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Malária e anemia: análise com enfoque no
esporte de alto rendimento em região endêmica

Malaria y anemia: un análisis centrado en el deporte de alto rendimiento en una región endémica

 

*Doutorando em Biologia Experimental

Professor do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Rondônia

Coordenador do Centro de Estudo de Esporte e Lazer (CEELA)

Integrante do Grupo de Estudos do Desenvolvimento e da Cultura Corporal

**Doutorado em bioquímica

Orientador da pesquisa “Avaliação do desempenho físico de atletas com historia de anemia

e infecção por malária” no programa de doutorado Biologia Experimental

Professor do Departamento de Medicina da Universidade Federal de Rondônia

Diretor da Fundação Oswaldo Cruz - unidade de Rondônia

***Doutora em Sociologia e professora de Educação Física

Professora do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Rondônia

Diretora do Núcleo de Saúde da Universidade Federal de Rondônia

Líder do Grupo de Estudos do Desenvolvimento e da Cultura Corporal

****Graduada e Especialista em Nutrição

Integrante do Centro de Estudo de Esporte e Lazer (CEELA)/UNIR

Prof. Ms. Ramón Núñez Cárdenas*

Prof. Dr. Rodrigo Stabeli**

Profª. Drª. Ivete de Aquino Freire***

Profª. Kaymann Scheidd Skroch****

rnunezcardenas@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Em 2010, o governo brasileiro estabeleceu políticas no âmbito do esporte tendo como desafio projetar a nação como potência esportiva mundial. O país deve conquistar este status nos próximos 08 anos. Por outro lado, observam-se manifestações de práticas esportivas diversas em todo território nacional; um país que em 2012 ultrapassou 193 milhões de cidadãos, ampliando as possibilidades da existência de potenciais esportivos. Paralelo a este quadro, o Brasil é o país que registra o maior número de casos de Malária na região das Américas, em torno de 55%. Deste número, a região Amazônica é responsável por 99,7% de ocorrências. A Malária como doença infecciosa é acompanhada por uma Anemia leve a moderada denominada muitas vezes como Anemia da infecção. Em regiões endêmicas, como a Amazônica, estudos apontam para altos índices de um tipo de Anemia relacionada ao déficit de nutrientes, denominada Anemia Ferropriva. Assim, os atletas de regiões endêmicas de Malária, podem estar por um lado susceptíveis a terem Anemia ferropriva e por outro lado; vulneráveis a Malária. Ambas as doenças isoladamente prejudicam o desempenho atlético; situação que pode ser agravada se a Malária e a Anemia se apresentarem simultaneamente. O controle da Malária e o combate à Anemia estão entre os programas prioritários da OMS, verificando-se o atendimento especial a grupos populacionais específicos tais como mulheres grávidas, crianças e idosos. O estudo buscou apresentar discussões teóricas que envolvem três grandes temáticas: Malária, Anemia e Esporte de Alto Rendimento. A pesquisa conclui que apesar de existirem inúmeros estudos voltados a Malária e a Anemia na região Amazônica e em especial em Porto Velho, no estado de Rondônia; são escassos aqueles voltados a estas duas temáticas com enfoque no contexto esportivo ou da saúde do atleta. Faz-se necessário a operacionalização de Políticas Públicas específicas para a saúde do atleta morador de regiões endêmicas, através de ações de controle e prevenção de doenças, sobretudo aquelas apontadas como causadoras de maior vulnerabilidade á saúde como a Malária e a Anemia.

          Unitermos: Malaria. Anemia. Esporte de alto rendimento. Região endêmica.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 175, Diciembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Nos Jogos Olímpicos de Londres de 2012 o Brasil consegue colocação histórica, superando sua melhor classificação no quadro de medalhas ao conquistar o 22º lugar. Apesar do aparente avanço nos resultados, considerando-se o número de habitantes do país, o Brasil obteve o 67º lugar no quadro de medalhas, o que sugere reflexão sobre estes resultados.

    Em 2010, o governo brasileiro estabeleceu políticas no âmbito do esporte tendo como desafio projetar a nação como potência esportiva mundial. O país deve conquistar este status nos próximos 08 anos (Ministério do Esporte, 2010). Com o advento dos Jogos Olímpicos de 2016 a serem realizados no Brasil parece ser que tais políticas se tornam mais bem um compromisso a ser alcançado.

    Com ou sem incentivo dos governos federal, estaduais e locais, por todas as regiões e localidades do Brasil é possível se observar manifestações de práticas esportivas diversas; tanto do ponto de vista amador como profissional, sendo este último bastante escasso quando comparado ao número de habitantes. O Brasil, neste ano de 2012 ultrapassou 193 milhões de cidadãos (IBGE, 2012), ampliando as possibilidades da existência de potenciais esportivos distribuídos em todo território nacional. O município de Porto Velho, capital do estado de Rondônia se insere no contexto destes fenômenos apresentados; sobretudo no que diz respeito a motivação para a prática esportiva; apesar das federações esportivas serem lideradas por voluntários abnegados que sem orientação e financiamento de políticas públicas voltadas ao esporte desenvolvem suas ações mais bem pelo amor ao esporte.

    Por outro lado, a cidade de Porto Velho está localizada na região Amazônica, zona considerada de alto risco para determinadas doenças, como a Malária, por exemplo. Recebe influência direta do Rio Madeira e de várias zonas permanentemente alagadas, o que favorece o abrigo de criadouros do mosquito Anopheles, responsável pela transmissão da doença mencionada. Desse modo, a cidade é considerada endêmica, com potencial impacto para a saúde pública.

    A transmissão da Malária no Brasil está basicamente restrita a Amazônia Legal. Em 2006, os municípios de Cruzeiro do Sul (AC), Manaus (AM) e Porto Velho (RO) foram responsáveis por 22,59 % do total de casos da doença na Amazônia (Organização Mundial da Saúde, 1992). Apesar dos esforços desprendidos, a região detém 99,7% dos casos de Malária identificados no Brasil (Ministério da Saúde, 2002).

    A Malária é uma doença infecciosa, aguda ou crônica causada por protozoários parasitas do gênero Plasmodium, transmitidos pela picada do mosquito Anopheles. No homem, os esporozoítos infectantes se direcionam até o fígado, dando início ao um ciclo reprodutivo até rebentarem as células deste local. Numa etapa seguinte, os esporozoítos infectantes da doença espalham-se pela corrente sanguínea e invadem as hemácias, até essas terem o mesmo fim, causando anemia no indivíduo (Eichner, 2001). Daí, a literatura atual afirmar que qualquer episódio de Malária leva a algum grau de Anemia, em especial a Anemia produzida pela hemólise intravascular. As hemólises intravasculares são definidas como patologias nas quais ocorre destruição precoce das hemácias (Fuster, 2000).

    A hemólise intravascular entre outros aspectos também ocorre em indivíduos praticantes de determinadas modalidades esportivas tais como corridas, ginástica aeróbia, lutas, levantamento de pesos e mesmo na natação. Este fenômeno fisiológico acontece devido aos traumas característicos da prática do esporte (Pancorvo, 2008). A hemólise esportiva é normalmente suave. Estudos indicam que a concentração mais baixa de hemoglobina por unidade de sangue não prejudica o desempenho físico máximo, uma vez que essa desvantagem potencial pode ser completamente compensada pelo aumento do volume sistólico cardíaco causado pelo aumento do volume sanguíneo (Pancorvo, 2008).

    De modo geral, a diminuição dos níveis de hemoglobina na circulação causados pela Anemia prejudica a oxigenação do organismo. Assim, um indivíduo atleta com Anemia que pratique exercícios agudos e vigorosos, apresenta por um lado tendência a aumentar os sintomas da deficiência de hemoglobina; e por outro lado, apresentar sintomas como irritabilidade, indisposição e dor de cabeça, aceleração dos batimentos cardíacos, falta de ar e cansaço aos mínimos esforços. Dependendo dos valores de hemoglobina tais sintomas podem manifestar-se mesmo em repouso (Fuster, 2000).

    O controle da Malária e o combate à Anemia estão entre os programas prioritários da OMS, verificando-se o atendimento especial a grupos populacionais específicos tais como mulheres grávidas, crianças e idosos; por outro lado, qualquer episódio de Malária leva a certo grau de Anemia. Ao mesmo tempo, a deficiência de ferro tem sido apontada como causa mais comum da verdadeira Anemia em atletas, ou seja, uma deficiência na quantidade total de hemácias ou de hemoglobina circulantes.

    Considerando o exposto, o estudo buscou apresentar discussões teóricas que envolvem três grandes temáticas: Malária, Anemia e Esporte de Alto Rendimento. Para tanto, apresenta-se inicialmente um breve histórico sobre a Malária e seus aspectos clínicos; posteriormente o estudo avança situando a Malária em contextos geográficos macro e micro, destacando a abordagem em regiões endêmicas. Em seguida apresentam-se algumas considerações sobre a relação entre Malária, Anemia e aspetos nutricionais no contexto esportivo. Finalmente proporciona-se resultados de pesquisas realizadas com atletas sadios e atletas com histórico de Anemia e Malária residentes em região endêmica (Porto Velho-Rondônia).

Aspectos históricos e clínicos de Malária

    A Malária ou paludismo é uma doença tropical, infecciosa que se apresenta com múltiplos efeitos. Dependendo da configuração assumida pelos diferentes componentes da cadeia de transmissão, ou da espécie parasitária, a enfermidade manifesta-se com distintos padrões sintomáticos (Marques, 2001). Nos humanos, os sintomas são caracterizados por paroxismos febris intermitentes, anemia, icterícia, e hepatoesplenomegalia (Bruce, 1985).

    Durante o século XIX, após diversas pesquisas, foram identificados os organismos causantes da Malária (Vasconcelos, 1999).

    A Malária é transmitida essencialmente pelas fêmeas dos mosquitos do gênero Anopheles. No interior do mosquito, o parasita passa por um ciclo de desenvolvimento complexo que, dependendo das condições ambientais em especial a temperatura e da espécie do parasita, pode durar entre oito e dezoito dias (Forattini, 1962; Pessoa, 1978).

    No ano de 2008, em quatro estados da Amazônia Legal (Amazonas, Rondônia, Pará e Acre) confirmou-se a tendência já observada em 2006, foram notificados 314.869 casos da doença, 84,4% determinados pelo P. vivax (Paho-Pan American Health Organization, 2005; Coordenação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2007).

    Os estudos de Laveran sobre o parasita da Malária foi uma grande conquista na história mundial da Medicina; apoiou-se nos conceitos de Pasteur e Koch, da origem microbiana das enfermidades (Wernsdorfer, 1988).

    As pesquisas de Manson e Roos (Fracp, 1991), Grassi e seus colaboradores foram significativas para os passos mais importantes dos estudos sobre a Malária: o descobrimento do agente etiológico, a elucidação do enigma do ciclo de vida do parasita no Anopheles e da transmissão dos parasitas pela picada de mosquito; e o fato de somente algumas espécies de mosquitos serem transmissoras da enfermidade. Posteriormente deu-se a devida atenção à distinção das espécies diferentes dos anofelinos, separando as espécies transmissoras das não transmissoras (Bruce, 1980). É atribuído a Ronald Ross, em 1897, os estudos que apontam a forma de transmissão a humanos dos parasitas de Malária através da picada de um vetor (mosquito Anopheles) (Bruce,1980). Em 1899, o ciclo completo dos parasitas P.vivax e P.falciparum foi descrito por Giovanni Battista Grassi, que também demonstrou que somente mosquitos do gênero Anopheles são capazes de transmitir Malária (Wernsdorfer, 1988).

    Os estudos realizados na Europa tiveram grande influência sobre os investigadores brasileiros da época. Priorizava-se conhecer os diferentes hábitos das distintas espécies de Anopheles; e, sobretudo identificar cada espécie adequadamente, objetivando distinguir as espécies responsáveis na transmissão local para promover medidas apropriadas de controle (Deane, 1988).

    Ao final dos anos 20 continua o aumento do nível de conhecimento: são conhecidas todas às etapas de transmissão da doença e se incorpora um conjunto de medidas de controle que são utilizadas com eficácia e aplicabilidade variável. No Brasil, o controle estava restrito a algumas situações específicas para dar proteção aos trabalhadores da construção Civil no Rio de Janeiro e São Paulo (Barreto, 1940; Barata, 1998).

    Durante a década de 80, às avaliações realizadas pela OMS, ratificam o caráter focal da malária em todo o mundo e a necessidade de flexibilização dos programas de controle (Bruce, 1985). Cria-se o controle integrado de Malária, formado por um conjunto de medidas de controle vetorial, tratamento dos enfermos, integração e participação da comunidade. Estudos desde 1986 ratificam que no Brasil, o controle da malária é feito seletivamente em áreas de endemicidade, ou em focos pontuais da enfermidade em localidades fora da região Amazônica (Bruce, 1985; Escobar, 1994; Agudelo, 1990 & Loiola, 2002).

    As manifestações iniciais da Malária abrangem a clássica tríade febre, calafrio e dor de cabeça. Sintomas gerais como mal estar, dor muscular, sudorese, náusea e tontura pode preceder ou acompanhar a tríade sintomática. Náuseas e vômitos são também sintomas comuns, podendo inclusive nos casos mais complicados, ocorrer dor abdominal intensa, sonolência, redução da consciência e levar ao coma nos casos de Malária cerebral (Organización Mundial de la Salud, 1992).

    A ausência de parâmetros clínicos específicos que permitam confirmar a infecção justifica a necessidade de métodos laboratoriais para o diagnóstico da Malária. Embora os ciclos evolutivos das espécies causadoras sejam similares, do ponto de vista patológico a infecção malárica apresenta diferenciações que podem determinar as variações na evolução clínica da doença. A infecção em indivíduos não imunes pelo P. falciparum pode resultar em forma grave e complicada, caracterizada pelo acometimento e disfunção de vários órgãos ou sistemas. : Sistema Nervoso Central, Sistema Hematopoiético, Aparelho Respiratório, fígado, Sistema Circulatório, rins e coagulação sanguínea. Assim, todo indivíduo que tenha contraído essa espécie de plasmódio deve merecer atenção especial, de modo a receber tratamento imediato, essencial para prevenir tais complicações (Organización Mundial de Salud, 1992; Escobar, 1994).

    No homem, os esporozoítos infectantes da malária se direcionam até o fígado, dando início a um ciclo de etapas distintas conforme o Plasmodium. Reproduz-se assexuadamente até rebentarem as células deste local. Após esses eventos, espalham-se pela corrente sanguínea e invadem hemácias, até essas terem o mesmo fim, causando Anemia no indivíduo (Organización Panamericana de la Salud, 1999).

    O tratamento da Malária é considerado simples, e consta entre as políticas da OMS. Como regra geral, as demais espécies de plasmódios que afetam o homem não levam a complicações agudas graves em indivíduos previamente sadios, mas a infecção crônica por Plasmodium malariae tem sido descrita como uma causa importante de lesão glomerular por deposição de imunocomplexos, produzindo uma síndrome nefrótica. O controle desta enfermidade e o combate à Anemia estão entre os programas prioritários da OMS (Organización Panamericana de Salud, 1999).

Malaria: ocorrência em regiões endêmicas

    Atualmente a Malária constitui uma das mais antigas e importantes enfermidades parasitárias no mundo. Aproximadamente 400 milhões de pessoas são infectadas a cada ano. Desta população, mais de 2 milhões moram em áreas endêmicas de Malária em 100 países, o que faz com que esta doença seja considerada a mais prevalente no mundo (Deane, 1989).

    Historicamente a transmissão da malária no Brasil é um problema de Saúde Pública. De acordo com dados do Ministério da Saúde de 2006, o Brasil registrou 545.696 casos de malária. Desse total, cerca de 100% das ocorrências aconteceram na região da Amazônia Legal (Deane, 2003). Em 2011 verificou-se 115.708 registros da doença na região.

    Na região das Américas, o Brasil é o país que registra o maior número de casos; em torno de 55%. Deste número, a região Amazônica é responsável por 99,7% de ocorrências (Ministério da Saúde, 2002). Tais acometimentos acompanham e em alguma medida tem origem nos grandes impactos ambientais e sociais que tem marcado a Amazônia brasileira, sobretudo no que se refere ao uso dos recursos naturais. Desse modo, no Brasil, as principais áreas endêmicas encontram-se na Amazônia (IBGE, 2012).

    No Brasil, a Fundação Nacional de Saúde (FNS), órgão do Ministério da Saúde, registrou 577 mil casos novos de malária em 1989, dos quais 97% diagnosticados na Região Amazônica. O Estado de Rondônia, que reúne cerca de 1% da população do país, notificou 42,4% dos casos diagnosticados no Brasil, naquele ano (Gallup, J.L, 2001).

    Dados mais recentes indicam que em Rondônia, no ano de 2008, foram registrados 45.589 casos; e somente o município de Porto Velho teve 19.761 ocorrências no mesmo ano. Em 2009, o distrito urbano de Jaci Paraná (do município de Porto Velho) apresentou possibilidade de surto da doença, com 971 casos (Katsuragawa, 2009). O distrito urbano de Jaci-Paraná vem recebendo grande fluxo migratório, em função das obras da usina hidrelétrica de Jirau, localizada nas proximidades da região.

    O estado de Rondônia está localizado no sudoeste da região Amazônica brasileira. Atualmente, seus limites são ao norte do estado de Amazonas, ao este e sudeste do estado de Mato Grosso, ao noroeste dos estados de Acre e Amazonas e ao oeste com a República de Bolívia. Ocupa uma área de 238. 512,8 km², equivalente a 2,8% da superfície do território nacional, sendo o 15º estado brasileiro em extensão; o 3º estado mais populoso e o mais denso da região Norte; é o 23º mais populoso do Brasil, com 1.590.011 habitantes (IBGE, 2012).

    A Malária está presente em Rondônia desde o inicio de sua colonização. A referência mais antiga sobre a doença em terras rondonienses se refere aos séculos XVII e XVIII, período em que os visitantes eram afetados pela enfermidade. No período compreendido entre 1850 e 1915, caracterizado como o primeiro ciclo da borracha na região, os ataques maláricos eram freqüentes na população de seringueiros (indivíduos que extraiam o leite das seringueiras que ao coagular se transformava em látex). Neste período, a malária era considerada a principal causa da redução da capacidade produtiva dos trabalhadores (SEDAM/RO, 1999). Antes do inicio dos anos 60, a última migração significativa ao estado de Rondônia, teria ocorrido na década de 40, considerada como segundo ciclo da borracha, com a chegada de imigrantes para a exploração do látex. Entretanto, com a abertura da estrada BR-364, na década de 80, iniciou-se um novo processo migratório em direção ao Estado (Camargo, 1996).

    Observam-se posturas distintas entre os autores consultados no que diz respeito às Políticas Públicas de controle a Malária. Pesquisadores afirmam que embora sendo Rondônia uma região de grandes epidemias, historicamente o controle desta doença sempre foi realizado apenas esporadicamente (Gallup, 2001). A presença do Governo Federal no combate da endemia se iniciou nos anos 40, através do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), que limitava sua atuação a Porto Velho (Koenraadt, 2003). Outros autores pontuam que ainda que não erradicada no Brasil, a malária sempre esteve entre as campanhas de controle de endemias. As primeiras iniciativas de Políticas Públicas para a erradicação das doenças endêmicas nas quais a malária se inclui, datam 1902. Em 1943, firmou-se um contrato denominado "Convênio Básico", visando à realização de várias ações e programas de saúde e saneamento, entre os quais se destacavam o saneamento do Vale do Amazonas, especialmente a profilaxia e os estudos de Malária (Manore, 2003). Ainda outros estudos destacam que o Brasil iniciou ações sistemáticas de controle da malária, no início da década de 1950; e que a imensa maioria dos casos apresentados no país ocorriam fora da região Amazônica. A malária na região Amazônica torna-se representativa numericamente a partir da década de 1970, decorrente de intenso processo migratório (Luiz Jacintho da Silva, 2011).

    Estudos recentes declaram que o número de casos de malária na região incrementou de 50 mil durante meados dos anos 1960 para 500 mil em 1987, e a incidência de malária no Brasil passou a oscilar em torno de 400 a 500 mil casos ao ano (Tony Hiroshi,2003). Autores afirmam que somente em março de 1962 foi instalada em Porto Velho, a capital do Território Federal de Rondônia, uma representação da Campanha de Erradicação da Malária (CEM) (Tony Hiroshi, 2003).

    Outro estudo afirma que somente em 1965, criou-se a CEM (István, 2007). Entretanto, somente a partir de 1989, através do Programa de Controle da Malária na Bacia Amazônica verifica-se uma intensificação da busca ativa e do tratamento dos doentes e o combate aos vetores da enfermidade. O governo federal anuncia a descentralização das ações de controle de endemias que ocorre a partir de 1992, com a transferência da responsabilidade da Funasa, para os serviços de saúde estaduais e municipais. No entanto, o aumento da incidência da malária em toda a Amazônia, leva o Ministério da Saúde, ao Plano de Intensificação das Ações de Controle da Malária na Amazônia Legal (PIACM), efetivando formalmente a política de descentralização do controle de endemias, em dezembro de 1999 (Luiz Jacintho da Silva, 2011).

    A cidade de Porto Velho, por sua condição de principal centro urbano do estado, tem sido polo de atração demográfica nas últimas décadas, recebendo importantes contingentes de migração rural. O crescimento demográfico intenso e desordenado, ocorrido nos anos 70-80, deu origem a um processo de urbanização acelerado, com sérios problemas de infraestrutura de serviços públicos, que não estavam dimensionados para atender demandas tão grandes em tão pouco tempo.

    A Cidade de Porto Velho está localizada em zona considerada de alto risco para a Malária. Recebe influência direta do Rio Madeira e de várias zonas permanentemente alagadas, favorecendo a ocorrência de numerosos criadouros de anofelinos durante todo o ano, em especial no inverno amazônico. Os maiores números de casos absolutos de Malária estão concentrados nos Bairros periféricos da área urbana e rural (Camargo, 1996).

    Mais recentemente com a construção das usinas hidrelétricas (Jirau e Santo Antônio), iniciadas em 2008, no Rio Madeira, no município de Porto Velho-RO, vê-se a possibilidade de aumento da incidência de Malária na localidade. As usinas hidrelétricas do rio Madeira, no estado de Rondônia, ainda em construção trazem novamente à tona discussões sobre os impactos no ordenamento da região, principalmente relacionado ao fluxo migratório, adensamento da ocupação e desflorestamento com foco na proteção do ecossistema. A cidade, que anteriormente ao início da construção das usinas hidrelétricas já apresentava precárias condições sanitárias, nas zonas periféricas e principalmente na área rural, vê agravada tais condições com o ingresso de cerca de 20 mil trabalhadores somente nos canteiros de obras das usinas. Estudos recentes desenvolvidos pela Fundação Oswaldo Cruz/Fiocruz (Deane, 2012), apontam que a construção de UHEs na região Amazônica favorece o aumento de casos da doença, sugerindo que o desenvolvimento não sustentável pode impactar a malária na região.

    Estudos específicos realizados na localidade de Porto Velho indicam a possibilidade da ocorrência de macroepidemias no processo atual de construção das usinas hidrelétricas do Rio Madeira (Rev. Ciência e Cultura, 2003). Daí, a necessidade de profunda reestruturação nos serviços públicos de saúde oferecidos à população. Riscos de uma nova epidemia de Malária não podem ser desconsiderados uma vez que a propagação dessa doença está ligada a alterações no ambiente, como os desmatamentos, processos migratórios, sanitárias e comportamentais entre outras. Desse modo, se vê agravado a vulnerabilidade ambiental, social e econômica da região demandando uma nova forma de organização que envolva políticas públicas sérias de infraestrutura.

Relação entre malária, anemia e aspectos nutricionais no contexto esportivo: enfoque em regiões endêmicas

    Apesar dos vários estudos realizados sobre a relação Malária e Anemia ou Anemia e Malária, estas relações ainda não estão totalmente esclarecidas. Além do quadro clínico já apresentado anteriormente, outros sintomas da Malária também costumam ser anorexia, insônia, diarréia, vômitos, e anemia. Essas manifestações clínicas, quando associadas aos dados epidemiológicos, de residência e/ou viagem para áreas endêmicas de Malária permitem a suspeita da doença, que deverá ser confirmada através de exame laboratorial (Sena, 2010). De qualquer modo, segundo a literatura, qualquer episódio de malária leva a algum grau de anemia (Fuster, 2000). Tal relação é explicada pela ruptura das hemáceas (provocada mais especificamente pelo protozoário Plamodium falciparum) bem como a dificuldade gerada na produção destas (Ana Maria, 2010).

    Segundo a OMS, a Anemia é definida como a condição na qual o conteúdo de hemoglobina no sangue está abaixo do normal como resultado da carência de um ou mais nutrientes essenciais, seja qual for à causa dessa deficiência (Organización Mundial de Salud, 1992). Qualquer condição passível de comprometer a produção ou de aumentar a taxa de destruição ou de perda dos glóbulos vermelhos pode resultar em anemia (Eichner, 2001).

    A principal função da hemoglobina é o transporte de oxigênio dos pulmões para os tecidos. Neste caso, havendo diminuição de hemoglobina, os níveis de oxigenação se encontraram prejudicados. Assim, por exemplo, um indivíduo atleta com Anemia que pratique exercícios físicos agudos e vigorosos, apresenta redução do volume plasmático em 10 a 20%. Os sintomas da deficiência de hemoglobina pioram com a atividade física e aumentam quanto menor o nível de hemoglobina. Com níveis de hemoglobina entre 9 e 11 g∕dL estão presentes os sintomas como irritabilidade, indisposição e dor de cabeça, entre 6 e 9 há aceleração dos batimentos cardíacos, falta de ar e cansaço aos mínimos esforços; e quando a concentração de hemoglobina chega a valores abaixo 6g∕dL ocorrem os sintomas acima descritos, mesmo em repouso (Pancorvo, 2008).

    Freqüentemente, as doenças infecciosas (como é o caso da Malária), inflamatórias, traumáticas ou neoplásicas, que persistem por mais de um ou dois meses, são acompanhadas por uma Anemia leve a moderada, denominada muitas vezes como Anemia da inflamação ou infecção. Como tais doenças são numerosas, este tipo de Anemia é muito comum e sua incidência total é superada apenas pela anemia ferropriva (Sena, 2010).

    Em regiões endêmicas, como a Amazônica, estudos apontam para altos índices de Anemia Ferropriva (Sena, 2010). Assim, os atletas de regiões endêmicas de malária, podem estar por um lado susceptíveis a terem anemia ferropriva e por outro lado; vulneráveis a Malária. Ambas as doenças isoladamente prejudicam o desempenho atlético; situação que pode ser agravada se a Malária e a Anemia se apresentarem simultaneamente.

    No contexto da prática esportiva em regiões endêmicas a exemplo do município de Porto Velho, discutir as deficiências de nutrientes ou mesmo desnutrição adquire importância especial. Isso porque por um lado, a Malária pode comprometer a nutrição do indivíduo ao restringir sua ingestão alimentar em decorrência da anorexia e dos vômitos. A febre, presente no quadro clínico da doença, pode trazer conseqüências para o estado nutricional na medida em que acarreta repercussões negativas para a síntese de proteínas utilizadas nos mecanismos específicos e inespecíficos de defesa; ao mesmo tempo, os efeitos imunossupressores podem aumentar a suscetibilidade a infecções de várias etiologias, contribuindo para agravar o estado nutricional pré- existente (Eichner, 2010).

    Por outro lado, estudos são realizados no sentido de mostrar até que ponto o estado nutricional exerce a influência sobre a Malária. A hipótese é de que o estado nutricional deficiente, por comprometer a imunidade celular e humoral intensifica as manifestações patogênicas da Malária. Isto é, a resposta imune ao plasmódio envolve subpopulações de linfócitos T, linfócitos B, além de macrófagos e fagocitose. Entretanto, há poucas evidências que demonstrem a desnutrição como fator potencializador da Malária no homem (Eichner, 2010).

    A Anemia da Malária pode sofrer a influência de vários fatores tais como retardo diagnóstico, status do ferro, estado nutricional do hospedeiro, parasitose intestinal entre outros (Eichner,2010). Estudos sobre o tema Malária e Anemia destacam que em áreas endêmicas de Malária, é importante diferenciar a Anemia originada por causas potencialmente indutoras desta enfermidade tais como aquelas relacionadas à deficiência de nutrientes, às parasitoses intestinais e à desnutrição (Eichner,2010); daquelas causadas por doenças endêmicas ou outras origens. Deste modo, a Malária em si, não causa deficiência de ferro no organismo. A grande parte do ferro na hemoglobina que é liberada pela ruptura das hemácias mantém-se no sangue (Ana Maria, 2010). Daí concluir-se que a Anemia com origem em caso de Malária não está relacionada a Anemia ferropriva.

    A deficiência de ferro tem sido apontada como causa mais comum da verdadeira Anemia em atletas, ou seja, uma deficiência na quantidade total de hemácias ou de hemoglobina circulantes (Dallman, 1986; Horta, 1996).

    Não se tem evidência da perda de quantidade significativa de ferro, seja através da urina, suor ou fezes, que possa resultar em anemia Ferropriva. Por outro lado, indivíduos atletas tendem a apresentar concentrações de hemoglobina levemente inferiores. Esta condição, que se instala especialmente em homens, é conhecida como “anemia do desportista” ou “falsa anemia (American, 2000; Rodrigues, 1999)”. Esta alteração se dá porque as práticas de exercícios regulares, com características aeróbicas (prova de resistência como corrida, triátlon, maratonas, cross country, ciclismo, corridas de aventura), provocam um aumento no volume de plasma sanguíneo que dilui as hemácias e baixa a concentração de hemoglobina. Entretanto, estudos indicam que esta concentração mais baixa de hemoglobina por unidade de sangue não prejudica o desempenho físico máximo, uma vez que essa desvantagem potencial pode ser completamente compensada pelo aumento do volume sistólico cardíaco causado pelo aumento do volume sanguíneo (Pancorvo, 2008). Por outro lado, pesquisas com atletas de resistência, do sexo feminino, revelam que estas não apresentam apenas uma redução na concentração de hemoglobina relacionada a uma hemodiluição, mas também um estado de deficiência de ferro com ou sem Anemia (Verissimo, 1999).

    As reservas corporais de ferro são essenciais para as vias metabólicas e para a produção de energia pelos músculos. A depleção das reservas corporais, que reduz as concentrações de mioglobina e dos citocromos, pode deteriorar o metabolismo aeróbio e limitar a capacidade de executar exercícios físicos. Existe uma ampla evidência de que a Anemia ferropriva pode causar uma diminuição na capacidade aeróbia (Vo2max), redução do trabalho físico, diminuição da resistência e aumento da fadiga (Eichner, 2001; Marques, 2001; Nacher, 2005). A prática desportiva impõe ao organismo, demandas específicas, que um indivíduo em desequilíbrio de ferro não consegue atender satisfatoriamente. Na prática esportiva regular e sistematizada a alimentação deve ser adequada considerando o tipo de esporte a ser praticado, sua duração, e o desgaste físico que propicia; é no consumo diário que os alimentos oferecem ao organismo os nutrientes necessários às demandas.

Resultados de estudo relativos a malária, anemia, aspectos nutricionais e desempenho esportivo em localidade endêmica

    Estudos recentes realizados em localidade endêmica apresentam evidências de que o consumo alimentar inadequado associado a uma prática esportiva intensa contribui para baixo desempenho físico (Cárdenas, 2012). A pesquisa intitulada “Avaliação Nutricional e desempenho físico de atletas com história de Anemia e infecção por Malária e atletas sadios” foi realizada com 24 atletas de basquetebol do Município de Porto Velho, estado de Rondônia. Um grupo de 12 esportistas com história de Anemia e infecção por Malária e outro grupo de 12 atletas sadios. Ambos os grupos foram submetidos a Avaliação Física e nutricional. Os atletas sem história de Anemia e Malária apresentaram um consumo energético significativamente superior aos atletas com história de Anemia e Malária, embora se aprecie um déficit no consumo energético em ambas as amostras (Cárdenas, 2012). Este déficit favorece maior risco de perda de massa muscular, redução no aumento da densidade óssea, risco crescente de fadiga, lesões e doenças nos atletas (American College, 2000).

    Outra pesquisa envolvendo dois esportes coletivos (Basquete e Voleibol) no Município de Porto Velho apresenta resultados no desempenho físico de atletas. Um grupo de 24 indivíduos apresentava história de Anemia e infecção por Malária; sendo 12 atletas da modalidade de voleibol e 12 jogadores de basquetebol; outro grupo de 24 atletas sadios sendo 12 praticantes de voleibol e 12 de basquetebol. Ambos os grupos foram submetidos à Avaliação Física (Cárdenas, 2012).

    Os resultados do estudo apontam para diferenças significativas entre o desempenho físico do grupo de atletas com histórico de Anemia e infecção por Malária e indivíduos sadios. Os melhores resultados foram observados nos atletas sem história de Anemia e infecção por Malária. Embora ambos os grupos tenham apresentado resultados em suas médias inferiores ao indicado pela avaliação dos testes físicos conforme a literatura atual.

    São escassos os estudos relativos à Malária, Anemia e Desempenho Esportivo em localidades endêmicas. Estudos voltados a esta temática podem servir como referência para elaboração de propostas preventivas na saúde dos atletas e ao mesmo tempo ser elemento sinalizador nos projetos que pretendem colocar o Brasil como potência esportiva mundial.

    Pelas especificidades dos atletas habitantes de regiões endêmicas que permite a saúde mais vulnerável, estes precisam de atendimento diferenciado quando comparados com atletas de outras regiões do Brasil. Daí a necessidade de estimular novos estudos que ajudem a manter um maior controle biológico dos atletas durante as diversas etapas dos treinamentos, a fim de otimizar e garantir a saúde dos mesmos durante a prática esportiva.

Considerações finais

    A saúde associado ao potencial genético e ao treinamento adequado, é um fator fundamental para o êxito esportivo. O Brasil e em especial a região Amazônica, com seu elevado número populacional pode apresentar inúmeras possibilidades de potencial genético para as diversas modalidades esportivas.

    Entretanto, no esporte de rendimento o nível de exigência com a saúde aumenta quando comparado com a população em geral, principalmente quando se fala em atletas habitantes de regiões endêmicas. De modo em geral, os atletas de alto-rendimento são considerados a elite no desenvolvimento de determinadas práticas corporais. São indivíduos que apresentam um potencial físico vantajoso em relação aos demais habitantes. Entre este potencial encontram-se a capacidade de reação e coordenação aumentada, bom tônus muscular e resistência articular, aptidão cardiorrespiratória entre outras.

    Apesar dos inúmeros projetos de enfrentamento da doença, ainda nos dias atuais, a Malária continua sendo considerada a endemia que causa maior impacto na população Amazônica, afetando a saúde de seus moradores. Existem inúmeros estudos voltados a Malária e a Anemia na região Amazônica e em especial em Porto Velho, estado de Rondônia. Entretanto, escassos foram as pesquisas que envolvem estas duas temáticas ao contexto esportivo ou a saúde do atleta.

    Há que se levar em consideração que segundo a literatura qualquer episódio de Malária leva a algum grau de Anemia, e por outro lado, a Malária e a Anemia Ferropriva estão presentes de forma significativa em localidades da região Amazônica, o que significa dizer que os atletas habitantes do município de Porto Velho, por exemplo, estão com a saúde duplamente vulnerável. Daí a necessidade de medidas específicas para esta população, sugerindo a necessidade de reorientação dos grupos atendidos pelos serviços de saúde.

    Políticas particulares para a saúde do atleta moradores de regiões endêmicas, através de ações de controle e prevenção de doenças, sobretudo aquelas apontadas como causadoras de maior vulnerabilidade á saúde como a Malária e a Anemia, precisam ser operacionalizadas. O retardo de tais políticas, que implica no adiamento do diagnóstico da condição de saúde dos atletas, pode além de limitar o desempenho atlético; colocar em risco a saúde geral dos mesmos uma vez que independente de ações dos governos, estes são submetidos a treinamentos esportivos de rendimento. Desse modo, a prática esportiva, longe de ser sinônimo de saúde, pode estar associada a práticas destrutivas.

    Não foram localizados estudos sobre conhecimentos de atletas e treinadores relativos à condição de saúde do primeiro. Portanto, não se sabe se a saúde dos atletas é compatível com a prática de exercícios físicos exigidos pelo esporte que pratica. Sugere-se investimentos em pesquisas voltadas a saúde dos atletas habitantes de regiões endêmicas, incorporando avaliações laboratoriais e nutricional.

Referências

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 175 | Buenos Aires, Diciembre de 2012
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