A utilização dos elementos da
ginástica aeróbica como ferramenta La utilización de elementos de la gimnasia aeróbica como una herramienta de diálogo de las diversas culturas juveniles en la escuela |
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*Licencianda em Educação Física **Doutora em Educação e docente Departamento de Educação e Educação Física UNESP, Universidade Estadual Paulista Presidente Prudente, São Paulo |
Julia Maria dos Santos Marques* Márcia Regina Canhoto de Lima** (Brasil) |
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Resumo Esta pesquisa teve como objeto central de estudo as culturas juvenis por meio do ensino dos elementos da ginástica contemporânea e como sujeitos de investigação, alunos do Ensino Médio de uma escola pública da cidade de Presidente Prudente. Estabelece como objetivos investigar quais são as manifestações das culturas juvenis relacionadas à cultura corporal de movimento, como são vivenciadas e compreendidas pelos jovens, proporcionar aos alunos uma vivência contemporânea de ginástica estimulando a criatividade e os prazeres envolvidos na prática e verificar de que maneira as aulas de ginástica serviram de suporte para melhorar a relação entre os sujeitos escolares. O estudo teve como suporte o referencial teórico da Sociologia da Juventude. A metodologia aplicada foi de natureza qualitativa, caracterizando-se como Pesquisa-Intervenção. Este tipo de pesquisa é de natureza social e com base empírica, teve como metodologia a pesquisa-intervenção, foi concebida e realizada em estreita associação com a resolução de um problema coletivo, no qual o pesquisador e os participantes representativos da realidade estão envolvidos de modo cooperativo e participativo. Considerando que a ginástica representa não apenas um conjunto de técnicas corporais, mas, um canal de expressão humana, conhecimento de si próprio e do outro que se movimenta, destacamos como resultados da pesquisa a cooperação, respeito entre si e com os outros e a aproximação e interesse dos jovens pela prática da modalidade. Unitermos: Ginástica. Culturas juvenis. Jovens.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 175, Diciembre de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução e justificativa
A Ginástica contemporânea foi construída a partir de determinados modelos especialmente dos métodos ginásticos europeus do século XX, que tinham como finalidade fortalecer, embelezar, corrigir e tornar saudáveis os corpos europeus.
A Ginástica Aeróbica com influência do método europeu surgiu no Brasil na década de 1930, na cidade do Rio de Janeiro. Popularizada e difundida no meio das “academias”, nos anos oitenta, ganhou grande espaço por beneficiar-se do conceito de exercício aeróbico, difundido na década anterior por Keneth Cooper (criador do método que ficou conhecido como método Cooper que consiste em um exercício de velocidade constante).
A Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) e a Federação internacional de Ginástica (FIG) compreendem que na ginástica aeróbica esportiva competitiva todos os movimentos compõem uma rotina coreográfica, devendo demonstrar criatividade, força, resistência e carisma, uma perfeita interpretação da música através do corpo. Entretanto, a ginástica aeróbica não competitiva praticada nas academias tem como princípios básicos a busca por saúde, estética e autoestima.
Apesar dos movimentos serem semelhantes, há dois tipos de intensidade: ginástica de alto impacto onde os movimentos são mais rígidos como as elevações e giros, podendo ocasionar lesões por excesso de esforço, e a ginástica de baixo impacto, que busca amenizar essas incidências através de movimentos como balanceios, deslocamentos com um princípio básico, manter uma das bases apoiadas ao solo. A partir das técnicas de menor intensidade, a ginástica aeróbica começou a ser mais praticada.
Com a maior repercussão da ginástica aeróbica no mundo, nasce em 1980 na Nova Zelândia a “Les Mills World of Fitness”, uma empresa que assume a ginástica aeróbica como a base de um grande sistema de condicionamento que mais tarde torna-se uma rede de nove academias conhecidas em todo país, pelo impressionante número de alunos, em sua maioria, jovens. A principal característica representada às aulas aeróbicas de ginástica em grupo.
Phillip Mills, criador da empresa que leva o seu nome, revoluciona a estrutura das aulas desenvolvidas em academia, por meio de um sistema de aulas que é considerado atualmente como o mais completo e eficaz já visto. O chamado Body Training Systems produz aulas coreografadas nos ritmos musicais mais populares. As coreografias são padronizadas, trabalhadas em todas as filiais distribuídas em vários países, entre eles: Argentina, Uruguai, Peru, Colômbia, Bolívia, Paraguai e Brasil.
A filial da Les Mills é representada no Brasil pela Body Systems que possui uma equipe considerada de alta qualidade. Os professores passam por um treinamento diversificado e constante. As aulas são reprogramadas a cada três meses, com músicas atuais para atingir cada vez o maior número de praticantes em busca de saúde e bem estar por meio de exercícios saudáveis e interativos. Há programas distintos que variam em intensidade, as músicas são distribuídas conforme a composição de exercício de cada programa.
Tabela 1. Programas oferecidos pela Body Systems e as atividades desenvolvidas
Esse sistema de ginástica aeróbica é bem popularizado entre os jovens, mesmo que nem todos usufruam destes programas, a mídia difunde a necessidade de um corpo belo e saudável e relaciona essa conquista com as diversas possibilidades apresentadas pelo mercado.
O número de academias aumentou em todo o país, assim como o número de atividades oferecidas em cada estabelecimento. Os jovens acompanham esse ritmo, entendem a conquista do “corpo saudável e perfeito” como uma forma de ser incluso na sociedade, de ter uma autoestima e conquistar admiração no grupo social que pertence.
As novas realidades sociais e culturais das juventudes na atualidade são acompanhadas pelos programas de educação. A disciplina de Educação Física apresenta a ginástica como um conteúdo, porém, na maioria das vezes acaba limitada ao plano teórico, na apresentação do histórico e informações gerais. Esse não é apenas o caso da ginástica, mas também representa a realidade de outros conteúdos que não são realmente experimentados pelas crianças e jovens.
Os conteúdos não podem ser trabalhados de forma superficial, o jovem precisa vivenciar as diversas manifestações do movimento, conhecer o seu corpo, expressar suas emoções, superar seus medos, as angústias do seu tempo. A ginástica representa uma gama de possibilidades, a repercussão da ginástica aeróbica na atualidade deve acompanhar um programa de ressignificação. Sendo componente do bloco de conteúdos da disciplina de Educação Física torna-se fundamental a releitura dos movimentos ginásticos enquanto componentes da cultura e veículos de valores.
A sociedade atual encontra-se em uma crise de sentido, La Taille (2009) considera que não há uma cultura do sentido sem educação para o sentido. O autor ainda afirma que o sentido não se impõe, o significativo é resultado de uma experiência rica, pessoal. As escolas precisam se preocupar com a cultura do sentido, com a construção de valores, com abordagens contextualizadas que saibam questionar, por exemplo, o conceito de corpo como um objeto, e até mesmo como uma mercadoria.
Assim como os demais conteúdos da Educação Física, a ginástica representa não apenas um conjunto de técnicas corporais, mas, um canal de expressão humana, conhecimento de si próprio e do outro que se movimenta. Não pode ser um elemento distante, uma cultura desconhecida ou complexa, precisa ser próxima, prazerosa. Russel (1980, p.11) afirma que a Ginástica:
... não precisa ser uma atividade perigosa, complicada, frustrante, dolorosa e assustadora que, de preferência, você evitaria de imediato. Ao contrário, ela pode ser facilmente transformada em segura, descomplicada e recompensadora por tudo e, ainda, (...) conservar o elemento que causa “emoção” – aquela estimulação cinestésica que imediatamente leva os alunos a quererem mais. (tradução nossa).
Essa citação contribui para entender a ginástica além das academias, inserida no meio escolar, desenvolvendo exercícios flexíveis pautados sobre os princípios básicos de uma atividade aeróbica, e ao mesmo tempo, assegurando o saber educativo através da apropriação da cultura corporal de movimento, conseqüentemente, valorizando a interlocução do professor junto ao jovem.
Pensando nos problemas encontrados nas escolas atualmente, esta pesquisa surgiu com a intenção de descobrir como a escola aproveita ou não as manifestações juvenis, de que forma o pensamento juvenil é considerado em relação às práticas educacionais, mais do que isso, buscamos, por meio das aulas de Educação Física, mostrar aos jovens que eles têm voz, e consequentemente aos professores e gestores, que é necessário integrá-los ao processo educativo, que ao considerar suas expectativas e vontades podemos alcançar uma maior participação juvenil na escola e consequentemente, a educação pode enfim, cumprir o seu papel, educar seres para a emancipação, seres ativos, participativos e conscientes.
Nossa principal preocupação é com o ato educativo em si, mas nesta pesquisa nos atentamos ao Ensino Médio, trabalhamos com jovens do terceiro colegial de uma escola pública de Presidente Prudente, jovens que estudam no período noturno, com idade entre 16 a 18 anos.
A proposta era apresentar-lhes a ginástica aeróbica contemporânea, adaptada à escola, e a partir disso, colher dados, informações, perceber o que é para eles importante. Quanto às aulas de ginástica logo mais explicaremos como era aplicada, por enquanto esclareceremos um pouco sobre os problemas/choques encontrados nas escolas e sobre as manifestações juvenis.
Ao falar sobre alguns problemas encontrados em muitas escolas brasileiras, temos como objetivo mostrar que há problemas comuns logo, as possíveis soluções ou sugestões encontradas nesta pesquisa podem também servir para outras escolas, mas não temos a pretensão de trazer as soluções para os problemas da educação, afinal cada situação pede um olhar específico, cada escola tem seu contexto, seu modo de ensinar. A intenção é trazer sugestões, novos olhares para o jovem principalmente, pois este, muitas vezes é pré-julgado como inconstante, rebelde, em fase de transição, enfim, sabemos que há um pré-conceito solidificado, nossa intenção é desconstruir essa visão naturalista.
A ideia de trabalhar com jovens por meio da ginástica aeróbica representa também um desafio, uma ousadia, afinal além de tentar compreender o mundo juvenil propomos também outro tipo de desconstrução, aquela que concebe a Educação Física voltada à esportivização, ou seja, apenas para treinar alunos para competições, geralmente pautada no “quarteto fantástico” vôlei, futebol, basquete e handebol.
Ainda sobre a questão jovem-escola e como é concebida essa relação, sabemos que a escola é um espaço onde encontramos gerações diferentes, pessoas de diferentes classes sociais, com diversos modos de viver, de se expressar e com inúmeras formas de linguagem, vestimentas, ideologias, enfim, é de se esperar que neste espaço ocorram conflitos, mas até que ponto esses choques são negativos? Será que eles não apontam para a necessidade de mudança?
Acreditamos que as manifestações juvenis, especificamente, apontam para uma necessidade urgente, a de transformar a escola em um espaço significativo para o jovem, não apenas para eles, pois, ao tornar as práticas educacionais significativas para os jovens, estes demonstrarão maior interesse em aprender e participarão do seu processo, tornando-se sujeitos, consequentemente respeitarão os professores e gestores, e o ambiente escolar se tornará mais afável.
Atualmente, percebe-se muitas situações conflituosas no espaço escolar, a impressão é que cada grupo (professores, gestores e alunos) fala uma língua, gestores pressionam os professores com relação a resultados em provas e avaliações institucionais, professores pressionam os alunos quanto a resultados quantitativos e conteúdos, e os alunos recebem as cobranças de ambos os grupos, além da família que questiona ansiosamente sobre seu futuro. Há necessidade nesse processo da vida de decidir uma profissão, e sabemos que esta não é uma escolha fácil. Paulo Carrano em seu artigo nomeado “Identidades Culturais Juvenis e escolas: arenas de conflitos e possibilidades” (2009, p. 159) fala sobre tais relações e define como “situação de incomunicabilidade entre os sujeitos escolares”.
Essa discussão sobre as relações existentes na escola está presente também nas obras de Juarez Dayrell, o autor disserta sobre o lugar que a escola ocupa no papel de socializar a juventude, é nesta vertente que nos encontramos. Acreditamos que a escola pode e deve socializar a juventude, reintegrar os jovens à sociedade se necessário, mostrando que eles são parte dela e que sua participação é de extrema importância. Infelizmente, muitos jovens não se vêem como membro da sociedade, como cidadãos, e isso é resultado de uma educação falha, o autor em artigo nomeado “A escola ‘faz’ as juventudes? Reflexões em torno da socialização juvenil” propõe “uma mudança do eixo da reflexão, passando das instituições educativas para os sujeitos jovens, onde é a escola que tem de ser repensada para responder aos desafios que a juventude nos coloca”. (DAYRELL, 2007, p. 1107).
Compreendida nossa visão sobre o que a escola representa na vida dos jovens devemos buscar entender como cumprir tal tarefa, como captar as manifestações juvenis e usá-las a nosso favor, quanto a isso, Carrano e Martins (2011, p.44), esclarecem:
Diversas manifestações culturais presentes na cidade – e com baixa visibilidade no espaço escolar – têm os jovens como atores principais. Os jovens criam espaços próprios de socialização que se transformam em territórios culturalmente expressivos e nos quais diferentes identidades são elaboradas. A cultura se manifesta como espaço social privilegiado de práticas, representações, símbolos e rituais. A produção das identidades, além de demarcar territórios de sociabilidades e de práticas coletivas, põe em jogo interesses em comum que dão sentido ao “estar junto” e ao ser dos grupos. Nos territórios culturais juvenis delineam-se espaços de autonomia conquistados pelos jovens e que permitem a eles e elas transformar esses mesmos ambientes ressignificando-os a partir de suas práticas específicas. Esse mesmo processo pode ser observado nas instituições escolares de Ensino Médio por se constituírem em espaços eminentemente juvenis.
Assim como propõe Carrano (2011), buscamos fazer com que o jovem seja ator protagonista na escola, que este espaço seja um território juvenil, que ao concebê-lo dessa forma o jovem participe efetivamente do seu processo educacional e construa juntamente com professores e gestores laços que sustentarão a Educação.
O Sociólogo José Machado Pais em sua obra intitulada “Culturas Juvenis” destaca que “a juventude deve ser olhada na sua aparente unidade, mas também, na sua diversidade” (PAIS, 2003, p. 47), o autor compreende a juventude não como uma fase de transição, uma fase de vida em que as pessoas têm que necessariamente passar em todas as sociedades, mas usa o termo “curso de vida”, segundo o mesmo, as várias formas de conceber a juventude são agrupadas de acordo com diferentes teorias que podem ser compreendidas em duas principais correntes: a geracional e a classista.
A primeira corrente, geracional, aborda a juventude como uma fase da vida, nessa
perspectiva a discussão refere-se à continuidade e descontinuidade dos valores
intergeracionais, é admitida a existência de uma cultura juvenil que se opõe
à cultura de outras gerações.
Na segunda corrente, classista, os jovens se relacionam segundo as classes sociais politicamente produzidas, nessa vertente destacam-se muito mais diferenças interclassistas, entre classes diferentes, do que intraclassistas, dentro de uma mesma classe. Aqui as culturas juvenis são sempre culturas de classes, ou seja, produtos das relações antagônicas de classes.
Pais (2003) não assume uma posição classista nem geracional, o autor “passeia” por ambas correntes sociológicas sem prender-se a nenhuma, como ele mesmo cita “tentaria libertar-me da obcecação de à força ter de encaixar fatos empíricos em teorias preestabelecidas” (PAIS, 2003, p. 65), seu posicionamento é o das “Culturas Juvenis”, numa vertente antropológica das experiências cotidianas dos jovens. O autor entende esse conceito como:
um conjunto de símbolos específicos que simbolizam a pertença a um determinado grupo; uma linguagem com seus específicos usos, particulares rituais e eventos, através dos quais a vida adquire um sentido. Esses “significados compartilhados” fazem parte de um conhecimento comum, ordinário, cotidiano (PAIS, 2003, p. 70).
As manifestações das culturas juvenis só podem ser compreendidas se incorporadas à realidade social. É preciso superar modelos que a sociedade impõe aos jovens dos quais eles não se enquadram mais, há a necessidade de compreendê-los em um contexto mais amplo, como uma categoria histórica e sociologicamente construída.
É por isso que a escola deve considerar as manifestações dos jovens e suas formas de organização, por mais paradoxal que seja, a maioria dos educadores das instituições de ensino brasileiras ainda há uma visão estereotipada da juventude, que não concebe estes sujeitos como construtores do seu processo de formação.
Objetivos
Através das considerações teóricas iniciais, destacam-se os seguintes objetivos para a pesquisa:
Investigar quais são, como são vivenciadas e compreendidas as manifestações das culturas juvenis relacionadas à cultura corporal de movimento, pelos jovens de uma sala do Ensino Médio em uma escola pública na cidade de Presidente Prudente;
Oferecer contribuições para que os jovens possam se relacionar melhor com a disciplina de Educação Física e consequentemente com a escola.
Proporcionar aos alunos uma vivência contemporânea de ginástica, estimular a criatividade, os prazeres envolvidos na prática.
Verificar de que maneira as aulas de ginástica serviram de suporte para melhorar a interlocução entre os alunos, professores e escola.
Metodologia
Esta pesquisa de natureza qualitativa buscou produzir saberes sobre a ginástica aeróbica como conteúdo da disciplina de Educação Física no Ensino Médio. Essa abordagem condiz com as expectativas para com a investigação, já que:
Qualitativo está ligado aos sentidos produzidos nas relações sócio-historicamente determinadas, afirmando a alteridade e as turbulências que nos movem a analisar, a dialogar, a buscar entender o que vivemos. As palavras mudam de significado em função dos sentidos que vão sendo agenciados nas práticas de acordo com as relações de força implicadas naquele momento (ROCHA 2006, p.171).
A pesquisa foi realizada em parceria com uma escola estadual do Município de Presidente Prudente – SP, com uma turma do último ano do Ensino Médio.
No período noturno as aulas de Educação Física são realizadas no final de semana, a participação dos alunos é pequena, e a ginástica aeróbica não é um conteúdo comum a ser desenvolvido. A partir disso, para levantar maiores saberes sobre essa modalidade foi necessário escolher a pesquisa-intervenção como suporte metodológico, para que o objeto torne-se uma realidade dos sujeitos e seja observada a relevância dessa prática para o contexto de vida dos jovens participantes.
Para Serrano-Garcia e Collazo (1992), os processos de investigação e intervenção são simultâneos, pois, durante um processo de pesquisa “desde o momento em que uma pessoa começa a fazer indagações, altera, de forma mínima ou máxima o ambiente e as pessoas que as rodeiam” (SZYMANSKI, CURY, 2006, p.360).
As atividades desenvolvidas em sala e quadra aconteceram dentro de intervenções realizadas pela pesquisadora principal com a participação de outros licenciandos colaboradores, semanalmente, por um período de cinquenta minutos.
A partir do estabelecimento coletivo de um projeto de trabalho em Análise institucional, a pesquisa-intervenção tem inicio através de dispositivos mobilizadores, e durante todo o processo é fundamental uma participação ativa da comunidade implicada na análise da micropolítica ali produzida, explicitada nos seus movimentos, problemáticas, formas de ação e processos sociais. O campo de intervenção só se constituiu como tal no momento em que as experiências locais podem entrar em análise à luz da contextualização sócio-histórico-politica. Isso significa que os efeitos das práticas são tomados na sua complexidade, desconstruindo dualidades, determinismos, individualizações psicologizantes, e o que ganha consistência é uma analítica dos modos de produção da existência na comunidade (ROCHA 2006, p.171).
As atividades desenvolvidas eram preparadas com antecedência e apresentada aos demais colaboradores, que, juntos organizavam um plano de aula contendo o percurso da intervenção, sem perder a característica livre, podendo ser modificado de acordo com o grau de participação dos jovens.
Foi garantido ainda o direito de não participar das atividades, que representa a prática de respeito para com os sujeitos da pesquisa. O número de participantes nunca foi pequeno, mas foi aumentado com o decorrer das semanas, assim os diálogos informais com a pesquisadora e seus colaboradores, o que contribuiu para uma melhor compreensão dos atores e a construção de momentos significativos.
Os jovens contribuíram diretamente com o processo de investigação, opinaram sobre as atividades e expressaram fatos de suas vidas que auxiliaram na compreensão da ginástica aeróbica inserida nas culturas juvenis. A partir do primeiro encontro, os momentos foram facilitados pela efetiva participação dos sujeitos e pela colaboração da gestão da escola, convencida da importância de projetos de extensão que auxiliem na diminuição da distância entre a escola e os saberes fomentadas dentro da universidade.
Foi possível fazer um cruzamento entre as considerações teóricas sobre o jovem e a cultura, com a própria opinião de cada sujeito a respeito da representação da ginástica em seu universo e a sua presença dentro das instituições escolares.
O método pesquisa-intervenção foi fundamental para obtermos o espaço necessário para realizarmos a investigação. Os resultados foram sendo observados, analisados com o auxílio de diários de campo e questionários, confirmados principalmente pelas falas dos jovens que encontraram maior liberdade para expressar sobre si e sobre o outro, sobre a sua vida, sobre o seu movimento dentro da escola, sobre suas ginásticas particulares, suas formas e seus sonhos.
Resultados
Os resultados são referentes a oito semanas de intervenção realizadas quinzenalmente. Desde o primeiro momento utilizamos dos diálogos informais que correspondem ao momento de conversa que precede a execução das atividades para identificar o conhecimento primário sobre a ginástica e repercussão das intervenções.
Pouco mais de 30% dos jovens já haviam ouvido falar sobre a ginástica aeróbica, mas não tiveram a oportunidade de vivenciar fora da escola. Percebemos que há uma separação muito bem definida entre o que é de academia e o que pertence ao ambiente escolar, a ginástica parece distante das quadras escolares.
As primeiras dinâmicas trabalhadas corresponderam a movimentos livres e mais tarde coreografados, utilizando músicas conhecidas pelos jovens. Observamos que as atividades de ritmo em grupo causaram admiração dos sujeitos, como experiências diferenciadas do que haviam vivenciado até o momento no meio escolar.
A ginástica costuma-se ser relacionada ao sexo feminino, como uma atividade mais voltada a mulher. Contudo, os meninos participaram intensamente e expressaram o prazer resultante dessa prática.
Ao levantarmos a opinião dos jovens sobre as atividades identificamos que aproximadamente 85% deles não encontraram impedimentos para participar, considerando que se sentiram a vontade para realizar os exercícios, até mesmo os que se consideravam mais tímidos.
Os jovens expressaram que sentem muita falta de eventos diferentes na escola. A maioria realiza alguma outra atividade durante o dia, mas gostariam que a escola diversificasse mais as rotinas, organizassem momentos culturais. Falam da escola como um ambiente mais necessário do que agradável, e entendem que intervenções como as que desenvolvemos como práticas motivadoras e reflexivas, vivenciando e refletindo sobre seu corpo e seus movimentos.
Mesmo considerando a opinião de alguns educadores da instituição sobre uma grande falta de interesse dos alunos, durante as intervenções percebemos um grande esforço de cada um deles para se executar os movimentos e ainda para expressar suas realidades, dialogando como o outro.
Durante as atividades, sempre diversificadas, foi possível enxergar uma maior aproximação gradativa de cada sujeito com o outro. Além de identificarmos o resultados pessoais relacionados as formas de compreender o seu corpo e seus limites, percebemos que os jovens passaram a respeitar mais os limites dos outros e agir mais cooperativamente.
Os jovens afirmaram que desejam continuar a praticar a ginástica e gostariam que a modalidade fosse realmente garantida na instituição escolar. Revelaram interesse em conhecer mais sobre a diversidade do movimento, sobre o próprio corpo e vida saudável.
A gestão da escola ressaltou a importância do trabalho e se interessa em oferecer mais espaço para outras pesquisas. Acreditamos que a ginástica ficou mais próxima de cada jovem, assim, como a realidade do contexto menos distante de nós, as diferentes juventudes fizeram o olhar de pesquisador e profissional se aproximar de uma compreensão mais satisfatória sobre o jovem e suas culturas, sobre as infinitas possibilidades de vida e superação que o ambiente escolar deve fomentar.
Considerações finais
Compreender as culturas juvenis representa uma necessidade, já que o jovem é considerado um desafio no tempo atual e ao mesmo tempo uma promessa. Cercada de expectativas e estereótipos, a juventude não é conhecida em sua riqueza, na maioria das vezes é vista pela lente do que é aparente, o que denuncia a superficialidade das relações.
A ginástica assim como outro conteúdo da disciplina de Educação Física traz inúmeras contribuições para a vida do jovem, desde a saúde do corpo até a compreensão das emoções que nele refletem.
A prática pode ser tão superficial como um conteúdo maçante ou ser responsável por um salto em qualidade de vida e existência, a interlocução do professor faz boa parte da diferença. A eficácia da abordagem pedagógica repercute do grau de sentido que o educando encontra durante o processo de aprendizagem, é resultado de um encontro real de culturas e do diálogo harmonioso dos diferentes sujeitos culturais.
Consideramos a necessidade de levantar maiores saberes sobre a prática da ginástica e sua importância na educação da juventude. Esperamos aprofundar os dados colhidos nesta investigação, imbuídos do desejo de contribuir também com outros estudos. Que perante a beleza da execução do movimento possamos enxergar a juventude que se movimenta, que deve mover as engrenagens desta sociedade na direção de dias melhores.
Referências
BODY SYSTEMS LATIN AMERICA. Brasil. Programas de treinamento. Disponível em: http://www.bodysystems.net/ Acesso em: 17 nov.2012.
CARRANO, P. Identidades Culturais Juvenis e escolas: arenas de conflitos e possibilidades. Diversia nº1, cidpa Valparaíso, p. 159-184, abr. 2009.
CARRANO, P. ; MARTINS, C. A escola diante das culturas juvenis: reconhecer para dialogar. Educação, Santa Maria, v. 36, n. 1, p. 43-56, jan./abr. 2011.
CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE GINÁSTICA. Regulamentos GAE. Disponível em: http://cbginastica.com.br. Acesso em:16 nov. 2012.
DAYRELL, J. “A escola ‘faz’ as juventudes? Reflexões em torno da socialização juvenil”. Educação e Sociedade, Campinas, v.28, n.100, p. 1105-1128, out. 2007.
FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE GINÁSTICA. Aerobic. Disponível em: http://www.fig-gymnastics.com. Acesso em: 16 nov.2012.
LA TAILLE, Yves. Formação ética. Do tédio ao respeito de si. Porto Alegre, RS: Artmed, 2009.
Les Mills. Academia de Ginástica. Nova Zelândia. Grupo Fitness. Disponível em: http://www.lesmills.co.nz/ Acesso em: 17 nov. 2012.
PAIS, J. M. Culturas Juvenis. Lisboa; Imprensa Nacional casa da Moeda, 2003.
ROCHA, M. L. Psicologia e as práticas institucionais: A pesquisa-intervenção em movimento. Psico, Porto Alegre, v. 37, n. 02, p. 169-174, 2006.
RUSSEL, K. Gymnastics – Why is it in school curricula. Leisure and Movement – Journal of the Szskatchewan Physical Education Ass’n, v.6, n.1, p.07-11, Mar. 1980.
SZYMANSKI, H.; CURY, V. E. A pesquisa intervenção em psicologia da educação e clínica: pesquisa e prática psicológica. Natal: Estudos de psicologia, v.9, n., 2, pp 355-364, 2004.
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Digital · Año 17 · N° 175 | Buenos Aires,
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