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Reabilitação vestibular por meio do protocolo de Cawthorne e Cooksey

La rehabilitación vestibular por medio del protocolo de Cawthorne y Cooksy

 

*Fisioterapeuta, graduada pela Universidade de Passo Fundo

**Fisioterapeuta, docente do curso de Fisioterapia

da Universidade de Passo Fundo

(Brasil)

Mariana Zancan*

Renata Busin do Amaral**

Carla Wouters Franco Rockenbach**

marianazancan@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A manutenção do equilíbrio corporal é feita pelos sistemas vestibular, visual e somatossensorial. O desequilíbrio corporal e a tontura manifestam-se quando o conjunto de informações dos sistemas não está integrado. A Reabilitação Vestibular proposta pelo protocolo de Cawthorne e Cooksey dispõem de exercícios físicos repetitivos que permitem novos padrões de estimulação vestibular e esta intervenção seria capaz de promover melhoras nas reações de equilíbrio.

          Unitermos: Equilíbrio corporal. Reabilitação vestibular. Protocolo de Cawthorne e Cooksey.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 174, Noviembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O sistema vestibular é responsável pela manutenção do equilíbrio, com função de informar as oscilações da cabeça nos diferentes planos do espaço e movimentos corpóreos (BITTAR et al, 2004). Havendo interrupção da sua função, sensações desagradáveis como vertigem, náusea, desequilíbrio e nistagmo são sentidas pelo indivíduo.

    A reabilitação vestibular tem sido reconhecida como opção de tratamento de pacientes com disfunção vestibular, proporcionando assim uma melhor qualidade de vida, na medida em que se dispõe a restabelecer grande parte do equilíbrio corporal (BEAR et al, 2002).

    O fenômeno que auxilia o paciente com disfunção periférica ou central a manter e/ ou melhorar fisicamente é a adaptação, sendo esta a propriedade mais importante do SNC, cuja função é recuperar o mecanismo funcional do Sistema Nervoso Central (SNC) ou do Sistema Nervoso Periférico (SNP), reduzindo as atividades, regulando a intensidade e velocidade dos elementos no índice motor, e finalmente, mudando de estratégia (BITTAR et al, 2004).

Sistema vestibular e reabilitação

    O equilíbrio normal é garantido pelos três sistemas que captam as informações do meio externo: visão, propriocepção e o sistema vestibular. O sistema vestibular informa sobre as acelerações angulares da cabeça nos diversos planos do espaço (sagital, axial e coronal) e movimentos corporais lineares (frente e trás, cima e baixo). A visão é responsável pela assimilação rápida do movimento corporal e pela sensação de profundidade. O sistema proprioceptivo informa sobre o posicionamento das partes do corpo no espaço em um dado instante, através de estruturas localizadas nos músculos, tendões, cápsulas articulares e tecido cutâneo. As informações captadas são enviadas ao Sistema Nervoso Central (SNC) onde são analisadas, comparadas e integradas (PEDALINI e BITTAR, 1999). Quando as informações fornecidas aos centros nervosos são incoerentes entre si ocorre conflito sensorial originando a sensação vertiginosa e o desequilíbrio (RESENDE et al, 2003).

    Na ocorrência de uma lesão vestibular, o SNC efetua naturalmente a recuperação funcional do desequilíbrio corporal, através da neuroplasticidade. Esse mecanismo adaptativo do comportamento motor vestibular é chamado de compensação vestibular. Além disso, pode ocorrer também a adaptação, a habituação e/ou a substituição. A RV promove a aceleração desses mecanismos e, assim, a diminuição dos sintomas vestibulares (GANANÇA et al, 2002).

    Na adaptação vestibular o sistema vestibular aprende a receber e a processar informações, mesmo que destorcidas ou incompletas, ajustando-as aos estímulos apresentados. A habituação vestibular consiste na redução das respostas sensoriais baseada na repetição de estímulos sensoriais. É alcançado por execução de movimentos repetitivos que provoquem diminuição da resposta vestibular e, como conseqüência, leva à diminuição da amplitude do nistagmo (oscilação rítmica e involuntária dos olhos). Para ocorrer à habituação, é necessário o máximo de integração de todos os sensores envolvidos: visual, vestibular e proprioceptivo. A repetição promove a adaptação ao movimento, estimula o órgão sensorial, e cria novos automatismos no banco de dados responsável pelo equilíbrio corporal (GANANÇA et al, 2002).

    Porém, em muitos casos, a recuperação dos mecanismos adaptativos do comportamento motor vestibular fica incompleta, sendo necessária a intervenção através de exercícios para potencializar a neuroplasticidade do Sistema Nervoso Central, através da Reabilitação Vestibular.

    A reabilitação vestibular (RV), como terapia complementar ou única tem grande aceitação devido aos seus resultados favoráveis. É baseada em mecanismos relacionados à plasticidade neuronal do SNC. Aplicada em pacientes com distúrbios do equilíbrio corporal, através de exercícios físicos específicos e repetitivos, objetiva melhora na interação vestíbulo-visual durante a movimentação cefálica e promoção da estabilização visual, ampliação da estabilidade postural estática e dinâmica nas condições que produzem informações sensoriais conflitantes (GANANÇA et al, 2004). Além de minimizar os sintomas vestibulares, também apresenta função profilática, auxiliando os pacientes a restabelecerem a confiança em si mesmos, reduzindo a ansiedade, melhorando o convívio social e a qualidade de vida (NISHINO et al, 2005; GANANÇA et al, 2002).

    Dentre os métodos de reabilitação, destacam-se os exercícios de Cawthorne e Cooksey, criados na década de 40 e utilizados com soldados que haviam sofrido traumatismo crânio- encefálico (TCE); percebeu-se significativa melhora dos pacientes quando realizavam movimentos bruscos da cabeça. Esses exercícios consistem em movimentos cefálicos, tarefas de coordenação óculo-cefálica, movimentos corporais globais e tarefas de equilíbrio. É método é muito utilizado ainda hoje e manifesta excelentes resultados em pacientes com vestibulopatias periféricas (RIBEIRO e PEREIRA, 2005). Este protocolo é de fácil aplicação e pode ser realizados em grupo permitindo maior interação entre os participantes.

    A RV deve ser organizada e adaptada às necessidades individuais do paciente vertiginoso e deve ser dirigida para as deficiências funcionais (GANANÇA et al, 2004). Este recurso terapêutico mostra-se efetivo na diminuição e extinção dos sintomas (NISHINO et al, 2005). A literatura aponta, ainda, melhora significativa nos sintomas, nas deficiências, no equilíbrio e na estabilidade postural em pacientes com disfunção vestibular unilateral crônica após a terapia de RV personalizada, com melhora também na qualidade de vida dos indivíduos (GIRAY et al, 2009).

    Silveira et al (2002) comprovaram que os exercícios de Cawthorne e Cooksey, promoveram melhora significativa na qualidade de vida dos indivíduos vestibulopatas, auxiliando no processo de compensação do sistema vestibular e redução dos sintomas vestibulares.

    O paciente estudado por Rogatto et al (2010), e atendido por meio de um protocolo contendo os exercícios de Cawthorne e Cooksey, apresentou melhora no equilíbrio e na capacidade funcional, e diminuiu o tempo gasto para sentar e levantar cinco vezes de uma cadeira com os membros superiores cruzados.

    Resende et al (2003) afirmam em seu trabalho que, utilizando como intervenção o protocolo de Cawthorne e Cooksey houve melhora significativa nas atividades de vida diária e das desordens vestibulares dos pacientes. Silveira et al (2002) aplicaram este mesmo protocolo e observaram melhora da sintomatologia e do prognóstico clínico em sua amostra, concordando também com achados de Cesarani et al (2004) que falam que os exercícios com movimentos rápidos da cabeça, por serem mais perceptíveis aos receptores sensoriais do sistema vestibular, apresentam resultados positivos.

    Ribeiro e Pereira (2005) procuraram verificar se a abordagem terapêutica específica para o sistema vestibular gera aprendizado motor e contribui para a melhora do equilíbrio e a diminuição da possibilidade de queda, submeteu quinze mulheres aos exercícios de Cawthrone e Cooksey e comparou-as com o grupo controle, todas com idades entre 60 e 69 anos. Após o estudo, as autoras concluíram que os exercícios foram capazes de melhorar o equilíbrio nessa amostra e, assim, diminuir a possibilidade de queda. Ainda, sugerem que estes exercícios podem ser aplicados como medida preventiva nos distúrbios do equilíbrio de idosos.

    Nishino et al (2005), afirmam que a Reabilitação Vestibular foi realizada de forma personalizada objetivando estabelecer o equilíbrio corporal. Porém, em muitos casos, houve algumas variações que ofereceram uma progressão respeitando as dificuldades e facilidades do paciente em realizar os exercícios. Levando-se em conta a queixa do paciente na combinação de protocolos, obtêm-se melhores resultados.

    Bittar e Pedalini (1999) ressaltam que a RV mostra-se o melhor tratamento terapêutico para pacientes acometidos de disfunção vestibular e pode estar associada ou não ao uso de medicamentos.

    Segundo Giray et al (2009) e Nishino et al (2005), a combinação de diferentes recursos terapêuticos adequados para cada paciente produz resultados positivos e o índice de recidivas é consideravelmente menor.

Conclusão

    A Reabilitação Vestibular, quando bem indicada e seguida pelo paciente, é um método terapêutico eficaz no tratamento de pacientes vestibulopatas, diminuindo a intensidade, frequência e duração dos eventos, proporcionando assim bem- estar físico e psíquico do indivíduo.

    Observa-se na literatura que a reabilitação vestibular com os exercícios de Cawthorne e Cooksey são efetivos, sendo promissor a utilização do protocolo proposto no tratamento de vestibulopatias.

Referências bibliográficas

  • Bittar RSM, Bottino MA, Pedalini MEB, et al. A reflexia pós-calórica bilateral: aplicabilidade clínica da reabilitação vestibular. Rev Bras Otorrinolaringol, 2004; 70:188-193.

  • Bear MF, Connors BW, Paradiso MA. Os sistemas auditivo e vestibular. In: Bear MF, Connors BW, Paradiso MA. Neurociências: desvendando o sistema nervoso. São Paulo: Artmed; 2002. p. 349-95.

  • Cesarani, A.; Alpini, D.; Monti, B. et al. The treatment of acute vertigo. Neurol. Sci., Milano, v. 24, n. 5, p.26-30, set., 2004.

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  • Pedalini MEB, Bittar RSM. Reabilitação vestibular: uma proposta de tratamento. Pró-fono Revista de Atualização Científica. 1999;1(2):140-4.

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  • Ribeiro ASB, Pereira JS. Melhora do equilíbrio e redução da possibilidade de queda em idosas após os exercícios de Cawthorne e Cooksey. Rev Bras de Otorrinolaringol. 2005, 71(1):38-46.

  • Rogatto, A.R.D; Pedroso, L.; Almeida, S.R.M.; Oberg, T.D. Proposta de um protocolo para reabilitação vestibular em vestibulopatias periféricas. Fisioterapia em Movimento. Curitiba, v.23, n.1, p.83-91, jan/ mar.2010.

  • Silveira SR, Taguchi CK, Ganança FF. Análise comparativa de duas linhas de tratamento para pacientes portadores de disfunção vestibular periférica com idade superior a sessenta anos. Acta AWHO. 2002;21(1):14-31.

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