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Prática dos jogos tradicionais portugueses no 1º ciclo do ensino básico

La práctica de juegos tradicionales portugueses en el primer ciclo de la escuela primaria

 

*Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física

da Universidade de Coimbra (FCDEF.UC/CIDAF). RoboCorp

**Escola Superior de Educação. Instituto Politécnico de Coimbra. RoboCorp

Centro Integrado de Investigação e Performance Humana (CIPER). FMH

***Instituto de Telecomunicações, Pólo de Coimbra. Delegação da Covilhã. RoboCorp

(Portugal)

Gonçalo Dias, PhD*

Rui Mendes, PhD**

Filipe Clemente, MsC*

Fernando Martins, PhD***

goncalodias@fcdef.uc.pt

 

 

 

 

Resumo

          No seguimento do estudo de Dias e Mendes (2010), este trabalho teve como objectivo principal verificar se os jogos tradicionais eram leccionados ou dinamizados no 1º Ciclo do Ensino Básico (1º CEB). Neste sentido, verifica-se que os professores do 1º CEB consideram importante a leccionação e dinamização dos jogos tradicionais em contexto escolar. Os resultados obtidos mostram que os jogos tradicionais desempenham um papel fundamental no desenvolvimento motor da criança, representando igualmente um meio privilegiado de actividade física desportiva e promoção de estilos de vida activos.

          Unitermos: Jogo tradicional. Ensino básico. Motricidade infantil. Jogo popular. Criança.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 175, Diciembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Os jogos tradicionais são actividades recreativo-culturais praticadas por crianças, jovens e adultos que se perpetuam ao longo de gerações pela oralidade, observação e imitação (cf. Bragada, 2002). Estes jogos mostram a expressão graciosa da alma popular e tradicional que se traduz na necessidade do lazer (Cabral, 1985, 1998).

    Por seu lado, os jogos tradicionais constituem um legado que preserva as tradições dos povos (cf. Cabral, 1985, 1990; Serra, 1999; Mariovet, 2002). Este património lúdico e cultural tem elevada função formativa em contexto educativo (Vasconcelos, 1989, 1992; Bragada, 2002), podendo ser utilizado para desenvolver as habilidades motoras fundamentais no 1º Ciclo do Ensino Básico (cf. Guedes, 1991; Dias & Mendes, 2010).

    Além disso, a importância social, cultural e patrimonial dos jogos tradicionais está bem expressa na Lei de Bases da Actividade Física e Desportiva, designadamente no artigo 30º, onde se reconhecem: “Os jogos tradicionais, como parte integrante do património cultural específico das diversas regiões do País”.

    Face ao exposto, o objectivo principal deste estudo é verificar se os professores do 1º Ciclo do Ensino Básico (1º CEB) leccionam ou dinamizam os jogos tradicionais (JT). Complementarmente, pretende-se averiguar se estes docentes têm conhecimento que os JT integram o programa do 1º CEB, bem como, se consideram importante a sua leccionação ou dinamização no contexto das sessões de Expressão e Educação Físico-Motora.

2.     Metodologia

2.1.     Amostra

    A amostra foi constituída por 5 professores do sexo feminino e 8 do sexo masculino (n=13), apresentando 50 ± 3.1 anos de idade e 19 ± 1.1 anos de tempo de serviço. Estes docentes leccionavam na escola do 1º CEB de Arganil no ano lectivo – 2010/2011.

2.2.     Procedimentos

    Utilizou-se como metodologia de recolha de dados o questionário validado por Dias e Mendes (2010).

    O questionário foi aplicado presencialmente, seguindo-se a inserção de dados e posterior tratamento estatístico com recurso a estatística descritiva.

3.     Resultados

    A Figura 1 caracteriza o tipo de formação que os professores do 1º CEB obtiveram sobre jogos tradicionais.

Figura 1. Tipo de formação obtida pelos professores do 1º CEB sobre jogos tradicionais.

 

    Verifica-se que 14% dos docentes obteve formação inicial, sendo que 13 % dos professores adquiriu formação contínua e 13 % frequentou acções de formação sobre jogos tradicionais.

    A Figura 2 representa a leccionação ou dinamização dos jogos tradicionais no 1º CEB.

Figura 2. Leccionação e/ou dinamização dos jogos tradicionais no 1º CEB.

    Os dados mostram que 62% dos professores leccionam ou dinamizam os jogos tradicionais no 1º CEB.

    A Figura 3 caracteriza a frequência da leccionação ou dinamização dos jogos tradicionais no 1º CEB.

Figura 3. Frequência da leccionação ou dinamização dos jogos tradicionais no 1º CEB

    Os dados indicam que 54% dos professores leccionam ou dinamizam os jogos tradicionais maioritariamente em ocasiões festivas.

    A Figura 4 representa o local onde os jogos tradicionais são realizados em contexto escolar.

Figura 4. Local de leccionação ou dinamização dos jogos tradicionais no 1º CEB

    Os dados demonstram que 42% dos professores leccionam os jogos tradicionais no recreio. Além disso, 32% dos docentes dinamizam estes jogos no ginásio/pavilhão.

    A Figura 5 mostra a percentagem de professores que articulam os jogos tradicionais com as sessões de Educação e Expressão Físico-Motora (EEFM).

Figura 5. Percentagem de professores que articulam os jogos tradicionais com as sessões de Educação e Expressão Físico-Motora (EEFM)

    Os dados indicam que 92% dos professores articula jogos tradicionais com as sessões de Educação e Expressão Físico-Motora (EEFM).

    A Figura 6 representa a inclusão dos jogos tradicionais nas aulas leccionadas pelos docentes do 1º CEB.

Figura 6. Inclusão dos jogos tradicionais nas aulas leccionadas pelos docentes do 1º CEB.

    Os dados mostram que 46% dos docentes inclui os jogos tradicionais nas suas aulas e 46% dos mesmos não adopta o mesmo procedimento.

    A Figura 7 ilustra o conhecimento dos professores sobre a inclusão dos jogos tradicionais no programa do 1º CEB.

Figura 7. Conhecimento dos professores sobre a inclusão dos jogos tradicionais no programa do 1º CEB

    Os dados demonstram que 73% dos docentes tem conhecimento que os jogos tradicionais estão contemplados no programa de EEFM do 1º CEB.

    A Figura 8 retrata a articulação dos jogos tradicionais com outras áreas curriculares do programa do 1º CEB.

Figura 8. Articulação dos jogos tradicionais com outras áreas curriculares do programa do 1º CEB.

    Os dados indicam que 85% dos professores não articula os jogos tradicionais com outras áreas curriculares do programa do 1º CEB.

4.     Discussão e conclusão

    Este trabalho teve como objectivo principal verificar se os jogos tradicionais eram leccionados ou dinamizados no 1º CEB.

    Deste modo, constata-se que os docentes consideram importante a dinamização e leccionação destes jogos em contexto educativo, usando-os maioritariamente em ocasiões festivas e tendo o recreio da escola como local privilegiado de prática motora (Vasconcelos, 1990; Guedes, 1991; Mariovet, 2002).

    Em contraste com o estudo desenvolvido por Dias & Mendes (2010), este trabalho demonstra que 73% dos docentes tem conhecimento que os jogos tradicionais estão contemplados no programa do 1º CEB. Tal pode dever-se ao facto dos professores dinamizarem aulas de EEFM, o que presumivelmente os conduz a um conhecimento mais profundo das matérias e conteúdos programáticos a leccionar.

    Outro elemento que merece futura análise é a constatação da maioria dos professores não articular os jogos tradicionais com outras áreas curriculares do programa do 1º CEB. No caso, ainda que o nível de articulação pedagógica seja baixo, o facto de os professores assumirem que identificam estes jogos no programa de EEFM, potencia a sua utilização em contexto lectivo não formal fora do âmbito destas sessões.

    Finalmente, constata-se que metade dos docentes que constitui a amostra contempla os jogos tradicionais nas suas aulas, articulando os mesmos com as sessões de Educação e Expressão Físico-Motora, o que também contrapõe a tendência geral do estudo de Dias e Mendes (2010).

    Perante o exposto, conclui-se que os jogos tradicionais desempenham um papel fundamental no desenvolvimento psicomotor da criança e representam um meio privilegiado de iniciação desportiva no 1º CEB (Vasconcelos, 1992; Dias & Mendes, 2010).

    Recomenda-se a investigação desta temática com recurso a estudos que englobem uma amostra mais numerosa e abrangente. Para tal, sugere-se a replicação deste trabalho ou outros com características similares em meio rural e urbano, comparando os resultados obtidos de forma a alcançar conclusões mais sustentadas.

Agradecimentos

  • Estagiários Natércia Cruz e Rodrigo Neves que integraram o curso técnico de gestão desportiva do Instituto de Emprego e Formação Profissional de Arganil (IEFP).

  • Professores do 1º CEB do Agrupamento de Escolas de Arganil.

Referências

  • Bragada, J. (2002). Jogos tradicionais e o desenvolvimento das capacidades motoras na escola. Lisboa: Centro de Estudos e Formação Desportiva.

  • Cabral, A. (1985). Jogos populares portugueses. Porto: Editorial Domingos Barreira.

  • Cabral, A. (1990). Teoria do jogo. Lisboa: Editorial Noticias.

  • Cabral, A. (1998). Jogos populares portugueses de jovens e adultos. Lisboa: Editorial Noticias.

  • Dias, G., & Mendes, R. (2010). Jogos Tradicionais Portugueses: Retrospectiva e Tendências Futuras. Revista Científica Exedra, 3, 3, 51-58.

  • Guedes, M. (1991). As crianças e os jogos tradicionais. Revista Horizonte, 43, 9-14.

  • Mariovet, M. (2002). Entrevista com Salomé Mariovet. Revista Desporto, 3, 12-17.

  • Serra, MC. (1999). Os jogos tradicionais em Portugal. As relações entre as práticas lúdicas e as ocupações agrícolas e pastoris. Tese de doutoramento apresentada à Universidade de Trás – os – Montes e Alto Douro.

  • Vasconcelos, O. (1989). Os jogos tradicionais portugueses, sua importância no desenvolvimento ontogenético da organização, orientação e estruturação espacial na criança e no jovem adolescente. (Comunicação). Oliveira de Azeméis. Seminário: Primeiro Encontro dos Jogos da Malha.

  • Vasconcelos, O. (1992). Jogos Tradicionais. In Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade do Porto (Ed.), educação física na escola primária (pp.107 – 113). Porto: FCDEF – UP, Câmara Municipal.

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