um programa de diagnóstico, controle e prevenção de stress, bem como um programa de atividade física e lazer.

          Unitermos: Atividade física. Stress. Segurança pública.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 175, Diciembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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1. Introdução

1.1.     O problema

    O ser humano nos primórdios de sua história tinha a atividade física inserida no seu dia-a-dia. Sua vida nômade na busca de moradia fazia com que ele se deslocasse por longas distâncias atrás de um local que apresentasse condições mínimas de sobrevivência, um local onde fosse possível caçar animais e coletar alimentos vegetais.

    O homem da pré-história era fisicamente ativo. Ele dependia de sua força, de sua velocidade e de sua resistência para sobreviver. Lutar, caçar, saltar, arremessar, correr e caminhar eram atividades de seu cotidiano.

    Ao contrário de nossos ancestrais, a humanidade moderna está sendo marcada pela inatividade física. O século XX trouxe consigo uma revolução tecnológica capaz de produzir inúmeros objetos que poupam energia. Na antiguidade o homem se deslocava por longas distâncias caminhando, hoje ele atravessa o continente em poucas horas dentro de um avião. Paralelo a isso, temos vários outros mecanismos poupadores de energia como o controle remoto, o elevador, a escada rolante, o automóvel.

    A revolução tecnológica trouxe muitos benefícios em vários campos como segurança, comunicação, medicina, produção de conhecimento, entre outros, e a sua importância para a sociedade moderna é inquestionável. Porém, o grande desafio é tirar proveito desses benefícios sem perder uma característica adquirida pela humanidade desde seus primórdios, a de praticar atividade física.

    Para Kheian e Matsudo (2005) as conseqüências da inatividade física e do sedenta­rismo para a saúde física são o diabetes, a hipertensão, a hiperco­lesterolemia, a obesidade, a osteoporose, diversas formas de câncer, calculose renal, biliar e até disfunção erétil. Com relação à saúde mental é a dimi­nuição da autoestima, da autoimagem, do bem-estar, da sociabilidade; aumento de ansiedade, de stress, e de depressão.

    Segundo Nahas (2006) citando a Organização Mundial da Saúde em estudo divulgado em 2005 a população mundial se apresenta como sendo 42% ativa, 41% pouco ativa e 17% inativa. Este mesmo trabalho estima que a inatividade contribua diretamente para 21,5% das doenças cardíacas isquêmicas, 11% dos derrames, 14% dos casos de diabetes, 16% dos cânceres de cólon e 10% de mama.

    O Ministério da Saúde em 2008 realizou uma pesquisa em 26 capitais e no distrito federal e os resultados apresentaram Natal como a cidade mais sedentária do país com 32,2% de inatividade.

    Além do problema da inatividade física, o modo de vida enfrentado pela atual sociedade urbana pode gerar elevados níveis de stress. Para Lipp (2008) este é responsável por produzir conseqüências negativas para o indivíduo e para a comunidade.

    Segundo Lipp (2008) o stress quando excessivo produz conseqüências psicológicas e emocionais que resultam em cansaço mental, dificuldade de concentração e perda de memória imediata, bem como crises de ansiedade e de humor.

    Há uma ligação entre os sistemas neurológico, imunológico e endócrino para a regulação do organismo. Por isso, essas respostas psicofisiológicas do organismo podem ocasionar doenças pela baixa do sistema imunológico.

    Dessa forma, diante do que foi exposto e sabendo que a inatividade física e o stress podem interferir na qualidade de vida das pessoas surge a seguinte pergunta: Qual o nível de atividade física e de stress dos profissionais de segurança pública que atendem a população da região metropolitana de Natal?

1.2.     Justificativa

    O interesse pela realização do referido estudo teve inicio com o advento do Trabalho de Conclusão de Curso, tarefa obrigatória para conclusão do curso de Educação Física na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Além disso, foi percebido que os profissionais que pertencem ao efetivo do CIOSP alegam, com freqüência, estarem estressados e ao descobrirem que um aluno do curso de educação física também faz parte do efetivo do centro, começaram a afazer indagações sobre alternativas para um estilo de vida ativo.

    Segundo Junior & Silva (2008) há profissões que exigem um acentuado esforço físico ao mesmo tempo em que impõem uma elevada pressão psíquica no desempenho da função. Um exemplo de profissionais que se enquadra nesse contexto são os agentes de segurança pública, pois a função exige elevado esforço físico e faz com que os profissionais se deparem em seu cotidiano com delitos graves. Além disso, estão expostos ao perigo e a agressões tendo muitas vezes que intervir em situações de conflitos e tensão social.

    A sociedade cada vez mais exige e necessita de profissionais honestos, competentes e comprometidos com a sua função. Dessa forma, faz-se necessário acompanhar e avaliar bem esses profissionais no que se refere à saúde, principalmente nas variáveis stress e atividade física, pois estas variáveis têm uma grande influência na capacidade de trabalho dos indivíduos.

    Dessa forma, esse trabalho surge como proposta de avaliar os níveis de stress e os níveis de atividade física praticados pelos profissionais de segurança pública que atendem a população da região metropolitana de Natal.

1.3.     Objetivos

1.3.1.     Objetivo geral

    Avaliar o nível de stress e o nível de atividade física dos profissionais de segurança pública que trabalham no Centro Integrado de Segurança Pública – CIOSP, do estado do Rio Grande do Norte.

1.3.2.     Objetivos específicos

  • Identificar o nível de atividade física dos profissionais que trabalham no CIOSP/RN, através do Questionário Internacional de Atividade Física - IPAQ;

  • Verificar a possível presença de stress, bem como a fase e a sintomatologia prevalente em que se encontram os profissionais que trabalham no CIOSP/RN, através do Inventário de Sintomas de Stress para Adulto de Lipp – ISSL;

  • Verificar se há correlação entre os níveis de atividade física e a prevalência de stress.

    Outra forma eficaz de exercício no controle ao stress é o alongamento, pois realizados de forma lenta ajudam reduzindo a tensão. Além disso, podem ser praticados em locais de trabalhos ou de estudos (NAHAS, 2006).

2.     Metodologia

2.1.     Caracterização da pesquisa

    Esta pesquisa se apresenta como sendo de caráter descritivo com corte transversal, onde se pretende avaliar o nível de stress e de atividade física dos profissionais de segurança pública que trabalham no Centro Integrado de Operações de Segurança Pública – CIOSP/RN, da cidade de Natal/RN.

    Os dados foram coletados através de questionários. De acordo com Gil (2010) uma pesquisa descritiva tem por finalidade descrever características de determinada população ou fenômeno.

2.2.     População e amostra

2.2.1.     População

    A população foi constituída por profissionais da Polícia Militar (n=132), Corpo de Bombeiros Militar (n=7), Polícia Civil (n=16), Instituto Técnico e Científico de Polícia (n=14), Guarda Municipal de Natal (n=19) e Defesa Civil de Natal (n=6) que trabalham no Centro Integrado de Segurança Pública (CIOSP/RN), num total de 194 indivíduos.

2.2.2.     Amostra

    A amostra foi do tipo estratificada e a seleção em cada estrato de forma não probabilística intencional: Polícia Militar (n=100), Corpo de Bombeiros Militar (n=6), Polícia Civil (n=12), Instituto Técnico e Científico de Polícia (n=8), Guarda Municipal de Natal (n=10) e Defesa Civil de Natal (n=5), num total de 141 indivíduos com idade entre 20 a 55 anos, representado 73% da população investigada.

2.3.     Instrumentos de medidas

    Neste estudo foram aplicados dois questionários. O Questionário Internacional de Atividade Física – IPAQ, na sua versão curta e o Inventario de Sintomas de Stress para Adulto de Lipp – ISSL.

    O IPAQ em sua versão curta foi validado no Brasil por Matsudo et al. (2001), em um estudo realizado com uma amostra de 257 homens e mulheres que foram submetidos aos questionários na versão longa e curta. Este questionário é composto por oito perguntas que investigam as atividades físicas leves, moderadas e intensas praticadas na semana anterior ao teste. Ao final, é dado um valor que é o resultado dos minutos e dos dias em que a atividade física foi praticada. Diante deste valor pode-se classificar o nível de atividade física em alta, modera ou baixa.

    O ISSL é destinado a jovens e adultos e foi validado por Lipp & Guevara em 1994. Avaliando o nível de stress global e não o ocupacional, o ISSL, emprega o modelo quadrifásico (fases de alerta, resistência, quase exaustão e exaustão) baseando-se na Síndrome Geral de Adaptação proposto por Selye (1956). O instrumento permite um diagnostico preciso com relação à presença do stress, a fase do stress em que o individuo se encontra e a sintomatologia na área física ou psicológica.

    O ISSL é composto por 37 itens de natureza somática e 19 de natureza psicológica distribuídos em três quadros. O primeiro avalia a fase de alerta e dispõe de 12 itens com sintomas físicos e três com sintomas psicológicos. O participante marca as opções que experimentou nas últimas 24 horas. O segundo é composto de 10 sintomas físicos e cinco psicológicos e o participante marca as opções que experimentou na última semana. Já a fase de quase exaustão é diagnosticada com base em uma freqüência maior de sintomas listados no quadro 2 do inventário. Por fim, o terceiro quadro, que avalia a fase de exaustão, apresenta 12 sintomas físicos e 11 psicológicos, e o participante marca aqueles que experimentaram no último mês.

2.4.     Procedimentos

    Os objetivos da pesquisa foram inicialmente explicados e em seguida foi entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para que o participante possa autorizar a realização da pesquisa. Logo após, os questionários foram entregues individualmente.

    Os questionários foram aplicados de forma individual e preenchidos por cada participante da pesquisa em um ambiente de privacidade para evitar influências de outras pessoas. Em caso de dúvida nas respostas do questionário, o pesquisador responsável pelo estudo prestou mais esclarecimentos a fim de saná-las.

2.5.     Critérios de inclusão e exclusão

    Foram excluídos os profissionais que se encontravam afastados do trabalho por motivo de férias ou licença médica, bem como aqueles que se negaram em assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

    Foram incluídos todos os profissionais do Centro Integrado de Segurança Pública (CIOSP/RN) que estavam exercendo suas atividades.

2.6.     Caracterização da instituição

    O Centro Integrado de Segurança Pública do Estado do Rio Grande do Norte – CIOSP/RN – se localiza na Av. Rodrigues Alves s/nº, no bairro de Tirol, em Natal, e o espaço físico para seu funcionamento foi cedido pelo Quartel de Comando Geral da Polícia Militar. O CIOSP foi criado em 14 de novembro de 2006, com incentivo da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), e inaugurado em 12 de dezembro de 2007. Porém, a sua regulamentação através de lei só ocorreu em 2010 com o advento da lei estadual de nº 442 no primeiro dia de julho.

    O CIOSP surgiu com o objetivo de unir, em um mesmo espaço físico, várias centrais de emergência, objetivando dirigir as ações dos órgãos de emergência em uma única direção na tentativa de melhorar e agilizar o atendimento ao cidadão.

    Atualmente, seis instituições têm seus serviços de emergências integrados nas instalações do CIOSP, que são elas: Polícia Militar, Corpo de Bombeiros Militar, Polícia Civil, Instituto Técnico e Científico de Polícia, Guarda Municipal de Natal e Defesa Civil de Natal.

    As ações do CIOSP se concentram em três setores. O primeiro é Call Center e seu objetivo principal é atender todas as ligações de emergências destinadas às instituições acima citadas, dar as primeiras assistências ao cidadão como orientação e conselhos, anotar as informações básicas como endereço e repassar todas as informações para um segundo setor que é a Central de Radio. Esta, por sua vez, tem a função de coordenar, distribuir e orientar o policiamento que está trabalhando na grande Natal. Ao receber as informações do Call Center, repassam todas elas as unidades móveis (viaturas e ambulâncias) para que possam chegar, no menor tempo possível, ao local onde foi solicitada. O ultimo setor, chamado de Monitoramento, tem a função de monitorar através de câmeras setores estratégicos como a Orla Marítima e o Centro Comercial repassando informações importantes para Central de Rádio.

    Assim, pode-se concluir que tanto o Call Center quanto o Monitoramento têm a função de alimentar com informações a Central de Radio para que esta oriente da melhor forma possível as unidades móveis melhorando o atendimento a população.

2.7.     Tratamento estatístico

    A análise estatística foi realizada de forma descritiva, a partir dos índices de freqüência das respostas obtidas pelos questionários e, em seguida, utilizou-se o teste de associação do Qui - quadrado (χ²), a fim de estabelecer os níveis associativos entre as variáveis analisadas.

    Para tal, foi usado o pacote estatístico SPSS 19.0 e o programa Excel 2007, no intuito de verificar os valores pretendidos.

3.     Resultados e discussões

    Os resultados encontrados serão apresentados através de tabelas e gráficos.

Tabela 1. Características demográficas referentes à idade dos servidores do CIOSP/RN

    O total de investigados foi de 141 indivíduos. Sendo que destes, 53% trabalham no Call Center, 33% na Central de Rádio e 20% no Monitoramento. O valor central para as idades foi 32, o mínimo 24 e o máximo 54.

Tabela 2. Nível de stress dos servidores do CIOSP/RN

Gráfico 1. Percentual de indivíduos com stress

    De acordo com o gráfico 1, 43% dos investigados estão estressados e 53% não apresentaram stress.

    Oliveira & Bardagi (2010) investigou a presença de stress em 75 policiais militares de Santa Maria (RS) e na ocasião, verificou-se que 57,3% estavam estressados e 42,7% não apresentaram stress. Costa et al. (2007) em estudo realizado com 264 policiais militares da cidade de Natal (RN) e seus resultados foram de 47,4% para estressados e 52,6% para não estressados. Embora os resultados para indivíduos estressados desta pesquisa tenham sido menores quando comparados aos das pesquisas acima citadas, a prevalência de stress ainda é considerável, sendo necessárias medidas preventivas para a diminuição deste valor.

Tabela 3. Nível de stress dos servidores do CIOSP/RN

    Dos estressados 51,7% trabalham no Call Center, 31,7% na Central de Rádio e 16,7% no Monitoramento. Porém, quando foram comparados os setores não foi encontrado significância (p=0,613) entre eles. Diante de tal resultado, pode-se concluir que o stress não depende da função exercida pelos profissionais que trabalham no CIOSP.

Tabela 4. Frase predominante do stress por setor

    Foi encontrada significância entre as fases do stress (p=0,042). Sendo a fase de resistência a que obteve mais ocorrência seguida pela fase de quase exaustão e pela fase de alerta com 38,3%, 3% e 1,4%, respectivamente. Ninguém foi classificado na fase de exaustão.

    A fase de resistência não representa um risco iminente, pois ela é uma fase intermediária na qual o indivíduo ainda consegue se adaptar ao estímulo estressor. Porém, se este estímulo persistir, o indivíduo entrará na fase de quase exaustão caracterizada por ser uma fase na qual o indivíduo não consegue mais se adaptar ou resistir, gerando graves riscos à saúde e, neste caso específico, riscos à sociedade. Contudo, é importante que medidas preventivas sejam tomadas com o objetivo de diminuir a prevalência na fase de resistência.

Tabela 5. Sintomas prevalentes do stress

    Não foram encontradas diferenças significativas entre os sintomas do stress sendo que dos pesquisados, 24,8% apresentaram sintomas psicológicos e 17,7% sintomas físicos. Dentre os sintomas psicológicos, tiveram maior prevalência irritabilidade sem causa aparente, raiva prolongada e perda do senso de humor. Os sintomas físicos mais relatados foram dificuldade de dormir, insônia e problemas com a memória.

Tabela 6. Nível de atividade física dos servidores do CIOSP/RN

 

Gráfico 2. Percentual do nível de atividade física

    O profissional de segurança pública é muito exigido fisicamente em seu dia-a-dia, pois ele passa longos períodos de tempo em pé e caminhando, tendo que em algumas ocasiões correr e até mesmo interferir fisicamente em situações de conflito. Por isso, espera-se que eles tenham um alto nível de atividade física. Porém, tal fato não foi constatado nesta pesquisa, pois a incidência de indivíduos classificados com nível de atividade física baixo foi de 47%, seguido de 38% para moderado e 15% para alto. Caracterizando a amostra com um nível considerável de indivíduos sedentários.

    Estes resultados são contrários aos publicados por Rocha et al. (2008), ocasião em que pesquisou o nível de atividade física de 121 militares do exército brasileiro oriundos da guarnição de Porto Alegre/RS e encontrou uma predominância de 89,26% de indivíduos muito ativos, 9,09% ativos e 1,65% insuficientemente ativos.

Tabela 7. Relação entre nível de atividade física e ocorrência de stress

    Embora não tenha sido encontrada significância entre a relação stress e atividade física nesta pesquisa, podemos inferir que o número de indivíduos estressados poderia ser menor, caso o nível de atividade física da amostra fosse maior. Segundo Nahas (2006) a prática regular de atividade física, bem como a melhora da aptidão física, ajudam a combater, de forma mais eficaz, os agentes estressores de natureza física e psicológica. Ainda, segundo este autor, a prática regular de atividade física oxigena o cérebro e faz com que o organismo libere substâncias denominadas endorfinas que atuam promovendo prazer, diminuindo a sensação de dor e de cansaço podendo ser, dessa forma, uma excelente ferramenta preventiva para os efeitos deletérios do stress.

    Araújo (2010) comparando os níveis de stress antes e após três meses de treinamento físico militar em 42 soldados do exército achou significância de (p=0,01) entre os índices, demonstrando que atividade física ajudou na diminuição dos níveis de stress. É importante salientar que o estudo de Araújo (2010) estudou os efeitos do treinamento físico militar sobre o stress enquanto este analisou os efeitos do nível de atividade física habitual sobre o stress.

    A ocorrência de stress deve-se a um somatório de fatores como idade, gênero, indicie de massa corporal e até mesmo a práticas de hábitos saudáveis como não fumar e não beber. Dessa forma, há uma limitação neste estudo, pois analisou apenas os efeitos da atividade física sobre a ocorrência de stress. Assim, faz-se necessário a realização de mais estudos que abordem outros fatores potencialmente estressantes nessa população.

4.     Conclusão e sugestões

    Diante dos objetivos pré-estabelecidos e dos resultados da pesquisa podemos concluir que:

  1. Foram encontrados níveis consideráveis de stress nos servidores que estão distribuídos pelos setores do CIOSP/RN, com a fase de resistência sendo a predominante e a sintomatologia prevalente psicológica;

  2. Quanto ao índice de Atividade Física predominou o Baixo e Moderado, ficando o alto nível com o menor valor;

  3. Não houve diferença significativa entre ocorrência de stress e o nível de atividade física, porém os valos encontrados sugerem a presença considerável de indivíduos sedentários com percentual alto de stress.

    Em função dos achados encontrados no presente estudo, sugerimos:

  1. A criação de um programa que realize estudos periódicos sobre o stress, a fim de identificar e combater as fontes estressoras, bem como orientar os profissionais sobre atitudes e comportamentos preventivos;

  2. Implantação de um programa de atividade física, esporte e lazer, ginástica laboral, bem como Yoga e Meditação;

    Além das supracitadas sugestões, se faz necessário outros estudos que investiguem a relação entre nível de atividade física e ocorrência de stress dos profissionais de segurança pública que atuam nas centrais de emergência em outras regiões do Brasil, a fim de confirmar ou refutar os resultados encontrados.

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