Insatisfação com a imagem
corporal e variáveis La insatisfacción con la imagen corporal y las variables antropométricas de practicantes de actividades en el gimnasio Body dissatisfaction with body image and anthropometric variable of practitioners of gym |
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*Universidade Salgado de Oliveira – Campus Juiz de Fora Mestrado em Ciência da Motricidade Humana/PROCIMH (UCB-RJ) Laboratório de Biociências da Motricidade Humana (LABIMH/UCB-RJ) Doutorando em Saúde da Criança e Adolescente (UFMG/BR) Faculdade de Medicina, Departamento de Pediatria **Universidade Federal de Juiz de Fora. Faculdade de Educação Física e Desportos Laboratório de Avaliação Motora ***Universidade Federal de Juiz de Fora. Faculdade de Educação Física e Desportos Campus dos Martelos, Juiz de Fora – MG ****Universidade Federal de Itajubá - Campus Itabira. Doutorando em Saúde da Criança e Adolescente (UFMG/BR), Faculdade de Medicina, Departamento de Pediatria *****Universidade Federal de Lavras. Departamento de Educação Física. Núcleo de Estudos do Movimento Humano – NEMOH. Grupo de Pesquisa e Pesquisa em Respostas Neuromusculares - GEPREN |
Vinicius Oliveira Damasceno* Prof. Dr. Jorge Roberto Perrout Lima** Prof. Dr. Jeferson Macedo Vianna*** Prof. Ms. André Calil e Silva**** Prof. Dr. Sandro Fernandes da Silva***** (Brasil) |
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Resumo O presente estudo tem como objetivo traçar relações entre os níveis de insatisfação com a imagem corporal, obtida da diferença entre a imagem ideal e atual, e variáveis antropométricas de adultos, não-atletas, praticantes de atividades em academias. A amostra foi composta de 276 indivíduos, 168 do sexo masculino e 108 do sexo feminino, com faixa etária de 18 a 35 anos, aparentemente saudáveis, praticantes de atividades físicas de academia com o mínimo de 6 meses. Foram realizadas as medidas de massa corporal, estatura e dobras cutâneas. As silhuetas foram mostradas aos indivíduos, que responderam as perguntas: Qual a silhueta que melhor representa a sua aparência física atualmente, silhueta atual (SA)? Qual a silhueta que você gostaria de ser, silhueta ideal (SI)? Para verificar a insatisfação corporal utilizou-se a diferença entre a SI e SA. Os resultados indicam que as variáveis antropométricas apresentam correlações boas e significativas com a insatisfação para homens (r=0,60, IMC; r=0,63, %G; r=-0,81, SA) e para mulheres (r=-0,79, SA). Em relação à preferência da silhueta, os resultados corroboram com os descritos pela literatura. Os homens desejam ter os corpos mais fortes, volumosos e baixo percentual de gordura, enquanto as mulheres desejam ser mais magras. Não houve diferenças significativas entre os níveis de insatisfação de homens e mulheres. Unitermos: Imagem corporal. Índice de massa corporal. Percentual de gordura.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 175, Diciembre de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
As relações com o corpo são amplamente influenciadas por diversos fatores socioculturais. Estes fatores conduzem homens e mulheres a apresentarem um conjunto de preocupações e insatisfações com a imagem corporal, induzindo-os a se exercitarem, a cuidarem de seus corpos, direcionando-os a desejos, hábitos e cuidados com a aparência visual do corpo 1-2.
A imagem corporal pode ser definida como uma construção multidimensional que descreve amplamente as representações internas da estrutura corporal e da aparência física, em relação a nós mesmos e aos outros 3-7, sendo que este processo poderia ser influenciado pelos fatores sexo, idade, meios de comunicação, e também, pela relação do corpo com os processos cognitivos crença, valores e atitudes inseridos em uma cultura 1,8-11.
Alguns estudos postulam que a insatisfação com a imagem corporal pode aumentar à medida que a mídia expõe belos corpos e, até mesmo a influência de amigos poderia ser um dos fatores, que tem determinado uma compulsão pela busca da anatomia ideal 10-13, sendo que as mulheres tendem a considerar a magreza como situação ideal de aceitação social para mulheres 4,5, enquanto, para os homens, ocorre a tendência de se acatar como ideal um corpo mais forte ou mais volumoso 4, 5, 14- 18.
Em academias de musculação e ginástica, ou nos centros de prática de exercícios, o objetivo estético explicita uma preocupação com a harmonia das formas corporais, muscularidade e baixos valores de percentual de gordura, traduzida por palavras frequentemente repetidas pelos alunos das academias de ginástica: hipertrofia, enrijecimento e emagrecimento4.
A grande relevância deste estudo é trazer para o campo de intervenção prática das academias um instrumento que tenta avaliar o desejo intrínseco nas pessoas de obter um corpo ideal. Tenta-se, através de um conjunto de desenhos (Figura 1), avaliar a muscularidade, gordura e formas corporais desejadas, subjetivamente por frequentadores das academias de ginástica, e traduzí-las a fim de enteder a relação da insatisfação com a imagem corporal e as variáveis antropométricas. Os modelos tradicionais de avaliação parecem não mais trazer informações plausíveis para os clientes de academias, sendo assim, busca-se conhecer melhor tais relações. Através da observação empírica, tem-se então, a hipótese de que os indivíduos que frequentam academia, apesar de estarem dentro dos valores de índice de massa corporal e percentual de gordura adequados para a saúde, ainda apresentam insatisfação com a imagem corporal e buscam um tipo físico idealizado. Entendemos este desejo como uma forma de narcisismo corporal, onde buscam-se formas corporais ideais, e que talvez estejam ou possam ser expressas em valores ou índices criados a partir do melhor entendimento do que é hipertrofia, emagrecimento e enrijecimento. Desta forma, o presente estudo tem como objetivo traçar relações entre os níveis de insatisfação com a imagem corporal, obtidos da diferença entre a imagem ideal e atual, e variáveis antropométricas de adultos, não-atletas, praticantes de atividades em academias.
Figura 1. Escala de silhuetas proposta por Damasceno et al 4
Metodologia
Amostra
Os praticantes foram escolhidos, intencionalmente, a partir de três academias. Para a seleção da amostra utilizou-se como critérios de inclusão, que os indivíduos deveriam estar matriculados em qualquer atividade em uma das três academias, por pelo menos 6 meses. Para os critérios de exclusão, os sujeitos não deveriam apresentar qualquer tipo de patologia, previamente conhecida pelo voluntário da pesquisa, como câncer, doenças endócrinas e/ou problemas de dismorfia muscular, pois segundo Cash & Prunzisky3, estas doenças poderiam interferir no processo de percepção da imagem corporal. Após o crivo dos critérios de inclusão e exclusão, a amostra foi composta de 276 indivíduos, 168 indivíduos do sexo masculino e 108 inidvíduos do sexo feminino, com faixa etária de 18 a 35 anos (X=23,9 ± 5,2 anos), aparentemente saudáveis. Além disso, todos os participantes foram informados sobre os objetivos da pesquisa e assinaram o termo de consentimento informado. Esta pesquisa atende as recomendações da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e foi aprovada pelo comitê de ética da Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro, Brasil.
Medidas Antropométricas
Medidas da Imagem Corporal
Tabela 1. Categorização do Nível de Insatisfação, obtido através da SI – SA
Cálculos e Tratamento Estatístico – Para o cálculo do Índice de massa corporal (IMC), utilizou-se a relação da massa corporal em quilogramas dividido pela estatura em metros elevada ao quadrado. A densidade corporal foi estimada pela equação de Jackson & Pollock 19 e Jackson, Pollock & Ward 20, e a conversão para percentual de gordura (%G) foi utilizada a equação de Siri 21.
Para verificar a normalidade da amostra foi utilizado o teste Shapiro-Wilk’s. Os dados foram submetidos à estatística descritiva a fim de melhor enteder as variáveis. Os dados antropométricos foram agrupados em relação ao nível de insatisfação (Tabela 1), e foi utilizado para verificar a diferença entre as médias, o teste Anova One Way (Análise de variância com um fator), combinado com o teste de Scheffé. Para verificar a associação entre variáveis antropométricas e insatisfação corporal, foi utilizada a regressão múltipla “stepwise”. Calculou-se a diferença entre o nível de insatisfação do sexo masculino em relação ao sexo feminino através do teste “t” de student para grupos independentes. Para todos os cálculos utilizou-se o programa Statistica® 8.0 for Windows®.
Resultados
Nas Tabelas 2 e 3 encontram-se os valores de média, desvio padrão, valores minímo e máximo da idade, massa corporal, estatura, IMC e %G de homens e mulheres, respectivamente.
Tabela 2. Dados antropométricos dos indivíduos do sexo masculino (n=168)
Tabela 3. Dados antropométricos dos indivíduos do sexo feminino (n=108)
Nas Figuras 2 e 3 temos a representação dos valores médios do IMC e %G, em relação a insatifação da imagem corporal (SI-SA).
figura 2. Insatisfação com a imagem corporal (SI-SA) e média do IMC e %G – Sexo masculino
Figura 3. Insatisfação com a imagem corporal (SI-SA) e média do IMC e %G – Sexo Feminino
Na Tabela 4 encontra-se a estatística descritiva da SA e SI para o sexo masculino. Para a SI tem-se que a média para homens é 4,2. Tem-se ainda que a mediana é 4 e que o valor que mais se repete é a silhueta 4.
Tabela 4. Valores de silhueta atual e ideal para o sexo masculino (n = 168)
Para as mulheres, na Tabela 5, temos que a média para a SI é 2,7 e a mediana é 3. Para as mulheres parace haver uma pequena variação em relação a SI, silhueta 3, 4 e 5.
Tabela 5. Valores de silhueta atual e ideal para o sexo feminino (n = 108)
Nas tabelas 6 e 7, temos os valores de insatisfação, obtidos pela diferença de SI-SA, categorizados de acordo com a tabela 1, para o sexo masculino e feminino, respectivamente.
Tabela 6. Tabela de freqüências por nível de insatisfação com a imagem corporal – Sexo Masculino
Tabela 7. Tabela de freqüências por nível de insatisfação com a imagem corporal – Sexo Feminino
Na Figura 4 categorizamos os valores de IMC e %G por grau de insatisfação para o sexo masculino. Verificamos que os valores médios de IMC categorizados por grau de insatisfação apresentam diferenças significativas. Quando submetemos ao teste Scheffé para identificarmos a diferença entre quais grupos, verificamos que não há diferenças entre os grupos satisfeito (23,62 ± 1,64 kg/m2), pouco insatisfeito (24,00 ± 1,58 kg/m2) e insatisfeito (23,31 ± 2,24 kg/m2). Somente identificamos diferenças significativas (p < 0,001) entre o grupo muito insatisfeito (26,59 ± 3,20 kg/m2) e os grupos pouco insatisfeito e insatisfeito.
Para os valores médios de %G categorizados por grau de insatisfação há diferenças significativas. Quando submetemos ao teste Scheffé para identificarmos a diferença entre quais grupos, verificamos que não há diferenças entre os grupos satisfeito (7,90 ± 1,03 %G), pouco insatisfeito (9,53 ± 4,29 %G) e insatisfeito (9,76 ± 4,00 %G). Somente identificamos diferenças significativas (p<0,001) entre o grupo muito insatisfeito (16,45 ± 6,69 %G) e os grupos satisfeito, pouco insatisfeito e insatisfeito.
Figura 4. Valores de IMC e %G categorizados por grau de insatisfação com a imagem corporal – Sexo masculino (média, desvio padrão e 1,96 desvio padrão)
Na Figura 5 verificamos que os valores médios de %G categorizados por grau de insatisfação apresentam diferenças significativas, enquanto para o IMC não há diferenças significativas. Quando submeteu-se o %G ao teste Scheffé para identificar a diferença, verificamos que não há diferenças entre os grupos satisfeitos (18,59 ± 4,54 %G), pouco insatisfeitos (19,00 ± 5,13 %G) e insatisfeitos (22,00 ± 6,76 %G). Somente identificamos diferenças significativas (p<0,001) entre o grupo muito insatisfeito (24,05 ± 4,50 %G) e o grupo pouco insatisfeito.
Figura 5. Valores de IMC e %G categorizados por grau de insatisfação com a imagem corporal – Sexo feminino (média, desvio padrão e 1,96 desvio padrão)
Para estimar a insatisfação da imagem corporal, realizou-se uma regressão múltipla stepwise. Nos indivíduos do sexo masculino, as variáveis SA, massa corporal, idade e IMC têm grande influência para estimar a insatisfação (r= 0,86), com erro padrão de estimativa de 1,3. Nos indivíduos do sexo feminino, as variáveis SA, idade e IMC têm grande influência para se estimar a insatisfação (r= 0,76), com erro padrão de estimativa de 1,6.
Tabela 8. Regressão múltipla da Insatisfação com a Imagem Corporal e as Variáveis Antropométricas para o Sexo Masculino (n=168)
Tabela 9. Regressão múltipla da Insatisfação com a Imagem Corporal e as Variáveis Antropométricas para o Sexo Feminino (n=108)
No Figura 6 encontramos a insatisfação entre os sexos masculino e feminino. Apesar da insatisfação do sexo masculino apresentar maior média, não foram encontradas diferenças significativas entre o nível de insatisfação do sexo masculino e feminino (p=0,40).
Figura 6. Insatisfação do sexo masculino e feminino. (Teste “t” para grupos independentes, p<0,05)
Discussão
No presente estudo os valores de IMC e %G, seja para homens e mulheres, encontram-se na faixa considerada normal segundo a classificação da World Health Organization 22 e a classificação para os valores de %G da National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases 23. Apesar de tais valores estarem em conformidade com os padrões estabelecidos para a saúde, há discrepância entre os valores de silhueta ideal e silhueta atual, caracterizando uma insatisfação com a imagem corporal (Figuras 2 e 3). Fitzgibbon, Blackman e Avellone 24 utilizaram a escala de silhuetas proposta por Stunkard, Sorensen e Schlusinger 25 a fim de verificarem a discrepância entre a imagem corporal ideal e atual de diferentes grupos éticos e encontraram que quanto maior o IMC e %G, maior a discrepância entre a SI e SA. Apesar de não haver a possibilidade de comparar os diversos estudos, em sua maioria, os mesmos são consensuais em afirmar que quanto maior o IMC, maior a insatisfação com a imagem corporal, o que confirmam nossos achados.
Em relação à silhueta ideal, o presente estudo ratifica os dados da literatura. As mulheres desejam ter silhuetas que representam um corpo mais magro 4,5,16, 26-30, enquanto os homens desejam ter silhuetas mais fortes 4, 5, 14-18. Isto fica evidente ao observar as figuras 4 e 5, onde se verifica o deslocamento da amostra, tanto para homens quanto para mulheres, para o lado positivo da escala de silhuetas. Os vários estudos apresentados confirmam nossos achados, apesar de termos utilizado um instrumento diferente. Damasceno et al. 4, através do conjunto de silhuetas de Stunkard, Sorensen & Schlusinger 25, encontraram como ideal para as mulheres a silhueta 3 (55 %), silhueta 2 (18%) e 4 (21%). A silhueta 4 foi apontada como ideal por 47% dos homens, seguida da silhueta 3 com 23% e silhueta 5 com 19 %. Ainda Damasceno et al.5,, utilizando-se da mesma metodologia e instrumento de avaliação da dimensão perceptiva da imagem corporal, apontam que as mulheres desejam ter o corpo mais magro, e a silhueta 3 foi apontada como ideal por 53% das mulheres. Em relação aos homens, as silhuetas 4 e 5 foram indicadas como ideal por 43% e 36%, respectivamente. Freitas & Santos 28 com o mesmo conjunto de silhuetas objetivaram estabelecer a imagem corporal ideal e encontraram como silhueta ideal a 3. Fernandes et al. 29, com o objetivo de verificar a insatisfação com a imagem corporal e silhueta ideal para alunos da faculdade de educação física da Universidade do Estado de Santa Catarina, encontraram que as SA e SI para o sexo masculino foram a 2 e 3, respectivamente, enquanto para o sexo feminino as SA e SI foram a 3 e 2, respectivamente. Conclui-se que as mulheres desejam silhuetas menores que as atuais e os homens desejam silhuetas maiores que as atuais, o que confirmam nossos achados.
Ainda, Orlando et al. 17 propuseram uma escala de silhuetas construída para identificar o tipo físico de homens que buscam hipertrofia em salas de musculação nas academias. Observou-se no estudo que havia uma preferência significativa pelas silhuetas que representavam um corpo mais volumoso. A silhueta 7, numa escala de 1 a 9, foi escolhida pela maioria do indivíduos como a ideal. Traduzindo a silhueta em valores antropométricos, teríamos um indivíduo com as seguintes características: 26,1 kg/m2 de IMC; 125,3 cm de circunferência para o ombro; 82,5 cm de circunferência para a cintura; 98,6 cm de circunferência de quadril; 1,5 na relação ombro/cintura; 58,5 cm de circunferência de coxa; 37,7 cm de circunferência de perna; 39,0 cm de circunferência de braço; 31,2 cm de circunferência de antebraço e 2,4 % de gordura corporal. Esses dados demonstram preocupação com uma silhueta de maior volume muscular. Apesar do uso de diferentes silhuetas podemos verificar que há uma tendência dos homens em escolher silhuetas maiores como ideal. Labre 8 relata que as mudanças da imagem corporal acompanharam as formas corporais expostas na mídia (televisão e revista), ressaltando o comportamento de jovens entre 11 e 18 anos da década de 50 em relação aos da década de 80 e 90. Na década de 50, os programas e revista preferidos eram Newsweek, National Geografic e na década de 80 e 90 a preferência passou a ser os filmes do Rambo, Comando para Matar, Playboy, onde eram expostos os corpos malhados, mudando desta forma, o padrão de cultura corporal. Pope Jr, Phillips e Olivardia15 ressaltam a mudança dos padrões dos brinquedos da década de 70 para os dias atuais, para isso, realizaram um estudo comparando medidas antropométricas dos bonecos de ação. O Falcon, brinquedo comercializado no Brasil pela fábrica de brinquedos Estrela S/A, tinha medidas na década de 70 o que equivalente a um homem com 1,75 m de altura, 80 cm de cintura, um tórax de 110 cm e um bíceps de 30 cm de circunferência. Estas medidas conferiam ao boneco uma razoável forma física. Na década de 90, o mesmo Falcon foi relançado no mercado com 74 cm de cintura, 41 cm de bíceps e tórax de 137,5 cm de circunferência. Voracek & Fisher 31 apresentaram as modificações dos padrões antropométricos das mulheres que foram fotografadas na revista Playboy durante as últimas décadas. Neste estudo, evidenciou-se uma tendência de redução nos valores do índice de massa corporal (IMC) e aumento da relação cintura/quadril (RCQ), demonstrando uma tendência de linearidade corporal. Desta forma, parece que a mídia tem um forte papel disseminador do esteriótipo atual.
Foi usado como instrumento do presente estudo, o conjunto de silhuetas proposto por Damasceno et al.4 (Figura 1). Quanto ao instrumento utilizado, várias limitações podem ser levantadas. As silhuetas são bidimensionais e altamente subjetivas, desta forma não permitem a representação do indivíduo como um todo, da distribuição de sua massa de gordura subcutânea e de outros aspectos antropométricos importantes na formação da imagem corporal6, além da afirmativa de alguns autores como Cachelin et al. 32, Cohn & Adler 33, Rozin & Fallon 34, Gleaves et al. 35, Fallon & Rozin 36 e Zellner, Harner & Adler 37 de que há uma tendência das mulheres de selecionarem silhuetas significativamente menores do que seu tamanho atual. Apesar disto, Damasceno et al. 4 encontraram correlações significativas e fortes do %G e IMC com a SA (r= 0,61 e r= 0,79, para o sexo masculino e r= 0,70 e r= 0,75, para o sexo feminino) demonstrando que o conjunto de silhuetas foi eficaz no que diz respeito à identificação da SA. Outra limitação é que por ser um instrumento muito simples, não há a avaliação dos aspectos complexos da influência da família, dos amigos, dos parentes, da mídia, ou, em alguns casos, de algumas patologias como anorexia, bulimia e anorexia reversa que são, conhecidamente, variáveis intervenientes no processo de formação de imagem corporal1,8-11. Outro fator que surge como limitante, e que pode ter influenciado os resultados, é a obtenção da insatisfação da imagem corporal através da diferença entre a SI e SA. Apesar de vários estudos confirmarem ser uma medida válida de descontentamento do tamanho do corpo.
Rand & Resinck 38 chamam a atenção para utilização da insatisfação corporal como sendo a diferença entre o ideal e o atual, o que determinará um único corpo como ideal e negligencia a possibilidade de existirem outros corpos aceitos. Entendemos a preocupação destes autores, mas o presente estudo não tem intenção de entender a insatisfação corporal em toda a sua totalidade, e sim trazer a relação da insatisfação com as variáveis antropométricas avaliadas nas academias de ginástica.
Na regressão múltipla, para o sexo masculino, a SA, massa corporal, idade, e IMC, são as variváveis que determinam de maneira significativa a insatisfação com a imagem corporal (r=0,86; p<0,05). Para o sexo feminino, a SA, idade e IMC, representam as variáveis determinantes da insatisfação com a imagem corporal (r=0,75; p<0,05). Tanto para homens quanto para mulheres, a SA, que representa a maneira como o indivíduo se vê, aparece como a variável que tem forte associação com a insatisfação. Hanley et al 39 encontraram que a imagem corporal atual de adolescentes tem forte associação com a insatisfação entre crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade. O estudo de Monsma & Malina 40 determinou que o IMC tem forte associação com a ansiedade social do físico, para mulheres com idade variando de 12 a 22 anos. Davis et al. 41 encontraram que %G tem forte asociação com a insatisfação da imagem corporal para homens com idade entre 18 a 36 anos. Schooler et al. 42 realizaram regressão múltipla para verificar quais variáveis antropométricas possuem forte correlação com a insatisfação, em mulheres americanas com idade entre 17 a 22 anos. A insatisfação foi verificada a partir do “Body Shape Questionnarie” e foi encontrado que o IMC tem forte associação com a insatisfação da forma corporal. Tanaka, Itoh & Hattori 43 analisaram a relação da composição corporal de estudantes universitárias japonesas, e encontraram através da regressão múltipla que a gordura do tronco, abdominal e o IMC são variáveis importantes na predição da insatisfação (r=0,59). Todos os estudos citados anteriormente corroboram com os nossos achados, as variáveis antropométricas têm forte associação com a predição da insatisfação com a imagem corporal.
Com relação as variáveis antropométricas, Hart 6 afirma que podem ser indicadores da insatisfação com a imagem corporal. Nosso estudo, depara-se com altos índices de insatisfação, para homens e mulheres, mas que não se diferem estatisicamente. Estes achados se confrontam com os resultados dos estudos de Araújo & Araújo44, Cachelin et al.32 , Pingitore et al. 45, que verificaram maior nível de insatisfação corporal em mulheres, quando comparadas com os homens. Loland 46 investigando 1555 noruegueses do sexo masculino e feminino, de diferentes faixas etárias e nível de aptidão física, verificou que os homens são significativamente mais satisfeitos do que as mulheres, independente da idade e dos níveis de atividade física.
Essa valorização exacerbada de baixos níveis de gordura corporal expostos na mídia, a comparação entre os indivíduos que freqüentam o mesmo ambiente, além de opiniões da própria família, levam as pessoas a apresentarem altos níveis de insatisfação com a aparência do corpo 1, 5, 9-12. Tal insatisfação pode levar, em casos extremos, à adoção de comportamentos autodestrutivos como o abuso nas dietas que pode culminar em bulimia e anorexia nervosa 47, 48. Há estudos que relatam associação entre atividade física e altos níveis de satisfação corporal 46,49,50. Entretanto, a prática de atividade física, em alguns casos, pode resultar em conseqüências negativas, aumentando, nas mulheres, a preocupação com a magreza 41 e nos homens ocasiona o fenômeno conhecido como dismorfia muscular ou anorexia reversa 15, 51.
Conclusão
Respeitando-se as limitações e considerando os resultados que foram obtidos e apresentados neste estudo pode-se concluir que indivíduos do sexo masculino, com idade de 18 a 35 anos, com experiência igual ou superior a 6 meses de atividades em academias, apresentam maior insatisfação com a imagem corporal, quanto maior é o IMC e o %G. Para os indivíduos do sexo feminino, de forma similar, quanto maior é o IMC e o %G maiores são os níveis de insatisfação. Para a variável SA, tem-se que quanto mais os indivíduos, tanto homens quanto mulheres, percebem-se no lado negativo do conjunto de silhuetas, maiores são os níveis de insatisfação com a imagem corporal.
Foram encontradas diferenças significativas para a SA e a preferência da SI entre os sexos, sendo que em relação a preferência da silhueta ideal, os resultados corroboram com os descritos pela literatura. Os homens desejam ter o corpo mais forte, volumoso e baixo percentual de gordura. Para as mulheres, os dados confirmaram e trouxeram alguns aspectos que merecem ser ainda estudados. As silhuetas prefereridas das mulheres ficaram entre as silhuetas mais magras e um pouco volumosas. Sendo assim, parece que as mulheres que freqüentam as academias desejam aumentar sua muscularidade. Talvez o termo enrijecimento esteja assumindo o seu verdadeiro valor, uma hipertrofia moderada.
Os níveis de insatisfação com a imagem corporal do presente estudo foram similares aos descritos pela literatura, 78% dos homens e 75% das mulheres estão insatisfeitos, apesar da maioria estar em conformidade com os valores estabelecidos para a saúde. Em relação a comparação dos níveis de insatisfação entre os sexos masculino e feminino não foram encontradas diferenças significativas.
Em relação as recomendações, sugere-se que sejam realizados estudos de validação dos inúmeros questionários que avaliam as diversas dimensões da imagem corporal. Ainda é necessário investigar para as várias modalidades e diferentes faixas etárias os níveis de insatisfação e a preferência para a silhueta ideal dos indivíduos que frequentam academias de ginástica.
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