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A Educação Física em direção ao bem-estar discente:
reflexões de professores e graduandos portugueses
sobre a (des)seriação no Ensino Médio

La Educación Física orientada al bienestar de los alumnos: reflexiones
de profesores y estudiantes portugueses sobre la (des)seriación en la Escuela Media

 

*Doutoranda em Educação/PUCRS, Mestre em Teoria e Prática Pedagógica

em Educação Física/UFSC, professora de Educação Física do CAp/UFRGS

bolsista PDSE/CAPES – processo 0855120

**Professor Doutor da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais

do departamento de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Algarve, PT

***Pós-Doutor em Psicologia/Universidad Autónoma de Madrid/Espanha

Doutor em Ciências Humanas/Educação, professor titular da Faculdade

de Educação da PUCRS e do Centro Universitário La Salle

Dnda. Carla da Conceição Lettnin*

Dr. Saul Neves de Jesus**

Dr. Claus Dieter Stobäus***

carla.lettnin@ufrgs.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O estudo qualitativo pretendeu investigar a opinião de professores e graduandos sobre a (des)seriação nas escolas secundárias (ensino médio) da região do Algarve/PT, bem como identificar boas práticas realizadas nesse segmento em direção ao bem-estar discente. Para tanto, 9 professores e 9 graduandos foram entrevistados e para interpretação dos dados utilizou-se análise de conteúdo. Os resultados demonstraram que 83,3% dos participantes consideram uma vantagem se os grupos fossem (des)seriados e constituídos por interesse dos alunos (de prática, nível de aprendizagem e de relação social). Na opinião deles, seria uma vantagem para a motivação em aprender (37,8%), o desempenho (12,3%), o conteúdo (12,3%) e a saúde (12,3%). Logo, a liberdade de escolha do aluno desse nível de ensino com relação a sua atividade física escolar pode vinculá-lo e envolvê-lo efetivamente com a disciplina, trazendo contribuições a saúde (física, psicológica, social, espiritual). É urgente a necessidade de amadurecimento, mudanças e inclusão dos alunos para uma adequada construção da disciplina na escola neste nível de ensino.

          Unitermos: Educação Física. Saúde. Bem-Estar discente.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 175, Diciembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Contextualizando o problema

    A nova configuração de trabalho imposta pelos avanços tecnológicos exige da sociedade novas posturas e comportamentos que, por vezes, dificultam a manutenção de uma vida ativa e saudável. Esta caracterização da vida moderna tem sido responsável pelo aparecimento e/ou aumento dos riscos de diversas doenças crônicas. Há evidências de que algumas doenças são mais comuns em pessoas inativas do que naquelas que se exercitam. (DARIDO, 2004; NAHAS, 1997; VASQUES E LOPES, 2009).

    Nesse contexto, a Educação Física Escolar torna-se uma importante ferramenta educacional para o desenvolvimento e a formação de hábitos saudáveis que os indivíduos poderão adotar ao longo de suas vidas, visando o bem estar e a qualidade de vida. Porém, o estudo de Darido (2004) apontou que a partir das séries finais do Ensino Fundamental (básico em Portugal) há uma diminuição do interesse na Educação Física (EF) na medida em que os alunos vão avançando no sistema educacional, sendo, portanto, maior no Ensino Médio (secundário em Portugal), o que dificulta a concretização do objetivo voltado a Educação para a Saúde.

    Acredita-se que esse desinteresse possa estar relacionado às exigências da disciplina, que podem ser classificadas como baixas, para aqueles que possuem predisposições físico-desportivas, e elevadas, para aqueles que apresentam limitações motoras, desmotivando a participação dos alunos desse nível de ensino, que apresentam diferenças em seu desenvolvimento.

    Estudos sobre o desenvolvimento humano apontam diferenças significativas entre indivíduos e, principalmente, entre gêneros, podendo ser um fator determinante à participação. Papalia e Olds (2000) constataram que existe uma diferença para o aparecimento da puberdade tanto em meninos quanto em meninas. Logo, aqueles indivíduos amadurecidos apresentam-se mais musculosos, mais fortes, possuem uma imagem corporal favorável e podem ser melhores nos esportes (conteúdo desenvolvido com maior ênfase no ensino médio/secundário). Entender que o crescimento e a maturação biológica de uma criança, adolescente e/ou jovem, necessariamente, não se relacionam diretamente com a idade cronológica, pode permitir uma reflexão acerca do modelo de Educação Física seriada, adotado pela grande parcela das instituições escolares.

    Acredita-se que inadequação do formato de organização da Educação Física Escolar pode causar muitos constrangimentos oriundos de experiências negativas, contribuindo com a desmotivação e mal-estar dos estudantes. Conhecer este mal-estar e as justificativas desse afastamento e identificar elementos nos processos de ensino e de aprendizagem de possíveis estratégias pedagógicas, que promovam a aderência dos alunos às aulas de Educação Física do Ensino Médio (Secundário), resultando em uma reflexão acerca de uma proposta de Educação Física para este nível de ensino, que atenda a diversidade para a promoção da saúde, são um dos objetivos da tese de Doutorado intitulada “(Des)seriação da Educação Física no Ensino Médio como proposta de contribuições à Saúde: visão de alunos e professores”, que está sendo desenvolvida no Brasil.

    O trabalho aqui apresentado é um recorte dessa proposta de tese e foi realizado junto a Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve/PT, como um estudo piloto, com o propósito de conhecer a realidade da EF das escolas secundárias dessa região, tentando captar boas práticas realizadas nesse segmento em direção ao bem-estar discente, além da opinião de professores e graduandos sobre a (des)seriação.

    Diante do exposto, destacam-se as questões que nortearam esse estudo, na tentativa de conhecer o contexto investigado e responder aos objetivos pré-estabelecidos: a) Como é a participação dos alunos nas aulas de Educação Física? Porque alguns alunos participam das aulas de EF e outros não? b) Quais são as estratégias utilizadas para atrair a participação dos alunos nas aulas de EF? c) Como funciona a Educação Física do Secundário (Médio) nas escolas do Algarve? Existem Critérios para a composição das turmas? d) Se as turmas fossem constituídas por interesse dos alunos (de prática, nível de aprendizagem e de relação social), independente do ano em que se encontram no secundário, seria uma vantagem para a aprendizagem e para a saúde? e) Que propostas para a Educação Física Escolar poderiam contribuir com a saúde?

    Para responder essas questões, optou-se metodologicamente por um estudo quali-quantitativo, descritivo exploratório, utilizando para tratamento dos dados análise de conteúdo, que segundo Ludke e André (1986) o pesquisador decompõe o fenômeno investigado em partes, de forma que as partes essenciais se organizam em uma recíproca dependência, e estatística descritiva (de frequência, frequência percentual, média, moda e mediana).

    Para a coleta dos dados, foram realizadas entrevistas, semi-estruturada, com professores de Educação Física de escolas secundárias e graduandos do 1º. ano do Curso de Desporto da UAlg. A opção da amostra se justifica, por ambos estarem envolvidos com o processo de ensino e de aprendizagem da Educação Física, uma vez que os graduandos recentemente concluíram a etapa investigada, sendo importante à visão de ambos protagonistas, já que o estudo no Brasil tem a pretensão de implementar uma proposta diferenciada para este segmento e área de ensino. Acredita-se que graduandos, do primeiro ano do Curso de Desporto, poderão acrescentar baseado em sua recente experiência como ex-aluno do ensino secundário (médio) e como futuros professores. O Critério para escolha desses sujeitos foi pertencer a um município que compunha a região do Algarve, sendo primordial ter, pelo menos, um representante de cada cidade.

Apresentação, análise e discussão dos dados

    A estrutura do sistema público da educação portuguesa na região do Algarve (GEPE/ME, 2011) conta com 211 escolas direcionadas ao Ensino Pré-Escolar e Ensino Básico, sendo necessária a conclusão desta etapa, que vai do 1º ao 9º anos, divididos em 3 ciclos - o primeiro de 1º a 4º anos com 170 estabelecimentos, o segundo de 5º ao 6º anos com 63 estabelecimentos, e o terceiro de 7º a 9º anos com 70 estabelecimentos. O ensino secundário, alvo desse estudo, compreende o 10º, 11º, 12º Anos e não é obrigatório, contando apenas com 23 estabelecimentos. Essa fase da educação é dividida, pela maioria das escolas, em regular e profissional. Os alunos que optam pelo profissional exercem a condição de técnicos e os alunos que fazem sua escolha pelo regular, almejam a entrada em uma Universidade. Mesmo com essas diferenças, áreas de formação específicas são ofertadas para ambos e devem ser definidas pelos alunos na conclusão do 9º. ano.

    O Portal da Educação (GEPE/ME, 2011) apontou que 13.919 alunos estavam entre 2009 e 2010 matriculados no ensino secundário na região do Algarve, e desses, 13.170 estavam em escolas públicas, sendo a sua maioria distribuída na formação regular (7.868 alunos) e na formação profissional (4.481 alunos).

    A região do Algarve possui escolas secundárias públicas, distribuídas em 11 municípios, sendo eles: Albufeira, Faro, Lagoa, HYPERLINK "http://www.portugalio.com/escolas-basicas-e-secundarias/lagos/" \o "Escolas Básicas e Secundárias em Lagos" Lagos, Loulé, Olhão, Portimão, São Brás de Alportel, Silves, Tavira e Vila Real de Santo António. Segundo o GEPE/ME (2011) as escolas do secundário ofereciam cursos científico humanístico/geral (7.300 alunos), obtendo o maior número de alunos, cursos Tecnológico (568 alunos) e Artístico especializado (51 alunos).

    Participaram deste estudo 9 professores de Educação Física e 9 graduandos do primeiro ano do curso de Desporto, totalizando 18 sujeitos que representam as escolas secundárias da região do Algarve, sendo 4 em Faro (22%), 3 em Olhão (17%), 2 em Loulé (11%), 2 em Albufeira (11%) e 1 nos demais municípios (6%) denominados Silves, Portimão, Lagos, Tavira, Lagoa, São Brás Alportel e Vila Real de Santo António.

    A média do tempo de formação dos professores é de X= 12 anos (dp= 7,03). A maior parte da amostra (83,3%) não possui formação em outra área. Apenas um professor possui formação em gestão e um graduando em auxiliar técnico de Educação. Sobre a qualificação, dois professores possuem mestrado, sendo um na própria área e outro em Ciências da Educação. A média de idade dos professores é de, aproximadamente, X= 36 anos (dp= 8,08) e dos graduandos, aproximadamente, X= 21 anos (dp= 2,15).

    Para 77,8% das escolas a educação física funciona 2 vezes na semana de 90’, independente do ano em que os alunos se encontram. Nas demais (4 escolas) as aulas possuem uma frequência de 2 vezes na semana, sendo um período de 45’ e outro de 90’. Percebe-se aqui uma vantagem do tempo destinado à prática de atividades físicas nas escolas do Algarve/Pt com relação as escolas de Porto Alegre/Brasil. Embora essa vantagem possa ser passageira, pois os professores chamam a atenção para as medidas governamentais que estão sendo tomadas, neste momento, sem a consulta prévia dos profissionais da área. Segundo eles a medida prevê a redução do tempo da disciplina de Educação Física, o que consideram uma contradição diante do número elevado de casos de obesidade que aponta o país.

    Outro fator que pode contribuir com esse quadro está relacionado a participação dos alunos nas aulas de Educação Física, específicamente, no que diz respeito a qualidade desse envolvimento. A Tabela 1 traz a opinião dos participantes do estudo, retratada em três subcategorias.

Tabela 1. Participação e motivação discente

    Antes de apresentar e analisar a principal categoria, passa-se para a análise daquelas que correspondem aos extremos da participação. Apenas 29,3% das respostas de professores e graduandos afirmam que os alunos do secundário são participantes nas aulas de Educação Física - subcategoria “Participa” -, embora possa ser constatado em seus discursos, que essa participação parece não ser efetiva. Segundo um dos professores “Pode-se dizer que há uma boa aceitação da discplina por parte dos alunos, nem sempre a mais adequada” (PB) e para o graduando “a maior parte participava nas aulas” (GI). Por outro lado, a subcategoria “Não participa” denuncia, com 14,6% das respostas, que os alunos são desmotivados, não se empenham e, portanto, possuem uma participação inferior. Para os professores “A motivação dos alunos até ao 9º. Ano é superior ao Ensino Secundário.” (PA) e “hoje em dia o empenhamento e a participação dos alunos nas aulas de Educação Física são inferiores! Podemos dizer que metade dos alunos participam. Nota-se que os alunos ao avançarem no sistema escolar vão diminuindo a sua participação e ao longo dos anos isso tem sido cada vez pior.” (PR). Na visão de um graduando “Há sempre muita gente que não faz aula.” (GI).

    A principal subcategoria, denominada “Participação Condicional”, com 56,1% das respostas, corresponde aquelas participações que dependem de algum fator, como o sexo, a modalidade; a área de formação; o professor; o resultado; a função da atividade.

    Para 14,6% das respostas da amostra, sendo a maioria respostas de graduandos, a participação depende do sexo. Na fala dos protagonistas os rapazes são mais motivados para as aulas de Educação Física, veja dois discurssos: “há uma diferença entre rapazes e raparigas e difere de localidade para localidade. As raparigas são um pouco indefinidas, têm um menor grau de motivação” (PS), “... os rapazes sim, tinham mais motivação. Nós, as raparigas, era mesmo o mínimo possível, não havia esforço nem vontade. Fazíamos tudo sem aplicação.” (GE).

    Corroborando com o predito, a experiência docente tem demonstrado que a motivação dos rapazes parece ser mais elevada, tanto para as atividades propostas pela Educação Física quanto para as atividades extracurriculares, quando comparado com as meninas. Para autores como Viana, Andrade e Matias (2010) a motivação intrinseca pode determinar o grau de envolvimento e permanência nas atividades. Os adolescentes com motivação intrínseca possuem maior nível de atividade física, comparados com os motivados extrinsecamente e os desmotivados.

    A importancia da participação do aluno nas atividades físico-desportivas, nesta etapa da vida, é comprovada no estudo de Alves et al. (2005), pois a prática de esportes na adolescência exerce influência na freqüência e continuidade de atividade física e lazer na vida adulta. Os dados apresentados pelos autores confirmam que 94,1% dos adultos ativos foram atletas na adolescência.

    Outro fator decisivo à participação nas aulas de EF, principalmente na visão dos graduandos, é a modalidade desportiva, correspondendo a 12,2% das respostas, pois dependendo dela os alunos aderem as aulas ou não.

    Segundo um graduando “Depende da modalidade. Tem umas pessoas que gostam de mais uma modalidade do que outra. Existem pessoas que gostam mais de esporte coletivo do que ginástica, por exemplo, sentem-se mais motivados.” (GG). E, na opinião de um professor “Os alunos do secundário, alunos entre os 15 e os 17 anos, normalmente estão motivados, mas já têm uma motivação mais focalizada, estão motivados mas para determinados desportos, (...). A motivação dos desportos tem muito a ver com o desporto que é mais praticado na localidade. (...) Nestes últimos anos há uma maior motivação para as actividades ligadas ao ginásio (academia). (...)Os programas de Educação Física na escola não são definidos por desportos, são definidos genericamente, tem de se abordar todas as modalidades… os graus de motivação oscilam em relação ao desporto em causa, se é da preferência do aluno ou não. Eu sempre achei que a actividade no Ensino Secundário deveria ser mais vocacionada, mais dirigida para os desportos e menos para um actividade generalista.” (PS).

    É nesse sentido que percorre a proposta de tese para o Ensino Secundário (Médio), vislumbrando a aproximação do interesse do aluno pela atividade física e de suas relações sociais para compor o ambiente de aprendizagem da Educação Física em direção à Saúde.

    Depois, aparecem com uma menor frequência (7,31%) respostas sobre a participação vinculadas a área de formação, ao professor e ao resultado. Aquelas que diferenciam as áreas humanas das exatas podem ser constatadas nas falas a seguir: “Nós éramos uma turma de linguas e a maior parte não tinha muita motivação para as aulas de Educação Físca.” (GH); “A motivação depende muito das turmas. Noto que as turmas ligadas as áreas das exatas, (...), são mais voltadas para o desporto, no entanto, as turmas ligadas as letras, áreas das humanas, nota-se diferença com relação ao envolvimento.” (PO).

    Depois as que dizem depender do professor, considerado o principal agente nesse processo, são denunciadas da seguinte forma por um graduando: “Nós tínhamos o mesmo professor nos 3 anos e era um professor que motivava muito os alunos, que se preocupava com os alunos, com o que gostavam de fazer. Muito poucas pessoas não faziam a aula.” (GJ) e reconhecida por um professor “...mas também depende muito do professor. Como orientadores da atividade, se nós (professores) alterarmos um bocadinho os programas nacionais com relação ao grau de exigência e dinamizarmos as práticas propondo situações mais jogadas e adequando a realidade da turma, eles (alunos) participam.” (PQ) e por último, aquelas que destacam a preocupação com o resultado, trazendo certa obrigatoriedade à participação. “A participação é obrigatória. A Educação Física faz parte do currículo e a nota do aluno na disciplina também é determinante para a entrada no ensino superior.” (PO).

    Ressalta-se que os dois primeiros indicadores – modalidade e professor - são observadas mais pelos graduandos, e o último – resultado -, pelos professores, que reforçam que a participação está vinculada diretamente com a nota da disciplina, sendo decisiva para o seu futuro profissional.

    Ademais, o destaque sobre a importância do professor no processo de Ensino e Aprendizagem pode ser encontrado na literatura, no estudo de Dohms e Stobäus (2010), por exemplo, a relação entre professor e aluno é fundamental para um ambiente de aprendizagem saudável, pois quando mal conduzidas, podem ser as principais causadoras dos problemas de aprendizagem, resultando em sentimentos de injustiça e de desvalorização da autoimagem e autoestima.

    Por último, as respostas que compõem o indicador “Função da atividade” tratam do caráter recreativo ou competitivo que uma atividade pode assumir, atraindo o interesse dos educandos.

    Logo, essa subcategoria – “Participação Condicional” –, sendo a mais frequente, no mínimo aponta para uma reflexão dessa área sobre conteúdo, formato, método, relação interpessoal, avaliação, no sentido de apresentar condições favoráveis à participação efetiva dos alunos.

    Esses dados podem confirmar que a continuidade e sistematização da prática do exercício físico dependem necessariamente da aproximação do interesse do aluno com a atividade física. A liberdade de escolha do aluno desse nível de ensino com relação a sua atividade física escolar pode vinculá-lo e envolvê-lo efetivamente com a disciplina. Para isso, ressalta-se a importancia do aluno ter experienciado o universo de conteúdos que compreendem a Educação Física em fases escolares anteriores – 1º. a 9º. ano -, pois as escolhas devem ser conscientes e necessitam do conhecimento prévio dos alunos.

    De fato, a experiência docente tem demonstrado, que existem alunos que participam das aulas de EF e outros não. Ao perguntar para os participantes do estudo porque razão esse tipo de comportamento acontece, as respostas apontaram três categorias, revelando que o envolvimento dos alunos nas aulas de Educação Física dependem deles mesmos – categoria “Aluno” com 74,3%, seja por suas fraquezas, experiências anteriores, potencialidades e preferência; da importância dessa atividade para a saúde – categoria “Atividade” com 14,3% -; e pelo método daquele que orienta o processo – categoria “Professor” com 11,4% das respostas. Observe o que foi dito na Tabela 2.

Tabela 2. Avaliação do envolvimento dos alunos nas aulas de EF

    Dentro da categoria “Aluno”, os investigados apontam com maior frequência (20% das respostas) as limitações motoras e os consequentes constrangimentos que estão associados as subcategorias “fraquezas” e “experiências anteriores”. De certa forma, elas podem ser complementares, quando os participantes atribuem a importancia de em fases anteriores os alunos experienciarem diversas atividades motoras de forma positiva, no sentido de potencializar suas ações e evitar traumas posteriores. Portanto, a qualidade de suas experiências podem diminuir as limitações do sujeito. Constate isso na fala dos entrevistados abaixo.

    Primeiramente ressalta-se os discurssos relacionados a categoria fraqueza: “Está relacionado com ..., constrangimento, ... e limitações. Aqueles que se envolvem menos são aqueles que têm mais dificuldades. (...) o que acontece é que a aula de Educação Física é uma aula em que os alunos estão muito expostos. Na época em que estudei brincávamos na rua, corríamos, saltavamos, explorávamos os espaços, convivíamos muito; hoje em dia os jovens brincam em casa e não têm contacto uns com os outros e nas aulas de educação física são obrigados a ter um contacto directo com os colegas e com o seu próprio corpo, sentindo-se assim muito expostos. Os alunos que têm mais dificuldades e que não conseguem lidar com elas, retraem-se um pouco mais.” (PA); “(...) também há quem não tenha muito jeito para fazer salto ao eixo, uns porque não têm flexibilidade e todos esses medos, criados anteriormente, dificultam ainda mais no ensino secundário, há logo o discurso de - eu não sei, eu não consigo, posso ficar aqui quietinha. Eu falo por mim, eu não tenho muito jeito para bolas, (...). Nós jogávamos, mas havia sempre a situação dos rapazes não nos passarem a bola porque éramos raparigas e porque não jogávamos tão bem, (...).” (GE). “(...). O próprio aluno que não tem muita competência, não sente vontade e não tem disposição para fazer atividade física. Depois quanto mais velhos os alunos, os interesses mudam e eles acabam com pouca vontade de fazer Educação Física. Por muitas vezes, também, a sua imagem e o fato de exporem-se aos outros, a fazer movimentos e ações diferentes, fazem com que eles tenham certa vergonha. Uns, por que não conseguem fazer, outros, por que os outros alunos são melhores do que eles, então, acabam por se aquietarem, (...), por que não querem mostrarem-se, logo ficam sem fazer atividade física na escola.” (PQ); “Como se diz na gíria ´ou têm jeito ou não têm´, a partir daquela idade dos 15 anos e 16 anos, as questões de afirmação são muito importantes, a forma como eles perante se afirmam e destacam é determinante, não só no jogo com as raparigas, mas no jogo entre eles, para ver quem é o dominante. Muitas vezes a forma de eles fugirem é mostrarem algum desinteresse: “não gosto” e este “não gosto” muitas vezes é reflexo de alguma falta de capacidade com um determinado grau de desempenho. Também há outra questão, na maior parte das vezes os miúdos têm uma ideia errada daquilo que fazem, atribuem-se a si próprios um estatuto em termos daquilo que conseguem fazer muito abaixo, daquilo que na realidade conseguem fazer.” (PS).

    Depois a fala daqueles que se referem a experiências anteriores: “Penso que isso vem de crianças, as aprendizagens que eles tem desde pequenos, o impacto que o desporto causa desde pequenos é que vai formá-los quando adultos. Se eles não gostarem da experiência que tiveram com qualquer tipo de desporto quando pequenos, não vão fazer, mas se gostarem vão continuar praticando quando adultos.” (GH); “(...). Se calhar (talvez), eles (alunos) não foram estimulados para isso desde criança, não desenvolveram as competências para o domínio dos jogos e dos desportos em si, e por serem maus (ruins), por serem fracos (...), torna-se uma grande barreira e não conseguem ultrapassar, nem continuar.” (PM); “Tem haver com o historial (histórico) de cada aluno/pessoa. Isso tende a melhorar no meu ponto de vista (...), pois hoje eles tem cada vez mais “n” ofertas e os pais tendem a colocá-los desde cedo, quando crianças, em várias modalidades esportivas (as vezes tem crianças que passam por mais de uma) e isso ajuda a criar o hábito, logo o transfer (transferência) mais tarde na escola torna-se natural. Nota-se diferenças entre aqueles alunos que praticam e aqueles que nunca praticaram nenhuma modalidade esportiva. Quem sempre praticou desporto, o recomeçar no ensino secundário é sempre mais fácil do que para aqueles que nunca praticaram” (PO).

    Em seguida, aparecem as subcategorias potencialidades e preferências com 17,1% das respostas. A primeira está relacionada com o sucesso dos alunos frente as atividades propostas pela disciplina e a segunda, observada especialmente pelos graduandos, referem-se ao gosto de cada pessoa. A análise pode ser compreendida pelos discursos abaixo, respectivamente:

    “Está relacionado com o seu desempenho, (...), capacidades (...).” (PA), “Pela aptidão (...) com relação a prática.” (PP); Porque há muitos que têm mais facilidade, por isso gostam muito de fazer as aulas. (...).” (GJ); “Acho que isso tem haver com a personalidade (...)” (GC).

    “Acho que tem muito a ver com o gosto do próprio aluno, com a motivação (...). Eu falo por mim, eu (...), nunca gostei muito de jogar nem basquete, nem futebol…nunca me chamou muito à atenção.” (GE). “(...). Há, portanto, muitos rapazes e raparigas que gostam do desporto, outros não, acho que isso tem haver com os gostos pessoais, (...).” (GC).

    Depois, com 14,3% surgem respostas direcionadas a uma preocupação com a saúde e a importância de realizar exercícios físicos. Observe a fala dos professores: “(...) muitos alunos se envolvem por motivo de saúde. Os alunos que fazem tem noção do bem que faz. (...).” (PP); “São alunos que tem noção da contribuição de um estilo de vida saudável e os benefícios que essa prática de atividade regular lhes proporcionam. Nós tentamos incutir neles, no entanto, esse sentimento, alguns conseguem ter, outros não. Quando são mais novos, no ensino básico por exemplo, nós conseguimos fazer com que alterem seus hábitos, mas no ensino secundário isso é muito complicado.” (PR); “Por outro lado a questão do computador é muito importante, é um refúgio muito grande, o computador, a música, os filmes, tudo aquilo que são as actividades de sofá ganham muito peso e cada vez mais venho a sentir essa realidade. Por exemplo tenho alunos com 15 anos que fora a actividade física nas aulas, não fazem mais nada, que era uma coisa que há alguns anos atrás não eram tão fáceis de encontrar. Por outro lado também, se colocam algumas questões ao nível da obesidade, os alunos estão com uma alimentação muito deficiente e não têm qualquer predisposição para a actividade física. E o facto dos alunos terem famílias destruturadas também dificulta no ensino de hábitos saudáveis nos filhos.” (PS).

    Nesses relatos é possível perceber uma relação entre o envolvimento e prazer/satisfação. A continuidade e permanência dos alunos na prática de atividades físicas, para uma melhor saúde, necessita da compreensão sobre sua importância e de encontrar uma forma de atividade que lhes agrade. Baseado no conceito de bem-estar proposto por Dienner, compreende-se que uma atividade, por si só, não será capaz de promover o bem-estar no sujeito, pois necessita da avaliação que este fará de sua experiência. Os benefícios advindos da prática de atividades físicas só serão alcançados se o sujeito estiver plenamente disposto a participar e seus objetivos estejam em harmonia com aquilo que está sendo proposto, encontrando sentido e significado para as suas experiências. (LETTNIN, 2011).

    Por último, os alunos se envolvem mais ou menos de acordo com a metodologia do professor, totalizando 11,2% das respostas. Confira todas as respostas emitidas pelos graduandos: “Isso tem haver com (...) o professor, pois existem muitos professores de Educação física que excluem os alunos.” (GD); “(...) também algumas vezes devia ser o professor a motivar mais, às vezes o professor não desempenha qualquer papel em relação a esse problema.” (GI); “(...) e é claro que se as aulas forem motivadoras, vão dar vontade de lá estar.” (GC); “Por exemplo, fazer uma aula para os rapazes de uma forma e talvez uma aula complementar para as raparigas. (...). Acho que se houvesse essa diversidade havia muito mais empenho, pelo menos da parte das raparigas.” (GE).

    Ao indagar sobre as estratégias utilizadas pelos professores de Educação Física para atrair a participação dos alunos, os discusos apontaram duas categorias, sendo uma direcionada a “Atividade”, que abrange a avaliação, a adaptação do conteúdo, a promoção da saúde e as tecnologias, totalizando 51,8%; e a outra, denominada “Aluno”, que considera o interesse, o incentivo e a relação interpessoal, com 48,1% das respostas.

Tabela 3. Estratégias utilizadas pelo professor para atrair a participação do aluno

    Conforme a Tabela 3, destaca-se primeiramente, as duas subcategorias mais frequentes (22,2%) da categoria “Atividade”, que mostram os dois lados do processo, no momento em que os professores ressaltam adaptação do conteúdo à turma - “metodologia” - como estratégia de atração do aluno à prática, os graduandos indicam a “avaliação” como ferramenta que obriga a participação dos alunos nas atividades da aula. “É difícil trabalhar com turmas heterogêneas, com alunos muito fracos e outros muito bons. É difícil termos instalações e material para propor tarefas diferentes para cada grupo ou para cada nível de alunos. O que eu tento fazer são aulas mais dinâmicas e divertidas possível. Tento não dar aquela carga militar à Educação Física. Quando começo uma modalidade nova, tento iniciar sempre pelo básico, mesmo sendo para alunos do secundário, começo sempre pelo passe iniciação, pelo controle de bola mais básico, nem que seja alguns exercícios. Aqueles que eu vejo que tem mais dificuldades insisto mais um bocadinho com eles em tarefas mais básicas, aqueles que estão mais avançados começo a dar mais complexidade nos exercícios. Tento fazer jogos que sejam inclusivos para todos os tipos e níveis de alunos, jogos mais simplificados que dê para todos jogarem. Faço muitas vezes o jogo masculino e feminino separado, pois os meninos em jogos coletivos tem outra dinâmica, e sendo o jogo misto os meninos acabam dominando e as meninas não fazem nada, assim separado as meninas divertem-se, jogam, impolgam-se, e por isso é muito melhor.” (PM); “Gosto muito de utilizar formas jogadas, mesmo no aquecimento. Ao invés de propor corridas contínuas, gosto de incutir logo os jogos de equipe. Penso que é uma boa forma de iniciar a aula. Quando eles tem que correr, sempre acham uma chatísse. Assim é melhor e mais motivante.” (PO); “Tbm a liderança de grupos pode ser importante. Muitas vezes, os professores não conhecem a modalidade, e muitos alunos percebem, pois vários deles jogam a nível federado, logo conhecem a modalidade. A trabalhar em um determinado nível de formação, quando os miúdos tem 11, 12 anos, o conhecimento técnico das modalidades não precisa ser tão aprofundado, mas no secundário isso é importante. Muitos alunos não fazem aula, mas para os que fazem e gostam do desporto, isso é essencial. Todos nós professores temos fraquezas, mas temos que arranjar estratégias diferentes, dar a liderança da aula para aqueles alunos que sabem.” (PS). Na opinião dos graduandos a estratégia era “Aumentar a nota. Se tivessemos boa participação, se não faltassemos e não chegassemos atrasados tínhamos mais valor na nota.” (GH). “As estratégias que eles utilizavam era para não ficarem alunos sentados. Eles não usavam motivação para os que gostavam das aulas, faziam os exercícios; usavam motivação para os que ficavam sentados fazerem as aulas. Por exemplo, puniam-nos com algum relatório, ao fim de três faltas de material marcavam uma falta geral na disciplina.” (GL). As recordações dos graduandos podem ser verificadas no discurso de um dos professores: “A primeira estratégia é: apelo à nota. Em Portugal, a Educação Física é uma disciplina cuja nota conta para passar ou não de ano, ou para a média de entrada na Universidade. Este facto faz com que os alunos tenham alguma entrega à disciplina (...).” (PN).

    As outras subcategorias – “Recursos” e “Objetivo” -, apesar de aparecerem apenas 3,7% na fala da minoria dos professores, deveriam ser mais mencionadas, considerando a época em que vivemos. A primeira, reporta sobre as tecnologias e as contribuições delas como estratégia pedagógica para a aprendizagem, na tentativa de aproximação do conteúdo com a realidade dos jovens, e a segunda, demonstra preocupação de aquisição de um estilo de vida ativo pelo aluno na fase adulta. Confira a seguir, nessa ordem, as declarações dos sujeitos:

    “(...). As escolas nestes últimos anos foram todas equipadas com material informático de muito boa qualidade, com projectores em todas as salas, com ligação à Internet em todas as salas, com computadores e eu na altura propus que se colocasse também um computador e projector no pavilhão (ginásio de esportes) e toda a gente questionou. Penso que seria muito vantajoso para as nossas aulas que tivéssemos um suporte em que se conseguisse mostrar aos alunos vídeos reais de como se praticam determinadas modalidades. Os alunos assim têm a hipótese de ver a modalidade e de se identificar com ela com mais facilidade e, ainda por cima, através de uma ferramenta a que eles estão habituados e que eles conhecem (youtube). Uma das coisas que os meus alunos tinham que fazer era observar o desporto e fazer a estatística da modalidade. Tinha duas possibilidades, observar uma outra turma de colegas e outra que era usar o playstation, e isso motivou muito, pois todos eles queriam participar. Tinha uma vantagem de ser um jogo mais lento e todos os alunos conseguiam acompanhar aquilo que deveria ser observado. Num jogo real isso não é possível, pois é muito rápido”. (PS).

    “Faço muito trabalho nas aulas de Educação Física voltados para a promoção da saúde. Não só o Basquete, o Vôlei e o Futebol...tento que haja um compromisso fora da escola. Começa a aula na segunda-feira e eu pergunto-lhes que tipo de actividades praticaram no fim-de-semana...se correram, quanto tempo correram....” (PA).

    Preocupa-se com a redução de frequência nessas duas subcategorias (Recursos e Objetivo), tendo em vista a época das novas gerações, que vivem com as mídias tecnológicas ao alcance de suas mãos, sendo importante a aproximação desses recursos para tornar as aulas mais atraentes e significativas às suas realidades. E, por viverem em espaços cada vez mais reduzidos, sem muita possibilidade de explorar o seu corpo, com alimentação precária, causados por alguns fatores da sociedade contemporânea. Acredita-se que há necessidade dessa conscientização de saúde nas escolas, principalmente no secundário, já que é nesse espaço que todos deveriam ter acesso a esta informação que será utilizada ao longo de suas vidas. A proposta de tese defende a saúde (física, psicológica, social, espiritual), compreendida dentro de um conceito holístico, como o principal objetivo deste nível de ensino, onde os conteúdos propostos pela EF, independente da atividade ou modalidade a ser desenvolvida, deverão estar orientados para atingí-lo.

    Depois a subcategoria mais frequente correspondente a categoria “Aluno”, de consenso dos participantes do estudo, está voltada para o interesse do educando (22,2%), ou seja, perguntar aquilo que os alunos gostam ou desejam fazer é uma estratégia que gera sucesso com relação a participação deles em aula. Cabe destacar que essa variável também vai ao encontro daquilo que se propõem na tese, onde o interesse do aluno deve ser um dos pilares de organização e funcionamento da Educação Física no Ensino Médio/Secundário. Ao priorizar o interesse do aluno, as chances de fortalecer o vínculo dele com a atividade aumentam e qualificam sua participação, permitindo o desenvolvimento do trabalho direcionado a saúde. Pensando assim, a atividade (modalidade) nesta etapa (secundário/médio) será apenas um meio para atingir o objetivo principal.

    Sustentando essa proposta, temos a fala dos autores do processo: “Tentavam variar as modalidades e atender todos os gostos.” (GG). “Todos os anos são diferentes. Logo no início do ano eu tento ver o que eles (alunos) gostam mais de fazer. É claro que temos os programas a cumprir que são impostos a nível Nacional, mas tentamos sempre dentro dos programas cativar os alunos fazendo atividades que eles gostam.” (PP); “Tentar que as aulas sejam o mais práticas possível e ir ao encontro dos interesses dos alunos. Nós temos a possibilidade, ao nível do currículo, dos alunos escolherem 2 modalidades coletivas das 6 existentes e 2 modalidades individuais das 4 propostas pelo programa, tentando adequar aos interesses da turma. Mesmo assim, isso não é suficiente pois agrada a maioria e há sempre uns 4 ou 5 que não fazem.” (PR);

    Algumas escolas no Brasil já utilizam essa estratégia e, de fato, a experiência docente tem demonstrado que o envolvimento dos alunos aumentam, mas ainda não atinge a totalidade. Logo, a proposta de tese lida com este inconviniente propondo a desvinculação dos alunos, desse nível de ensino, das turma e séries que pertencem, pois assim, haverá maior possibilidade de ofertas (modalidades) e a composição de novos grupos por afinidades (de prática, de nível e de relação social). As turmas de Educação Física serão definidas pelo interesse dos alunos, podendo mudar em períodos determinados pelas escolas (trimestre, semestre, ano). Acredita-se que essa tentativa de tornar a prática mais atrativa poderá aproximar o aluno do conteúdo a desenvolver, vinvulando-o através de experiências que ele considera positiva, trazendo sentido e significado para o seu aprendizado e conscientizando-o da importância de realizar uma prática sistemática e continuada, pois no momento em que o aluno apreende determinada(s) modalidade(s) e sente-se competente, as chances dele buscar essa(s) atividade(s) na fase adulta, independente do objetivo (saúde, lazer, competição, participação, integração), aumentam.

    Depois, as outras duas subcategorias, que são observadas mais pelos graduandos, referem-se ao incentivo (14,8%) e a relação interpessoal (11,1%). O incentivo no sentido do reforço positivo quando relatam “Tentavam motivar para a prática e tirar um pouco a vergonha, porque havia muitos alunos que não faziam aula porque tinham vergonha. (...).” (GF), ou, “tentando retirar a carga existente nesta fase de autoafirmação que é necessária, em uma primeira fase tentando que eles façam as coisas de uma forma descomprometida, tentando libertá-los de uma determinada carga emocional que eles colocam nas coisas. Depende também, as turmas do secundário são menores do que as turmas do básico, por um lado é bom, pois havendo menos alunos a focalização sob cada aluno é maior, por outro lado quando já estão numa idade avançada, são repetentes, acabam se cristalizando em uma determinada modalidade, e é difícil motivá-los a sair de sua área de conforto para uma área que não se sentem bem. Mas através de estratégias de intervenção, descomprometidas em uma primeira fase, tentando proporcionar o sucesso dos alunos, pode ser possível” (PS); e a relação interpessoal, outro pilar da proposta de tese, aparece quando os graduandos recordam suas aulas e experiências. “(...) Só tive um professor que realmente se importava e que trabalhava conosco para participarmos nas actividades da escola, (...). Havia sempre uma atenção extra, e eu só notei isso, num professor, nos outros dois não; e isso acho que é o factor que nos leva a pensar “olha, vale a pena ir à aula”, sim, o professor importa-se conosco e acho que é isso que nos dias de hoje ainda nos faz pensar que queremos ou não ir a uma aula, o facto de gostarmos ou não do professor, (...), que realmente se preocupa com o nosso desempenho.” (GE); “No 12º ano era um professor muito melhor, já toda a gente fazia aula e não havia problemas nenhum. Este professor não era autoritário, dava liberdade, mas impunha o respeito e como era um professor que se dava muito com os alunos, mesmo fora das aulas, toda a gente gostava de fazer as aulas e ele próprio participava nas aulas conosco e dava aulas mais interessantes.” (GI).

    Ambas categorias são fundamentais e são destacadas quando tratamos da afetividade entre professores e alunos. Freire (1996) afirma que uma educação efetiva deve ser afetiva, fazendo-se necessária à integração do aluno ao contexto social. No âmbito das atividades práticas coletivas da cultura corporal de movimento, com fins de expressão de emoções, sentimentos e sensações, as relações de afetividade se configuram, em muitos casos, a partir de regras e valores peculiares a determinado contexto estabelecido pelo grupo de participantes.

    Complementando este pensamento, Mosquera e Stobäus (2008) afirmam para uma educação afetiva o professor necessita conhecer cada vez mais e melhor, analisar o momento da vida em que se encontra, em que direção objetiva ir, que sentido dá a sua existência, e que mensagem procura disseminar. Respeitar o outro como ser inacabado, ter maior capacidade para ouvi-lo e compreendê-lo, considerando visões diferentes da sua. Entender que se deve oportunizar espaços sociais, pois há lugar para todos no mundo. Para uma relação positiva com os outros é necessário ter abertura para a diversidade, aceitar o diferente e permitir uma estrutura democrática para poder viver bem diante ao mundo múltiplo e plural.

    Outra questão do estudo indagou sobre a existência de critérios para a contituição de turmas para as aulas de Educação Física. A resposta de todos os participantes do estudo com relação a esta questão foi negativa, pois as turmas são formadas ao término do 9º. Ano, onde os alunos escolhem a sua área de formação, e a partir daí, o horário já está estabelecido e o grupo de alunos é o mesmo para todas as disciplinas. Logo, a composição dos grupos para as aulas de Educação Física nas escolas secundárias do Algarve são mistos, separados por tuma e por ano para todas as instituições. Neste contexto, apenas duas escolas revelaram agir diferente em relação ao conteúdo lecionado. Embora haja um plano nacional que deve ser seguido por todas as disciplinas da escola, os professores da escola “A” e os da escola “O”, constroem o seu plano de trabalho junto com os alunos. Por exemplo, dentro de um número “x” de modalidades coletivas, individuais e alternativas, previstas no programa nacional, os alunos podem escolher um mínimo, estabelecido por cada escola, que atenda os interesses da turma. Logo, este modelo flexibiliza o currículo e parece agradar mais os alunos, segundo os professores.

    Ao aventar a possibilidade das escolas ter permissão para constituir grupos diferentes para a educação física, baseados no interesse do aluno, visando a melhora da aprendizagem e da saúde física, mental, social e espiritual, a maioria da amostra – 83,3% -, sendo representada por 77,8% dos professores e 100% dos graduandos, considera um êxito ter os grupos para a Educação Física por interesse do aluno. Suas falas são reveladas por 4 subcategorias principais, sendo uma vantagem a motivação para a aprendizagem (37,8%), para a melhora da saúde (12,3%), para o conteúdo (12,3%) e para o desempenho (12,3%), além da política pública e do desporto escolar que aparecem com menor frequência. (ver Tabela 4)

Tabela 4. Vantagens e desvantagens de turmas de EF por interesse dos alunos

    Embora a aceitação dos professores seja elevada e total por parte dos graduandos, existe um certo descrédito, percebido em algumas falas de professores e graduandos, com relação a concretização dessa proposta. Para alguns, a composição das turmas dessa forma seria muito difícil, apesar de ideal ao que se refere a “motivação para a aprendizagem”. Analise o que foi dito observando as declarações abaixo:

    As falas escolhidas para descrever essa categoria são revelações fiéis do contexto da Educação Física Escolar, também presenciadas constantemente na prática docente realizada no Brasil. Representam as situações geradas por um formato de Educação Física imposto e pouco construído pelos alunos. O reconhecimento em massa dessa mudança (composição das turmas por interesse), por professores e ex-alunos do Ensino Secundário/Médio de portugal, denunciam a urgência de reflexão e medida.

    Depois as mais frequentes foram as categorias saúde, conteúdo e desempenho, onde apresenta-se algumas falas que retratam cada uma delas, respectivamente:

    A saúde é um conceito que, por vezes, é compreendido como sinônimo de bem-estar, felicidade e qualidade de vida, segundo Pais-Ribeiro (2009). Dessa forma, a amostra entende que um ambiente saudável, permeado de aspectos positivos, onde os alunos se sintam bem e felizes, pode permitir um envolvimento efetivo de todos com o processo.

    Conforme Diener (2000, p. 34), as pessoas conhecem BES quando “[...] elas sentem muitas emoções positivas e poucas negativas, quando elas estão engajadas em atividades interessantes, quando elas experimentam muitos prazeres e poucas dores, e quando elas estão satisfeitas com suas vidas.”

    Com relação ao “conteúdo”:

    Há muito tempo que se discute sobre o aprofundamento e a complexidade que os conteúdos da Educação Física devem atingir em cada etapa do ensino e de que a aprendizagem deve ser significativa para o sujeito, mas impositiva a constatação sobre avanços a este respeito. Muitas vezes os alunos perpassam sua escolaridade, sem encontrar sentido e/ou diferenças a respeito de conteúdos e formas ministrados pelos professores de Educação Física, causando dúvidas a respeito daquilo que se pretende em cada nível de ensino. Portanto, a tese em questão corrobora com as ideias dos participantes do estudo, no sentido de alterar o caráter das atividades no Secundário/Médio trazendo sentido e significado deste aprendizado ao aprendiz que sejam compatíveis com os seus objetivos e a prática diária de suas vidas.

    Com relação ao “desempenho”:

    Os participantes revelam que o formato de Educação Física pautado pelo interesse pode ser um caminho para a melhoria do desempenho, pois dessa forma, por seleção natural, as turmas poderiam ser niveladas pelo objetivo de cada aluno, trazendo intensidade adequada à aula, e, consequentemente, satisfação para professores e alunos.

    Todos esses fatores desencadeados pelo interesse do aluno são sustentados pela proposta de tese - (des)seriação - e fundamentados pelas teorias humanísticas, da filosofia da diferença e da maturação biológica. O que faltava era ouvir os protagonistas do processo e testar o programa, pois trazendo resultados positivos, o próximo passo vai depender da vontade política para gerar transformações.

    A necessidade dessas transformações é relembrada no discurso de um graduando quando afirma que seria uma vantagem ter esse formato na Educação Física escolar, mas que isso iria depender das políticas públicas em conseguir mudar aquilo que culturalmente está enraizado em cada contexto. “(...). O que eles (gestores) tinham de fazer é as turmas mais pequenas, para poupar tempo, espaço e dinheiro. Porque se a turma for muito grande o professor já não consegue dar aulas. (...)” (GI)

    Também é possível vislumbrar outra vantagem, na fala de um professor, com relação a essa mudança na Educação Física e a melhoria do sistema desportivo escolar. “Então eu penso que se o aluno pudesse escolher a modalidade que quisesse desenvolver, se calhar (talvez) com uma intencionalidade e uma intensidade mais forte, mais aprofundada, mais séria, com o quadro competitivo do desporto escolar mais organizado, com mais equipes a funcionar, eu acho que seria uma experiência muito interessante para os alunos, até por que há muitos miúdos (jovens) que passam a infância e chegam adultos até o mercado de trabalho sem nunca ter tido experiência com a competição, de treinarem, de se esforçarem para serem melhores, para irem provar em um jogo, em uma competição, com a equipe. Eu penso que a Educação física oferece muita coisa, mas não oferece isso. Nós fizemos muitos torneios, jogos interturmas, interescolas, mas não são todos os miúdos (jovens) que participam e não é aquela competição federada, que faz o corpo mexer, lidar com a ansiedade, portanto penso que isso seria muito bom, não só pelo fato motivacional dos alunos poderem escolher a modalidade que se interessam, mas também por eles poderem passar por essa experiência de terem um treino, de desenvolverem aquela modalidade, de fazerem a preparação física específica daquela modalidade e terem a competição que é muito saudável. (...).” (PM)

    Essa proposta de Educação Física, pode auxiliar na organização do sistema desportivo escolar, já que as turmas do ensino secundário/médio poderão ser constituídas independentemente da série ou ano em que se encontram. Geralmente, as escolas públicas, no Brasil, carecem de espaços para a organização de equipes de iniciação esportiva. Esse trabalho, por vezes, na escola pública é realizado informalmente, pois não consta na carga horária de professores. Logo, para essas escolas, a Educação Física poderá ser, também, um espaço para fomentar essa prática.

    Somente 16,7%, sendo representados por 02 professores e 01 graduando, pensam que poderia ser uma desvantagem (Tabela 4), para o conteúdo e para a motivação. Em relação ao conteúdo os participantes do estudo se expressam da seguinte forma: “(...), também não é bom para os alunos. Por exemplo, se eu gostar só de futebol, pratico só futebol, mas acabo também por não me desenvolver noutras áreas, acabo por não evoluir. A pessoa não se desenvolve em todos os níveis” (GJ). “Nem sei se seria correcto estarmos a fazer as turmas dessa forma. Acho que existem competências que têm de ser transversais a todos os anos e a todos os alunos, independentemente do nível de motivação para a disciplina ou das dificuldades. Acho que tem de existir um “tronco comum” para todos os alunos. (...)” (PB). E sobre a motivação, revelam que: “Não, não é vantajoso. Porque as turmas que tivessem um nível de motivação mais baixo, seriam difíceis de trabalhar. Assim, eu sinto que os alunos mais motivados e com mais empenho acabam por influenciar os outros. Ao fazermos grupos tentamos sempre juntar um que tenha mais capacidade com um que tenha menos, acabando o primeiro por incentivar o segundo. Os alunos desta geração têm muito sentido de entre-ajuda” (PA). Embora o professor pense dessa forma, ao explicar sua prática entra em contradição: “É uma situação muito complicada, porque há alunos que são mais fracos no futebol e depois são mais fortes na ginástica e por isso acaba por não compensar fazer turmas assim. E se a turma é muito grande e desnivelada, acabamos por vezes por dividir a turma, os mais fortes para um lado e os mais fracos para outro, ou raparigas para um lado e rapazes para outro. Nós aqui utilizamos muitas estratégias, de acordo com a actividade e as turmas” (PA). Observe que essa prática de divisão não condiz com o seu primeiro discurso, em que os alunos de níveis diferentes deveriam estar integrados. O fator complicador nesta fala é a divisão intencional do professor, entre os mais fortes e mais fracos ou entre meninas e meninos. A proposta de tese acredita em uma seleção natural, onde prevaleça o interesse do aluno, sendo primordial o seu bem-estar. O fato dos alunos poderem escolher a sua modalidade físico/desportiva e o nível de aprendizagem (intermediário e avançado) que gostaria de ter em suas aulas, fará com que a constituição dos grupos seja natural e sem rotulações, que podem causar constrangimentos e frustrações. É bem importante, que antes da opção definitiva dos alunos, seja reservado um momento para os mesmos converssarem, entre eles, a respeito de suas escolhas, no sentido de garantir que a constituição do grupo seja, também, por afinidade social.

    Ainda, um dos professores, que considera desvantagem a composição das turmas dessa forma, coloca a responsabilidade da prática sistemática nas atividades extracurriculares, afirmando que “(...) é claro que existe depois outra parte que é gerida pela Educação Física, que é o Desporto Escolar e aí o aluno pode se inscrever nas actividades que quer, se pretender ter uma formação mais aprofundada, mas claro que isso não conta para a avaliação da disciplina.” (PB).

    De fato, o modelo desportivo escolar aproxima-se muito da tese em questão, pois os alunos fazem de acordo com o seu interesse e os grupos são formados por categorias, independente do ano ou turma em que se encontram. Dessa forma, a experiência docente tem revelado que o contexto do desporto escolar parece ser mais motivador para os alunos, talvez por lhe trazer mais sentido e significado, pois percebe-se um maior envolvimento deles com o seu aprendizado. Infelizmente, por não ser obrigatório, o desporto escolar não atinge todos os alunos, portanto, a responsabilidade da Educação Física não deveria ser repassada a nenhuma atividade opcional, pois ela deve ser um lugar para todos. E ainda, a experiência docente tem demonstrado que aqueles indivíduos que não sentem-se bem para fazer a Educação Física escolar, dificilmente procuram uma prática extracurricular na própria escola. Usar a Educação Física como mais um espaço para fomentar essa prática na escola é aceitável, desde que preservados os seus propósitos.

    Por fim, indaga-se sobre propostas de Educação Física para o Ensino Secundário que contribua para a saúde (Tabela 5). Em primeiro lugar encontram-se as “atividades diferenciadas”, com 38,4%, que abrangem as “práticas alternativas” (23%), entendendo estas como práticas curriculares diferentes e realizadas em espaço físico natural, por vezes, até fora da escola, e a “atividade extra” (15,4%), entendidas como práticas fisico-desportivas fora do currículo da Educação Física; depois, propostas voltadas a “Educação”, no sentido de mudança de hábitos e atitudes que gerem saúde; e as políticas públicas, responsáveis pelas transformações sociais efetivas, ambas representando 30,8% das respostas.

Tabela 5. Propostas para a EF que visem à saúde

    Em relação as “Atividades diferenciadas”, acompanhe as falas dos graduandos que se reportam as práticas alternativas: “(...). Penso que poderíamos fazer saídas de escolas para a praia, realizar práticas como o surf... já somos “adultos”e temos idade para termos responsabilidade(...). Penso que poderíamos aproveitar mais os espaços fora da escola(GC). Podiam ser feitas mais aulas ao ar livre, para envolver a actividade física com outras competências, acho que era muito bom para os alunos” (GJ). “Actividades mais diversas, sem ser tão presas à escola, actividades de orientação por exemplo. Fazer uma actividade que motivasse a turma toda, não só alguns alunos” (GF). Em contrapartida, a visão contrária dessas práticas por um professor: “(...) Há uma outra questão, os desportos nas escolas…dificilmente se pode fugir ao convencional…os desportos alternativos podem ser interessantes, mas ao nível daquilo que é o dia-a-dia da escola não funciona, (...). (...) A escola não está preparada para actividades alternativas, não está preparada para ter actividades sistemáticas, se for pontual pode ser que seja possível, mas para incorporar nas aulas é impossível.” (PS).

    Esse pode ser um exemplo daquilo que tem ocorrido com frequencia nas escolas. Os alunos clamam por mudança, mas suas revindicações parecem não ter eco. Apesar de seus professores ouvirem, não acreditam ser possível qualquer alteração, pois a estrutura rígida e, por vezes, retrógada que se encontram as instituições de ensino, tornam-se inajustáveis às exigências da sociedade contemporânea.

    As atividades extracurriculares são retratadas assim: “Nós temos o desporto escolar extra Educação Física, mas o secundário não adere muito. Oferecemos um grande leque de opções e eles não fazem. Já os alunos do ensino básico (1º. a 9º. ano) participam efetivamente das atividades ofertadas. (...). A maioria das modalidades só funcionam perto da competição, que é quando os alunos comparecem aos treinamentos. Então, embora seja oferecido atividades gratuitas e de vários tipos, o aluno do secundário não tem opinião própria suficientes para seguir fazendo atividade física. Se calhar (talvez), eles (alunos) frequentam fora da escola. Comparecem nas competições que promovemos ou são promovidas, e até vão muito bem, mas nos treinos, não!” (PQ). Na minha escola tinha muita iniciativa da parte dos professores com relação à atividade extracurricular. Isso envolvia os alunos, pois os mesmos treinavam para poder participar de festivais e jogos regionais.” (GH) “Sou neste momento coordenadora de um projecto (...). Todos os dias, entre as 17h e as 18.30h há aulas abertas a toda a comunidade escolar. (...).Eu tenho uma aula na sexta feira em que dou ginástica localizada e body balance e a aula está a funcionar muito bem, porque estamos próximos do verão e há uma preocupação maior com o corpo. Frequentam alunos e funcionários. Vêm , sem qualquer obrigação, apenas porque querem. Temos que envolver os alunos para além das actividades curriculares, se queremos ter seres humanos motivados e a praticar desporto toda a vida, não podemos apenas ensinar o basquete, o vôlei, o futebol... A minha aula tem muita gente, porque promovo esses momentos de aprendizagem para a vida.” (PA).

    Diante das revelações, há necessidade de se questionar por que o abandono da prática fisico-desportiva aumenta na medida em que os alunos avançam no sistema educacional? Então, por que os mesmos alunos procuram fazer essas atividade fora da escola? Por que só comparecem quando apresentam um objetivo concreto (competição)? Acredita-se que o caminho para todas essas questões poderá ser norteado pela última frase expressa pelo professor “A”, que será transformada em outra questão: Na prática docente da Educação Física, quanto se tem promovido de aprendizagens para a vida? Nenhuma prática escolar fará sentido, se o aluno não conseguir transferir aquilo que aprende em prol de sua qualidade de vida.

    Na seqüencia, para confirmar aquilo que foi dito até aqui, surge a categoria “Educação”, com 30,8% das respostas, no sentido de conscientização da mudança de habitos e atitudes em direção a saúde. Acredita-se que a escola é um espaço propício para gerar essas transformações. Observe as seguinte falas:

    Independente da proposta há um direcionamento para mudança estrutural da Educação Física, que desacomoda diretamente a cultura e o espaço físico-temporal existente em cada contexto, e indiretamente, contribui com desporto escolar. Apesar da intenção nobre que está por traz de cada ideia, relacionada à melhoria da saúde, é necessário reconhecer a complexidade dessas mudanças, sendo importante ocorrerem com ampla discussão em nível de instituições (gestores, professores, alunos e familiares), independente da etapa educativa (Básico/Fundamental, Secundário/Médio, Superior e Pós-graduação), e em nível de políticas públicas, para resultar na reforma almeja. Ressalta-se que, segundo Charlot (2006), nenhuma reforma política, por si só, poderá resolver um problema educacional, há necessidade das práticas de toda a comunidade escolar acompanhar aquilo que se propõe, caso contrário, não funcionará.

Considerações finais

    Para a maioria dos entrevistados (83,3%) a participação dos alunos do secundário nas aulas de Educação Física está condicionada a alguns fatores, principalmente, a diferença entre os sexos e os tipos de modalidades físico-desportivas ministradas. Apenas 29,3% das respostas consideram boa a participação, e somente 14,6% delas denunciam que existem alunos desmotivados. A reflexão sobre essas condições pode ser determinante para a participação dos estudantes nas aulas de EF.

    O fato, de alguns alunos se envolverem mais que outros com esse componente curricular, está relacionado com: as fraquezas (incapacidades, limitações) de cada um e com as experiências anteriores (ambas as categorias com 20% das respostas), e também, com as potencialidades e as preferências (com 17,1% das respostas). Destaca-se que todas essas subcategorias estão ligadas à pessoa, pois, respectivamente, dependem de suas limitações, suas vivências, suas qualidades e seus gostos, para tornar sua participação efetiva nas aulas.

    Nesse sentido, as estratégias utilizadas pelos professores, para atrair a participação dos educandos nas aulas de EF, estão direcionadas a “atividade” (51,8% das respostas) e ao “aluno” (48,1% das respostas), revelando ser, aparentemente, uma solução harmoniosa frente aos problemas expostos no parágrafo anterior, na medida em que há preocupação em adaptar as atividades à capacidade do aluno e respeitar aquilo que é de seu interesse. Em contrapartida, os graduandos denunciam também (na primeira categoria) que a avaliação é utilizada como meio de regulação, uma vez que a média da disciplina de EF determina junto com as demais avaliações de outros componentes curriculares o ingresso à universidade, o que obriga a participação dos alunos ao invés de incentivá-los naturalmente a prática. Após a coleta e o tratamento dos dados, surgiu uma discussão a esse respeito no Ministério da Educação com o intuito de retirar a nota da Educação Física da média geral dos estudantes, mas parece que os professores da área não estão sendo consultados e muitos discordam dos argumentos apresentados pelo Ministério.

    A Educação Física do Secundário (Médio) nas escolas do Algarve funciona, para a maioria das escolas, 2 vezes por semana com duração de 90’ cada encontro. Apesar do tempo de prática na EF ser uma vantagem em relação às escolas Brasileiras, parece que em breve serão reduzidos para um período de 90’ e um de 45’. Da mesma forma, estas alterações estão acontecendo sem consulta prévia da classe diretamente interessada e alguns professores entendem essas mudanças como contraditórias diante do quadro apresentado no país com relação à saúde, obesidade e o sedentarismo.

    As escolas não possuem qualquer critério para a constituição de turmas específicas para a EF. Todas as escolas possuem grupos mistos e separados por turma e ano. A escolha da área de formação, realizada ao término do 9º. Ano, é que determina a turma e o horário das disciplinas. Apesar de não existir turmas específicas para a EF escolar no ensino secundário/médio, 83,3% dos participantes do estudo consideram uma vantagem se os grupos fossem constituídos por interesse dos alunos (de prática, nível de aprendizagem e de relação social). Na opinião deles, seria uma vantagem para a motivação em aprender (37,8%), o desempenho (12,3%), o conteúdo (12,3%) e a saúde (12,3%).

    As propostas para a Educação Física no sentido de contribuição a saúde, sugerem “atividades diferenciadas” (38,4% das respostas), “Educação” e “Políticas Públicas” (ambas com 30,8% das respostas), reconhecendo a escola e a educação física como espaços excelentes para promover a mudança de estilos de vida e de comportamentos e considerando essencial que essas reformas, principalmente, de suporte e melhorias, sejam efetivadas por agentes de transformações de elevado alcance.

    Diante de todos esses dados, constata-se a importância da Educação Física do ensino secundário/médio estar voltada para os interesses dos alunos. Apesar de eles serem a razão do processo, pouco se disponibiliza no sentido de considerar suas ideias na construção dessa disciplina. Geralmente a gestão do funcionamento da EF escolar é realizada pelas políticas públicas, instituições escolares e professores (quando consultados). É urgente a necessidade de mudanças e a inclusão dos alunos para uma adequada construção da disciplina na escola neste nível de ensino.

    Acredita-se que essas mudanças em consonância aos interesses daqueles que são a razão do processo – alunos - priorizam o bem-estar e podem promover além do envolvimento efetivo, que será resultante da consequente construção coletiva deles juntamente com professores e escola, uma melhora qualitativa do ambiente de aprendizagem, beneficiando a saúde de todos envolvidos.

    Por fim, essa reforma no Ensino Médio (Secundário em Portugal) só poderá ser repensada por instituições que compreendam o currículo da Educação Física como processo, pois há necessidade de garantir aos alunos em etapas anteriores – 1º. a 9º. ano - o universo de conhecimentos que perpassam esse componente curricular, para que não haja prejuízo de experiências e para que a escolha seja realizada de forma consciente sob uma perspectiva ampliada.

Referências

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 175 | Buenos Aires, Diciembre de 2012
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