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Percepção das mulheres quanto às vias de parto

La percepción de las mujeres en cuanto a las vías de parto

Perception of women about the ways of delivery

 

*Acadêmica do 7º período do Curso de Graduação em Enfermagem das Faculdades Santo Agostinho

**Doutoranda em Ciências pela UNIFESP – Mestre em Ciências pela UNIFESP. Docente do Curso de Graduação

em Enfermagem da Universidade Estadual de Montes Claros e Faculdades Santo Agostinho de Montes Claros, MG

***Enfermeira Especialista em Gestão Pública em Serviços de Saúde. Docente e Supervisora

de Estágio do Curso de Enfermagem das Faculdades Santo Agostinho de Montes Claros, MG

****Enfermeira Especialista em Controle de Infecção

Docente do Curso de Enfermagem das Faculdades Santo Agostinho de Montes Claros, MG

*****Docente do Curso de Graduação em Enfermagem das Faculdades Santo Agostinho e orientadora da pesquisa

******Enfermeira Especialista em UTI. Docente do Curso de Graduação

em Enfermagem da Universidade Estadual de Montes Claros, MG

(Brasil)

Andressa Ferreira Costa*

Gabriela Silveira Mendes*

Carla Silvana de Oliveira Silva**

carlasosilva@ig.com.br

Adélia Dayane Guimarães Fonseca***

Joanilva Ribeiro Lopes****

Diana Matos Silva*****

diana.yasmin@hotmail.com

Daniella Fagundes Souto******

daniellasouto@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O parto é um evento marcante na vida da mulher e de sua família, cuja vivência está relacionada à crenças, cultura e contexto de vida. Esta pesquisa teve como objetivo conhecer a percepção das mulheres quanto às vias de parto, baseada em suas experiências. Trata-se de um estudo qualitativo, de caráter descritivo, em que foram entrevistadas 10 puérperas e 3 gestantes internadas na Maternidade Maria Barbosa do Hospital Universitário Clemente de Faria, no mês de maio de 2011. As entrevistas foram gravadas, transcritas e analisadas exaustivamente. Os resultados revelaram a preferência das mulheres pelo parto normal, mesmo aquelas que realizaram cirurgia, apresentando justificativas coincidentes com evidências científicas relacionadas às vantagens deste; suas experiências demonstraram sentimentos extremos de dor e preocupação à alegria e recompensa diante do nascimento de seus filhos; a decisão quanto à via de parto ficou a cargo dos profissionais, sendo as clientes informadas sobre a realização do procedimento. Percebe-se que as entrevistadas possuíam conhecimentos atuais sobre a melhor via de parto tanto para mãe quanto para o bebê: o parto natural. A dor foi uma constante; porém, superada no encontro entre mãe e filho. O parto foi uma vivência prazerosa e satisfatória, cujas vias foram entendidas como fisiológicas ou necessárias, quando cirúrgica. Sugere-se a realização de estudos que abordem a adoção de medidas de alívio da dor, pois não foi mencionada pelas entrevistadas, nem mesmo quando enfatizaram a presença desta.

          Unitermos: Percepção. Parto. Mulheres.

 

Abstract

          The delivery is a landmark event in the life of the woman and her family, whose experience is related to their beliefs, culture and life context. This research aimed to understand women's perceptions about the route of delivery, based on their experiences. It is a qualitative study of descriptive nature, there were interviewed 10 mothers and 3 pregnant women admitted in the Maternity Maria Barbosa of the Universitary Hospital Clemente de Faria, in May 2011. The interviews were recorded, transcribed and analyzed thoroughly. The results revealed a preference by women for vaginal delivery, even those who underwent surgery, presented justifications that coincide with scientific evidence related the advantages of this: their experiments showed extreme feelings of grief and worry to joy and reward at the birth of their children, the decision on the delivery route, was in charge of professionals, with the clients informed about the procedure. It is noticed that the interviewees had knowledge on the best mode of delivery for both mother and baby, natural childbirth. The pain was always a constant but it was overcomed with the encounter between mother and child. The delivery was a pleasant and satisfying experience, whose ways were perceived as physiological or necessary, when they went through surgery. The realization of studies about pain relief because it was not mentioned by the interviewees, not even when they emphasized the presence of them.

          Keywords: Perception. Childbirth. Women.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 175, Diciembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Historicamente, o trabalho de parto ocorria no ambiente domiciliar, no qual a mulher era assistida por outra mulher, geralmente uma parteira de sua confiança, e apoiada pelos seus familiares. No século XX, mais precisamente depois da Segunda Guerra Mundial, em nome da redução das elevadas taxas de mortalidade materna e infantil, ocorre a institucionalização do parto, passando do domicílio para o hospital, e consequentemente a sua medicalização. Acontecendo, assim, de maneira que a maioria das mulheres passou a permanecer internada em sala de pré-parto coletivo, assistidas com práticas baseadas em rotinas e normas de comportamento que são ditadas pela instituição (BRUGGEMANN et al., 2005).

    O parto vaginal ou parto normal, na concepção de Knupp et al. (2008), é um processo natural que acontece por si mesmo e o parto cesárea, uma intervenção médica sobre um processo que a natureza resolve e regula sem artifícios. Para Cardoso et al. (2010), a maioria das parturientes é capaz de executar de maneira saudável o parto normal, sem necessidade de intervenção médica, tendo em vista que o corpo da mulher foi preparado para tal.

    Segundo Cardoso et al. (2010), até por volta de aproximadamente três décadas atrás, a maioria dos partos ocorria por via vaginal, ou mesmo parto normal. Havia poucos médicos adeptos a cesariana e sua execução envolvia riscos anestésicos e cirúrgicos, agravados pelo caráter de urgência desse tipo de parto. Por essas razões, existem muitos médicos que defendem o parto vaginal como primeira escolha, por considerarem ter este muitas vantagens em relação à cesariana, principalmente por ser fisiológico. A recuperação após o parto natural é mais rápida e há menor chance de hematomas, infecções ou outras complicações.

    Já em relação ao parto cesárea, Machado Junior et al. (2009), dizem ser um procedimento indispensável na obstetrícia contemporânea, e é bastante utilizado para a resolução de situações de risco tanto para a parturiente quanto para o concepto. Porém, é necessário um conhecimento profundo de seus riscos e implicações para uma indicação médica adequada. Knupp et al. (2008) afirmam que a cesariana apresenta riscos inerentes ao ato cirúrgico, além de influenciar no aumento da taxa de mortalidade materna e neonatal, uma vez que a chance da mulher morrer na cesariana é seis vezes maior que na via vaginal, principalmente considerando que os riscos de infecção e hemorragia são bastante superiores.

    Assim, apontadas as possibilidades de complicações maternas e neonatais associadas às cesarianas sem indicações obstétricas reais, espera-se encontrar um efeito positivo do aconselhamento médico no sentido de favorecer a tentativa de parto vaginal pelas mulheres (DIAS et al., 2008).

    Apesar dos inúmeros aspectos negativos relacionados ao parto cesárea, este pode ser indicado com a intenção de salvar a vida da mãe e do filho em situação de alto risco, como por exemplo: sofrimento fetal, apresentação pélvica, hemorragia antes do parto, doença hipertensiva específica da gravidez, gemelaridade, diabetes e cesárea de repetição. A indicação de cesariana em gestantes soropositivas ao HIV tornou-se um meio seguro de evitar a transmissão do vírus ao recém-nascido em até 90% (KNUPP et al., 2008).

    Nesse contexto, visando à humanização da assistência ao parto normal e à redução do índice de morbimortalidade materna e perinatal, algumas medidas foram apresentadas no plano nacional, pelo Ministério da Saúde, como as portarias nº 2815/98 e nº2816/98 que, respectivamente, estabeleceu o pagamento pelo procedimento do parto normal sem distocia à enfermeira obstetra e institui limites máximos de cesárea para o pagamento pelo Sistema Único de Saúde (CRIZÓSTOMO et al., 2007).

    Diante disso, pretendeu-se, neste estudo, conhecer a percepção das mulheres quanto às vias de parto. A escolha do tema surgiu para as pesquisadoras a partir da compreensão das inúmeras vantagens de um parto vaginal, e assim, entender os motivos de escolha por uma cesárea na população estudada. Esse conhecimento possibilita a compreensão da preferência do público alvo acerca da via de parto, bem como a participação dessas mulheres na escolha desta via.

Resultados e discussão

    Participaram do estudo 13 mulheres, com idade entre 18 e 39 anos. Os dados revelaram predominância de bom nível de escolaridade (2º grau completo). Quanto à paridade, verificou-se maior frequência de mulheres com experiência de 1 parto, seguidas daquelas com 2, 3, 4 e 6 partos. Para descrever a percepção dessas mulheres quanto às vias de parto, tentou-se entrevistar todas as mulheres presentes na maternidade durante o período de coleta de dados, porém nem todas aceitaram participar da pesquisa. Foram entrevistadas 10 puérperas e 3 gestantes.

Via de parto: parto vaginal ou cesárea

    Ao compararem o parto normal e a cesárea, as puérperas destacam maiores vantagens relacionadas ao parto normal, os quais são: o protagonismo da mulher, diferença no cuidado médico, a qualidade da relação com o bebê e a recuperação no pós-parto (GAMA et al., 2009).

    Este estudo mostrou que, dentre as entrevistadas, a preferência pelo parto vaginal foi da maioria, como pode-se observar nas falas abaixo:

  • “Agente recupera bem mais rápido e (...) pra gente cuidar da criança é até melhor, né.” (E2)

  • “Apesar de ser mais dolorido, a recuperação é mais rápido.” (E3)

  • “Eu sempre pensei pelo normal, pelo fato da recuperação ser mais rápida.” (E11)

    Percebe-se a unanimidade nas justificativas apresentadas, direcionadas à recuperação pós-parto mais rápida, que no parto cesáreo.

    Por outro lado, uma das entrevistadas disse preferir o parto cesáreo, concordando com o estudo de Ferreira (2008), em que a vantagem atribuída ao parto cesáreo é a possibilidade de realização do parto sem qualquer dor.

  • “Ai, eu prefiro o cesáreo. Sente menos dor. Porque a dor do parto normal é (...) dói demais, sofre demais.” (E8)

    Observou-se ainda que duas das entrevistadas, embora tivessem preferência pelo parto normal, foram submetidas ao parto cirúrgico.

  • “Prefiro o normal, porque é mais rápido.” (E1)

  • “Ai, agora eu prefiro o normal, né. Que no começo eu achava que o cesáreo era mais fácil, mais rápido. Geralmente foi, só que prejudica demais agente...” (E9)

    Os resultados obtidos em relação à preferência sobre a via de parto no estudo condizem com o estudo de Melchiori et al. (2009), em que a preferência pelo parto normal é argumentada pelas mães devido à recuperação ser mais favorável, e as que preferem a cesárea argumentam também que seria um parto no qual se sofre proporcionalmente menos.

Vantagens das vias de parto

    Gama et al. (2009) observaram em seu estudo que o parto normal é mais saudável para o bebê e a mulher, por ser algo mais natural. Da mesma forma, as entrevistadas, no presente estudo, demonstraram conhecimento correto acerca das vantagens do parto normal:

  • “O normal é bom porque recupera mais rápido, né. E é um parto mais saudável.” (E5)

  • “O parto normal é mais rápido né. Tanto pra mãe quanto pro bebê, acho que é melhor. Mais natural.” (E10)

    Porém, não foi objeto deste estudo avaliar a origem deste conhecimento. Sabe-se que desde 1990 verificam-se iniciativas governamentais que objetivam a redução das altas taxas de cesáreas e qualificação do conjunto da assistência perinatal, através de portarias de regulamentação desta assistência, criação de prêmios e programas de humanização do pré-natal e nascimento (GAMA et al., 2009). Dessa forma, os profissionais de saúde e a mídia têm colaborado com a disseminação dessa nova perspectiva.

    A única entrevistada que referiu preferência pelo parto cesáreo não conseguiu verbalizar as possíveis vantagens que justificasse a sua escolha, conforme verifica-se no trecho seguinte:

  • “Ah, o normal na mesma da hora que você tá ali ganhando neném, você saiu da mesa e já tá normal e o cesáreo a dor permanece por alguns dias, e o normal não. Tem essa vantagem.” (E8)

    É interessante notar que a preocupação com as alterações da genitália em decorrência de episiotomias e a preservação da vida sexual, embora referida em muitas literaturas (CARDOSO et al., 2010; DIAS, et al., 2008; MANDARINO et al., 2009), no presente estudo não foi exposta pelas entrevistadas, de modo que não consideram a episiotomia uma desvantagem do parto vaginal.

Indicações das vias de parto

    Os partos vaginais ocorreram com evolução satisfatória, não havendo a necessidade de intervenções cirúrgicas, porém alguns com ajuda medicamentosa.

  • “É... Eu senti a contração e já dilatou e estorou... Normal, não teve como. (risos).” (E2)

  • “Dilatou tudo certinho, bem natural, cheguei e rapidinho ganhei.” (E3)

  • “O primeiro foi mais rápido, foi fácil, foi tudo natural mesmo. Ela, tive que tomar o soro pra ajudar nas contrações, a dilatação tava boa, mas as contrações não. Aí foi tudo normal.” (E13)

    As indicações justificáveis de uma cesárea, segundo Campana e Pelloso (2007), são aquelas que permitem preservar a saúde ou proteger a vida de mãe e filho, frente às seguintes situações: descolamento prematuro de placenta, placenta prévia, parto com desproporção céfalo-pélvica verdadeira e eclampsia, dentre outras intercorrências obstétricas.

    As duas pacientes que foram submetidas à cesárea atribuíram a “falta de passagem” e “líquido aumentado”, respectivamente como indicação dessa via:

  • “Porque eu não tava sentindo muita dor, e já (...) minha bolsa não rompeu e (...) o líquido tava aumentado.” (E1)

  • “Não, porque falaram que eu não tinha passagem, que eu era muito novinha, então... Aí eles decidiu... Aí foi e fez.” (E9)

    Percebe-se pouco conhecimento e ainda conhecimento deturpado sobre os motivos que as levaram à intervenção cirúrgica. Recorre-se a Barcellos et al. (2009), para afirmar que a falha de orientações à gestante, entre outros fatores, provavelmente promovem o aumento de incidência de parto cesáreo em detrimento ao parto normal.

    A orientação e a informação de decisões, nas ações de saúde, são direitos da mulher que devem ser promovidos. No processo de parturição, a mulher tem a expectativa de receber informações sobre o que acontece com ela e com o concepto e sobre o modo de participação. O profissional de saúde tem a obrigação ética e legal de oferecer orientações claras e completas sobre o cuidado, os tratamentos e as alternativa, e dar à mulher a oportunidade de participar das decisões em relação ao que lhe foi informado (SODRÉ et al., 2010).

Tomada de decisão

    É dever do Estado garantir a decisão da via de parto pela parturiente, respeitando sua liberdade de escolha e subsidiando os meios para que a mesma se baseie em uma prática de fato autônoma (BARCELLOS et al., 2009).

    Em geral, a gestante não participa da decisão sobre a via de parto, sendo, quando muito, informada sobre a decisão médica final. A aparente liberdade de escolha assegurada à mulher é, na prática, frequentemente cortada pela manipulação das informações prestadas sobre os riscos envolvidos nos procedimentos no parto (TEDESCO et al., 2004). Uma das entrevistadas demonstra isso ao justificar a indicação de sua cesárea como algo a se passar mais rápido e relacionada a pouca idade, desconhecendo a causa verdadeira da indicação:

  • “Tive né. Que no começo você acha que é fácil. Eu tava novinha, a primeira cesárea minha, então achei que mais rápido que fazesse, mais rápido terminava, então... achei melhor.” (E9)

    Para que as mulheres sejam de fato clientes informadas e possam escolher adequadamente a melhor via de parto, segundo sua condição de saúde, crenças e valores pessoais, é fundamental que as mesmas se sintam completamente informadas e que o médico seja o interlocutor prioritário para essa escolha (DIAS et al., 2008).

Experiências de parto

    A intensidade da dor, recuperação pós-parto, imprevistos no parto e o encontro e permanência com o filho foram os fatores mais importantes para a satisfação das mulheres com a experiência de parto.

    McCallum e Reis (2006) afirmam que a dor ou o medo da dor domina a experiência da parturição, e isso se confirma no estudo, diante das declarações das entrevistadas:

  • “Eu gostei porque recupera mais rápido. Mas a dor é a pior... a dor é pior, passa aquela hora, mas dói demais.” (E5)

  • “Dor, muita dor. Mas foi bom que... já estamos bem, né. Eu e ele, normal. Se fosse o cesáreo não taríamos.” (E8)

    Muitos são os métodos disponíveis para o conforto e alívio da dor durante o trabalho de parto. Tanto farmacológicos quanto não-farmacológicos. A presença de acompanhante (marido, mãe, amiga) ou até mesmo uma Doula, orientações à parturiente para que não permaneça deitada, para deambular, sentar-se na “bola de parto” ou no “cavalinho”, banhos de banheira, massagens, música, áudio-analgesia, entre outros, são fatores que comprovadamente ajudam a mulher nesta hora, na redução dos níveis de dor (CARRARO, et al., 2006).

    Entretanto, a dor do parto tem uma finalidade, pois o filho aparece para justificá-la, recompensando a mãe pelo esforço (LOPES et al., 2005).

  • “Assim, na hora do parto é meio difícil, mas só que, eu acho assim, que depois que nasce, a recompensa é bem maior.” (E13)

    Os mesmos autores ainda afirmam que o contato imediato com o filho após o nascimento também é um dos fatores que parecem estar associados a uma vivência positiva com o parto. O que é confirmado na seguinte fala:

  • “Ai (...) Eu num gostei muito porque não era num tempo dele nascer. Aí teve que ficar separadinho, queria que ele ficasse mais um pouco.” (E7)

    Em Brasil (1993), é listado as vantagens do alojamento conjunto, sistema hospitalar em que o recém-nascido sadio, logo após o nascimento, permanece ao lado da mãe, 24 horas por dia, dentre elas, convêm citar o fortalecimento dos laços afetivos entre mãe e filho, através do relacionamento precoce e estimulação e motivação ao aleitamento materno, de acordo com as necessidades da criança, tornando a amamentação mais fisiológica e natural.

    A insatisfação com o parto cesáreo é de 100% dentre as entrevistadas. Ferreira (2008) justifica, em seu estudo, que a maioria das mulheres que teve a experiência de parto cesárea trata-o como um fenômeno difícil, principalmente devido aos incômodos pós-operatórios. Essa insatisfação é perceptível nas falas:

  • “Ah... Foi péssimo.” (E1)

  • “Nossa... (risos) Bem estranho, apesar que foi rápido. Rapidinho você tá com seu filho, mas assim... eu passei mal demais uns meses, depois pra cicatrizar demorou um pouco. E hoje eu tô vendo que... eu prefiro o normal.” (E9)

    Almeida e Oliveira (2005) se referem ao parto como uma das experiências mais emocionantes da vida de uma mulher, em que envolve tanto sentimentos positivos como alegria e amor quanto negativos, como medo, insegurança e dor. Esse misto de sentimentos se revela em uma das respostas:

  • “Foi bom depois que eu vi que tudo tinha acontecido bem. Mas assim... pelo fato de eu vê que ele não tava encaixadinho, na hora eu comecei a ficar um pouco preocupada. Com medo de não ter passagem, de não dá certo, de não ser normal. Que a criança não tava na posição certinho, mas como no final ele conseguiu virar, foi tranqüilo.” (E10)

Considerações finais

    No trabalho exposto houve predominância na preferência pelo parto vaginal, sendo a escolha justificada pela recuperação pós-parto mais rápida e possibilidade de realização dos cuidados com o bebê sem restrições.

    Os relatos das vantagens atribuídas às vias de parto foram direcionados ao parto vaginal, cujos argumentos coincidem com as evidências científicas atuais. Os partos vaginais evoluíram espontaneamente e, e naqueles em que houve cirurgia, as indicações clínicas reais são desconhecidas pelas clientes, uma vez que atribuem a motivos inconsistentes. Mesmo quando foram realizados partos cirúrgicos, as vantagens relatadas foram relacionadas ao parto vaginal.

    No que se refere à participação das mulheres na decisão relacionada ao tipo de parto, percebe-se que assim como discorrem os estudiosos, estas mulheres não participaram ativamente nesta tomada de decisão, sendo apenas informadas do procedimento.

    Com relação à experiência do parto a dor foi muito enfatizada, embora mencionada na verbalização de experiências positivas em que a recompensa de finalmente estar e tocar o filho superou o inevitável.

    Contudo, é nítida a satisfação dessas mulheres com o processo de parturição, percebida no relato de suas experiências, consideradas positivas por elas, que tiveram seus partos de forma fisiológica, em sua maioria.

    Sugere-se a realização de novos estudos que abordem a adoção de medidas de alívio da dor (farmacológicas e não-farmacológicas), avaliando no ponto de vista das mulheres a contribuição para isso, já que a analgesia não foi citada nas experiências relatadas.

    Espera-se que este trabalho seja o ponto de partida para a reflexão da participação da mulher nas decisões acerca do trabalho de parto e parto para o exercício da cidadania feminina, que é um dos preceitos da humanização da assistência ao parto e nascimento.

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