Corporeidade e deficiência
visual: o cotidiano La corporeidad y la discapacidad visual: la Educación Física diaria en cuestión |
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*Faculdade Presidente Antônio Carlos de Ponte Nova Departamento de Educação Física. Ponte Nova, Minas Gerais **Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Departamento de Esporte, Ciência, Exercício e Saúde. Vila Real, Portugal (Brasil) |
Samuel Gonçalves Pinto* Roseni Aparecida de Paula* Reginaldo Lúcio Lopes da Veiga* Mauro Lucio Mazini Filho** Dihogo Gama de Matos** |
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Resumo A Educação Física no processo inclusivo pode proporcionar ao aluno a convivência com as diferenças físicas, mentais e sensoriais, com isso despertando no aluno sentimentos de solidariedade, cooperação, respeito, fazendo com que o mesmo vivencie situações de diversidade. O objetivo desse estudo foi de perceber de que maneira a Educação Física influencia no cotidiano do aluno. A população estudada foi composta por um aluno com deficiência visual,, matriculado em uma instituição de ensino regular do município de Ponte Nova-MG, professores de Educação Física, supervisores, pedagogos e um representante de sua unidade familiar. Para fins de coleta de dados, será utilizado o questionário semi-estruturado (para os professores), entrevistas (alunos e família) e observação das aulas. Os dados foram tabulados e analisados, dialogando com a literatura na área. As pessoas com necessidades educacionais especiais inseridas nas aulas de Educação Física, lidam com a possibilidade de serem considerados como capazes, apesar de alguns movimentos serem restritos, o planejamento docente pode contribuir para a ressignificação de padrões de normalidade e capacidade. Unitermos: Educação Física. Deficiência visual. Inclusão.
Abstract Physical Education in the inclusive process can provide the student living with physical differences, mental and sensory thereby arousing the student feelings of solidarity, cooperation, respect, causing it to experience situations of diversity. The aim of this study was to understand how the influences in daily physical education student. The study population was comprised of a visually impaired student, enrolled in an institution of education in the municipality of Ponte Nova-MG, Physical Education teachers, supervisors, educators and a representative of their family unit. For purposes of data collection, we will use the semi-structured questionnaire (for teachers), interviews (students and families) and observation of lessons. Data were tabulated and analyzed, dialoguing with the literature in the area. People with special needs included in physical education classes, deal with the possibility of being considered capable, although some movements are restricted, planning teacher can contribute to the redefinition of normal standards and capacity. Keywords: Physical Education. Visual impairment. Inclusion.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 175, Diciembre de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Os benefícios do processo de inclusão são diversos para todos os envolvidos, o comportamento dos alunos, professores e a sociedade em geral nesse processo faz com que a possibilidade de integração condicione o aprendizado e propicia que o mesmo seja realmente significativo.
A Educação Física no processo inclusivo pode proporcionar ao aluno a conviver com as diferenças físicas e mentais, com isso "despertando" no aluno sentimentos de solidariedade, cooperação, respeito, fazendo com isso q o aluno tenha certeza de que todos somos iguais, não se importando com as diferenças.
As pessoas com necessidades educacionais especiais inseridas nas aulas de Educação Física, nelas despertam sentimentos de que elas são capazes, apesar de alguns movimentos serem restrito, a aula de educação física podem a ajudar a esses portadores a descobrir talentos que até ela mesma se desconhecem, ou seja, esses portadores não sentem vergonha e sim 'encaram as aulas de educação como obstáculos a serem vencidos
O objetivo desse estudo foi de perceber de que maneira o cotidiano da Educação Física se processa com a presença da deficiência visual
Deficiência visual e movimento corporal
Segundo Junior & Santos (2001) nos anos 60 houve expansão do ensino integrado, que aconteceu por ter sido incluída na Legislação de Ensino pela primeira vez no Brasil, um dispositivo referente à educação de Excepcionais - Lei de Diretrizes e Bases, 1971: "Artigo 88 - A educação de excepcionais deve, no que for possível, enquadrar-se no Sistema Geral de Educação, a fim de integrá-los na comunidade". Esse foi um grande passo para que acontecesse uma maior integração entre as pessoas ditas normais e as cegas, proporcionando a merecida igualdade de direitos e tentando findar o preconceito. Hoje em dia, há um grande apelo pela educação inclusiva; esperamos que esse movimento cresça e realmente "inclua" todas as pessoas portadoras de necessidades especiais.
A Educação física enfatiza o conhecimento e domínio corporal e busca, através de atividades lúdicas e esportivas, servir como importante elemento de desenvolvimento geral, aumentando o potencial de experimentação corporal de situações de aprendizagem e de aquisição de conceitos básicos. Desenvolve a autoconfiança, a auto-iniciativa e a auto-estima, além de atuar como elemento facilitador de um desenvolvimento motor adequado e propiciador de situações de interação social.
Há algumas atividades comumente praticadas pelos deficientes visuais como: natação, judô, musculação, dança, recreação, atletismo, futebol, futebol de salão, xadrez, além de torball e o goalball (modalidades esportivas que foram inventadas e desenvolvidas especificamente para pessoas portadoras de necessidades visuais especiais).
Com relação ao domínio sócio-afetivo, freqüentemente apresentam medo de situações e ambientes desconhecidos, dependência, dificuldade de relacionamento e integração, insegurança, baixa auto-estima e autoconfiança. Já no campo cognitivo podemos observar limitação na captação de estímulos e dificuldade na formação de conceitos. Ainda tem um grande comprometimento na área psicomotora, principalmente pela impossibilidade de imitação que dificulta a aprendizagem e diferentes vivências motoras e sensoriais.
Sem dúvida a Educação Física é um importante aliado na interação social, no incremento das funções da inteligência e principalmente no desenvolvimento das condições motoras dos indivíduos cegos. Através de atividades lúdicas, podemos alcançar os três domínios e melhorar a qualidade de vida dessas pessoas. As defasagens no desenvolvimento geral da criança cega, que se apresentam como estatisticamente relevantes, são mais acentuados na área motora. Estas se dão, não por um déficit anátomo-fisiológico inerente à criança congenitamente cega, mas sim pela limitação de experiências motoras em diversos níveis.
Conhecendo o sujeito do processo: sentidos e expressões do cotidiano
A seguir estão dispostas as análises realizadas a partir da leitura das sensações vivenciadas pelo aluno do ensino fundamental, aqui denominado como Hércules. O mesmo possui deficiência visual, é residente na cidade de Sericita-MG e freqüenta uma escola de ensino regular, em uma sala para “portadores de deficiência”, durante quatro dias da semana e uma escola inclusiva, uma vez por semana.
Quando questionado sobre o que ele mais gosta na escola, Hércules nos retrata que:
“Gosto de estudar o braile, pois o mesmo vai fazer com que eu possa entender mais do mundo e das coisas, entender melhor as coisas, conhecer o que ajuda é que os professores são bons me atendem com carinho e atenção”
A compreensão da existência do rótulo e do estigma que recaem sobre o indivíduo e a sua corporeidade, são características presentes no cotidiano, toda e qualquer forma de superação destes só se concretiza a partir e através de uma educação corporalizada, ou seja, uma proposta pedagógica que busque uma superação da dicotomia corpo/mente (Assmann, 1994).
As crianças com deficiência convivendo em sociedade, imersa em preconceitos e estigmas tem que participar diretamente com pessoas “normais”, do processo educativo, para que essas pessoas possam entender que a deficiência não significa incapacidade e sim possibilidade de sucesso. A escola é base de tudo e todos podem tirar proveito dela, para que a inclusão aconteça terá que haver profissionais capacitados para ajudar nessa integração e assim amenizar as diferenças, através de adaptações diversas.
No que se refere ao envolvimento com outras crianças, Hércules, nos apresenta que:
“Todos são meus amigos. Me tratam bem e me ajudam. Sempre participo das brincadeiras com meus amigos”
Percebemos aqui a noção de ajuda. Hércules mostra, demonstra e assume suas necessidades especiais. Elas fazem parte do seu cotidiano. O seu envolvimento com seus pares, faz com que dificuldades e limites possam ser superados.
A atividade lúdica, quando planejada com responsabilidade e comprometimento social, pode se revelar em um elemento de ação educativa concreta e de grande potencial para a interação social (Carmo, 1991)
Uma das formas para a interação social dessas crianças pode ser as atividades lúdicas, porque tanto na escola ou fora dela, é atividade que mais será praticada, pois o jogo pode tematizar situações do seu cotidiano, aguçando outros sentidos, possibilitando a integração social
No que se refere ao cotidiano, Hércules relata que:
“Meu dia é normal, me levanto ás 6 da manhã para ir á escola, ao chegar a casa eu vou assisitir tv, almoçar e depois faço trabalho de escola ou vou ajudar meu pai no trabalho (comércio). A tarde sempre vou jogar bola num campinho perto de casa com meus irmãos. A noite sempre assisto tv e durmo por volta das 22:00 hrs. Eu gostaria de jogar vídeo game todos os dias”.
Quando questionado sobre sua relação com a Educação Física, Hércules nos mostra que:
“O que mais gosto é de jogar futebol e xadrez, junto com todos meus colegas. Faço todas as atividades que quero. Eu acho que não falta nada nas aulas de educação Física, as aulas deveriam são feitas numa quadra coberta. Meu sonho é ser professor de Educação Física”
Desta forma a Educação Física, enquanto disciplina curricular integrada no contexto da escola, tem como compromisso trabalhar com todos os alunos, fazendo uso das diversas funções do movimento para transmitir os conhecimentos referentes a cultura do movimento, bem como contribuir para melhoria da qualidade de vida destes alunos (COGEN, 1998).
A Educação física traz uma idéia de superar obstáculos, de proximidade e liberdade de movimentos, talvez por isso que é a disciplina que os alunos mais gostam, e para as crianças ela é de extrema importância, porque é o momento que elas vão ter mais contatos com as outras crianças, vão conseguir descobrir as dificuldades e quando elas são superadas, a satisfação dessas crianças devem ser emocionante.
Quando questionado sobre o que ele não gosta na escola, Hércules demonstra que:
“O barulho do recreio me incomoda um pouco”
Por ser a corporeidade um constructo sócio histórico, a escola se revela como um dos espaços, onde estabelecem as relações constituidoras do homem e o mundo. A aprendizagem com base no se- movimentar revela-se como condição para que a pessoa portadora de deficiência se identifique enquanto sujeito histórico, fazedor da história do mundo e de sua própria história.
Nessa hora a criança, talvez perca um pouco da referência que ele possui com o mundo, pois com certeza por falta da sua visão, os sentidos da audição é mais aguçado, e com o barulho do recreio, muitas vezes ao mesmo tempo a criança sentirá um pouco incomodado, sentindo instabilidade e falta de confiança.
Considerações finais
Os alunos aprendem a respeitar e a lidar com as diferenças do próximo, a inclusão possibilita a todos a igualdade, a solidariedade. Conviver e aprender com as diferenças , com isso , formará cidadão ativos e com mais humanos para a repreensão de qualquer forma de preconceito que possa surgir.
As aulas de Educação Física se mostram como o momento onde é vivenciado a superação das dificuldades pelos alunos com deficiência e a reação dos demais alunos “normais” diante de tal deficiência. O professor tem uma grande importância nesse processo , porque é através dele que a palavra “inclusão será ou não inserida e vivenciada durante as aulas. De maneira alguma o aluno poderá ser excluído das aulas, ele terá que planejar suas aulas de forma que todos possam participar, ou seja, fazer aulas adaptativas.Por exemplo, o que se passa na mente de um aluno com deficiência que talvez se sinta não capaz de realizar tal movimento ou praticar uma modalidade de esporte, quando ele o realiza com ajuda dos professor ou do seu colega, quanta satisfação ele deverá sentir.Sendo assim, fica claro o “poder” que a referida disciplina tem na transformação do ser humano.
A escola para ser inclusiva deverá ter o corpo docente capacitado para o trabalho com essas crianças, plano pedagógico específico e possuir espaço físico adaptados para certos alunos. A inclusão nas escolas ainda está em fase de estruturação, são poucas as escolas inclusivas que existem. O papel da escola é de formar cidadãos capazes de compreender e modificar a realidade social que os insere, quando ela assume o papel de ser inclusiva ela traz para si a responsabilidade da mudança da sociedade no presente, onde ajudará na formação de alunos, trazendo para o debate a questão das diferenças.
Hércules demonstra uma relação muito forte com a Educação Física, na escola ou no seu cotidiano o movimento corporal está bastante presente. Ela é responsável pelo seu “sorriso” ao dizer que deseja ser no futuro um professor e jogador de futebol mas, seu repertório de movimentos vai muito além disso ele é capaz de propiciar experiências e emoções que são capazes de transformação e a sua relação com a sociedade.
Percebemos que o Hércules tem todo apoio da família, apesar das condições sócio-econômicas. Para a família, Hércules é um garoto cheio de sonhos, para ele sua deficiência visual é um condicionante de vida, se mostra como diferença, mas passa longe da questão da incapacidade.
O trabalho desenvolvido na escola estudada mostra a importância da inclusão nas escolas, os alunos são estimulados à possibilidade de integração na sociedade, aumentando assim melhores oportunidades para sua vidas. Permitindo também o rompimento de barreiras no que se refere ao encontro com a realidade do outro.
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