Efeitos da hidroginástica sobre
aspectos Efectos de la gimnasia acuática sobre aspectos psicomotores de personas con discapacidad visual Effect of hydrogymnastic on psychomotors aspects of visually impaired people |
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*Mestre em Motricidade Humana, Universidade Castelo Branco, RJ *Departamento de Ciências do Movimento Humano, UEPA, Campus Santarém, PA **Personal Trainer da Academia Coliseu, Santarém, PA ***Acadêmica de fisioterapia, UEPA, Campus Santarém, PA (Brasil) |
Me. Rodrigo Luis Ferreira da Silva* Ana Karla Castro Souza** karla.castro.5076798@facebook.com Thalita de Andrade Almeida Moura*** |
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Resumo Objetivo: investigar as influências de um programa de exercícios aquáticos, sobre as capacidades físicas de equilíbrio dinâmico, coordenação motora grossa e velocidade de reação de mão em indivíduos com deficiência visual. Metodologia: a amostra foi de 06 indivíduos, sendo 03 homens e 03 mulheres, com idade entre 21 e 39 anos (31,5; ± 6,27), portadores de deficiência visual adquirida, do tipo B1. Todos foram submetidos a oito semanas de aulas de hidroginástica realizadas três vezes por semana, com duração de uma hora para cada aula. Os voluntários foram avaliados, no início e final da pesquisa, quanto às capacidades psicomotoras de interesse para o estudo. Os dados das avaliações receberam tratamento estatístico com o emprego do teste t, para um nível de significância de 5%. Resultados: os maiores progressos foram observados para o equilíbrio dinâmico, contudo, mesmo as capacidades psicomotoras que não apresentaram evoluções estatisticamente significantes, também revelaram discretas, porém importantes melhorias. Unitermos: Desempenho psicomotor. Pessoas com deficiência visual. Atividade motora. Ambiente aquático.
Resumen Objetivo: Investigar la influencia de un programa de ejercicios acuáticos en las capacidades físicas equilibrio dinámico, coordinación motora y velocidad de reacción de mano en personas con discapacidad visual. Metodología: La muestra fue de 6 sujetos, 3 hombres y 3 mujeres, con edades entre 21 y 39 años (31,5, ± 6.27), con discapacidad visual adquirida tipo B1. Todos los pacientes fueron sometidos a ocho semanas de clases de ejercicios aeróbicos acuáticos llevados a cabo tres veces por semana, con una duración de una hora para cada clase. Los voluntarios fueron evaluados al inicio y al final del estudio, con respecto a las habilidades psicomotoras relevantes para el estudio. Los datos de evaluación fueron analizados estadísticamente con el uso de lo teste t para un nivel de significancia del 5%. Resultados: Los mayores avances se hayan observado en el equilibrio dinámico, sin embargo, incluso las habilidades psicomotoras que no mostraron avances significativos estadísticamente también revelaron mejoras sutiles, pero importantes. Palabras clave: Rendimiento psicomotor. Personas con discapacidad visual. Actividad motora. Ambiente acuático.
Abstract Aim: to investigate which the influences of a water-based exercises program, on dynamic equilibrium, gross motor coordination and speed of manual reaction in visually impaired people. Methods: The sample had 06 individuals, being 03 men and 03 women, with age between 21 and 39 years (31,5; ± 6,27), and acquired visually impaired patients, of the B1 type. All performed water-based exercises lessons, three times a week, during eight weeks, with one hour by lesson. The individuals were evaluated, at the beginning and in the end of the research, for its dynamic equilibrium, gross motor coordination and speed of manual reaction. The evaluations data received statistical analysis, by test t (p-value=0,05). Results: the best resulted were observed to dynamic equilibrium, however, the psychomotors aspects that not presented significant evolutions statistical, also showed discrete, however, important improvements.Keywords: Psychomotor performance. Visually impaired persons. Motor activity. Aquatic environment.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 175, Diciembre de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A humanidade, dentro da sua “evolução social” criou ao longo dos séculos vários estigmas em relação às pessoas com algum tipo de deficiência. Os Deficientes Visuais (DV´s) adquiriram dentro deste processo estigmas físicos e morais que dificultam a vivência plena de sua cidadania (ALVES; LEOBONS, 1994; DUARTE; WERNER, 1995). Com a falta de informação, a sociedade tende a marginalizar e, consequentemente, a reprimir os direitos destes indivíduos, que são comuns aos de qualquer outro cidadão (GOMES, 1993).
Os DV´s, devido a esta marginalização, sofrem prejuízos de ordem psicomotora e consequentemente, nas suas relações sociais (BITTENCOURT; HOEHNE, 2006), na medida em que o seu corpo não consegue captar adequadamente as informações do meio ambiente e interagir sobre o mesmo de forma funcional (CONDE, 1994). Quanto a este aspecto Araújo (1998) e Guerra (1999), esclarecem que a falta do sentido da visão limita o ser humano em cerca de 85%, na assimilação das informações (cognitivas, sensoriais e motoras) que o cerca.
Além disso, Gândara (1993) afirma que ainda hoje, a maioria dos profissionais especializados e os próprios familiares dos DV’s estão mais preocupados com a alfabetização e locomoção dos mesmos do que com a oferta de atividades físicas regulares onde eles, como cidadãos, possam além de gozar de seus direitos, desenvolver suas capacidades psicomotoras.
Partindo desta falta de apoio e considerando a pouca oferta de atividades físicas regulares direcionadas para indivíduos DV´s, surgiu o interesse em realizar uma investigação científica baseada em um programa de atividade física regular, voltado para o desenvolvimento das capacidades psicomotoras e do bem-estar de DV´s.
A atividade física escolhida para o desenvolvimento deste trabalho foi a hidroginástica, devido aos seus já comprovados benefícios sobre as capacidades físicas, pelas suas características lúdicas e principalmente pela possibilidade de se realizar um trabalho em grupo, com a utilização de estímulos sonoros (música) (CARDOSO; MAZO; BALBÉ; 2010; DELGADO; DELGADO, 2001; BARBOSA, 2001; POWERS; HOWLEY, 2000; BONACHELA, 1994; ROCHA, 2001).
Este estudo científico objetivou, portanto, investigar quais as influências que um programa de exercícios aquáticos, em piscina aquecida, poderia trazer aos DV´s, no que se refere ao equilíbrio dinâmico (mobilidade/marcha), coordenação motora grossa (mobilidade) e velocidade de reação de mão.
Metodologia
Esta pesquisa seguiu um enfoque quanti-qualitativo, visto que aborda em sua execução, aspectos mensuráveis das capacidades motor humano assim como uma avaliação baseada em critérios subjetivos de observação.
Para esta pesquisa foi inicialmente selecionada uma amostra de oito (08) indivíduos de ambos os sexos (05 do sexo masculino 03 do sexo feminino), com idade variando de 20 a 40 anos (31.66 anos ± 7.81), todos portadores de Deficiência Visual adquirida do tipo B1, segundo a classificação adotada pela IBSA - Internation Blind Sport Association e com diagnóstico comprovado através de apresentação de laudo médico oftalmológico.
Estes indivíduos apresentaram ainda laudo médico liberatório para atividades em piscina que comprovaram sua aptidão física e dermatológica para o desenvolvimento de exercícios aquáticos.
Este estudo teve sua aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Gaspar Viana de Belém do Pará, sob o protocolo n0 090/07. Todos os sujeitos desta pesquisa foram solicitados a assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido deste estudo antes de iniciarem o programa de avaliações e exercícios aquáticos.
Os mesmos foram avaliados quanto as suas capacidades psico-motoras através de testes padronizadas para que assim se determinassem suas condições iniciais quanto ao equilíbrio dinâmico (mobilidade/marcha), coordenação motora grossa (mobilidade) e tempo de reação manual.
a. Equilíbrio Dinâmico
Foi utilizado o teste de Dantas (2003) adaptado, que originalmente consiste em caminhar sobre uma barra, dividida em três segmentos que são dispostos em zigue-zague formando ângulos de 60° entre si. Neste estudo, uma faixa de 15 cm de largura constituída de lixas n0 100, substituiu a barra do percurso original.
Partindo da posição “de pé”, e descalços num dos extremos do percurso o avaliado recebia o comando sonoro, no momento em que o avaliador disparava o cronômetro. O avaliado, por três tentativas, dirigia-se ao outro extremo do percurso, o mais rápido possível, percebendo a trajetória com a sola de seus pés. O resultado do teste correspondia ao menor tempo, em segundos, que o indivíduo conseguia atravessar o percurso.
b. Coordenação Motora Grossa
A coordenação motora grossa foi avaliada através do teste Saltitamento (KISS, 1987), que consiste em, com apenas uma tentativa, a partir da posição “de pé”, pés juntos, depois do comando sonoro, saltitar duas vezes sobre o pé direito, e em seguida duas vezes sobre o pé esquerdo. Na sequência recomeçar os saltitos, porém invertendo a ordem dos pés, ou seja, primeiro com o esquerdo depois com o direito. Atribuiu-se ao avaliado pontuação de 01 a 04 conforme a facilidade, a correta execução do teste e o ritmo de execução. Para a execução deste teste não foi necessário fazer nenhuma adaptação.
c. Velocidade de Reação de Mão
Este teste consiste em soltar uma barra de ferro graduada em centímetros próxima a mão do avaliado, após um comando sonoro, a fim de verificar a velocidade de reação que uma pessoa leva para segurá-la. O resultado foi tomado através da medida em centímetros correspondente à distância que a barra percorreu do momento em que foi solta até o momento em que foi segura (DANTAS, 2003).
O teste descrito à cima foi adaptado para o público desta pesquisa utilizando tira de PVC com 3 cm de comprimento e 1,5 cm de largura apoiada sobre o 1º e o 2º quirodáctilos da mão direita em posição de “pinça”. A tira serviu para apoiar a régua, contando com o auxílio de outro avaliador para que a mesma se mantivesse imóvel e ereta antes de começar o teste. O comando sonoro foi substituído pela percepção tátil do avaliado no momento em que a tira de PVC fosse retirada, fazendo com que a régua caísse entre os seus dedos. Vale ressaltar que para aplicação deste teste cada indivíduo realizou três tentativas que resultaram em uma média final.
Após esta bateria de testes, esses indivíduos foram submetidos a um protocolo de atividades em um ambiente aquático, que visou o trabalho de suas capacidades psicomotoras.
Para o adequado início do programa de hidroginástica, e visando o sucesso das atividades a serem desenvolvidas, os indivíduos passaram por etapas de adaptação que incluíram desde o aprendizado do trajeto a ser percorrido para chegar ao local das aulas, assim como o reconhecimento do próprio local de realização das aulas (dimensões, textura e profundidade da piscina), dos materiais a serem utilizados (aqua-tubo e halteres de EVA) e apresentação da sequência fixa das músicas e dos movimentos iniciais com simulação dos exercícios básicos da hidroginástica fora da água. A partir do momento que estes indivíduos tornaram-se plenamente adaptados ao ambiente aquático e dominaram os movimentos básicos das séries aplicadas, os mesmos iniciaram as aulas propriamente ditas.
Para a execução das aulas de hidroginástica foi utilizada uma sequência musical de ritmos dançantes e descontraídos, que serviram para informar aos indivíduos o tempo de cada série e a mudança dos exercícios.
O Programa de hidroginástica foi executado no setor de hidroterapia da Universidade do Estado do Pará-UEPA/STM, com suas aulas ocorrendo em um período de 2 meses e uma semana, e seguiram a seguinte rotina: Início da aula com alongamento inicial em 5 minutos e uso de música calma; Realização da 1ª bateria de exercícios (seqüência de saltitos sem material para aquecer) em 10 minutos e com aumento do ritmo musical; Realização da 2ª bateria de exercícios (seqüência com aqua-tubo) em 10 minutos e com aumento do ritmo musical; Realização da 3ª bateria de exercícios (seqüência com halteres em 10 minutos) e com manutenção do ritmo musical; Realização da 4ª bateria de exercícios (seqüência de abdominais na barra em 10 minutos) e com manutenção do ritmo musical; Volta à calma com massagem coletiva em 10 minutos; Alongamento final com música calma (a música pode variar de uma aula para outra) em 5 minutos e saída individual dos alunos da piscina.
Os riscos de afogamento foram minimizados devido às dimensões da piscina e pela presença de uma profissional de Educação Física á borda da piscina monitorando as entradas e saídas dos alunos, além de dois voluntários monitorando os exercícios dentro da piscina.
As aulas de hidroginástica foram realizadas por três (03) vezes a cada semana, num período de oito (08) semanas, com duração de uma hora para cada aula.
Ao final do programa de exercícios foram descartados os dados daqueles indivíduos que apresentaram uma frequência inferior a 80% em todas as aulas realizadas, o que levou a redução da amostra para somente seis (06) indivíduos.
Os dados colhidos das avaliações inicial e final dos indivíduos que cumpriram todas as etapas desta pesquisa, receberam tratamento estatístico adequado, através do Software BioEstat 5.0, com o emprego do Teste t para um nível de significância de 5%, a fim de verificar quais ganhos ou perdas psicomotoras foram alcançados após este programa de hidroginástica.
Resultados
Entre os testes psicomotores utilizados, observou-se que o equilíbrio dinâmico dos indivíduos pesquisados, foi o aspecto psicomotor que obteve progressos mais perceptíveis entre os que foram avaliados.
A Tabela 1 apresenta os valores descritivos e o resultado do teste t, referentes às avaliações psicomotoras iniciais e finais, quanto ao equilíbrio dinâmico. Observa-se uma média de tempo maior nas avaliações iniciais dos indivíduos (44,3383 segundos), em comparação às avaliações finais (23,225 segundos) para o cumprimento do circuito de teste. Pode-se constatar ainda, através do resultado do Teste t, que a diferença entre as avaliações iniciais e finais é realmente significativa (p-valor=0,0253).
Tabela 1. Estatística descritiva e resultado do Teste t das avaliações inicial e final para o teste de equilíbrio dinâmico
A avaliação da capacidade psicomotora de coordenação motora grossa, avaliada pelo Teste de Saltitamento (KISS, 1987), apresentou, neste estudo, resultados de difícil análise.
Observando a Tabela 2 constata-se que na comparação entre a pontuação inicial e final dos indivíduos, 01 voluntário apresentou involução de sua coordenação motora grossa (2); 04 dos avaliados demonstraram permanência de sua condição (1; 3; 4; 6) e somente 01 indivíduo obteve evolução, ou seja melhora, de sua coordenação motora grossa.
Tabela 2. Pontuação do teste de equilíbrio dinâmico de cada
voluntário, antes e depois do programa de exercícios aquáticos
A análise feita sobre os resultados do Teste de Reação de Mão demonstrou que, estatisticamente, o programa de exercícios aquáticos aplicado neste estudo, não exerceu influência significativa sobre esta capacidade psicomotora.
A Tabela 3 apresenta os valores descritivos referentes às avaliações psicomotoras iniciais e finais quanto ao Teste de Velocidade de Reação de Mão aplicado aos participantes da pesquisa, demonstrando uma média de centímetros maior nas avaliações iniciais (12.333cm), em comparação às avaliações finais (9.850cm).
Tabela 3. Estatística descritiva e resultado do Teste t das
avaliações inicial e final para a variável Tempo de Reação de Mão
No entanto os dados da Tabela 3 demonstram através do resultado do Teste t, que esta diferença entre as avaliações iniciais e finais não chegou a ser significativa (p-valor = 0,0763).
Contudo através da Figura 1 pode-se perceber que cinco dos seis indivíduos diminuíram a medida em centímetros do ponto de captura da barra de metal, denotando melhora da velocidade da reação manual, sendo 5,4 cm a maior diferença no resultado individual (indivíduo 05), e apenas um teve seus resultados acrescidos em relação à primeira aplicação do teste, com um acréscimo de 0.9cm.
Discussão
Os baixos índices dos aspectos psicomotores observados nas avaliações iniciais deste estudo podem ser atribuídos, pelo menos em parte, a baixa oferta de atividades físicas na infância, sobretudo, no ambiente escolar. Greguol e Júnior (2009) constataram que apenas um pequeno número de crianças DV’s têm acesso a prática de atividades físicas na escola, pois muitas destas crianças são dispensadas com o falso pretexto de “garantir a sua integridade física”.
Estes achados avaliativos se assemelham a muitos estudos já publicados (GRIFFIN-SHIRLEY; NES, 2005; LOPES; KITADAI; OKAI, 2004; LIEBERMAN, 2003; KORACH et al., 2000; WARREN, 1994; HOPKINS et al., 1987; NATALE et al., 1985; SUNDBERG, 1982; JANKOWSKI; EVANS, 1981) que demonstram que pessoas cegas, em geral, apresentam os níveis de suas capacidades motoras (força, resistência cardiorrespiratória, velocidade e equilíbrio) abaixo da média dos videntes da mesma faixa etária. Levando-se em consideração o ponto de vista destacado por Winnick e Short (2001) que afirmam que, para jovens DV’s, os padrões de aptidão física devem ser os mesmos da população vidente, consta-se que os DV’s apresentam níveis de capacidade física que os, aproximam de um estilo de vida com forte tendência ao sedentarismo.
Os resultados quanto ao equilíbrio dinâmico foram possivelmente alcançados pela prática dos exercícios da 1ª bateria (sequência de saltitos), assim como pelos exercícios de 1 a 5 da 2ª bateria (sequência com aquatubo) e pelos exercícios de 1 a 3 da 3ª bateria (sequência com halteres de EVA).
Os exercícios citados à cima buscam o trabalho da coordenação motora, mobilidade, noção de espaço e da melhora na amplitude das articulações dos joelhos, coxo-femorais, cotovelos e escápulo-umerais. Durante estes exercícios os voluntários realizavam constantes deslocamentos, colocando o seu centro de gravidade em movimentação permanente, exigindo assim uma adequada e ágil recuperação de equilíbrio dentro d’ água.
Kyrillos (2005) destaca que para um trabalho de equilíbrio, deve-se também estimular a coordenação motora global dos DV’s, executando atividades como andar, subir, correr, saltar e girar.
Deve-se ainda levar em consideração o natural deslocamento superior do centro de gravidade, que ocorre com corpos que se movimentam em ambiente aquático. Este posicionamento mais elevado do centro de gravidade, pode também ter contribuído para esta significativa melhora do equilíbrio dinâmico dos indivíduos que participaram desta pesquisa, haja vista que a estabilidade de um corpo possui uma relação inversamente proporcional a altura do centro de gravidade em relação ao solo (DELGADO; DELGADO, 2001)
A autora Gândara (1993) que desenvolveu um trabalho relacionado à expressão corporal do deficiente visual, utilizando o ritmo, a música e o movimento como instrumento de desenvolvimento das capacidades físicas destes indivíduos, também relatou expressivas melhorias qualitativas no equilíbrio de 05 garotas com faixa etária entre 04 e 06 anos, em sua experiência de seis anos com este grupo.
Os valores observados para os testes de coordenação motora grossa não se prestaram para a realização de cálculos estatísticos. Este fato ocorreu pela pequena quantidade de indivíduos que participaram desta pesquisa (06), e pela escala de pontuação descrita para a pontuação deste teste que apresenta uma variação de pontos relativamente pequena para descrever a grande variabilidade de padrões motores existentes.
Em outras palavras, constatou-se que a variação numérica de 01 a 04 definida para a avaliação da coordenação motora grossa, não favoreceu a percepção de pequenas mudanças no padrão motor dos indivíduos testados.
Por esta razão os autores desta pesquisa optaram pela descrição qualitativa das avaliações iniciais e finais da capacidade motora de coordenação motora grossa dos indivíduos pesquisados, onde se percebeu uma evolução perceptível dos padrões motores apresentados durante a execução dos testes.
Durante as avaliações inicias observou-se uma predominância de desequilíbrios nos momentos de aterrissagem dos saltitos, o que obrigava os indivíduos a uma permanente recuperação do alinhamento corporal, acompanhada de movimentos amplos dos membros superiores em busca da recuperação do equilíbrio.
Outro aspecto observado nas avaliações iniciais do teste de coordenação motora grossa dos indivíduos pesquisados, diz respeito ao momento de transição entre a primeira (pular com o pé direito) e a segunda (pular com o pé esquerdo) sequência de saltitos. Neste momento observou-se a necessidade de um intervalo de tempo de aproximadamente 02 segundos entre as duas sequências de saltos que exige o teste.
Nas avaliações finais deste aspecto psicomotor, observou-se uma maior segurança dos indivíduos para a realização do teste, percebida pela maior manutenção do equilíbrio, menor amplitude de movimentos com os membros superiores e menor necessidade de pausa entre as duas sequências de saltos do teste. Vale ressaltar que quanto a este último aspecto, alguns dos indivíduos chegaram a executar o teste de maneira contínua, sem a necessidade de uma pausa entre as duas sequências de saltos.
Tais resultados podem ser atribuídos a uma característica importante do programa de exercícios aquáticos desenvolvidos nesta pesquisa, aonde enfatizou-se o trabalho dos grandes grupos musculares, que possivelmente contribuíram para um ganho de força e resistência muscular dos DV´s, influenciando assim nesta melhora da coordenação motora grossa. Além disso, o grande número de alternância de gestos, de mudanças de velocidade e ritmo durante os exercícios, possivelmente auxiliaram a aprimorar esta qualidade motora.
Ou seja, estes benefícios podem ser atribuídos tanto aos exercícios empregados em uma sequência bem programada de movimentos e alternância de ritmos, quanto aos efeitos da imersão sobre o corpo.
A evolução dos resultados dos voluntários deste estudo, quanto a estes dois primeiros aspectos motores, após o programa de atividades físicas aquáticas, corroboram com as conclusões de Souza e Campos (2008) que afirmam que a prática de atividades esportivas trás como principais benefícios a independência quanto à orientação e a mobilidade.
Em relação aos testes de reação manual, a análise estatística revelou que esta diferença entre as avaliações iniciais e finais não chegou a ser significativa (p-valor = 0,0763). Esta diferença pouco expressiva entre os resultados iniciais e finais pode-se justificar, em hipótese, pela já bem-desenvolvida percepção sensorial tátil dos deficientes visuais, que já é consenso entre os autores que tratam desta temática (ALMEIDA; PORTO, 1999; GÂNDARA, 1993).
Este aspecto ganha destaque nas palavras de Mosquera (2000) ao firmar que indivíduos DV’s reconhecem com mais habilidade, do que indivíduos videntes, a movimentação de seus membros no espaço, assim como também utilizam a coordenação motora fina com maior precisão.
Os resultados individuais dos testes de reação manual, por sua vez, demonstraram algumas particularidades não reveladas pela análise estatística. Pode-se perceber, por exemplo, que cinco dos seis indivíduos melhoraram a velocidade da reação manual.
Percebe-se, portanto que o conjunto destes resultados corrobora com a afirmativa de Rocha (2001), ao descrever que a hidroginástica para deficientes, facilita o desenvolvimento psicomotor, a coordenação motora e a própria socialização, ao incentivar a autoconfiança e aumentar a independência pessoal. Contudo devido ao pequeno número de estudos que abordam a prática de atividades aquáticas com indivíduos DV’s, a discussão destes resultados torna-se limitada.
Por outro lado a literatura já descreve um extenso número de estudos que descrevem bons resultados sobre os aspectos psicomotores de DV’s após as mais variadas modalidades de atividade física.
Silva e Chao (2007), por exemplo, constataram que 70% dos indivíduos (DV’s) apresentaram um desenvolvimento notório em suas atividades do cotidiano, após a prática de atividades corporais realizadas em espaços naturais.
Em resumo Silva e Chao (2007), Lieberman (2003) e Souza e Campos (2008), afirmam que através da prática de atividades físicas os indivíduos cegos poderão melhorar o desenvolvimento tanto nos aspectos psicomotores, quanto cognitivos, sensoriais e socio-afetivos, bem como a autoconfiança, facilitando a emancipação social.
Conclusão
Ao término deste estudo, pode-se constatar que entre os aspectos psicomotores selecionadas para avaliação e comparação, antes e após um programa de hidroginástica em piscina aquecida, para indivíduos DV’s, o aspecto psicomotor que apresentou maiores respostas positivas, foi o equilíbrio dinâmico.
Contudo mesmo as capacidades psicomotoras que não apresentaram evoluções estatisticamente significantes, também revelaram discretas, porém importantes melhorias.
Quanto à coordenação motora grossa, puderam-se perceber significativas evoluções nos padrões motores dos indivíduos avaliados como: maior segurança; maior tempo de manutenção do equilíbrio, menor amplitude de movimentos com os membros superiores e menor necessidade de pausa entre as duas sequências de saltos do teste. Quanto à velocidade de reação manual, observou-se que cinco dos seis avaliados evoluíram nesta característica psicomotora.
Concluí-se, portanto que o programa de atividades físicas aquáticas em piscina aquecida trouxe ganhos para os aspectos psicomotores investigados dos indivíduos DV’s que participaram deste estudo.
Sugere-se que novas pesquisas como estas, possam ser acompanhadas de avaliações sobre aspectos afetivos dos indivíduos pesquisados, tendo-se em vista a grande influência que estes aspectos têm sobre a vida dos DV´s.
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