Índice de conicidade relacionado à hipertensão arterial em mulheres El índice de conicidad relacionado con la hipertensión arterial en mujeres Conicity index related to hypertension in woman |
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*Universidade Federal do Paraná **Universidade Estadual do Norte do Paraná (Brasil) |
Marcos Antonio Schembovski Junior* ms.personaltrainer@hotmail.com Michael Pereira da Silva* Danilo Saad Soares** Guilherme da Silva Gasparotto* Maria Raquel Oliveira Bueno** Luiz Roberto Paez Dib** Rodolfo André Dellagrana* Rodrigo Bozza** Antonio Stabelini Neto** Wagner de Campos* |
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Resumo As doenças cardiovasculares destacam-se como principal causa de morte para ambos os sexos, onde a hipertensão arterial é causa direta ou fator de risco para estas patologias. O avanço da idade e a distribuição de gordura corporal apresentam-se como fatores de risco para a hipertensão arterial, e em mulheres isto se agrava com a chegada da menopausa. Desta forma, o presente estudo tem como objetivo verificar a relação entre o Índice de Conicidade e a hipertensão arterial em mulheres de meia idade e idosas. Foram selecionadas 72 mulheres com idade superior a 40 anos e estas submetidas a aferições de estatura, massa corporal, circunferência de cintura e pressão arterial. O índice de conicidade foi obtido através da fórmula proposta por Valdez et al. (1993) e utilizando o ponto de corte de 1,18. Utilizou-se a distribuição de freqüência, correlação de Pearson e a regressão logística direcionada a obtenção do odds ratio com intervalo de confiança de 95%, adotando p<0,05. O índice de conicidade correlacionou-se positivamente com a pressão arterial sistólica e diastólica e a regressão logística identificou razões de chances significativas para o índice de conicidade aumentado, demonstrando que ponto de corte utilizado apresentou eficiência em sua relação com a hipertensão arterial nesta população específica. Unitermos: Antropometria. Hipertensão arterial. Mulheres.
Abstract Cardiovascular diseases have emerged as leading cause of death for both sexes, where hypertension is the direct cause or risk factor for these pathologies. The increasing age and body fat distribution are presented as risk factors for hypertension, and in women it gets worse with the arrival of menopause. Thus, this study, aims to determine the relationship between the conicity index and hypertension in middle-aged women and elderly. Were selected 72 women aged over 40 years and those subjected to measurements of height, body weight, waist circumference and blood pressure, the conicity index was obtained using the formula proposed by Valdez et al. (1993) and using the cutoff point of 1.18. We used the frequency distribution, Pearson correlation and logistic regression analysis aimed at obtaining the odds ratio with confidence interval of 95% by adopting p <0.05. The conicity index was positively correlated with systolic and diastolic blood pressure, and logistic regression identified significant odds ratios for the conicity index increased, indicating that the cutoff point used was efficient in its relationship with hypertension in this specific population.Keywords: Anthropometry. Hypertension. Women.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 175, Diciembre de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
As doenças cardiovasculares (DCV) destacam-se como principal causa de morte para ambos os sexos, representando cerca de um terço da mortalidade no Brasil1,2. Dentre as patologias cardiovasculares, a hipertensão arterial (HA) é causa direta ou fator de risco para esta condição3.
Neste sentido, a ocorrência da hipertensão arterial em mulheres é agravada com o avanço da idade, com uma atenção especial à chegada da menopausa4,5. Além deste fator, a obesidade apresenta-se como uma condição de risco independente para as doenças cardiovasculares.
Contudo, a melhor explicação para a associação entre obesidade e DCV é que esta ocorreria em indivíduos que apresentassem excesso de adiposidade localizada na região abdominal ou central, mesmo na ausência da obesidade generalizada 6,7,8, 9,10.
Diversos são os métodos de avaliação da distribuição da gordura corporal, contudo, devido à facilidade da aplicação, menor custo e boa relação com a gordura abdominal, os métodos antropométricos apresentam-se como instrumento eficiente para a identificação da distribuição central de gordura corporal e conseqüentemente a identificação do risco cardiovascular 11.
Dentre os métodos antropométricos, destacam-se a circunferência da cintura, relação cintura/quadril (RCQ), a razão cintura/estatura (RCE) e o índice de conicidade (Índice C)8, 9, 12.
O Índice C foi proposto no início da década de 90 para avaliação da obesidade e distribuição da gordura corporal13, entretanto, pouco se tem estudado sobre a sua associação com as DCV, mais especificamente a hipertensão arterial em mulheres brasileiras14.
Atento a estes aspectos, este estudo tem como objetivo verificar a relação entre o Índice C e a hipertensão arterial em mulheres de meia idade e idosas.
Materiais e métodos
População e amostra
A amostra foi composta por 72 mulheres, com idade superior a 40 anos, participantes dos programas de atividade física denominados, Academia da Terceira Idade (ATI) em Jacarezinho-PR e Vida Melhor Terceira Idade situado em Siqueira Campos-PR. Este estudo foi conduzido de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e aprovado pelo comitê de ética em pesquisa envolvendo seres humanos da UFPR, sob o protocolo número: 018-06 iniciando após as avaliadas assinarem um termo de consentimento livre esclarecido concordando com os procedimentos a serem realizados.
Instrumentos e procedimentos
Todas as participantes da pesquisa foram submetidas a uma anamnese de histórico clínico, para identificar o uso de medicamentos anti-hipertensivos.
A estatura foi medida através de uma fita métrica inextensível e fixada na parede com precisão de 0,1 cm e com 2,20 m de escore máximo.
Para a aferição da massa corporal utilizou-se uma balança digital portátil da marca Plenna, com resolução de 100 g, estando as avaliadas trajando roupas leves.
A circunferência da cintura foi medida com a avaliada na posição ereta, , na distância média entre a ultima costela flutuante e a crista ilíaca. A medição foi feita com uma trena antropométrica com escore máximo de 150cm, escalonada em 0,1cm15.
Mediante valores obtidos na aferição de massa corporal, estatura e circunferência de cintura o Índice de Conicidade (Índice C) foi calculado pela seguinte fórmula: Índice C= circunferência de cintura (m)/(0,109 x raiz quadrada da massa corporal (Kg)/estatura (m))13. O ponto de corte utilizado para o Índice C foi de 1,18 proposto por Pitanga e Lessa14 para mulheres.
A aferição da pressão arterial foi realizada no braço direito de cada avaliada mediante utilização de esfigmomanômetro aneróide e estetoscópio, e a classificação da HA seguiu procedimentos prévios sugeridos pela Sociedade Brasileira de Cardiologia16 (PAS ≥ 140 mmHg e/ou PAD ≥ 90mmHg, ou identificação de utilização de medicamento anti-hipertensivo).
Análise estatística
O método descritivo foi utilizado para a identificação dos valores mínimos, máximos, médios e desvio padrão das variáveis estudadas. A distribuição de freqüência foi utilizada para a identificação da proporção de mulheres com valores indesejáveis de Índice C e de pressão arterial.
Buscando verificar a relação entre o Índice C, PAS e PAD, foram calculados os coeficientes de correlação de Pearson. Em seguida foi realizada a regressão logística binária para a estimativa da razão de chances (odds ratio) das mulheres hipertensas apresentarem índice C aumentado (≥1,18). Nesta análise foi adotado um intervalo de confiança de 95%.
Todos os procedimentos estatísticos foram realizados mediante utilização do software SPSS ® for Windows ® versão 15.0. O nível de significância adotado foi de p<0,05 para todas as análises.
Resultados
A caracterização da amostra, com os valores mínimos, máximos, a média e o desvio padrão das variáveis analisadas são apresentadas na tabela 1.
Tabela 1. Caracterização da amostra
Foi observado que 61,1% das mulheres avaliadas apresentaram hipertensão arterial e 66,7% apresentaram Índice C elevado (≥1,18).
O índice C apresentou correlação positiva significante com a PAS (r=0,37, p=0,001) e com a PAD (r=0,28, p=0,01) demonstrando elevação dos valores de pressão arterial com a elevação dos valores deste índice antropométrico.
A proporção de mulheres com HA de acordo com o ponto de corte do Índice C e a estimativa da razão de chances estão dispostas na tabela 2. Foi observado que as mulheres com Índice C aumentado apresentaram 3,4 vezes maior razão de chances de apresentar HA.
Tabela 2. Prevalência (%) e odds ratio (OR) de hipertensão arterial de acordo com o ponto de corte do Índice-C
Discussão
A alta prevalência de HA verificada no presente estudo (61,1%) foi superior a amplitude apresentada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia16 que demonstra uma variação de 22,3% a 43,9% de acordo com a região estudada, contudo, cabe ressaltar a elevada faixa etária específica na seleção da amostra.
A construção de indicadores antropométricos de boa acurácia e baixo custo, relacionados à obesidade e principalmente a distribuição do tecido adiposo, vem adquirindo grande destaque como instrumento de triagem para identificar o risco cardiovascular9,17. Diante disto, o presente estudo verificou correlação significante, porém baixa, do Índice C com a PAS e a PAD nesta população, corroborando com a investigação de Yasmin e Mascie-Taylor18, que analisaram 202 mulheres britânicas com idades entre 40 e 69 anos.
Ao analisar esta variável de forma categórica, verificou-se também uma associação significante do Índice C elevado com a HA, visto que ao se estimar a razão de chances as mulheres com HA apresentaram 3,4 vezes maior razão de chances de apresentar Índice C aumentado em comparação às mulheres sem HA.
Valdez et al.19 desenvolveram o Índice C como um indicador de risco cardiovascular, baseado na idéia de que as pessoas que apresentam acúmulo de gordura em volta da região central do tronco tenham a forma do corpo parecida com um duplo cone, disposto um sobre o outro, desta forma oferecendo uma base de adaptação da circunferência da cintura para a altura e peso.
Neste sentido, Gomes et al.11 verificaram que o Índice C foi capaz de identificar 90% dos casos de gordura corporal acima dos valores de referência para a saúde em mulheres com idade superior a 60 anos.
Devido ao baixo número de estudos nacionais verificando a relação deste indicador antropométrico com fatores de risco cardiovascular, mais especificamente a HA7,20, pouco se sabe sobre o poder preditor do Índice C, contudo, este se apresenta como um bom indicador de obesidade central14.
A elevação da gordura visceral localizada na região abdominal está associada à elevação dos níveis de pressão arterial mediada principalmente pela maior resistência insulínica favorecida pelo acúmulo de gordura na região abdominal6, 21.
Verifica-se também que a proporção de indivíduos com obesidade centralizada acima dos valores de referência aumenta com a idade e mulheres apresentaram maior razão de chances em relação aos homens22. Fator este também evidenciado por Rosini et al.23 que ao realizarem estudo somente com população hipertensa (média de idade de 57,3 anos) verificou no sexo feminino, valores médios de circunferência de cintura acima dos valores recomendados (92,3 ±12,8 cm) sendo que o mesmo não foi visto para o sexo masculino (98,5± 11,1 cm).
No presente estudo, foram selecionadas mulheres com idade igual ou superior a 40 anos, e tal faixa etária é conhecida como a de início do período do climatério que se estende à aproximadamente 65 anos, e sabe-se que as necessidades energéticas diminuem progressivamente ao longo dos anos, e modificações físicas, caracterizado pela perda de massa muscular e ganho de tecido adiposo, são observadas na mulher climatérica22.
Tal fator, juntamente com a diminuição dos níveis circulantes de estrógeno e progesterona, apresenta-se como agravante para a aquisição da HA por mulheres nesta fase da vida, visto a função protetora destes hormônios no sistema cardiovascular 24, 25.
A maior razão de chances para o quadro de HA em mulheres com Índice C aumentado demonstra a eficiência do ponto de corte sugerido por Pitanga e Lessa14 na identificação deste fator de risco cardiovascular, contudo, tais autores reforçam a necessidade de se considerar que existem modificações na composição corporal com o processo do envelhecimento, o que poderia gerar pontos de corte do índice C para diferentes grupos etários.
Os resultados apresentados pelo presente estudo devem ser vistos com cautela devido ao baixo número amostral, e a faixa etária específica. Desta forma dificultando a generalização dos dados para estudos de base populacional.
Conclusão
O Índice C apresentou relação positiva com a PAS e PAD, demonstrando elevação linear dos valores pressóricos com a elevação deste índice antropométrico em mulheres com idade superior a 40 anos.
O ponto de corte sugerido por Pitanga e Lessa14 apresentou eficiência em sua relação com a hipertensão arterial nesta população específica, visto que as que mulheres hipertensas apresentaram 3,4 vezes mais chances de apresentar Índice C ≥1,18 do que as mulheres com níveis pressóricos adequados.
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