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Investigação de lesões bucofaciais em praticantes de kitesurfe

Investigación de lesiones bucofaciales en practicantes de kitesurf

 

*Graduada em Odontologia. Universidade de Fortaleza (UNIFOR)

**Graduanda em Odontologia. Universidade de Fortaleza (UNIFOR)

*** Doutor em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial (UNICAMP)

Professor dos Cursos de Odontologia e Educação Física da Universidade de Fortaleza (UNIFOR)

**** Doutor em Endodontia (UFPE). Professor dos Cursos de Odontologia

e Educação Física da Universidade de Fortaleza (UNIFOR)

***** Doutor em Ciências da Saúde (UFRN). Professor dos Cursos

de Odontologia e Educação Física da Universidade de Fortaleza (UNIFOR)

(Brasil)

Emanuelle Silva Cajazeiras*

Sabrina Siqueira de Oliveira Teles*

Carla Welch da Silva**

Francisco Wagner Vasconcelos Freire Filho***

Fábio de Almeida Gomes****

Danilo Lopes Ferreira Lima*****

lubbos@uol.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O meio aquático sempre representou para o homem um verdadeiro desafio e, ao mesmo tempo, um ambiente de grande curiosidade e fascínio. O Ceará é um dos estados brasileiros que mais vem se destacando no cenário mundial como local de grande importância para o desenvolvimento de esportes aquáticos radicais como o surfe, o windsurfe, o kitesurfe e o bodyboard. O kitesurfe necessita de cuidados especiais pelos riscos ocasionados por sua prática. Lesões bucofaciais são comuns em esportes de contato e em esportes radicais, devendo ter a orientação de cirurgiões-dentistas nos cuidados para evitar este tipo de lesão, tornado-se alvo da atuação da Odontologia Esportiva. Foram avaliados 100 praticantes de kitesurfe e incluídos na investigação todos os indivíduos amadores e profissionais, independentemente de sexo, que praticam o esporte há, pelo menos, um ano. Foram excluídos aqueles que praticam o esporte menos de duas vezes por semana. Ao serem indagados sobre a ocorrência de lesões bucofaciais, somente 7(7%) reportaram ter sofrido algum dano enquanto 93(93%) nada sofreram. Das lesões ocorridas 1(14,3%) foi fratura dentária, 1(14,3%) fratura de ossos da face, 3(42,8%) sofreram laceração de mucosa e 2(28,6%) queimadura de lábio. Sabendo-se que problemas bucofaciais são freqüentes em esportistas, principalmente aqueles relacionados às lesões decorrentes dos esportes radicais como o kitesurfe, faz-se necessário que o cirurgião-dentista seja sempre consultado pelo esportista.

          Unitermos: Odontologia. Esporte. Traumatismo em atletas.

 

Abstract

          Aquatic environment ever represented a real challenge to men and, at the same time, a curious and fascinating place. Ceará is one of the brazilian states that have being prominent in the world scene as a very important place to radical aquatic sports like surfing, windsurf, kitesurf and bodyboarding. Kitesurf needs special care because the risks that occur with its practicing. Orofacial injuries are common in contact and radical sports and should have orientation by dentists with the care to avoid this kind of injuries, becoming target of Sports Dentistry. 100 practioners of kitesurf were evaluated including in this investigation all amateur and professional individuals, in depending of gender, and that practice this sport since more than one year. It was excluded that practice the sport less than two times a week. When asked about the occurrence of orofacial injuries only 7(7%) reported that suffered damage while 93(93%) suffered nothing. About the injuries 1(14,3%) had tooth fracture, 1(14,3%) face fracture, 3(42,8%) suffered mucosa laceration and 2 (28,6%) lip burning. With the knowledge that orofacial problems are common in athletes, principally that related to injuries due radical sports like kitesurf, is necessary that dentists be usually consulted by them.

          Keywords: Dentistry. Sport. Sports injuries.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 175, Diciembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O meio aquático sempre representou para o homem um verdadeiro desafio e, ao mesmo tempo, um ambiente de grande curiosidade. O Brasil é um país privilegiado em relação aos seus recursos naturais. Dentre eles está a sua extensão territorial que permite a prática de diversas modalidades esportivas aquáticas. A orla marítima das capitais brasileiras, além de ser um atrativo turístico pelas belas paisagens paradisíacas, também atraem a população para um divertimento, um lazer, descontração e também de esportes ao ar livre (COSTA; TUBINO 1998).

    O Ceará é um dos estados brasileiros que mais vem se destacando no cenário mundial como local de grande importância para o desenvolvimento de esportes aquáticos radicais como o surfe, o windsurfe, o kitesurfe e o bodyboard. Tais esportes necessitam de condições climáticas especiais similares às encontradas no litoral cearense, o que vem atraindo um grande público para a prática destes esportes. Devido a esta situação o estado vem contribuindo na formação de grandes atletas campeões mundiais nas diversas modalidades.

    A prática dos esportes aquáticos radicais tem como precursor o surfe. A partir dele formaram-se ramificações com novas técnicas e materiais específicos, o que veio a caracterizar o surgimento dos demais como o windsurfe, bodyboard e o kitesurfe. O kitesurfe necessita de cuidados especiais pelos riscos ocasionados por sua prática. Lesões bucofaciais são comuns em esportes de contato e em esportes radicais, devendo ter a orientação de cirurgiões-dentistas nos cuidados para evitar este tipo de lesão, tornado-se alvo da atuação da Odontologia Eesportiva. Trabalhos nesta área são escassos e podem contribuir para seu reconhecimento como especialidade odontológica. Investigar a prevalência de lesões bucofaciais em praticantes de kitesurfe é o objetivo do presente estudo.

Descrição metodológica

    Este trabalho é um estudo do tipo observacional transversal no qual foram avaliados 100 praticantes de kitesurfe tendo sido incluídos na investigação todos os indivíduos amadores e profissionais, independentemente de sexo, que praticam o esporte há, pelo menos, um ano. Foram excluídos aqueles que praticam o esporte menos de duas vezes por semana. Como instrumento de coleta de dados foi utilizado um questionário contendo:

  1. Categoria (amador, profissional ou somente praticante)

  2. Tempo da prática do esporte (em meses)

  3. Freqüência semanal de prática do esporte (quantos dias na semana)

  4. Utilização de protetores bucais (faz uso em treinos, competições, em ambos ou em nenhuma ocasião)

  5. Ocorrência de lesões (se sofreu ou não)

  6. Tipos de lesões (fratura dentária, fratura de ossos da face, laceração de mucosa e queimadura de lábio).

    Os dados foram tabulados e a estatística descritiva realizada através do programa Microsoft Office Excel®. Somente participaram do estudo aqueles que assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Para que o estudo pudesse ter início houve submissão e aprovação pelo Comitê de Ética da Universidade de Fortaleza (UNIFOR).

Descrição dos resultados

    Foram avaliados 100 praticantes de kitesurfe sendo 75(75%) do sexo masculino e 25(25%) do sexo feminino, com idades variando entre 11 e 60 anos, com média de 30,0 ± 9,1 anos.

    Do total de entrevistados 81(81%) eram somente praticantes, 14(14%) participavam de campeonato amador e 5(5%) de campeonato profissional. O tempo de prática variou entre 12 a 120 meses com média de 48,2±23,8 meses. Com relação à freqüência de treino, 58(58%) realizavam treinos 3 vezes por semana, 25(25%) treinavam 4 vezes por semana, 2(2%) treinavam 5 vezes por semana, 2(2%) durante 6 vezes por semana e 13(13%) realizavam treinamento todos os dias da semana.

    Com relação ao uso de protetor bucal durante a prática do esporte, somente 4(4%) afirmaram utilizar o dispositivo enquanto 96(96%) não faziam seu uso. Contudo, o protetor labial demonstrou ser utilizado com maior freqüência em relação ao protetor bucal, embora a maioria opte ainda por não proteger os lábios contra os danos dos raios ultravioletas, visto que 46(46%) utilizavam protetor labial durante a prática do esporte enquanto 54(54%) não o faziam.

    Ao serem indagados sobre a ocorrência de lesões bucofaciais, somente 7(7%) reportaram ter sofrido algum dano enquanto 93(93%) nada sofreram. Das lesões ocorridas 1(14,3%) foi fratura dentária, 1(14,3%) fratura de ossos da face, 3(42,8%) sofreram laceração de mucosa e 2(28,6%) queimadura de lábio(Tabela 1).

Tabela 1. Prevalência de lesões em praticantes de kitesurfe

    Quando avaliado o grupo feminino, as idades variaram entre 11 e 43 anos com média de 26,4 ± 7,5 anos. Do total de entrevistadas 18 (72%) eram somente praticantes, 4 (16%) participaram de campeonato amador e 3 (12%) de campeonato profissional. O tempo de prática variou entre 12 a 96 meses, com média de 41,3 ± 20,9 meses. Com relação à freqüência de treino 13 (52%) realizavam treinos 3 vezes por semana, 7 (28%) treinavam 4 vezes por semana, nenhuma (0%) 5 vezes por semana, 1(4%) durante 6 vezes por semana e 4(16%) realizavam treinamento todos os dias da semana.

    Com relação ao uso de protetor bucal durante a prática do esporte, somente 2 (8%) afirmaram utilizar o dispositivo, enquanto 23 (92%) não faziam seu uso. Sobre a proteção contra os danos dos raios ultravioletas nos lábios, 23 (92%) mulheres utilizavam protetor labial durante a prática do esporte enquanto somente 2 (8%) não o faziam.

    Ao serem indagadas sobre a ocorrência de lesões bucofaciais, somente 1 (4%) reportou ter sofrido algum dano enquanto 24(96%) nada sofreram. A única lesão sofrida foi 1 (100%) fratura dentária.

    Nos 75 praticantes de kitesurfe do sexo masculino, as idades variaram entre 17 e 60 anos com média de 31,3 ± 9,3 anos. Do total de entrevistados, 63(84%) eram somente praticantes, 10(13,3%) participavam de campeonato amador e 2(2,7%) de campeonato profissional. O tempo de prática variou entre 12 a 120 meses, com média de 50,5 ± 24,3 meses. Com relação à freqüência de treino, 45 (60%) realizavam treinos 3 vezes por semana, 18 (24%) durante 4 vezes por semana, 2 (2,7%) treinavam 5 vezes por semana, 1 (1,3%) treinava 6 vezes por semana e 9 (12%) realizam treinamento todos os dias da semana.

    O protetor bucal durante a prática do esporte era utilizado por 2 (2,7%) avaliados, enquanto 73 (97,3%) responderam negativamente. Contudo, o protetor labial demonstrou ser utilizado com maior freqüência em relação ao protetor bucal, embora a grande maioria dos homens opte ainda por não proteger os lábios contra os danos dos raios ultravioletas. 23 (30,7%) utilizam protetor labial durante a prática do esporte enquanto 52 (69,3%) não o faziam.

    Ao serem indagados sobre a ocorrência de lesões bucofaciais, somente 6 (8%) reportaram ter sofrido algum dano enquanto 69 (92%) nada sofreram. As lesões informadas foram: 1 (16,7%) fratura de ossos da face, 3 (50%) lacerações de mucosa e 2 (33,3%) queimaduras de lábio (Tabela 2).

Tabela 2. Lesões ocorridas em homens praticantes de kitesurf

    Para efeito comparativo entre os gêneros, a tabela 3 apresenta tanto as lesões sofridas como a utilização de protetores bucal e labial.

Tabela 3. Comparação das lesões ocorridas no grupo estudado e no uso de protetores

Discussão

    Odontologia Desportiva é a área da Odontologia voltada para o conhecimento, prevenção e tratamento das lesões e doenças do sistema estomatognático na prática esportiva. Baseia-se, portanto, no estudo da interferência do esporte no sistema estomatognático e como a saúde bucal pode comprometer o desempenho físico e psicológico do esportista. Infecções geradas por problemas periodontais, respiração bucal e disfunções têmporo-mandibulres podem afetar a performance do atleta. Fraturas dentárias ou faciais decorrentes de impacto gerado em esportes bem como lacerações de tecidos moles podem afastar os atletas temporariamente de competições (LIMA, 2009).

    O trauma de face destaca-se dentre os diversos tipos de traumas, não apenas pelo seu elevado predomínio, como pelas suas implicações emocionais, funcionais e a possibilidade de deformidades. Há uma maior incidência em pacientes do sexo masculino, o que pode ser atribuído ao fato, de que os homens são, em maior número no trânsito, praticam mais esportes de contato físico e abusam mais de drogas antes de dirigirem (MONTOVANI, 2006). Essa falta de um cuidado maior pode ser evidenciado no grupo de kitesurfistas estudados. As mulheres possuem uma tendência natural a se protegerem, o que pode ser verificado, principalmente, com o uso de protetores labiais.

    Os traumas ocasionados pela prática esportiva estão entre as principais causas de traumas faciais observados em atendimentos hospitalares. Diversos trabalhos mostram que estes ocorrem nos mais variados esportes, sendo o futebol o que mais ocasiona esse tipo de lesão, contudo, devemos considerar o número de praticantes que o esporte possui (LIMA, 2012).

    Quando avaliados praticantes de surfe as lesões corto-contusas na cabeça foram as mais prevalentes, sendo ocasionadas por pranchas (BASE et al. 2007). Nos kitesurfistas investigados prevaleceram as lacerações de mucosa seguidas da queimadura de lábio e das fraturas dentárias.

    A utilização de protetores bucais e faciais diminui a chance das injúrias bucofaciais ocorrerem, contudo tais aparatos devem ser disseminados entre os esportistas, estando a cargo do cirurgião-dentista a sua confecção. Como observado neste estudo, sua utilização entre praticantes de kitesurfe é irrelevante. Mesmo em esportes de grande contato como as artes marciais pode ser observada certa negligência entre os praticantes no tocante à sua proteção (ROSSAS; LIMA, 2012).

Conclusão

    A quantidade de leões observada entre os kitesurfistas investigados, apesar de não serem tão freqüentes, demonstram a necessidade de uma proteção efetiva fazendo-se necessário que o cirurgião-dentista seja sempre consultado pelo esportista.

Referências bibliográficas

  • BASE, L.H.; ALVES, M.A.F.; MARTINS, E.O.; COSTA, R.F. Lesões em surfistas profissionais. Rev Bras Med Esporte, v.13, n.4, p.251-53, 2007.

  • COSTA. V.L. TUBINO, M.G. Esportes praticados na areia da praia, representações simbólicas e lúdicas. Rev. Ed. Fís. Desp. v. 18, n. 1, p. 27-37, 1998.

  • LIMA, D.L.F. Odontologia Desportiva e Interdisciplinaridade. Coleção Pesquisa em Educação Física. v.8, n.5, p.193-198, 2009

  • LIMA, D.L.F. Odontologia Esportiva: o cirurgião-dentista no cuidado do esportista. 1ª Ed. Editora Santos: São Paulo, 2012.

  • MONTOVANI, J.C.; CAMPOS, L.M.P.; GOMES, M.A.; MORAES, V.R.S. Etiologia e incidência das fraturas faciais em adultos e crianças: experiência em 513 casos.Rev. Bras. Otorrinolaringol. v.72, n.2, p.235-241, 2006.

  • ROSSAS, I.L.; LIMA, D.L.F. Investigação de lesões bucofaciais em praticantes de artes marciais. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, 169(17), 2012. http://www.efdeportes.com/efd169/lesoes-bucofaciais-em-artes-marciais.htm

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