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Educação Física: professor, tempos, espaços e equipamentos

La Educación Física: el profesor, los tiempos, los espacios y los equipamientos

The Physical Education: professor, times, spaces and equipments

 

*Graduação em Educação Física pela Universidade Católica de Brasília

Doutorado em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília

Pós Doutorando em Educação pela Universidade de Brasília

**Graduação em Licenciatura em Cultura Física pelo I.S.C.F. “Manuel Fajardo”

Havana-Cuba. Doutorado em Ciências Pedagógicas pelo I.E.C.F. Moscou, Rússia

Diretor do Instituto Latinoamericano de Atividade Física Terapêutica, ILAFiT

Coordenador e Professor do Curso de Educação Física do Centro Universitário, UNIEURO

Professor das Universidades Paulistas, UNIP

Professor do Centro Universitário, UNIPLAN

Ana Cláudia Raposo de Melo*

acraposo@correioweb.com.br

Ramón Fabián Alonso López**

aft200153@uol.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A aula de educação física, que faz parte da cultura escolar como momento para vivenciar as práticas corporais, define-se nos aspectos da escola, pelos professores de educação física, alunos, pelo espaço e materiais disponíveis. Na escola, a educação física está relacionada ao tempo de praticar atividade física, esporte, e mais recentemente ao tempo da inclusão, visando uma participação mais efetiva nas atividades propostas, independente das diferenças. Quanto ao local para as aulas de educação física, há uma cultura que esta deve ser realizada apenas na quadra, porém há outras possibilidades como a biblioteca, lanchonete, pátio, áreas externas da escola. A escassez de espaços, tempos e materiais podem dificultar a execução das atividades planejada, mas ao utilizar os espaços e materiais que fogem ao padrão das aulas de educação física o professor amplia a visão dos alunos sobre esta aula. Independente dos tempos, espaços e equipamentos, os profissionais de educação física, por meio das atividades propostas em suas aulas, devem preparar os alunos a se posicionar diante da cultura corporal, conhecer seus limites e desejos para que possam identificar as práticas que são benéficas para sua saúde bio-psico-social.

          Unitermos: Educação Física. Cultura escolar.

 

Abstract

          The Classes of physical education, which make part of school culture as a time to experience the physical practice, is defined in the aspects of the school, the characterization of students, for space and materials available. In the school environment, physical education is related like a time to perform physical activity, sport, and more recently at the time of inclusion, to participate more effectively in the proposed activities, regardless of differences. As the place for physical education classes, there is a culture that must be performed only on the court, but there are other possibilities such as library, cafeteria, courtyard and outside areas of the school. Independent of space, time and materials may hinder the implementation of activities planned, but to use the spaces and materials that escape the standard physical education class the teacher expands the vision that students relate to this class. Independent of time, space and equipment, physical education classes to prepare students to stand in front of body culture, know your limits and desires for you to identify practices that are beneficial to your health bio-psico-social.

          Keywords: Physical Education. School culture.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 175, Diciembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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    A prática de atividade física por muito tempo não possuía professor, tempos, espaços ou equipamentos específicos ou direcionados para este fim. Em épocas remotas, itens como força, velocidade e destreza eram requisitos básicos para sobrevivência, assim como a prática de longas caminhadas, lutas, pesca, caça e corridas fizeram parte das atividades diárias do homem.

    Ao longo da história, a humanidade começava a se fixar em territórios específicos, assim a prática de atividades físicas e esportivas foram acondicionados em locais construídos ou utilizados para este fim, como as lutas gregas que ocorriam no coliseu. O uso de materiais específicos para a prática de atividade física e esporte também surgiu na antiguidade, a exemplo disto, os antigos egípcios que utilizavam pesos e lanças para treinar seus guerreiros.

    Na idade média a importância da prática da atividade física foi reconhecida como necessária para educação infantil a nível mundial. Quanto ao Brasil, foi na idade contemporânea que a prática de atividades físicas se destacou em nosso ambiente escolar, sendo introduzida nas escolas da corte brasileira como ginástica. Nesta época, as atividades físicas em ambiente escolar ganharam reconhecimento, sendo citada em pareceres da reforma do ensino e tornou-se obrigatória a nível nacional nos diferentes níveis de ensino.

    A história da educação física nas escolas brasileiras tem suas primeiras referências somente no século 19, avançou com a reforma Couto Ferraz em 1851 (Rodrigues e DARIDO, 1998), tendo nesta época como conteúdo os métodos de Ginástica. Porém a consolidação da educação física nas escolas brasileiras aconteceu após a reforma de 1882, onde esta disciplina passou a ser obrigatório para ambos os sexos e em todas as etapas do ensino (Rodrigues e DARIDO, 1998), mas sua trajetória sempre esteve atrelada aos momentos políticos e históricos, (BRACHT & ALMEIDA, 2003).

    A trajetória da educação física apresenta várias abordagens, algumas destas em fases distintas, outras surgiram quase simultaneamente. As abordagens da educação física, no inicio do século XX dentre elas a fase higienista e militarista e posteriormente a esportivização (Medina, 1983; Ghiraldelli Jr, 1988; Castellani Filho, 1999; Soares, 1998) apesar de não apontar claramente tempos, espaços e equipamentos, estava voltada a preparação de homens fortes, ágeis, saudáveis, com bom potencial atlético, seus espaços e equipamentos proporcionavam atividades com estes objetivos, como as pistas, ginásios e quadras, utilizavam materiais e equipamentos específicos para atividades de força e destreza.

    Em oposição à vertente mais tecnicista, esportivista e biologista surgiram novos movimentos na Educação Física Escolar (Soares, 1998; Darido, 2003). como a psicomotricidade, abordagens construtivista, desenvolvimentista, crítico-superadora, crítico-emancipatória, sistêmica; o ensino aberto, a motricidade humana, os jogos cooperativos, a Educação Física Plural e a saúde renovada. Estas abordagens valorizam o processo de aprendizagem, consideravam o conhecimento motor e cultural do aluno, ressaltava a diversificação dos movimentos, onde o aluno é mais participativo e mais crítico, inclusive com poder de decisão sobre as aulas e sugerem a não exclusão dos alunos (Darido e Sanches Neto, 2005; Coletivo de Autores, 1994; Hildebrandt, 1986; Betti, 1994; Guedes & Guedes, 1993).

    Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que atualmente orientam a educação brasileira em todas as esferas, propõe para a educação física a superação da ênfase na aptidão física para o rendimento padronizado, e caracterizá-la de forma mais abrangente, incluindo todas as dimensões do ser humano (Brasil, 1998). Os PCN apontam para a educação física objetivos como conhecer o próprio corpo e dele cuidar, adotando hábitos saudáveis, bem como utilizar as diferentes linguagens, inclusive a corporal (Brasil, 1998). Desta forma, as aulas de educação física estão abertas para espaços, materiais e equipamentos, para que o aluno possa vivenciar uma diversidade de movimentos, possa experimentar uma variação das atividades, que envolva o jogo, dança, esporte e brincadeiras.

    Esta disciplina é citada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN (Brasil, 1998) como uma disciplina e o espaço para se movimentar, apontando que os alunos possuem uma grande necessidade de se movimentar fora do horário do intervalo e as aulas de educação física, muitas vezes são a única situação, o único tempo que os alunos têm para este fim, pois há quase uma cultura escolar, de que lugar de atividade física e movimento são na aula de educação física.

    A escola, em relação às aulas, possui espaços e tempos que podem diferenciar de acordo com as características da disciplina ou da atividade escolar. As aulas regulares geralmente são ministradas nas salas de aulas e as aulas práticas como a educação física e artes são realizadas em ambientes diferenciados como a quadra, o pátio ou outros locais. Quanto aos tempos escolares, Matos (2004) ressalta que o espaço escolar não deve ser estático, e geralmente está constante processo de modificação e integração com o meio. As aulas de educação física, no planejamento do professor, pode se adequar às inúmeras possibilidades de espaço, transpondo os limites impostos pela quadra e até pelos muros presentes nas escolas.

    A cultura escolar, com seus tempos e espaços, segundo Julia (2001), poderia ser desmembrada em muitas culturas que podem ser diferenciadas no mesmo ambiente escolar como a cultura do recreio, cultura das disciplinas, cultura das aulas vagas, da chegada e saída da escola e estas culturas podem remodelar comportamentos e até interferir na formação do caráter das pessoas no ambiente escolar.

    Vago (1995) e Souza (1998) apontam que as aulas de educação física são integradas na cultura escolar não como apenas um tempo de se praticar exercícios, mas sim como um tempo para conhecer, experimentar, sugerir, integrar e modificar os movimentos e práticas corporais existentes. Estes autores lembram que as práticas escolares são construídas no âmbito de cada escola e com as aulas de educação física não poderia ser diferente.

    As aulas de educação física, por se definirem pelos aspectos de cada escola e o professor, que sofre influência das culturas que a compõe, apresentam diferenças no seu planejamento e execução, onde em algumas escolas, as aulas de educação física possuem uma predominância em atividades esportivas, outras em dança, há professores que preferem trabalhar com recreação, outros com a iniciação esportiva. Estas propostas podem variar de acordo com as características da escola, dos alunos, com a disponibilidade de espaço, materiais e tempo, dentre outros fatores, incluindo a formação do professor, que é um sujeito da cultura da escola que expressa às práticas e os fazeres docentes (Paula, 2006).

    Os fazeres docentes, realizados pelo professor, que possui uma experiência construída por conhecimentos técnicos, práticos, desenvolvidos e contextualizados na realidade da escola onde trabalha. A experiência do professor reflete sua identidade, não apenas de profissional, mas esta é enriquecida por suas vivências socioculturais, vivenciadas em um determinado “tempo” e lugar.

    Segundo Sacristan (1995) relembra que a atividade docente é desenvolvida no contexto da experiência cultural do professor. Este professor, que se encontra no âmbito escolar, grande parte das vezes em uma batalha constante, relacionada a falta de espaços e materiais, onde a criatividade é uma necessidade para vencer os inúmeros obstáculos enfrentados diariamente para que a construção de novos saberes. Contudo, as relações da disciplina com o coletivo escolar pode interferir no valor atribuído a ela, pois são envolvidas, nestas relações cotidianas, diferentes representações (Soares, Taffarel e Escobar, 1993).

    A construção de novos saberes que ocorrem nas aulas de educação física escolar, segundo Daólio (2003), reforça que esta disciplina acontece em um processo dinâmico, porém repleto de especificidade. Este autor destaca que para atuar em ambiente escolar, o professor de educação física, além da sua formação acadêmica, necessita fazer interfaces nas suas atividades com os valores, hábitos, tradições, motivações e gostos particulares dos alunos, somados a necessidade de tempos, espaços e materiais desportivos na escola.

    Concordando estes dizeres, Basei (2008) destaca que as práticas corporais como partes integrantes da cultura escolar, não deveria ser homogeneizadas, pois cada aluno traz um histórico motor distinto e um tempo próprio para executar as atividades propostas e cada escola apresenta ainda uma realidade específica, principalmente quanto a espaços, equipamentos e destinação dos tempos escolares.

    As aulas de educação física escolar também são consideradas como um tempo para as práticas corporais que são estabelecidas pela escola ou pelos programas educacionais. Esta se destaca na cultura escolar como tempo para fazer atividade física, tempo para o relaxamento, formação e detecção de talentos esportivos, tempo de recreação e lazer. Os agentes das aulas de educação física – professor e alunos podem determinar como serão utilizados os tempos da educação física.

    Apesar da diversidade de formas de utilização do tempo da educação física, Caparroz (2001) e Bracht e Almeida (2003) afirmam que ainda há uma cultura social de que as aulas de educação física são basicamente um tempo e espaço escolar vinculado ao fenômeno esportivo, o que se justifica, pois alguns professores ainda utilizam o esporte como conteúdo central e referência de movimento em suas aulas. Diante desta cultura, o professor de educação física escolar ainda é vinculado por outros professores, servidores e a direção da escola às atividades que utilizam em suas aulas, ou seja, o professor de educação física se torna o professor de futebol ou professor de ginástica.

    A utilização do tempo, espaços e materiais nas aulas de educação física visando à participação de todos os alunos dependerá da realidade de cada unidade escolar, baseada em muitos fatores, como o planejamento das aulas, a criatividade na elaboração de atividades, a colaboração na utilização de espaços comuns, dentre outros fatores

    A educação física escolar, que segundo Cachorro (2003), pertence à escola e pelo ambiente escolar se define e se realiza, necessita de espaços que proporcionem o suporte necessário para esta atividade. Os espaços mais comumente utilizados para realização das atividades da educação física escolar são as quadras, pátios, ginásios, mas há outros espaços e dependências da escola poderiam ser utilizadas pela educação física.

    Com a utilização de novos espaços para as atividades da educação física seriam ampliados para além dos espaços que foram reservados na arquitetura escolar e principalmente na cultura escolar. Concordando com a possibilidade de utilização de diversos espaços Viñao Frago (1998) aponta que a alteração na utilização do lugar, modifica sua natureza cultural e educativa, sendo assim os professores e os alunos devem se “educar” no sentido de definirem a utilização dos espaços, haverá uma transformação quanto à funcionalidade daquele espaço (Hildebrand-Stramann, 2001).

    A determinação dos espaços escolares pela educação física é clara em algumas escolas e se restringe a espaços culturalmente determinados pela associação às modalidades esportivas como as quadras, ginásios, piscinas, pistas de corrida esportivas, mas ao utilizar outros espaços e recursos, o professor de educação física pode ampliar a visão do aluno sobre esta relação espaço/atividades/materiais, aumentando também o conhecimento sobre as possibilidades das aulas de educação física.

    Dentre alguns exemplos das possibilidades de utilização do espaço para as aulas de educação física, diferente dos habituais, a sala de projeção para apresentação de vídeos sobre eventos esportivos ou reportagens sobre atividade física. Estas exposições posteriormente poderiam gerar discussões ou debates mediados pelo professor, além de reflexões sobre a prática da atividade, aplicação das regras, etc. A lanchonete pode desencadear uma aula sobre alimentação saudável, ou mesmo a relação entre o gasto calórico em uma atividade física, dentre outros temas.

    Outra possibilidade para as aulas de educação física seria utilização da biblioteca, a qual poderia ser mais explorada para pesquisas orientadas sobre temas relacionados à educação física, o auditório que muitas vezes é utilizado somente para apresentação de danças e teatro, poderia ser aproveitado para apresentação dos trabalhos e seminários. As áreas externas da escola, como quadras, praças e parques também são uma possibilidade de espaço, onde durante a aula de educação física o professor pode orientar os alunos sobre a utilização destes espaços para atividade física, esportiva e de lazer.

    Os passeios que são realizados pela escola, que muitas vezes são meramente recreativos, poderiam ser uma possibilidade de atividade relacionada às propostas das aulas de educação física. Para isto, o professor de educação física poderia propor assistir a eventos esportivos e em suas aulas discutir regras, tática ou mesmo propor atividades relacionadas ao evento. Outra possibilidade seria uma caminhada em uma cachoeira ou parque, onde o professor orientaria sobre as especificidades desta atividade, bem como poderia incluir orientações de preservação do meio ambiente. Este passeio pode se tornar uma atividade multidisciplinar, onde o professor de ciências/biologia ao longo da caminhada explicaria dados sobre a flora e fauna locais, o professor de geografia explicaria dados sobre o relevo, dentre outros aspectos.

    A utilização de outros espaços, que muitas vezes fogem a rotina das aulas de educação física, deveria ser explorada não apenas em momentos que a quadra está indisponível como nos dias de chuva ou em horários em que o sol é inadequado para utilizar a quadra, mas sim como parte de um repertório de possibilidades de locais e atividades que ampliaria muito a visão atual das aulas de educação física.

    A falta ou a inadequação dos espaços, ou a dificuldade em adequar a atividade proposta e espaço disponível podem reduzir a qualidade das aulas de educação física (Rodrigues e Darido, 2008). Sendo este, mais um aspecto a ser levado em conta pelo professor ao planejar as aulas de educação física, minimizando a possibilidade de redução da qualidade de suas aulas. Outro fator preocupante em relação ao espaço escolar é a depredação, que ocorre principalmente nas escolas públicas. Quanto a este problema, o professor de educação física poderá desenvolver atitudes de preservação como parte das suas aulas, pois faz parte da cultura dos jovens a utilização dos espaços para atividade física, jogos e esporte (Julia, 2001) e ensiná-los a melhor utilizar e preservar este local pode minimizar as dificuldades de acesso aos locais para práticas esportivas e de lazer.

    Soares (1998) apontam como dificuldade para as aulas de educação física escolar o fato de ter suas aulas colocadas em horários convenientes para outras disciplinas e não de acordo com as necessidades específicas desta atividade. Este autor também destaca que a não integração da educação física no momento do planejamento, discussão e avaliação do trabalho pedagógico que acontece em algumas escolas, gera um distanciamento do professor de educação física da equipe pedagógica da escola. Apesar das dificuldades, Souza (1998) e Vago (1999) destacam que as aulas de educação física devem participar ativamente da cultura escolar, não apenas como tempo para recreação ou esporte e recriar as práticas corporais existente, reforçando assim a possibilidade destas aulas se constituírem em um espaço maior na cultura escolar.

    Farias Filho e Vago (2001) apontam que para que o professor de educação física possa desenvolver com excelência sua prática pedagógica, se tornam necessárias condições de trabalho adequadas, pois a falta de local e materiais disponíveis para realização das atividades é um dos fatores que podem interferir, modificar e até prejudicar o planejamento e a execução das atividades propostas, por outro lado esta escassez de materiais e locais pode estimular a criatividade do professor na elaboração das suas aulas.

    Segundo Aguiar (2009), os materiais utilizados nas aulas de educação física escolar, classificando como tradicional os materiais industrializados que são utilizados em esporte ou atividade física, como as bolas, bastões, redes, colchonetes, cesta de basquete, apito, etc. Como material tradicional alternativo este autor considera todo material utilizado em atividade física e esportiva que é criado pelo professor como a peteca feita de garrafas plásticas, bolas de meia, etc. O material não tradicional inclui os materiais que não são comumente utilizados no esporte ou em atividade física, como livro, giz, papel, figura, fitas, etc. E por último o material não tradicional alternativo que também não são utilizados em atividade física ou esportiva, mas que foram criados pelo professor ou pelos alunos, sendo estes relacionados à educação física, como os painéis, desenhos, cartazes, maquetes, etc.

    A escassez de materiais e equipamentos, principalmente na rede pública de ensino é uma realidade presente, tanto para a educação física, quanto para outras disciplinas, por este motivo, o professor de educação física deve estar apto a planejar e desenvolver atividades de acordo com o material existente ou disponível na instituição de ensino em que trabalha. Aguiar (2009) destaca que se a disponibilidade de materiais for diferente das necessidades adequadas para a realização da atividade planejada pelo professor, a qualidade e a dinâmica das aulas pode ser influenciada, mas vale destacar que há professores que cumprem os objetivos da educação física escolar, desenvolvendo atividades motivantes, mesmo sem materiais ou espaços “adequados” .

    Martinez Bonafé, (2002) ressalta que os materiais muitas vezes são utilizados apenas para um determinado tópico nas aulas de educação física e que estes poderiam ser utilizados não apenas com o objetivo que a cultura escolar ou esportiva o define e sim poderiam ser mais explorados. Concordando com a necessidade de exploração dos materiais nas aulas de educação física, Peiró (2001) apontam que estes devem ser utilizados a partir das reflexões e decisões dos próprios professores, não se limitando as instruções de uso de determinados pacotes curriculares que muitas vezes já vêm estabelecidos de instâncias superiores a escola onde serão realizadas as atividades.

    Em relação ao uso de materiais Parcerisa (1999) aponta que devido diversidade de alunos, os materiais deveriam ser o mais diversificados possíveis, incluíndo materiais alternativos, assim possibilitaria inúmeras possibilidades de atividades nas aulas de educação física, ampliando a perspectiva de formação integral do aluno.

    A sugestão de diversificação no uso de materiais, pode incluir o uso da tecnologia e da mídia, pois atualmente as atividades físicas, os eventos esportivos e assuntos relacionados as práticas corporais e os benefícios da atividade física, tem ampla divulgação em na mídia, textos em revistas e jornais, sendo esta uma forma de contato com práticas corporais contemporânea, que faz parte da realidade diária dos alunos. Estas novas formas de contato com as práticas corporais não devem ser ignoradas, ao contrário o professor deverá instrumentalizar os alunos para manterem uma relação crítica com a tecnologia e a mídia, quanto às informações e tendências sobre a atividade física que são repassadas.

    O esporte virtual, seja em computadores ou em games, pode ser um material a ser utilizado nas aulas de educação física, pois este é uma realidade atraente e cada vez mais presente na vida dos jovens. O desafio atual para a educação física é a integração destes dois espaços distintos: a competição virtual e a prática real de atividade física e esportiva, que podem ser transplantados para a realidade das aulas de educação física, inclusive ocasionando uma discussão teórica sobre regras, benefícios e maléficos para saúde, dentre outros temas que podem ser explorados pelo professor de educação física.

    As comunidades virtuais, tão populares, bem difundidas e bem aceitas pelos jovens podem ser utilizadas como um aliado didático para discussões e troca de informações sobre inúmeros temas que envolvem a prática de atividades físicas e esporte. Concordando com estes dados Pires e Bittencourt (1999) ressaltam que não podemos desconsiderar as informações e conhecimentos sobre a educação física que é produzida pela mídia, pois estas fazem parte do cotidiano dos alunos, mas a integração das tecnologias com as técnicas didáticas convencionais ainda são um desafio para a educação física.

    O uso da tecnologia e mídia nas aulas de educação física se depara com um problema, pois grande parte dos professores hoje atuante foi formada com técnicas e materiais convencionais e por este motivo tendem a ministrar suas aulas com técnicas e materiais convencionais. Porém os professores, não só os que ministram as aulas de educação física e sim todos, deveriam considerar que o uso da tecnologia na educação pode ser um grande aliado, pois quando bem direcionados oferece objetos, espaços e instrumentos capazes de renovar situações e propor outras ainda mais estimulantes.

    Independente dos espaços, tempos e equipamentos, a aula de educação física, segundo PCN (Brasil, 1998) deve introduzir e integrar o aluno na cultura corporal de movimento formando um cidadão que vai usufruir de forma consciente do jogo, do esporte, dança, das diferentes práticas de atividade física em benefício da sua qualidade de vida. Sendo assim a educação física tem a responsabilidade de formar cidadão capaz de posicionar-se criticamente diante das formas de cultura corporal, bem como, prepará-lo para aderir a programas de atividade física, conhecer seus limites e desejos, para que possa avaliar a qualidade do que lhe é oferecido e identificar as práticas que melhor promovam a seu bem estar. Estas afirmações são respaldadas pelos dizeres de Betti (1994) ao apontar que a educação física deve levar o aluno a descobrir motivos e sentidos nas praticas corporais.

Considerações finais

    As aulas de educação física, que se desenvolve no ambiente escolar, possui tempos, espaços e materiais cristalizados na cultura escolar, porém cabe ao professor ampliar esta visão, tanto em seus alunos, como junto aos demais agentes escolares. Para isto as aulas de educação física devem explorar ao máximo todas as possibilidades de espaços, tempos e materiais, sejam estes formais ou informais, bem como a forma de utilização seja específica deste material ou espaço, mas também a utilização de espaços e materiais de formas diferenciadas das habituais.

    Utilizando de forma não convencional os espaços e materiais, o professor de educação física pode, com criatividade, motivar os alunos a participar de suas aulas. A utilização diferenciada dos materiais/equipamentos e locais no ambiente escolar e áreas externas à escola, além de motivante pode minimizar um grande problema, principalmente nas escolas públicas, que apresentam grande dificuldade na relação número de alunos, materiais e espaço disponíveis..

    A falta de espaço, tempos e equipamentos adequados não devem reduzir as possibilidades das aulas de educação física escolar, sendo os professores conhecedores da realidade onde atuam, podem encontrar formas de contornar estas dificuldades, seja utilizando espaços da comunidade como as quadras, pistas de caminhada ou espaços abertos. Quanto ao material, o professor de educação física pode confeccionar os materiais para as atividades planejadas, ou mesmo planejar atividades de acordo com o material disponível ou produzido pelos alunos, adaptando assim as atividades a sua realidade de trabalho.

    O momento escolar atual requer a inclusão de todos os alunos nas diversas atividades escolares, inclusive as aulas de educação física, independente das dificuldades motoras, culturais, diferenças de idade, de gênero. As aulas de educação física devem proporcionar aos alunos uma vivência motora adequada aos seus limites e principalmente a suas possibilidades.

    Apesar das dificuldades com tempos e espaços escolares, além de outros fatores que influenciam diretamente nas aulas de educação física como o número de alunos em cada turma, a variação de idade entre os alunos de uma mesma turma, os PCN (Brasil, 1998) apontam que a educação física escolar não deve reproduzir a da falta de oportunidades e possibilidades existente na cultura escolar ou na cultura local onde está inserida a escola, mas sim, através da versatilidade e criatividade do professor, apresentar novas possibilidades, para não se associar ao processo de empobrecimento e descaracterização cultural.

    O conhecimento de todas as possibilidades de utilização dos espaços, tempos, equipamentos e a caracterização dos seus alunos, bem como identificar os problemas que interferem diretamente no planejamento e realização das atividades, pode facilitar o trabalho do professor em tornar as aulas de educação física escolar mais atraente e participativa.

    Para finalizar, vale ressaltar que um dos desafios atuais dos professores são uma educação que respeite a diversidade dos seres humanos, procurando novas possibilidades, criando novos caminhos, tempos e espaço que possibilitem vivenciar a cultura de movimento de forma mais ampla e que possam atender a diversidade que abrange o coletivo escolar (Betti, 1994).

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 175 | Buenos Aires, Diciembre de 2012
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