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Influência da privação visual sobre a percepção subjetiva de esforço durante a realização de teste de 10 RM para membros inferiores

La influencia de la privación visual sobre la percepción subjetiva del esfuerzo durante 

la realización del test de 10 repeticiones máximas para miembros inferiores

 

*Laboratório de Investigação e Estudos sobre Metabolismo e Exercício Físico

Universidade Federal de Lavras, Minas Gerais

**Laboratório de Pesquisa em Psicologia do Exercício

Universidade Federal de Lavras, Minas Gerais

(Brasil)

Eric Francelino Andrade*

Luciana Botelho Ribeiro**

Priscila Carneiro Valim-Rogatto**

Gustavo Puggina Rogatto*

ericfrancelinoandrade@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A Percepção Subjetiva de Esforço (PSE) é um método utilizado para prescrição e monitoramento de esforço para atividades com diferentes demandas metabólicas. Exercícios resistidos prescritos por zonas de repetições máximas quantificam relativamente a intensidade do esforço desempenhado e podem ou não ser influenciados por privação visual. O objetivo do presente estudo foi verificar a PSE, em diferentes percentuais de carga de 10 repetições máximas (RM) em adultos jovens fisicamente ativos submetidos à atividade com e sem privação visual. Participaram do estudo 14 indivíduos do sexo masculino (idade: 25,0±4,3 anos; massa: 81,5±13,2 Kg), familiarizados com exercícios resistidos e classificados como fisicamente ativos de acordo com Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ). O estudo foi conduzido em três sessões distintas de teste para cada indivíduo, onde estes realizaram 10 movimentos no exercício Leg Press 45°. Inicialmente foi determinada a carga para 10 RM, utilizando-se como parâmetro a Escala de Percepção Subjetiva de Esforço (PSE) de Borg. Na segunda sessão (72 horas após a primeira) foram realizadas, por cada voluntário, quatro séries de 10 repetições com 50%, 75%, 90% e 100% da carga de 10RM, de forma aleatória e com privação visual, avaliando-se a PSE no final de cada série, sem que os avaliados soubessem a carga. Na terceira sessão (após um período mínimo de 48 horas da sessão anterior), cada voluntário realizou quatro séries de 10 repetições com os mesmos percentuais de carga executados na sessão anterior, de forma aleatória, sem privação visual, avaliando-se a PSE no final de cada série. Foram comparadas as PSE das situações com e sem privação visual. A análise estatística foi feita por ANOVA e teste post hoc de Bonferroni com p<0,05. Os valores encontrados para as PSE entre percentuais de carga foram semelhantes entre o grupo com e sem privação visual, tendo sido observada elevação da PSE conforme as cargas relativas a 10RM eram aumentadas. Tais resultados indicam que a privação visual não gera interferência sobre a PSE de homens jovens fisicamente ativos.

          Unitermos: Exercícios resistidos. Carga máxima. Adultos jovens. Escala Borg.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 174, Noviembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A prática de exercícios físicos está intimamente associada à melhoria da aptidão física e da saúde, estando relacionada inclusive com o aumento da eficiência do sistema imunológico e de variáveis clínicas como: densidade óssea, tolerância à glicose e sensibilidade à insulina (PITANGA, 2002). A classificação quanto ao tipo de exercício físico está relacionada à via bioenergética utilizada, podendo haver predomínio do metabolismo oxidativo, caracterizando assim o exercício como aeróbio; ou glicolítico lático, que caracteriza a atividade como anaeróbia (DOMICIANO et al., 2010). Outro fator determinante para a via energética a ser utilizada durante o exercício é o tempo e a intensidade, sendo que exercícios de longa duração e baixa intensidade utilizam principalmente a energia fornecida pelo metabolismo oxidativo, e exercícios de curta duração e alta intensidade podem culminar em vias metabólicas glicolíticas láticas (McARDLE et al., 2003). Envolvidos nesta última categoria estão os exercícios resistidos, que vêm sendo recomendados por importantes órgãos normativos de atividade física (ACMS, 1998; ACMS, 2002) já que atendem com maior especificidade e de forma individualizada as necessidades de cada indivíduo. No entanto, antes do início de qualquer treinamento resistido é importante verificar de maneira segura a carga de trabalho mais adequada para a sua realização (scheidT, 2005).

    Dentre os parâmetros mais utilizados para prescrição e manutenção de exercícios físicos resistidos estão os testes de repetições máximas (RM). Nestes testes, o objetivo é verificar a quantidade máxima de repetições que um indivíduo é capaz de desempenhar se opondo a uma determinada carga (RASO, MATSUDO e MATSUDO, 2000). Desta maneira, tornam-se necessários instrumentos que auxiliem no monitoramento do esforço. Uma importante ferramenta utilizada para auxiliar na manutenção e prescrição de exercícios é a Percepção Subjetiva de Esforço (PSE), que é um método que evidencia a associação entre fatores fisiológicos e psicológicos (RASO, MATSUDO e MATSUDO, 2000).

    Atualmente uma das escalas de PSE mais utilizadas para a monitoração de exercícios resistidos é a escala RPE (Ratings of Perceived Exertion) de Borg (1998), que tem sido utilizada para diferentes populações (MONTEIRO, SIMÃO e FARINATTI, 2005; SCHEIDT, 2005; SIMÃO et al., 2006; LIMA et al., 2006), demonstrando ser um procedimento que reflete a intensidade do exercício que está sendo realizado (MONTEIRO, SIMÃO e FARINATTI, 2005). Além disso, outras vantagens da utilização deste método envolvem a grande simplicidade de aplicação, a monitoração do processo de reabilitação de atletas lesionados, a garantia de que a periodização será seguida apropriadamente - evitando o overtraining - e a possibilidade de monitoramento da carga interna, comparando-a com a externa (NAKAMURA, MOREIRA e AOKI, 2010).

    A informação visual disponibilizada ao indivíduo durante a realização de esforço físico é um fator a ser considerado na realização de qualquer exercício físico, uma vez que tal aspecto relaciona informações do ambiente (espaço, cores, formas e tamanhos dos objetos) com informações do próprio corpo (proprioceptores musculares, articulares e mecanorreceptores cutâneos) (MANN, 2010). Isso se torna ainda mais relevante na realização de exercícios que envolvem o deslocamento de grandes quantidades de carga, como é o caso de exercícios resistidos (MAIOR et al., 2007).

Objetivo

    Verificar a PSE durante a realização de esforço em diferentes percentuais de carga de 10 RM com e sem privação visual em adultos jovens fisicamente ativos.

Materiais e métodos

    Participaram do estudo 14 indivíduos do sexo masculino com idade de 25,0±4,3 anos e massa corporal de 81,5±13,2 Kg. Todos os participantes tinham familiarização com exercícios resistidos e foram classificados como fisicamente ativos de acordo com Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ). Cada voluntário assinou um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) que autorizava sua participação no estudo e trazia informações quanto à metodologia e objetivos do mesmo, garantindo a sua confidencialidade e integridade e deixando claro que ele poderia recusar ou desistir da participação no estudo em qualquer momento sem sofrer qualquer penalidade.

    Os procedimentos foram conduzidos em três ocasiões distintas, onde cada indivíduo deveria realizar 10 movimentos do exercício Leg Press 45°. Na primeira ocasião foi determinada a carga para 10 RM conforme protocolo utilizado por Ribeiro et al. (2007), onde os voluntários deveriam mobilizar uma carga que os impossibilitasse realizar mais do que 10 repetições em regime de falha muscular concêntrica voluntária, tendo sido adotado o máximo de três tentativas com o intervalo de três a cinco minutos entre elas. Foi utilizada como parâmetro de monitoramento das cargas, a escala de PSE de Borg, que é enumerada de 6 a 20, sendo o número 6 correspondente à “Sem nenhum esforço”, o número 11 correspondente à intensidade “Leve”, o número 17 correspondente a “Muito intenso”, e o número 20 referente ao “Máximo esforço”.

    A segunda sessão foi realizada 72 horas após a primeira. Nesta fase, cada indivíduo foi vendado antes de entrar na sala de musculação, objetivando que este não tivesse qualquer informação sobre as cargas do teste que seria realizado naquele dia. Cada participante realizou quatro séries com 10 repetições do exercício Leg Press 45°, respeitando o tempo de cinco minutos de descanso entre elas. Em cada uma das séries, foram desempenhados aleatoriamente esforços com cargas equivalentes a 50%, 75%, 90% e 100% de 10 RM, sendo que, ao final de cada série, um dos avaliadores apresentava ao avaliado a Escala PSE de Borg ao voluntário do estudo. Sem o reconhecimento visual da carga, o voluntário deveria indicar sua percepção de esforço referente à série recém-concluída.

    A terceira sessão do estudo ocorreu 48 horas após a anterior. O procedimento realizado por cada voluntário nesta fase consistiu novamente de quatro séries com 10 repetições, onde foram utilizados os mesmos percentuais de carga da sessão anterior (50%, 75%, 90% e 100%), também de forma aleatória, cumprindo um intervalo de cinco minutos de descanso entre as séries. Nesta etapa os indivíduos não estavam vendados, e ao final de cada série foram avaliadas as PSE apresentadas pelos mesmos.

Análise estatística

    Os resultados de PSE nas diferentes cargas realizadas nas situações com e sem privação visual foram analisados por ANOVA e teste post hoc de Bonferroni com p<0,05, utilizando o software Bio Estat 5.0 (AYRES et al., 2007).

Resultados e discussão

    O valor médio encontrado para a carga de 10RM no exercício Leg press 45º foi 203,4±54,1Kg. Os valores das cargas para 10 RM atingidos por cada participante estão apresentados na figura 1.

Figura 1. Valores individuais e média de carga obtida no teste de 10 RM dos participantes do estudo

    Os valores de PSE elevaram-se na medida em que foram aumentados os percentuais de carga, tanto nas sessões com privação visual quanto nas sessões realizadas sem privação visual (Tabela 1).

    O valor mínimo encontrado para a carga relativa a 50% de 10 RM em ambas as situações foi “6”, que corresponde à classificação: “Sem nenhum esforço”. Já a classificação máxima observada foi 15 na situação com privação visual e 14 na situação sem privação visual. Nas sessões realizadas com 75% da carga de 10 RM, o valor mínimo observado foi 7 na sessão com privação visual e 11 na sessão sem privação. O valor máximo encontrado na situação com privação visual foi 19, e quando não houve privação visual a PSE observada foi 16. Nas cargas desempenhadas a 90% de 10 RM, o valor mínimo relatado foi 13 na sessão com privação, e 12 na sessão sem privação visual. Quanto ao valor máximo de PSE encontrado neste percentual de carga, na situação com privação visual foi observado o valor 20, que corresponde à classificação: “máximo esforço”, enquanto que, na sessão sem privação da visão, valor foi 19. Os valores mínimos encontrados na situação equivalente a 100% de 10 RM foram: 14 nas sessões com privação e 13 nas sessões sem privação visual. Com relação aos valores máximos encontrados nesta carga, em ambas as situações de teste o valor de PSE relatado foi 20 (máximo esforço).

    A tabela 2 apresenta os valores médios de PSE relatados pelos participantes nas condições com e sem privação visual em diferentes percentuais de carga de 10 RM.

Tabela 1. Valores de PSE de homens praticantes de exercícios resistidos em diferentes percentuais de carga de 10 RM

    A análise estatística não identificou diferenças significativas quando comparadas as PSE nas situações com e sem privação visual, em nenhum dos diferentes percentuais de carga de 10 RM. Foi observada elevação da PSE conforme as cargas relativas à 10RM eram aumentadas (tabela 2). Tal relação entre o aumento de carga e a concomitante elevação da percepção de esforço corrobora com os resultados de outros estudos (ASSUMPÇÃO et al., 2008; SCHEID, 2005). Adicionalmente, a escala Borg também mostrou ser eficiente na predição de variáveis fisiológicas durante outros testes incrementais (LIMA et al., 2006; SILVEIRA, 2010).

    Maior et al. (2007) verificaram um aumento relativo no desempenho da força muscular para o teste de 1RM no Leg Press 45° na situação com privação visual em comparação à situação sem tal privação. De maneira semelhante, a privação visual elevou o desempenho para o teste de 1RM, assim como aumentou o índice de melhora (diferença de cargas realizadas com e sem privação da visão) em voluntários do estudo realizado por Campos et al. (2007).

    Os resultados do presente estudo destoam dos observados nos trabalhos de Maior et al. (2007) e Campos et al. (2007). Porém, tal diferença pode estar relacionada ao teste utilizado pelos autores supracitados ter sido de 1RM, enquanto que no presente estudo foi realizado o teste de 10 RM. Vale salientar que as demandas metabólicas para fornecimento de energia durante estes testes são distintas, havendo predominância de metabolismo anaeróbio lático no teste de 10RM enquanto que no teste de 1RM é caracterizado o metabolismo anaeróbio alático (McARDLE et al., 2003; LIBARDI et al., 2007).

    A justificativa adotada por Maior et al. (2007) para explicar a melhoria do desempenho em testes de 1RM em situações onde não é possível a visualização da carga está relacionada à hipótese de que o indivíduo vendado não subestima seu desempenho e, assim, melhora sua auto-eficácia cognitiva. No entanto, tal perspectiva pode não ser adotada para testes de 10RM, principalmente por se tratar de demandas metabólicas diferenciadas, nas quais maiores números de repetições elevam tanto os valores de PSE quanto o desconforto causado por ajustes fisiológicos durante o teste (LIBARDI et al., 2007). O aumento na demanda metabólica proporcionado pelo teste de 10RM pode levar à fadiga (SIMÃO et al., 2006) que, assim como o esforço, possui aspectos fisiológicos e psicológicos que podem alterar o comportamento da PSE (NEVES e DOIMO, 2007). Assim, pode-se justificar que a divergência entre os resultados do presente estudo (onde foi realizado o teste de 10RM) com os observados em estudos prévios, onde foram utilizadas metodologias semelhantes (condições vendado e não vendado), seja devido a essas interações fisiológicas e psicológicas diferenciadas, induzidas por cada tipo de teste.

    Outro fator relevante a ser considerado para a análise dos resultados apresentados quanto à PSE semelhante nas situações vendado e não vendado, é o fato de que todos os voluntários eram fisicamente ativos e praticantes assíduos de exercício resistido. Desta maneira, considera-se que o fato de estar fisicamente ativo possa conferir uma maior perspicácia em julgamentos de esforço (CASTRO, 2004). Além disso, o treinamento em circunstâncias ideais maximiza os benefícios das adaptações psicológicas (SANTOS, SILVA e MICHELS, 2002) e proporciona ao indivíduo um maior conhecimento do próprio corpo (MARTINS e BARRETO, 2007), fato que pode conferir maior segurança ao identificar a percepção de esforço em uma região da escala próxima a da região de teste em condições normais, mesmo sem ter visualizado a carga de exercício.

Tabela 2. Percepção Subjetiva de Esforço em diferentes cargas relativas a 10 RM nas condições com privação visual e sem privação visual

    Os resultados apresentados na tabela 2 mostram diferenças na PSE (tanto na situação com privação visual quanto na situação sem privação visual), quando comparados os valores entre 50% e 75%, e entre 90% e 75%. Ao se comparar a PSE observada para 100% com a encontrada em 90% de 10 RM não foram identificadas diferenças estatisticamente significativas. Tais resultados podem ser justificados de acordo com a classificação utilizada por Costa e Fernandes (2007), onde exercícios de repetições máximas a 50%, 70% e 90% receberiam respectivamente as classificações: “Baixa Intensidade”, “Média Intensidade” e “Alta Intensidade”. Segundo estes autores, a percepção de esforço estará de acordo com o aumento crescente da tensão muscular desempenhada em cada uma destas intensidades, de forma que, quanto maior a carga maior será o valor da PSE. Neste sentido, devido à grande proximidade entre as cargas desempenhadas entre 90% e 100% (que estão dentro da classificação: “alta intensidade”), os valores de percepção de esforço estarão também próximos, justificando não haver diferenças significativas entre eles.

    A elevação da percepção de esforço à medida que a intensidade de exercício aumenta, também foi relatada por Day et al. (2004), em estudo realizado com dezenove voluntários de ambos os sexos que desempenharam exercícios em diferentes porcentagens e número de repetições relativas à 1RM. Assim como Costa e Fernandes (2007), Day et al. (2004) classificaram as intensidades de acordo com o percentual de carga relativo à repetição máxima.

    O comportamento geral da PSE observado tanto para a situação com privação visual quanto para a situação sem privação da visão, corrobora com o relatado em estudos prévios (ASSUMPÇÃO et al., 2008; SCHEID, 2005; COSTA e FERNANDES, 2007; DAY et al., 2004), provando a eficácia da escala de percepção de esforço em predizer intensidades para prescrição de exercícios resistidos.

Conclusão

    Os resultados indicam que a privação visual não gera interferência sobre a PSE de homens jovens fisicamente ativos. Além disso, à medida que a intensidade do esforço aumenta, a PSE mostra elevação. Contudo, entre cargas mais elevadas (90% e 100% de 10RM) não há aumento significativo na PSE tanto para a condição com quanto para a sem privação visual. Tal fato pode estar relacionado à maior proximidade da intensidade destas últimas cargas em relação às demais testadas.

Referências bibliográficas

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