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Biossegurança e acidente de trabalho: percepção de cirurgiões-dentistas

Bioseguridad y accidentes de trabajo: la percepción de los cirujanos dentistas

 

*Graduada em Ciências Biológicas

**Mestre em Cuidados Primários em Saúde

***Especialista em Saúde da Família

****Doutorado em Ciências

*****Graduando em Odontologia

Universidade Estadual de Montes Claros, Montes Claros, Minas Gerais

(Brasil)

Karla Nayara de Oliveira Santana*

kn.unimontes@yahoo.com.br

Danilo Cangussu Mendes**

danilocangussuodonto@yahoo.com.br

Ítala Apoliana Guimarães Amorim***

italaguimaraes2@yahoo.com.br

Maísa Tavares de Souza Leite****

mtsiv@terra.com.br

Christina Mameluque Lúcio***

tinamameluque@hotmail.com

Gabriel de Oliveira Lima*****

gabriel_oliveiraking@hotmail.com

Carlos Alberto Quintão Rodrigues**

carlosquintao@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Introdução: A Equipe de Saúde Bucal (ESB) foi inserida na Estratégia Saúde da Família (ESF) em 2000 e a partir dessa introdução, o controle de infecção em odontologia tem sido bastante discutido. Objetivo: Avaliar os procedimentos de biossegurança realizados pela equipe de saúde bucal (ESB) e verificar a associação da ocorrência de acidente com material pérfuro-cortante e variáveis relacionadas ao perfil dos cirurgiões-dentistas no contexto da Atenção Primária à Saúde. Material e Método: Foi desenvolvido um estudo quantitativo/ transversal e para a coleta de dados utilizou-se um questionário aplicado aos cirurgiões-dentistas. O questionário consiste na caracterização do perfil do profissional e outra parte composta por questões sobre métodos de esterilização e desinfecção, barreiras técnicas de proteção e procedimentos de rotina realizados nos consultórios. Os dados foram apresentados inicialmente de forma descritiva e posteriormente por meio da análise bivariada utilizando o teste qui-quadrado. Resultados: Evidenciou-se um predomínio de cirurgiões-dentistas com até 5 anos de formado, do sexo feminino, com pós- graduação, atuando no serviço público e privado (51,6%) e aproximadamente 45% relataram algum acidente com material pérfuro-cortante. As análises bivariadas mostraram valores não significativos estatisticamente, com exceção da análise feita entre a ocorrência de acidente com material pérfuro-cortante e sexo (p=0,014). Conclusão: Dessa forma, o estudo verificou a necessidade de renovação e atualização dos conhecimentos, com a finalidade de minimizar os riscos e danos causados por pequenos descuidos relacionados à biossegurança.

          Unitermos: Avaliação. Acidente de trabalho. Odontologia. Biossegurança. Atenção Primária à Saúde.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 175, Diciembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A construção do Sistema Único de Saúde (SUS) avançou de forma substancial nos últimos anos e desde 1978, com a realização da Conferência de Alma-Ata, a Atenção Básica à Saúde ou APS tem sido caracterizada como o primeiro contato do usuário com o sistema de saúde1. Com esse propósito, o Programa de Saúde da Família (PSF), foi implantado no Brasil em 1994 e concebido para ser a porta de entrada do sistema local de saúde e desenvolver a atenção básica de forma integral e resolutiva 2. Atualmente, o PSF passou a ser chamado de Estratégia Saúde da Família (ESF), por não se tratar mais apenas de um "programa". Segundo Campos et al. (2002)3 a ESF no Brasil é original e inédita em sua concepção, não havendo registro de modelos semelhantes em outros países, baseando-se no trabalho multiprofissional como processo básico para a integralidade do cuidado na atenção primária à saúde.

    A inclusão da ESB como parte do Programa Saúde da Família foi definida efetivamente a partir da Portaria nº 1.444, de 28 de dezembro de 2000, do Ministério da Saúde 4. Segundo Matos (2004) 5, os principais objetivos da implantação de saúde bucal na ESF foram melhorar as condições de saúde bucal da população brasileira, ampliar o acesso coletivo, as ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde bucal. Com essa inserção dos serviços odontológicos, o controle de infecção em odontologia tem sido bastante discutido, em virtude do elevado risco de contaminação durante o atendimento clínico-cirúrgico, permitindo a ocorrência de infecções cruzadas e a proliferação de doenças.6

    Conforme Santana (2010)7, nos locais de saúde são realizadas diariamente e de forma constante a manipulação de agulhas, bisturis, cateteres e outros materiais pérfuro- cortantes. Vários trabalhos demonstram que, apesar dos cirurgiões-dentistas estarem cientes da necessidade de aplicar os métodos estudados para controle da infecção, nem todos obedece às regras estabelecidas, o que culmina em possíveis disseminações de patologias 8,9,10,11. São várias as circunstâncias que propiciam condições para a ocorrência de acidentes com pérfuro-cortantes na área da saúde. Os acidentes de trabalho desta natureza muitas vezes têm causas associadas com a não observância de normas, imperícia, condições inadequadas de trabalho, instrução incorreta ou insuficiente, falhas de supervisão e orientação, falta ou inadequação no uso de equipamentos de proteção, entre outros aspectos12.

    Assim, as medidas efetivas de controle de infecção visam eliminar ou minimizar o risco de transmissão de infecções na rotina odontológica e a execução dessas medidas é a melhor recomendação, devendo ser adotadas para todos os pacientes, sem distinção13.

    Como medida de controle de infecção, tem-se a desinfecção que consiste no método capaz de eliminar muitos ou todos os microorganismos patogênicos, com exceção dos esporos14. Outra importante medida é a esterilização que é considerada um processo de destruição de todos os microorganismos, inclusive os esporulados, mediante utilização de métodos químicos e/ou físicos15. O método químico compreende a utilização de agentes esterilizantes líquidos, como glutaraldeído e óxido de etileno (ETO)16 e a esterilização física pode ser feita por meio de métodos ou equipamentos que empregam calor seco como, por exemplo, a estufa, e através de vapor saturado como, por exemplo, a autoclave.17

    Assim, este trabalho teve como objetivos avaliar procedimentos de controle de infecção e biossegurança realizados pela equipe de saúde bucal (ESB) bem como verificar a associação da ocorrência de acidente com material pérfuro-cortante e características relacionadas ao perfil dos cirurgiões-dentistas no contexto da Atenção Primária à Saúde no município de Montes Claros, Minas Gerais.

Material e método

    Este é um estudo analítico transversal de natureza quantitativa. Foi realizado na cidade de Montes Claros, localizada ao norte do estado de Minas Gerais, Brasil. Cidade de porte médio, que possui aproximadamente 362 mil habitantes 18. O município possui um número de 52 unidades de Estratégia Saúde da Família (ESF) e 42 Equipes Saúde Bucal (ESB) compreendidos na área urbana da cidade.

    Na ocasião da coleta de dados, 31 das 42 equipes de saúde bucal, participaram da pesquisa. A coleta foi realizada por meio da aplicação de um questionário do tipo auto-aplicável ao cirurgião-dentista da equipe de saúde bucal com questões relacionadas à caracterização do profissional, como sexo, tempo de formado, especialização, acidente de trabalho, atuação em serviço público e/ou privado. Foi aplicado aos cirurgiões-dentistas que atuam nas ESBs da cidade de Montes Claros - MG o questionário de Alves-Rezende e Lorenzato (2000)19 que é composto por 35 perguntas com respostas de múltipla-escolha (sempre, às vezes e nunca, acrescido da opção “não se aplica”), sobre métodos de esterilização e desinfecção e sua freqüência, barreiras técnicas de proteção direta do cirurgião-dentista e auxiliar e as barreiras de proteção indireta assim como procedimentos de rotina realizados nos consultórios. O período de aplicação de questionário foi de novembro a dezembro do ano de 2011.

    Os dados foram agrupados e tabulados utilizando-se como ferramenta o software estatístico SPSS® (Statistical Package for the Social Sciences) versão 18.0. Inicialmente procedeu-se a análise descritiva dos dados, sendo realizado em um segundo momento a análise bivariada. Foi realizado o teste Qui-quadrado, para correlacionar a variável dependente “acidente de trabalho com material pérfuro-cortante” com as variáveis independentes tempo de formado, pós-graduação, atuação no serviço de saúde e sexo dos profissionais das ESBs avaliadas. O nível de significância considerado no teste estatístico foi fixado em 95% (p<0,05).

    A pesquisa encontra-se em conformidade com as normas previstas na Resolução 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde que dispõe sobre pesquisas envolvendo seres humanos. O projeto foi enviado ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES) para avaliação, recebendo parecer favorável com processo no 2988/11. Antes da coleta de dados os sujeitos da pesquisa receberam esclarecimentos e informações a respeito da mesma, tendo assinado o termo de consentimento livre esclarecido. O sigilo sobre a identidade das pessoas entrevistadas foi mantido e a liberdade de participação e/ou desistência foi assegurada aos participantes da pesquisa.

Resultados

    Do total de 42 equipes de saúde bucal 31 delas foram avaliadas por meio da aplicação do questionário ao cirurgião dentista responsável. Quanto às demais, seis unidades de saúde não apresentavam, no momento da coleta, cirurgião-dentista contratado pelo município e em outras quatro unidades, os cirurgiões-dentistas estavam em período de férias ou optaram por não participar da pesquisa. Os valores classificados como missing representam as questões que não foram respondidas pelos profissionais participantes da pesquisa. A caracterização da amostra de estudo pode ser observada na Tabela 1.

Tabela 1. Caracterização da amostra de estudo obtida pelo preenchimento do questionário

aplicado aos cirurgiões-dentistas das ESB no município de Montes Claros, MG

    Na tabela 2 observam-se as variáveis referentes ao questionário (Alves-Rezende e Lorenzato, 2000)19, que se refere aos procedimentos de biossegurança empregados na rotina de um consultório odontológico.

Tabela 2. Resultados do questionário aplicado aos cirurgiões-dentistas das ESBs de 

Montes Claros, MG em 2011, por meio do questionário Alves-Rezende e Lorenzato (2000)

Variável

Sempre

Ás vezes

Nunca

Não se aplica

1. Toma medidas para proteger a saúde da equipe?

97 %

3 %

0%

0%

2. Evita tocar em objetos (maçanetas, telefone, fichas, etc.) com mãos as enluvadas?

97 %

3 %

0%

0%

3. Lava as mãos antes e depois de usar luvas?

87%

13%

0%

0%

4. Usa um novo par de luvas para cada paciente?

100%

0%

0%

0%

5. Usa máscara pendurada no pescoço?

6%

55%

39%

0%

6. Solicita a auxiliar odontológica que use máscara, gorro e óculos de proteção durante o atendimento odontológico?

97%

3%

0%

0%

7. Solicita a auxiliar odontológica que use um novo par de luvas para cada paciente?

93%

0%

0%

7%

8. Solicita a auxiliar odontológica que use luvas grossas de borrachas durante a descontaminação do consultório?

48%

36%

13%

3%

9. Solicita a auxiliar odontológica que use luvas grossas de borrachas para lavar os instrumentais contaminados?

58%

32%

3%

7%

10. Tomou as 3 doses da vacina anti-Hepatite B?

97%

0%

0%

3%

11. Providencia a imunização da auxiliar odontológica contra Hepatite B?

77%

10%

6%

7%

12. Mantém o local de trabalho livre de itens desnecessário?

42%

58%

0%

0%

13. Usa o material descartável sempre que necessário?

97%

0%

0%

3%

14. Usa brocas esterilizadas para cada paciente?

100%

0%

0%

0%

15. Costuma encapar as películas radiográficas com papel filme?

32%

10%

3%

55%

16. Desinfeta os posicionadores de filmes radiográficos?

32%

0%

0%

68%

17. Desinfeta os moldes?

23%

16%

0%

61%

18. Desinfeta todos material contaminado enviado ao protético?

26%

10%

0%

64%

19. Usa máscara, gorro e óculos de proteção durante o atendimento odontológico?

100%

0%

0%

0%

20. Usa máscara e gorro novos a cada início de procedimento?

48%

39%

10%

3%

21. Usa jaleco durante o atendimento ao paciente?

97%

3%

0%

0%

22. Esteriliza todos os instrumentais contaminados?

100%

0%

0%

0%

23. Descontamina todos os instrumentais antes de lavá-lo e secá-lo para esterilizar?

58%

29%

10%

3%

24. Usa o álcool 70% como solução desinfetante?

93%

7%

0%

0%

25. Usa hipoclorito de sódio para fazer desinfecção do consultório (bancada, mocho, cadeira e outros)?

37%

40%

20%

3%

26. Usa glutaraldeído como solução desinfetante?

29%

3%

52%

16%

27. Coloca óculos de proteção no paciente durante os procedimentos?

29%

61%

6%

3%

28. Utiliza papel alumínio como barreira mecânica nos equipamentos odontológicos?

19%

23%

42%

16%

29. Para esterilizar as canetas de alta e baixa rotação utiliza a autoclave?

6%

39%

48%

7%

30. Para esterilizar as canetas de alta e baixa rotação utiliza a estufa?

87%

7%

0%

6%

31. Para esterilizar os instrumentais utiliza a autoclave?

68%

16%

13%

3%

32. Para esterilizar os instrumentais utiliza a estufa?

35%

27%

29%

13%

33. Providencia a limpeza de pisos e paredes diariamente com água, sabão e detergente?

52%

48%

0%

0%

34. Protege as fichas clínicas e radiografias contra contaminação durante o atendimento a pacientes?

74%

26%

0%

0%

35. Descarta material pontiagudo e cortante em reservatórios resistentes e à prova de vazamentos?

100%

0%

0%

0%

    Na tabela 3 encontra-se a análise bivariada entre a variável “acidente com material pérfuro-cortante” e as variáveis “possui pós-graduação”, “tempo de formado”, “atuação no serviço de saúde” e “sexo”.

Tabela 3. Análise bivariada (teste Qui-quadrado) entre as variáveis acidente de trabalho com material pérfuro-cortante e as variáveis relativas ao 

perfil profissional (pos-graduaçao, tempo de formado, atuação no serviço de saúde e sexo) dos cirurgiões-dentistas nas ESB de Montes Claros, MG, 2011

*Valor estatisticamente significativo

Discussão

    Os resultados da presente investigação mostraram um alto número de profissionais que cursaram alguma pós-graduação. Este dado pode estar relacionado ao fato de que o mercado de trabalho atual na odontologia exige um profissional cada vez mais especializado para vencer a competição profissional. 20

    Com relação aos processos de biossegurança adotados, não houve grandes diferenças entre os resultados do presente trabalho se comparado aos encontrados por Engelmann et al., (2010)21, ao realizar um estudo similar com uma amostra de 41 cirurgiões-dentistas que trabalhavam em Cascavel-PR e região, em clínicas e consultórios particulares, escolhidos aleatoriamente através da lista disponibilizada pelo site do CRO-PR.

    No presente trabalho, cinco questões apresentaram 100% de respostas “sempre”, sendo elas relacionadas ao uso de um novo par de luvas, ao uso de máscara, gorro e óculos de proteção, brocas esterilizadas, esterilização de instrumentais contaminados e descarte de material pontiagudo e cortante.

    A opção de resposta “não se aplica” foi escolhida em maior porcentagem nas questões relacionadas ao encapamento de películas radiográficas com papel filme, desinfecção de filmes radiográficos, de moldes e de material contaminado enviado ao protético, sendo esta opção de resposta uma adaptação feita ao questionário de Alves-Rezende e Lorenzato, 2000 18. Este resultado comprovou a necessidade de haver no questionário uma opção de resposta para questões que envolviam atividades que não eram realizadas nas ESF, devido inexistência de equipamento ou qualquer outro motivo, e assim os profissionais não teriam opção apropriada para responder, por isso foi adaptada esta opção ao questionário original.

    Em relação ao uso de óculos de proteção no paciente durante os atendimentos, houve maior porcentagem de respostas “às vezes” (61%), o que é considerado preocupante, uma vez que este procedimento é sempre recomendado durante atendimentos odontológicos.

    Quanto ao uso de glutaraldeído como solução desinfetante, observou-se que 52% responderam nunca o utilizarem, e 29% sempre utilizam esta solução para desinfecção. Este resultado pode estar relacionado ao fato de que, ao se usar glutaraldeído, os trabalhadores devem adotar precauções apropriadas para proteger a pele, além de evitar a inalação de vapor 22,23. A Organização Mundial de Saúde relata que os efeitos adversos mais comuns decorrentes da exposição ocupacional ao produto químico glutaraldeído são náusea, cefaléia, obstrução das vias aéreas, asma, renite, irritação dos olhos, dermatite e descoloração da pele 24. Estas podem ser razões pelo qual este produto vem sendo evitado no processo de desinfecção e esterilização, como observado nesta pesquisa.

    Os resultados encontrados relacionado ao controle da esterilização dos instrumentais mostram que 100% esterilizam todos os instrumentais contaminados e 100% dos cirurgiões-dentistas responderam sempre usar brocas esterilizadas para cada paciente.

    Neste estudo, 35% responderam que sempre esterilizam os instrumentais em estufa, 27% às vezes e 29% nunca utilizam a estufa para a esterilização, já no estudo de Engelmann et al., (2010) 21, 10% sempre utilizam a estufa, 12% utiliza às vezes, e uma maioria de 78% responderam nunca a utilizarem para esterilizar os instrumentais, preferindo a autoclave em 98%. Esta preferência pela autoclave no procedimento de esterilização de materiais é devido ao fato deste equipamento oferecer maior segurança e eficiência. Neste equipamento, os microrganismos são destruídos pela ação combinada da temperatura, pressão e umidade que promovem a termocoagulação e a desnaturação das proteínas da estrutura genética celular25.

    Este resultado apresenta-se bastante relevante uma vez que o uso da estufa foi proibido nos serviços de saúde, exigindo-se o uso da autoclave. A Portaria Estadual n° 500/10, de 25 de Agosto de 2010, estabelece que nos estabelecimentos assistenciais à saúde (consultórios médicos, odontológicos, veterinários, clínicas), os profissionais devem ter o conhecimento específico de técnicas de assepsia e anti-sepsia. Para isso, os estabelecimentos devem adotar equipamentos para esterilização por calor úmido (autoclave) ou por óxido de etileno, extinguindo o uso de fornos elétricos, estufas e equipamentos à base de radiação ultravioleta para esterilização de materiais.

    Observou-se que dentre os 29 cirurgiões-dentistas que responderam a questão referente ao acidente de trabalho com material pérfuro-cortante, a maioria possui algum tipo de pós-graduação (n=26), e dentre estes, 12 disseram já ter sofrido algum acidente de trabalho com este tipo de material.

    Com relação a acidentes com materiais pérfuro-cortantes, observou-se um número elevado deste incidente, especialmente entre os profissionais do sexo feminino. Dos 20 profissionais deste gênero, 12 responderam ter tido algum acidente de trabalho com instrumental pérfuro-cortante, diferentemente do ocorrido com os profissionais do sexo masculino, onde somente um dos nove homens apresentou algum acidente de trabalho (p= 0,014). Essa relação ente acidente de trabalho e gênero tem sido encontrada em outros trabalhos, não somente na área da odontologia, mas também na área hospitalar26,27. Uma possível explicação para esse fato é que de forma geral a mulher insere-se no mercado de trabalho com o objetivo de aumento na renda familiar, e, muitas vezes submete-se a uma dupla ou tripla jornada de trabalho, o que favorece o desgaste não somente físico, mas também emocional, culminando em uma desatenção durante o serviço 26.

    Os acidentes com exposição ocupacional a material biológico são freqüentes na odontologia em decorrência do trabalho com instrumentos pérfuro-cortantes em um campo de visão restrito e sujeito à movimentação do paciente 28, o que leva a um risco de transmissão de patógenos sangüíneos como os vírus da hepatite B (HBV), da hepatite C (HCV) e da imunodeficiência humana (HIV) 29. Dessa forma, faz-se necessário uma atenção maior em relação a esse quesito, já que este tipo de acidente de trabalho tem sido freqüente no ambiente odontológico.

Conclusão

    Os resultados contribuíram para traçar o perfil dos profissionais das Equipes de Saúde Bucal do município por meio das respostas obtidas no questionário e pela caracterização adicional, o que permitiu inferir que os profissionais estão envolvidos em pós-graduação, além de relatarem ter sofrido algum acidente de trabalho, com tempo de formado entre um a 36 anos e com maioria atuando no serviço público e privado.

    De forma geral, os cirurgiões-dentistas estão seguindo as medidas adequadas de biossegurança, com exceção de alguns procedimentos que podem ser aperfeiçoados, a fim de evitar problemas relacionados à infecção e transmissão de doenças. Evidenciou-se uma alta prevalência de acidentes com materiais pérfuro-cortantes, o que implica em um elevado risco de infecção e contaminação durante os serviços prestados, além de poder ocasionar inúmeras doenças.

    Desse modo, o estudo verificou a necessidade de renovação e atualização dos conhecimentos, com a finalidade de minimizar os riscos e danos causados por pequenos descuidos relacionados à biossegurança.

Referências

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