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Exercício físico, reposição hidroeletrolítica e a
desidratação em atletas: mecanismos e consequências

Ejercicio físico, reposición hidroelectrolítica y deshidratación en deportistas: mecanismos y consecuencias

Physical exercise fluid replacement and dehydration in athletes: mechanisms and consequences

 

*Laboratório de Biocinética (Faculdade de Ciências do Desporto e Educação

Física, Universidade de Coimbra, Portugal) e Departamento de Educação Física

(Universidade Regional do Cariri – Unidade Descentralizada de Iguatu, CE, Brasil)

**Laboratório de Psicologia do Desporto e Exercício (Faculdade de Ciências

do Desporto e Educação Física, Universidade de Coimbra, Portugal)

***Centro Universitário da Fundação Educacional de Guaxupé (Unifeg, Brasil)

Rubens Vinícius Letieri*

Guilherme Eustáquio Furtado**

Miriangrei Letieri***

rubens.letieri@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Introdução: Evidências científicas apontam que a perda hídrica pela sudorese durante o exercício pode levar o organismo à desidratação, por interferir negativamente em parâmetros fisiológicos, tais como: volume plasmático; fluxo sanguíneo; osmolaridade; concentração de sódio e, ainda, termorregulação. Estes fatores, quando somados a alguns factores ambientais, como, por exemplo, provas de longos períodos, exposição prolongada a temperaturas extremas e indução agressiva de perda de peso corporal nos períodos pré-competitivos, podem comprometer o rendimento de atletas. Fundamentação teórica: O presente estudo tem como principal objectivo delinear quais são as principais consequências fisiológicas da desidratação e, para isso, faz-se uma abordagem dos mecanismos de hidratação e apontam-se estratégias para minimizar os desajustes da desidratação para o sistema fisiológico. Considerações finais: A presente revisão procurou abordar de uma maneira genérica os aspectos relacionados com a desidratação e apontar estratégias para minimizar os desajustes da desidratação para o sistema fisiológico. Estudos delineam diretrizes necessárias para minimizar os efeitos negativos da desidratação e pontuam estratégias para maximizar o desempenho de atletas. É importante ressaltar que, apesar de existirem várias evidências sobre o processo de hidratação e reidratação é extremamente recomendável que as estratégias de hidratação sejam sempre individualizadas para cada atleta, levando em conta o clima e o desporte praticado.

          Unitermos: Exercício físico. Hidratação. Desidratação. Equilíbrio hidroeletrolítico.

 

Abstract

          Background: Scientific evidence suggests that the fluid lost by sweating during exercise can lead to dehydration the body by interfering negatively in physiological parameters such as plasma volume, blood flow, osmolality, sodium concentration, and also thermoregulation. These factors, when added to some environmental factors, for example, evidence of long periods, prolonged exposure to extreme temperatures and aggressive inducing weight loss in the pre-competitive, can compromise the performance of athletes. Theorical fundaments: This study has as main objective to outline what are the main physiological consequences of dehydration and, therefore, it is an approach to the mechanisms of hydration and suggests strategies to minimize the misfits of dehydration to the physiological system. Conclusion: This review sought to address in a generic way aspects of dehydration and point strategies to minimize the misfits of dehydration for the physiological system. The study was designed policies necessary to minimize the negative effects of dehydration and score strategies to maximize the performance of athletes. Importantly, although there is ample evidence about the process of hydration and rehydration is strongly recommended that the hydration strategies will always be individualized for each athlete, taking into account the weather and sport practiced.

          Keywords: Exercise. Hydration. Dehydration. Electrolyte balance.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 175, Diciembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A desidratação pode reduzir o desempenho de um atleta por interferir negativamente em parâmetros fisiológicos, como volume plasmático, fluxo sanguíneo e controle de eletrólitos, culminando em baixo rendimento do seu desempenho. A perda hídrica pela sudorese durante o exercício pode levar o organismo à desidratação, com aumento da osmolalidade, da concentração de sódio no plasma e diminuição do volume plasmático (SAWKA, 1992). Os ajustes fisiológicos decorrentes da desidratação, os protocolos de ingestão de fluidos e o papel da ingestão de eletrólitos constituem o foco da presente revisão.

Termorregulação corporal e perda de líquidos

    Durante o exercício físico vigoroso, grande parte da energia produzida pelo organismo (principalmente pela contração muscular) é dissipada na forma de calor, e apenas uma pequena parte desta energia é, de facto, utilizada no mecanismo de contração muscular (WILMORE & COSTILL, 1994).

    A energia térmica acumulada durante a prática de exercí­cios que eleva consideravelmente a temperatura corporal deverá ser dissipada e isto ocorre através de mecanismos termorregulatórios, que são essenciais para que não haja um superaquecimento do organismo. São quatro os mecanismos de termorregulação que contribuem para a dissipação do calor metabólico gerado e para o calor absorvido pelo ambiente – condução, radiação, convecção e evaporação. Este último é a principal via de perda de calor durante o exercício e contribui com mais de 80% das taxas de perda de calor, seguido da condução e convecção com 15%, e da radiação com 5% (SAWKA, 1992; WILMORE & COSTILL,1994).

    Durante o exercício no ambiente aquático as maiores perdas são a via de condução e a de convecção (se a temperatura da água for inferior à temperatura corporal), porque a capacidade para eliminar calor por condução na água é 26 vezes maior do que no ambiente terrestre. A taxa de suor varia de acordo com condições ambientais (temperatura, umidade relativa do ar, velocidade do vento) – conforme a tabela 1 -, roupas (permeabilidade) e intensidade e duração da atividade física (ACSM, 2007; SPARLING & MILLARD-STAFFORD, 1999; WILMORE & COSTILL, 1994; PÉRRONET et al, 1991).

    A evaporação do suor torna-se mais eficiente quando a umidade relativa do ar é baixa. Nos ambientes úmidos, o suor na superfície da pele dificilmente é evaporado, favorecendo a elevação da temperatura corporal e, conseqüentemente, aumentando a perda de água. O suor que fica na superfície da pele é um potencial condutor de calor pelo fato de ser composto em grande parte por água e, em situações em que a temperatura do organismo é inferior à temperatura do ambiente, há troca de calor do ambiente para o indivíduo, o que aumenta a temperatura corporal, intensificando os estímulos para a sudorese e, consequentemente, aumentando as taxas de desidratação (MARA et al., 1997; WILMORE & COSTILL, 1994; PÉRRONET et al, 1991). Nesta medida, alguns cuidados devem ser tomados quando o exercício ocorre em locais com condições ambientais diferentes daquelas da competição. Em ambientes quentes e úmidos os indivíduos perdem grandes quantidades de sódio. Assim, torna-se necessário o uso adequado da hidratação antes, durante e após o exercício, principalmente quando este é realizado em condições de calor exaustivo (LOPEZ & CASA, 2009).

Tabela 1. Taxas de suor (L.h-1) em corrida de 8.5 a 15 km.h-1 em clima frio/temperado (18°C) and ambiente quente (28°C)

Desidratação: mecanismos e consequências

    Uma estratégia comumente utilizada para perda de peso é a desidratação, porém é importante saber que a água e os eletrólitos são fatores importantes para a manutenção da atividade física. Um desequilíbrio entre estes elementos pode alterar a capacidade física. Sabe-se que a redução hídrica durante o exercício levará o atleta a um estado de desidratação (ACSM, 2009; ADROGUÉ & MADIAS, 2000).

    A desidratação caracteriza-se pela perda de >2% do peso corporal, aumentando o estresse fisiológico nas respostas da temperatura central, na freqüência cardíaca e no esforço percebido durante o estresse do exercício principalmente no calor. Além de comprometer a capacidade aeróbica, principalmente em ambientes quentes, esta interferência tem influência negativa ao nível do desempenho cognitivo e mental dos atletas (ACSM, 2007, 2009). Desta forma, pode-se afirmar que quanto maior a desidratação, menor será a capacidade do organismo de redistribuição do fluxo sanguíneo para a periferia, menor a sensibilidade hipotalâmica para a sudorese e menor a capacidade aeróbica (ARMSTRONG et al. 1997). A freqüência cardíaca é aumentada e o volume de ejeção reduzido proporcionalmente ao déficit de fluidos que ocorre durante o exercício (MAUGHAN et al. 1987). Até mesmo uma pequena desidratação (1 % da massa corporal) pode aumentar o esforço cardiovascular, além de limitar a capacidade corporal de transferir calor dos músculos em contração para a superfície da pele, onde pode ser dissipado para o ambiente (BRIDGE et al., 2003; MAUGHAN et al. 1987).

    Nas atividades de longa duração a perda de peso total pode não refletir o grau exato de desidratação, pois as alterações de peso corporal representam um somatório de perdas hídricas e de fontes não hídricas. Entre as fontes não hídricas deve ser considerada, principalmente, a redução de peso decorrente da glicogenólise, ou seja, da quebra do glicogênio muscular e hepático a favor da conservação de níveis satisfatórios de glicemia (ROGERS, GOODMAN & ROSEN, 1997; SPEEDY et al. 1997; SPEEDY et al. 1999). Portanto, tem sido evidenciado que, em atividades de longa duração a redução absoluta de peso corporal podem causar uma superestimação da desidratação (ROGERS, GOODMAN & ROSEN, 1997).

    Na avaliação de atletas praticantes de atividades de longa duração pode ser necessária a aplicação de um fator de correção, o que pode evitar a superestimação da desidratação sendo deste modo indispensável relacionar a perda decorrente do substrato energético (em especial o glicogênio armazenado) como consequência do treinamento e das manipulações dietéticas adotadas antes das provas (MARA et al. 1997).

    Portanto, deve ser realizada uma estra­tégia que reduza não só os riscos da desidratação, mas, também, a hiper-hidratação. Estas situações podem causar um desequilíbrio térmico, no caso da desidratação, e hiponatremia na hiper-hidratação (MARA et al. 1997).

Reposição de líquidos e eletrólitos

    A reposição dos eletrólitos (principalmente sódio) eliminados pelo suor durante a atividade acelera o processo de reidratação pelo aumento da retenção de líquidos e melhora da restauração do volume plasmático após o exercício físico (MAUGHAN, 1994). Proporcionalmente, o suor contém maior quantidade de água e menos sódio e potássio que o plasma sanguíneo. Portanto, os exercícios e a exposição ao calor frequente causam maior concentração de eletrólitos no plasma, pelo que podem ocorrer desequilíbrios de fluidos e eletrólitos de maneira sistêmica (MAUGHAN, 1994; SPEEDY et al. 1997). Pesquisas recentes recomendam que os atletas bebam de 5-7 mL.Kg-1 de água ou bebida esportiva nas 4 horas antes do exercício. Dependendo do esporte e das condições climáticas, as taxas de suor podem variar de 0,3 a mais de 2,4 L.h-1. Para além da água, o suor contém quantidades significativas de sódio (50 mmol.L-1 ou aproximadamente 1 g.L-1), quantidades modestas de potássio e pequenas quantidades de minerais tais como o cloreto de magnésio, embora estas quantidades possam variar (ACSM, 2007, 2009).

    O consumo de bebidas que contenham eletrólitos e hidratos de carbono pode ajudar a manter o equilíbrio hidro-eletrolítico e o desempenho durante as atividades prolongadas (ACSM, 2007, 2009). Fluidos que contenham sódio e potássio ajudam a prevenir as perdas de eletrólitos pelo suor. Bebidas que contenham carboidratos (6 a 8%) são recomendadas para exercícios com duração superior à uma hora (ACSM, 2009). Após a atividade, sobretudo a extenuante, recomenda-se que sejam ingeridos cerca de 450 – 675 mL de líquidos para cada 0,5 kg de peso corporal perdido durante a atividade. O consumo de bebidas ou alimentos que contenham sódio e potássio ajuda a repor as perdas de fluidos e eletrólitos – Tabela 2 (ACSM, 2007, 2009; WILMORE & COSTILL, 1994; PÉRRONET et al, 1991).

Tabela 2. Recomendações básicas para a reposição de flúidos e eletrólitos

Considerações finais

    A presente revisão procurou abordar de uma maneira genérica os aspectos relacionados com a desidratação e a consequente reposição de líquido e eletrólitos. As pesquisas apontam diretrizes para minimizar os efeitos negativos da desidratação e do risco de hiponatremia e, ainda, apontam estratégias para promover e maximizar o desempenho de atletas. É importante ressaltar que, apesar de existirem várias evidências sobre o processo de hidratação e reidratação (ACSM, 2007, 2009; NOAKES, 2003; SPEEDY et al., 1999; MAUGHAN, 1994; WILMORE & COSTILL, 1994; PÉRONNET et al., 1991), é extremamente recomendável que as estratégias de hidratação sejam sempre individualizadas para cada atleta, levando em conta o clima e esporte praticado.

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