Flexibilidade na educação física escolar La flexibilidad en la educación física escolar |
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*Graduada em Educação Física pela Faculdade Adventista de Hortolândia **Professora Titular na Faculdade Adventista de Hortolândia Doutora em Educação Física pela Unicamp (Brasil) |
Elisa Gomes de Carvalho Santos* Helena Brandão Viana** |
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Resumo A flexibilidade é pouco discutida, aplicada e até mesmo conhecida no ambiente escolar, seu benefício para a saúde e bem estar são muitos e é essencial trabalhar o treino de flexibilidade com crianças, pois é a fase em que melhor se desenvolve essa capacidade, sendo reduzida de forma significativa quando atinge certa fase na adolescência. Um indivíduo flexível tem maior disposição em seu dia-a-dia, sendo beneficiado de diversas maneiras e momentos. Há, porém o excesso de flexibilidade que é patológico, a lassidão ligamentar. Muitos professores que atuam com crianças no ambiente escolar, não sabem dos benefícios de treina-la na fase escolar, e nem sabem ao menos que flexibilidade e alongamento não são a mesma coisa. Grande parte deste trabalho discute a respeito da flexibilidade em si e apresenta outras capacidades relacionadas com a mesma. Unitermos: Flexibilidade. Crianças. Benefícios. Amplitude articular.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 175, Diciembre de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Há poucos trabalhos científicos que abordam sobre flexibilidade nas aulas de Educação Física escolar. Este é um assunto pouco discutido na escola, e talvez seja este um dos motivos da ausência de aulas práticas utilizando esta abordagem diretamente. As atividades comuns e jogos esportivos dados nas aulas, já treinam certo nível da flexibilidade articular, porém esta não é usualmente treinada separadamente com exercícios específicos. Como Araújo (2008) descreveu: “Enquanto é comum que o cardiologista estimule e oriente a realização de exercícios, na grande maioria das vezes essa atividade limita-se aos exercícios predominantemente aeróbicos”. Riestra e Flix (2003) citado por Maio et al.(2010) dizem que “não devemos analisar a flexibilidade como fator isolado visto que esta influi diretamente em vários níveis do organismo humano, tais como: fisiológico, mecânico, físico e motor, psíquico e higiênico”. Porém Achour Júnior citado por Maio et al. (2010) sugere correlacionar os movimentos de alongamento com movimentos inerentes a algum jogo esportivo, tornando-se assim, mais atrativo e gerando então uma correlação entre o alongamento e a prática de atividades esportivas ou de lazer.
O professor de educação física escolar muitas vezes aplica atividades que trabalham a motricidade, velocidade de reação, resistência, controle de corpo e de bola, entre outros, e embora a flexibilidade seja treinada dentro de atividades esportivas como citado acima, ela não é ensinada aos alunos de modo a mostrá-los sua importância para um melhor desempenho nas atividades.
Portanto esse trabalho objetiva analisar o conhecimento dos profissionais que atuam com crianças e adolescentes, em relação à flexibilidade nas aulas de educação física escolar e apresentar métodos de desenvolvimento da flexibilidade para as aulas.
Definições da flexibilidade
A flexibilidade é a:
[...] qualidade motriz que depende da elasticidade muscular e da mobilidade articular, expressa pela máxima amplitude de movimento necessária para a perfeita execução de qualquer atividade física eletiva, sem que ocorram lesões anátomo-patológicas (PAVEL & ARAÚJO citados por CONTURSI, 1998, p. 03).“Derivada do latim flectere (dobrar-se) ou flexibilis (dobradiço), a palavra flexibilidade é definida como “qualidade do que é flexível, maleável, facilidade de ligeireza de movimento” (ALTER, 2010 p 17)”. De forma mais direta “[...] amplitude de movimento articular sem dor” (REILLY, 1981, também citado por CONTURSI, 1998, p. 03).). Muitos confundem flexibilidade e alongamento, logo veremos que não é a mesma coisa.
Contursi (1998, p. 06 - 07) em seu livro “Flexibilidade e Alongamento” fala sobre a importância da flexibilidade como prevenção de lesões, melhora da performance com menor gasto energético, e do bem-estar que ela proporciona. Segundo Contursi (1998, p.7) uma pessoa flexível é capaz de realizar movimentos de grande amplitude com maior segurança e eficiência [...] “que irá beneficiar significativamente sua performance no desporto que pratica”. Sendo assim o aluno que tiver sua flexibilidade desenvolvida terá melhor desempenho nas aulas de educação física escolar.
Segundo Simpison et al. (2006, citado por VASCONCELOS; RIBEIRO & MACÊDO, 2008, p. 29):
Ser flexível em uma área ou articulação particular não implica necessariamente ser flexível em outra. [...] Níveis altos de flexibilidade podem desproteger as articulações, levando a lesões como luxações e frouxidões ligamentares. A Síndrome de Hiperlassidão ocorre em pessoas que apresentam um grau acima do normal de flexibilidade e que merece também atenção do fisioterapeuta.
A flexibilidade é uma qualidade física treinável, faz parte dos conteúdos da matriz curricular da Educação Física Escolar que é disciplina obrigatória de acordo com a Lei 9.394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB). (MAIO et al, 2010
Alter (2001, citado por VASCONCELOS; RIBEIRO & MACÊDO, 2008, p. 29): sugere três tipos básicos de flexibilidade, os quais são agrupados de acordo com os vários tipos de atividades motoras envolvidas:
a) flexibilidade dinâmica é a habilidade de executar movimentos dinâmicos dos músculos para trazer um membro através de sua amplitude máxima de movimento articular, e que é testada através do movimento realizado pelo próprio indivíduo;
b) flexibilidade passiva é maior que a dinâmica e corresponde à habilidade de assumir posições e mantê-las, usando uma força externa ao seu corpo, como o peso do próprio corpo, a sustentação de seus membros ou alguns outros instrumentos (tais como uma cadeira ou uma barra), a flexibilidade passiva é testada quando outra pessoa realiza o movimento sobre a amplitude articular do paciente;
c) flexibilidade anatômica que é maior que a passiva, representa a amplitude articular máxima, proporcionada pelas características morfológicas das superfícies articulares, sendo testada, apenas, quando não há presença de nenhum tecido entre as articulações.
No livro ‘Flexibilidade e alongamento’ Contursi (1988) aponta que há fatores que influenciam na flexibilidade, como:
Hora do dia. O acordar pela manhã a flexibilidade tende a estar menor.
Idade. Independentes do sexo, vários autores têm descrito que a flexibilidade decresce com a idade (WEINECK, 1991; POLLOCK & WILMORE, 1993, citado por RASSILAN & GUERRA, 2006) e apontam que um decréscimo mais acentuado só é verificado a partir dos 30 anos. Porém a flexibilidade tende a melhorar quando há manutenção da mesma e como visto anteriormente o alongamento mantêm esta flexibilidade articular, mas para aumentar a amplitude de movimento da articulação e necessário o treino de flexionamento que é mais intenso e sua duração deve ser superior ao alongamento.
Sexo. Em relação ao sexo, em geral, as mulheres têm demonstrado maiores níveis de flexibilidade do que os homens, independente da idade. (ACHOUR JÚNIOR, 1996 citado por RASSILAN & GUERRA. 2006).
Temperatura corporal. No frio a flexibilidade tende a reduzir (RASSILAN & GUERRA).
A flexibilidade traz grandes benefícios à saúde, logo seria de grande valia que o professor de educação física aplicasse esse treinamento nas aulas escolares de uma forma prazerosa, de forma que as crianças sintam prazer em praticar, assim como as crianças que dançam balé treinam a flexibilidade e gostam, esta também pode ser aplicada na escola, não que deva ser em uma aula de balé, pode ser aplicada, por exemplo, em uma aula de ginástica, ou alguns minutos antes de começar a aula esportiva, junto ao alongamento.
A flexibilidade é uma capacidade física onde o indivíduo pode realizar movimentos com maior amplitude articular, podendo realizar movimentos com um ângulo maior, com mais conforto na realização dos mesmos e proporcionando assim um bem-estar mais elevado.
Haywood & Getchell (2004) citado por Maio et al. (2010) diz que a flexibilidade “é a capacidade de mover as articulações em total amplitude de movimento.”
Segundo Dialcova e Barros, (1999, p 85): A flexibilidade é dividida em dois tópicos:
Flexibilidade ativa e passiva.
A Flexibilidade Ativa permite ao individuo por si só alcançar a amplitude máxima da mobilidade articular e também da extensibilidade muscular. A flexibilidade ativa nada mais é que treinos feitos individualmente para aumentar o nível de mobilidade articular como a imagem abaixo:
Figura 1. Treino de flexibilidade ativa.
Fonte: Adaptada de CONTURSI (1998, p 62)
Flexibilidade Passiva é definida como a amplitude máxima, que se pode alcançar pelas ações de forças externas, como utilização de pesos, ações de um companheiro e outras formas (NEDIALCOVA & BARROS 1999, p 85).
Flexibilidade passiva é quando há auxílio de outra pessoa ou objeto estimulando a amplitude de um indivíduo:
Figura 2. Treino de flexibilidade passiva.
Fonte: Adaptada de CONTURSI (1998, p. 95)
Benefícios da flexibilidade
Segundo Nedialcova & Barros (1999, p 85): A prática da atividade física com a realização de exercícios de flexibilidade adequados tende a manter ou mesmo melhorar os graus de mobilidade das articulações.
“Pessoas calmas e tranquilas tem maior índice de flexibilidade, enquanto as pessoas tensas possuem menor capacidade de mobilidade articular e extensibilidade muscular. Com isso é necessário desenvolver um trabalho inicial com técnica de relaxamento” (NEDIALCOVA & BARROS,1999, p. 84).
Riestra & Flix (2003), citado por Maio. et al. (2010), diz que a ação do exercício determina o limite da flexibilidade, ou seja, a prática correta de exercícios direcionados podem aumentar ao grau de flexibilidade de um indivíduo, como também a falta de exercícios contribuem para o encurtamento muscular, ou falta de flexibilidade.
Os movimentos mais comuns que realizamos no dia-a-dia são:
Flexão: movimentos “dobradiços” onde há um encurtamento das fibras musculares e diminuição de um ângulo, por exemplo, abaixar para pegar algo (flexão de tronco);
Extensão: Contrária à flexão, há um alongamento do músculo, e aumento do ângulo;
Abdução: Quando um membro se afasta da linha medial do corpo, por exemplo, levantar o braço lateralmente.
Adução: Contrária à abdução, quando se aproxima na linha medial do corpo, como abaixar o braço.
Rotação: É um giro realizado em torno de um pivô, ou um movimento em torno de seu eixo. Como girar a cabeça ou o braço.
Circundução: Permite que a extremidade de um membro delineie ou trace um circulo como desenhar um circulo bem grande com o braço.
Supinação: rotação do braço deixando a palma da mão para cima;
Pronação: Contrário de supinação, palma da mão para baixo;
Flexão plantar: Consiste em elevar o tornozelo tirando-o do chão e deixando a parte anterior dos pés apoiado, movimento realizado frequentemente quando se tenta pegar algo em lugares altos;
Dorsiflexão: Contrária à flexão plantar. (ALTER,2010, p 30).
Todos estes movimentos são significativamente melhor realizados quando há uma boa mobilidade na articulação envolvida. De acordo com Contursi (1998, p 7) o treino realizado corretamente, ajuda a realizar tarefas diárias com mais segurança, eficiência e conforto, como pegar ônibus, subir degraus, pegar objetos em lugares altos entre outros tantos. McGill (1998,1999) citado por Alter (2010, p 23) relata que o fato de um indivíduo possuir flexibilidade suficiente no quadril e nos joelhos, ajuda evitar o movimento excessivo da coluna durante as tarefas diárias. Sendo assim esse individuo diminuiria ou evitaria dores na coluna decorrente muitas vezes a movimentos incorretos ou pesos excessivos.
Alter (2010) relata vários benefícios proporcionados por uma boa amplitude de movimento, como: 1. Melhora da postura. Ombros arredondados podem ser resultado de uma má flexibilidade nos músculos peitorais e menos resistência dos músculos adutores da cintura escapular por exemplo. 2. Alívio da dor lombar. A falta de flexibilidade no tronco é um dos fatores que podem ser a causa da dor lombar. 3. Alivio de cãibras musculares. As cãibras acontecem com os músculos já na posição encurtada, contraindo-se involuntariamente, as cãibras diminuem quando o músculo é alongado de forma passiva ou quando se faz contração ativa do músculo antagonista (que se opõe ao movimento). 4. Alivio da dor muscular. Exercícios de alongamento lentos podem reduzir ou até mesmo eliminar dores musculares. 5. Prevenção de lesão. O uso de alongamentos para aumentar a flexibilidade diminui a incidência, a intensidade ou a duração de lesões articulares e lesões musculotendinosas. 6. Melhora o estado do sono. Presume-se que o alongamento lento, suave e gradual pode promover o sono que também tem influência com a postura. 7. Sexo. uma boa mobilidade articular pode incrementar a vida sexual, com a melhora da força, resistência muscular, melhora os movimentos realizados, satisfação e prazer.
Porém deve haver um cuidado muito especial, pois... “o excesso de lassidão em uma articulação pode ser resultado de lesão crônica ou de condição congênita ou hereditária, como a síndrome de Ehlers-Danlos (EDS)” (ALTER 2010, p 18).
Flexibilidade x alongamento
As pessoas sempre confundem flexibilidade e alongamento ou acreditam que é a mesma coisa, no entanto o alongamento nada mais é do que a manutenção da flexibilidade, pois no alongamento será sempre alcançado o nível máximo pessoal das articulações que cada indivíduo alcançou no treino de flexibilidade, e deve ser feito sempre antes e depois de exercícios físicos para evitar possíveis desconfortos ou lesões mais serias.
Kisner & Colby (2002) citados por Alter (2010, p 19) dizem:
Exercícios de alongamento e amplitude de movimento (AM) não são termos sinônimos. O alongamento leva estruturas de tecido mole além do seu comprimento disponível para aumentar a AM. Os exercícios de AM ficam dentro dos limites da extensibilidade dos tecidos para manter o comprimento disponível dos mesmos.
Porém, Alter (2010) relata que a flexibilidade é simplesmente o resultado obtido pelo alongamento, que é o fator mais importante para seu desenvolvimento em uma pessoa saudável.
Uma maior flexibilidade é alcançada quando o movimento excede a amplitude existente do possível movimento, ou seja, deve-se ir um pouco além do limite na realização do movimento, e até o início de uma pequena dor.
Dantas (1991) citado por Contursi (1998, p. 03) apresenta alguns termos que, por muitas vezes são utilizados como sinônimo de flexibilidade:
Alongamento: Forma de trabalho que visa à manutenção dos níveis de flexibilidade obtidos e propiciar a realização dos movimentos de amplitude normal com o mínimo de restrição física possível.
Flexionamento: Forma de trabalho que visa obter uma melhora da flexibilidade através da viabilização de amplitudes de arcos de movimento articular superiores ás originais.
Elasticidade: Propriedade que possuem alguns componentes musculares de deformarem-se sob a influência de uma força externa, aumentando seu comprimento e retornando á forma original quando cessada a ação.
Mobilidade: Propriedade que possuem as articulações de realizarem determinados tipos de movimento, dependendo de sua estrutura morfológica.
Relaxamento: Ato ou efeito de diminuir volitivamente a tensão de um músculo, colocando-o em repouso e diminuindo desta forma o seu tônus.
Embora todos estejam relacionados com a flexibilidade, esses termos não são a mesma coisa, cada um tem sua respectiva funcionalidade, mas ambos são muito importantes para a saúde e bem estar.
Na infância esses fatores são influenciadores também para um melhor desenvolvimento físico, em especial a flexibilidade, como veremos no próximo capítulo.
Flexibilidade na infância
Como já visto anteriormente a flexibilidade tem relação com diversos fatores, entre eles a idade. Infelizmente há poucos trabalhos que falem sobre a flexibilidade e os poucos que existem dificultam a comparação entre estudos pela falta de padronização que há entre eles, segundo Alter (2010, p. 132). Porém mais difícil ainda é encontrar artigos ou estudos sobre flexibilidade relacionada às crianças, mas comumente (durante brincadeiras e movimentos realizados) vemos que crianças em determinadas faixas etárias tem grande mobilidade articular. De acordo com Rassilan & Guerra (2006, p 02), “a flexibilidade contribui decisivamente em diversos aspectos da motricidade humana, desde seus gestos cotidianos e até mesmo na busca do aperfeiçoamento da execução de movimentos desportivos”.
Alguns autores defendem a prática do flexionamento desde a fase infantil. Segundo Maio et al. (2010, p. 3) “A prática de atividades de alongamento deve ser enfatizada desde a educação infantil, mais com a intenção de gerar na criança o prazer pela prática”. Desta forma devem ser aplicadas brincadeiras, jogos e atividades que tenham o objetivo de manter ou mesmo desenvolver a flexibilidade das crianças, porem de uma forma lúdica e prazerosa, fazendo com que elas passem a gostar a tal ponto de realizarem em suas próprias casas, com seus próprios familiares e amigos, e assim sempre deixando em dia sua boa mobilidade articular e realizando tarefas com maior eficácia.
Rassilan & Guerra (2006, p 3), dizem que:
Importantes características da saúde e performance são melhoradas na infância como resultado de atividades físicas. A flexibilidade é o único requisito motor que atinge seu auge na infância, até os 10 anos, piorando em seguida se não for devidamente trabalhada. Por esta razão, o treinamento de flexibilidade deve começar já na infância, para que não haja perda e para garantir uma boa elasticidade na vida adulta.
Achour Júnior (2004) citado por Maio et al. (2010) sugere correlacionar os movimentos de alongamento com movimentos inerentes a algum jogo , tornando-se assim, mais atrativo e gerando então uma correlação entre o alongamento e a prática de atividades esportivas ou de lazer.
Alter (2001) citado por Maio et al. (2010, p. 03) diz que o maior influenciador do aumento da flexibilidade em determinados músculos de uma pessoa saudável é a prática de exercícios de alongamento. No entanto vale resaltar que decorrente a mudança do corpo da fase infantil para a adulta também ocorre variação no nível da flexibilidade, segundo Alter (2001) citado por Maio et al. (2010, p. 02):
Nessa fase, os ossos tendem a crescer mais rapidamente que os tecidos moles (músculos e tendões), razão pela qual o nível de flexibilidade reduz abruptamente, ocasionando com isso o encurtamento de determinados grupos musculares, gerando dores e incômodos na prática da educação física, se não for enfatizado um programa de alongamento.
Segundo Alter (2010, p. 132):
[...] crianças menores são bastante flexíveis e que, durante os anos escolares, a flexibilidade diminui até, mais ou menos, a puberdade; depois ela aumenta no decorrer da adolescência. Após essa fase, no entanto, decrescem. Embora ela diminua com a idade, sua perda parece ser minimizada em indivíduos que permanecem ativos.
Para entender melhor o assunto nos próximos parágrafos estarão algumas definições anatômicas e fisiológicas a respeito das articulações e composições da flexibilidade.
Definição anatômica e fisiológica
É necessário também apontar os responsáveis pelo estiramento ou alongamento muscular, os três principais receptores envolvidos no alongamento e na manutenção da flexibilidade, são os fusos musculares, que são receptores localizados nos músculos, tendões, articulações, entre outros, que consiste em fibras musculares que por sua vez fornecem informações sensoriais a respeito do cumprimento muscular. Outro receptor envolvido é o Órgão Tendinoso de Golgi (OTG) localizado nas junções músculo-tendão que são sensíveis á contração, ele monitora todos os graus de tensão dos músculos. E por fim os mecanorreceptores articulares (receptores das articulações), todas as articulações possuem terminações nervosas que sentem as forças mecânicas impostas à articulação, como a pressão e o próprio alongamento (ALTER,2010).
Flexibilidade é igual à amplitude articular que segundo Contursi (1998, p. 17), a articulação é o conjunto de elementos, através dos quais se unem ossos e cartilagens. Segundo Alter (2010), a junção de dois ou mais ossos constitui uma articulação, também conhecida como junta, essas articulações são classificadas de acordo com o movimento que permitem e com a composição estrutural. Contursi (1998, p. 17) classifica três tipos de articulações, sendo elas:
Fibrosas que são as imóveis (ossos do crânio onde a quantidade de tecido fibroso entre os ossos é pequena);
As articulações cartilagíneas que são semimóveis(discos intervertebrais);
Por fim as articulações sinoviais articulações propriamente ditas e livremente móveis (articulações entre fêmur e tíbia).
Essas classificações de articulação (fibrosa, cartilagínea e sinovial) engloba seis tipos diferentes de articulação de acordo com Alter (2010, p 29):
Esféricas: permitem maior amplitude de movimento, o quadril é uma articulação desse tipo.
Elipsóides: permitem dois tipos de movimentação, sendo elas flexão- extensão e adução-abdução, são essas as articulações entre os ossos do radio e do carpo no punho.
Dobradiças: permitem a penas movimento de flexão-extensão, como cotovelo, tornozelo e joelho.
Pivôs: permitem movimentos rotatórios em um eixo, que gira dentro de um circulo. As vértebras que ficam mais próximas ao pescoço, atlas e áxis é um exemplo e também articulação entre rádio e ulna que realiza a pronação e supinação do antebraço.
Planas: permitem apenas movimentos deslizantes, como as articulações intercarpais da mão.
Em sela: permitem movimento de flexão-extensão e também adução-abdução, um exemplo é a articulação carpometacarpal que fica na vase do tronco.
Através dessas definições podemos entender um pouco mais o porquê da diminuição da flexibilidade na fase em que as crianças estão entrando na puberdade, “durante períodos de crescimento rápido, os ossos crescem muito rapidamente e os músculos não se alongam no mesmo ritmo. Como consequência, há aumento de rigidez músculo-tendão na região da articulação.” (ALTER, 2010, p. 133).
Para minimizar o declínio da flexibilidade na fase de crescimento rápido é essencial o treinamento da mesma durante a infância e trabalhar sua manutenção durante toda a vida é muito importante para a saúde como vimos nos capítulos anteriores. “Em geral, no entanto, passada a adolescência, quanto mais se adia o início de algum tipo de programa de flexibilidade, menor e a probabilidade de melhoria absoluta” (ALTER, 2010 p 133).
Se o objetivo for aumentar a flexibilidade através de amplitudes de movimentos superiores aos iniciais, onde a amplitude articular e a elasticidade muscular devem ser exigidas até os seus limites máximos, este trabalho deve ser desenvolvido através do treinamento de flexionamento. Se o objetivo principal for apenas manter os níveis de flexibilidade que já possui através de treinos de flexionamento realizados anteriormente, o método mais indicado é o alongamento, o qual representa uma metodologia de trabalho que visa à manutenção dos níveis de flexibilidade utilizando uma amplitude articular permitida (DANTAS (2005), citado por VASCONCELOS; RIBEIRO & MACÊDO,2008). Embora a flexibilidade diminua com a idade, sua perda é minimizada em indivíduos que permanecem ativos, de acordo com Alter (2010, p 132), por isso desde a infância é importante se treinar a flexibilidade, para que possamos estar bem fisicamente e com a saúde sempre em dia. No caso de crianças até 3 anos de idade a mãe pode estimular conversando e brincando, assim ela desenvolve a percepção de próprio corpo e ainda melhora a amplitude de movimento, utilizando uma linguagem mais infantil, como: “olhe o pezinho”, e colocando o pé da criança próximo ao rosto dela, (demonstrado na figura 9).
Métodos de treino
O flexionamento deve ser aplicado de forma lúdica para as crianças, para que não fiquem desinteressadas. Para um controle do professor é interessante avaliar o nível de flexibilidade dos alunos nos primeiros dias de aula, ao decorrer do ano aplicar os exercícios e brincadeiras específicas para o treino, e ao final fazer uma reavaliação para ver o quanto foi melhorado. A avaliação pode ser feita através do banco de Wells (utilizado para medir a flexão do tronco) ou flexímetros (que medem a amplitude de um movimento expresso em graus).
Para crianças menores, entre três e seis anos aproximadamente, o interessante é trabalhar com músicas junto aos treinos.
Opções de atividades para crianças de 3 a 6 anos
Uma boa opção seria fazer o movimento da borboletinha, (sentados flexionar os joelhos para as laterais, de forma que as solas dos pés fiquem unidas) e cantar a música da borboletinha. Enquanto cantam, movimentam os joelhos para cima e para baixo como se fosse a asa de uma borboleta. Neste mesmo exercício pode-se colocar desafios, como quem consegue inclinar o tronco encostando a cabeça nos joelhos. (Figura 3).
Com a música da baratinha, as crianças sentadas procurando não flexionar os joelhos, tentando alcançar os pés com as mãos, e enquanto cantam flexionam o tronco segurando ainda nos pés. Há outras músicas infantis que podem ser colocadas junto a movimentos estipulados pelo professor (a). Idem. (Figura 8).
Propor desafios, onde o professor pede certos movimentos e desafia seus alunos a realiza-los.
Brincadeira “tirando o nó. Faz-se um circulo , onde todos fiquem bem próximos, cada um pega na mão de um colega, não podendo pegar nas duas mãos de um mesmo colega, depois devem tentar desmanchar o nó, passando por cima por baixo, girando, fazendo o que for preciso para desmanchar o nó.
Há outras músicas infantis que podem ser colocadas junto a movimentos estipulados pelo professor (a), para fazer movimentos ritmados.
Para crianças acima de seis anos de idade
As crianças na sua maioria gostam de desafios, principalmente na idade entre seis e dez anos, onde estão sempre tentando superar limites próprios e de outra pessoa próxima, então um método muito eficaz é desafiar:
Impor metas e problemas que devem ser resolvidos com o corpo, como tentar passar em algum lugar onde exija esforço físico e mental, como precisar rolar, colocar os braços primeiro ou as pernas, enfim, onde eles próprios possam encontrar a melhor maneira de passar por um obstáculo.
Fazer circuitos, também onde possam criar soluções para conseguir cumprir todas as tarefas, estimuladas pelo professor (a), incluindo movimentos que exijam maior amplitude de movimento.
Colocar cordas paralelas bem próximas uma das outras, onde as mesmas estejam amarradas em certa altura, os alunos deveram passar por elas levantando as pernas até a altura ideal para que consigam fazer a tarefa sem derrubar as cordas.
A Brincadeira “tirando o nó”,e serve para todas as idades.
Abaixo imagens de possíveis treinos que podem ser aplicado na educação física escolar.
Figura 3. Exemplo da borboletinha
Fonte: Adaptada de CONTURSI (1998, P. 64)
Figura 4. Elevação das duas pernas estendidas.
Fonte: Adaptada de CONTURSI (1998, P. 64)
Figura 5. Elevação da perna flexionada, levando o calcanhar á testa.
Fonte: Adaptada de CONTURSI (1998, P. 64)
Figura 6. Flexão de tronco sobre pernas estendidas.
Fonte: Adaptada de CONTURSI (1998, p. 70)
Figura 7. Abdução da perna estendida.
Fonte: Adaptada de CONTURSI (1998 p. 70)
Figura 8. Segurando o tornozelo com pernas estendidas.
Fonte: Adaptada de CONTURSI (1998 p. 63)
Treinos fora do ambiente escolar com as crianças
Durante as brincadeiras no lar, podemos trabalhar a flexibilidade, como mostram as imagens abaixo (todas as fotos abaixo foram disponibilizadas pela mãe da criança que forneceu autorização por escrito para utilização das mesmas):
Figura 9. Mãe estimulando a flexibilidade e percepção
do corpo da criança, através da própria fala
Figura 10. Criança contente com as brincadeiras feitas pela mãe,
que tem o objetivo de manter ou mesmo melhorar a flexibilidade
Figura 11. Criança brincando com a mãe, o objetivo é de manter
ou mesmo melhorar a flexibilidade e percepção corporal da criança
Figura 12. Mãe estimulando crianças para manter ou
mesmo melhorar a flexibilidade e percepção corporal da criança
Figura 13. Flexão de tronco com os joelhos
estendidos, realizada antes do aquecimento
Figura 14. Flexão de tronco com os joelhos estendidos, após aquecimento.
Figura 15. Treino realizado com aparelho. Região anterior da coxa (quadríceps)
Figura 16. Treino realizado com aparelho. Região posterior
da coxa (bíceps femoral, semi tendinoso, semi membranoso)
Metodologia
Foi realizada pesquisa de campo, de caráter qualitativo, onde iremos verificar a qualidade, ou seja, o conhecimento dos profissionais de educação física escolar a respeito da flexibilidade.
Característica da amostra
Foram entrevistados 13 profissionais de ambos os sexos com tempo de atuação superior a dois anos, que atuam com crianças e adolescentes.
Instrumento
Aplicação de questionário contendo seis questões a respeito do conhecimento dos profissionais sobre a flexibilidade, métodos de treino aplicados e a média do nível de flexibilidade de seus alunos á visão do professor:
Como você definiria a palavra flexibilidade?
Qual a diferença de flexibilidade e alongamento?
Você realiza alongamento com seus alunos antes das atividades físicas?
Você procura desenvolver a flexibilidade dos alunos durante as aulas? De que maneira?
Quais atividades são aplicadas por você, que melhoram ou mantém a flexibilidade dos alunos?
Em média como você classifica o nível de flexibilidade de seus alunos?
Aspectos éticos
O trabalho foi aprovado por comitê de ética da Pontifícia Universidade Católica de Campinas no dia 14/09/2012, sob o parecer número 97.773.
Coleta de dados
Os dados coletados foram avaliados e as respostas foram expressas em forma de gráficos. Foi apresentado o trabalho e o objetivo aos profissionais que responderam o questionário após aceitação a assinatura em Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Resultados e discussão
Figura 17. Como você definiria a palavra flexibilidade
Visualiza-se que aproximadamente 8% dos professores responderam que flexibilidade é a capacidade do músculo de aumentar sua amplitude de movimento, 08% afirmaram que era o ato de alongar as fibras musculares, outros 08% responderam que significa ter um corpo flexível, aproximadamente 07% relataram que flexibilidade é o ângulo de uma articulação, 61% afirmaram que flexibilidade é a amplitude articular, o que está correto.
Figura 18. Qual a diferença de flexibilidade e alongamento
A maioria dos entrevistados respondeu que flexibilidade é a grande amplitude articular, para classificar o alongamento notamos diferenças na nomenclatura, porem grande parte tem o mesmo sentido.
Figura 19. Você realiza alongamento com seus alunos antes das atividades físicas?
Das opções disponíveis no questionário para essa resposta, duas não foram assinaladas, “quase sempre” e “nunca”, de 15% diz que quase nunca aplicam alongamento e 31% informaram que apenas em algumas aulas, 54% sempre aplicar alongamento.
Figura 20. Você procura desenvolver a flexibilidade dos alunos durante as aulas? De que maneira?
Nota-se que 77% dos profissionais informaram que se preocupam em relação ao tema e procuram desenvolve-lo nas aulas de educação física. 23% não desenvolvem essa capacidade nas aulas. Dos que procuram desenvolver, 50% utilizam o alongamento como método, 30% Utilizam o flexionamento e brincadeiras e 20% Alongamento, jogos e/ou brincadeiras.
Figura 21. Quais atividades são aplicadas por você, que melhorem ou mantêm a flexibilidade dos alunos?
Nesta questão nota-se que 62% procuram apenas manter a flexibilidade e não melhorá-la, 8% não realiza nenhuma atividade a esse favor, 30% realiza brincadeiras e atividades na ginástica geral com o intuito de melhorar a flexibilidade.
Figura 22. Em média como você classifica o nível de flexibilidade de seus alunos?
O nível de flexibilidade dos alunos foi considerado por 61% dos professores um nível Regular, mesmo sempre aplicando alongamento, 23% ruim, 8% Bom e 8% assinalaram muito bom. No entanto há alguns equívocos nas respostas e veremos nos resultados do próximo capítulo.
Em relação à pesquisa, a maioria dos profissionais sabe o que é a flexibilidade, mas poucos aplicam em forma de treino aos alunos. As respostas encontradas foram muito parecidas uma das outras, percebe-se que cada professor apresenta uma definição diferente porém querem dizer a mesma coisa.
Um dos pontos interessantes e talvez o mais, é que os mesmos professores que informaram treinar, ou seja, melhorar a flexibilidades dos alunos, utilizam o alongamento como método, porém vimos no estudo que o alongamento apenas mantém o ângulo articular já existente, nota-se também que mesmo sempre utilizando deste “treino” as respostas fisiológicas da flexibilidade dos alunos é considerada regular, mas se sempre treinam a flexibilidade no mínimo deveria ser considerada boa.
Considerações finais
Este trabalho foi realizado com o intuito de levar o leitor a conhecer mais a respeito da flexibilidade e seus benefícios para a saúde, verificar o conhecimento dos professores de educação física em relação á flexibilidade e interesse dos mesmos em aplicar treinos. Seu treino sendo inserido nas escolas ajudará no desenvolvimento e bem estar imediato e futuro dos alunos, até mesmo nas tarefas do dia-a-dia. Cada profissional deveria estabelecer em suas aulas de educação física o treino de flexionamento, tanto para melhorar os alunos fisicamente, quanto para que tenham melhor desempenho e disposição nas atividades escolares.
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Digital · Año 17 · N° 175 | Buenos Aires,
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