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Fatores que constituem os jogos esportivos coletivos de invasão. Sua
relação e interferência no processo de
ensino-aprendizagem-treinamento do handebol

Factores que constituyen los juegos deportivos colectivos de invasión. Su relación e
influencia en el proceso de enseñanza-aprendizaje y entrenamiento de balonmano

 

Mestre em Educação Física (Formação de professores e prática pedagógica). Especialista

em Treinamento dos jogos esportivos coletivos. Professores Efetivo do Instituto Federal

de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, IFRN campus Macau

Luis Eugênio Martiny

luis_martiny@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo principal deste artigo é apresentar os fatores que constituem os jogos esportivos coletivos de invasão (JECI), tentando estabelecer qual a relação destes com o ensino-aprendizagem-treinamento (EAT) do esporte handebol. Neste sentido, identificamos e descrevemos sobre três grandes grupos de fatores. O primeiro deles fixou-se como sendo o conjunto de componentes estrutural-funcionais que regulam a lógica interna desta categoria de jogos. O segundo fator, foi relacionado com os mecanismos de processamento da informação (percepção – tomada de decisão e execução) que orientam a ação motora de cada jogador e como estas são demandados frente à tarefa a ser realizada. Por fim, o terceiro conjunto de fatores encontrados foram aqueles caracterizados como sendo os elementos que interferem no desempenho esportivo. Para tanto, considera-se que o professor ao se deparar com a perspectiva de ensinar um desses JECI deverá ter um conhecimento acerca destes fatores o que os possibilitará uma análise muito mais criteriosa sobre a modalidade esportiva a qual vão ensinar. Isto poderá contribuir significativamente na elaboração das unidades didáticas e na escolha do processo de intervenção metodológico a ser utilizado.

          Unitermos: Intervenção. Comportamento tático. Tomada de decisão. Interação.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 174, Noviembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Um dos grandes processos investigados atualmente, no que diz respeito ao universo esportivo, está focalizado no estudo das metodologias adotadas para o ensino-aprendizagem-treinamento (EAT) dos jogos esportivos coletivos (JEC). Muitos autores, dentre os quais Bortoli et. al. (2002), Costa et. al. (2002), Gimenez (2000), Herrero e Pérez (2003), Martiny e González (2010), Oliva e Ros (2000), Péres Morales e Greco (2007) Pires (2001), entre outros, vem realizando investigações acerca das metodologias de EAT, suas interferências e relações diretas na performance do jogador.

    Essas investigações permitem estabelecer pequenas aproximações quanto à escolha do método de intervenção a ser utilizado em um programa de EAT. Um método que tenha participação ativa no desempenho do jogador e que seja mais eficaz para a aceleração de sua aprendizagem.

    Em decorrência dessa contribuição significativa e direta para com o desempenho do jogador, a escolha por um método de ensino, além de fundamentar-se nessas pesquisas comparativas, ao mesmo tempo deve passar pela análise de alguns outros fatores que devem ser levados em consideração. Ao iniciar-se um processo para o EAT do JEC, antes de se chegar à seleção do método a ser aplicado, o professor/treinador necessita ter uma grande clareza sobre a modalidade esportiva que vai ensinar.

    Isso porque, “a escolha do método de ensino-aprendizagem-treinamento adequado é um dos mais importantes aportes pedagógicos que o docente pode oferecer aos seus alunos” (GRECO, 1998, p.40). Antes de optar por uma ‘formula’, para alcançar os objetivos propostos (por exemplo: tornar um jogador taticamente inteligente) esse professor/treinador passa por ter que responder a pergunta, o que se ensina? Ao responder a esse questionamento ele evidenciará os componentes internos que regulam esse esporte, percebendo as exigências internas que ele coloca para a atuação de cada jogador.

    Essa análise irá permitir o selecionamento de algumas concepções de ensino (de sujeito, esporte-tarefa e treinamento), que entram de acordo com as exigências que o esporte solicita, em detrimento de outras, que não estão sendo contempladas, ou se estão, estão sendo exigidas em menores intensidades. Para que investir tempo com um método de ensino que não entra em união com as demandas cognitivas, motoras, volitivas que o esporte solicita?

    Para responder a pergunta sobre o que se ensina, o professor/treinador precisa caminhar por dois pólos, inevitavelmente. O primeiro deles diz respeito a tentar compreender o que é esse esporte handebol enquanto fenômeno sociocultural e objeto de ensino. A classificação que obedece, a natureza intrínseca, as demandas sobre os mecanismos de programação, organização e controle motor e a estrutura-funcional que regula essa prática, ou seja, a sua lógica interna.

    O segundo pólo centra-se em estabelecer os conteúdos que devem ser ensinados. Conteúdos relacionados à dimensão tática, técnica, psíquica e física. Tentar descrever os elementos que afetam e englobam o desempenho esportivo, e a partir de então, programar as suas unidades didáticas para o desenvolvimento desses conteúdos.

    Anteriormente a escolha do método o professor deve conhecer o esporte, diagnosticar a equipe com quem vai trabalhar, fazer o planejamento do período disponível para com que isso aconteça, estabelecer os conteúdos e sequencializa-los para daí então aplicar a forma como irá fazer para desenvolvê-los. “A aplicação sistemática, planejada e consciente de um determinado método de ensino-aprendizagem-treinamento será de grande importância para o êxito e evolução do nível de desempenho do praticante” (GRECO, 1998, p.39).

    O desafio dessa investigação é tentar apresentar, com ênfase no esporte handebol, os componentes que regulam a sua lógica interna, como também a participação de solicitação dos mecanismos de processamento de informação que auxiliam o comportamento tático dos jogadores desse esporte. Do mesmo modo, estaremos descrevendo os elementos do desempenho esportivo que interferem na conduta dos jogadores, por conseguinte, a apresentação dos conteúdos de uma forma geral.

Componentes que regulam a lógica interna1 do handebol

    No mesmo instante em que alguns autores, dentre os quais Almond (1986) apud Griffin, et.al. (1997); Bayer (1994); Moreno (1998 e 2000); Parlebas (2001), entre outros, começam a estudar as praticas motoras objetivando conseguir classificar as atividades esportivas, isso possibilitou investigar essas atividades de dentro de suas ações dinâmicas. Ou seja, enquanto exigências atribuídas aos jogadores nas demandas (cognitivas, motoras, físicas e psíquicas) que são solicitadas por essas práticas.

    Esses autores ao estabelecerem alguns critérios para classificar as tarefas esportivas conseguiram identificar elementos transferíveis dentro dessas atividades em geral, e nos JEC em particular. Por meio dessas classificações e identificações desses elementos atribuídos aos esportes, esses autores começaram a fazer estudos quanto aos componentes que regulam essas atividades.

    Componentes esses, que configuram a estrutura-funcional de um jogo e que estão presentes em uma partida. São elementos universais (parâmetros) que sustentam esses JEC e que por meio deles, se permitiu redimensionar o ensino dessas práticas para outra forma. Uma forma que possibilitou a elaboração de programas de EAT que levam em consideração a lógica interna que opera dentro desses jogos. Conseguiram apontar, além dos elementos que compõem a estrutura funcional, os princípios operacionais2 e as regras de ação3 que são demandadas nesses jogos.

    Nesse sentido, o quadro 1 apresenta 8 elementos universais que configuram a estrutura funcional dos JEC. A elaboração e análise desses 8 parâmetros constituem a lógica interna de uma partida. Isto abre a discussão para a identificação da natureza intrínseca e das demandas sobre os mecanismos de processamento de informação e as exigências postas ao praticante.

    Ao fazer uma análise aprofundada desses componentes estrutural-funcionais que estão presentes nesses jogos, adotando-os como coletivos com interação direta de invasão, ou seja, de participação simultânea dentro de um espaço comum, de cooperação e oposição, podemos ter a possibilidade de conseguir mapear o ambiente ativo que está dentro dele. Um ambiente marcado pela aleatoriedade, imprevisibilidade e variabilidade de comportamentos e ações e que são fatores que concorrem para conferir a esse grupo de esportes, características únicas, alicerçadas na inteligência e na capacidade de tomada de decisão (GARGANTA; OLIVEIRA, 1996).

    O produto4 que emana da inter-relação entre a classificação e a estrutura-funcional dos JEC é o que podemos fixar como a natureza intrínseca que se manifesta dentro do contexto desses jogos. A lógica interna é buscar saber o que de fato quer dizer um esporte ser coletivo, com interação de invasão. De acordo com a natureza intrínseca dessa categoria de jogos, tentar decodificar o que esta acontecendo no ambiente de jogo e como se processa e se manifestam as ações dos jogadores nesses ambientes para então, intervir sobre um problema detectado para conseguir soluciona-lo.

    Do mesmo modo em que se podem produzir esses esclarecimentos, ao professor/treinador é dada a opção de efetuar pequenas elucidações e aproximações quanto aos seus processos didáticos. Esse professor ao entrar em um processo de intervenção dentro de um programa de EAT, terá que adaptar a sua metodologia as características, enquanto classificação, estrutura-funcional, demandas sobre os mecanismos de processamento de informação e natureza intrínseca, do esporte que irá ensinar.

Quadro 1. Análise dos componentes que regulam a lógica interna do handebol

Fonte: Bayer (1994); López Leon (1997); Moreno (1998); Parlebas (2001) e Tavares (2002)

Os mecanismos de processamento de informação e os JEC de Invasão

    “Antes da aparição do gesto técnico, da resposta motora, se põem em ação toda uma série de mecanismos e processos que a condicionam, oculta a nossos olhos, porém que estão ali participando plenamente” (PÉREZ; BAÑUELOS, 1997, p.32). Ao investigar a presença desses mecanismos que podem influenciar a ação motora, alguns autores (MEINEL; SCHNABEL, 1984; OLIVA, 1995; PÉREZ; BAÑUELOS, 1997; ABERNETHY et. al., 2000; SAMULSKI, 2002; SCHIMDT; WRISBERG, 2001; entre outros), vem objetivando detectar e compreender esses processos internos que antecedem a esse ato motor.

    Esses autores procuram estabelecer como se manifestam as estruturas mentais e se estas estruturas estabelecem alguma relação de participação na regulação das condutas motoras5. Ao apoiarem-se na psicologia cognitiva, apresentaram modelos que permitiu formular pequenas aproximações (explicativas) sobre como opera esses processos internos que antecedem o gesto técnico dos jogadores, e como eles são ativados, de acordo com as características da atividade que se deparam, para resolver diferentes situações-problema6.

    Nesse sentido, esses autores (op. cit.) apresentaram três grandes mecanismos7 gerais que indicam o modo de funcionamento, ou seja, o transcurso do planejamento mental para a realização de uma ação motora, desde a captação do estimulo até o ato motor propriamente dito. Esses mecanismos são: 1) Mecanismo de percepção - está relacionado à análise e leitura ambiental da situação apresentada; 2) Mecanismo de tomada de decisão - é a escolha mental da ação a ser realizada; e o 3) mecanismo de execução - a realização da ação propriamente dita.

    Por meio desses três mecanismos, Nitsch (1986) apud Samulski (2002) apresenta dois processos básicos que estão presentes e que contribuem efetivamente na regulação da ação. O primeiro é o processo de orientação que abrange os processos de percepção, decisão, memória e processamento de informação. Esse processo divide-se em orientação instrumental que determina a estrutura de execução da ação, e orientação intencional que determina a estrutura de intenções, motivos e metas. Já o segundo processo é o de realização que se centra na execução concreta das ações.

    Para a regulação da orientação e da memória, que fazem parte dos processos internos, ou seja, das estruturas mentais, mais especificamente, do processo de orientação, Muller et. al (s/n) apresenta três importantes bases que são necessárias para a formação de um modelo interno e cognitivo que contribua para a atuação do jogador. Essas três bases são: 1) a tomada de informação sensorial (percepção do jogo); 2) a assimilação da informação (reconhecimento das tarefas do jogo e da decisão a tomar e 3) o armazenamento da informação (utilidade das experiências vividas sobre tal ação). Os autores reforçam esta estruturação, afirmando que “estas são as condições previas para o sistema operativo de imagem (modelo interno, imagem do jogador sobre a situação de jogo e das exigências de atuação que supõe) podendo subjetivamente mostrar diferentes graus de abstração, diferenciação e consciência” (p. 21).

    Ao comentar a presença desses mecanismos e processos que regulam a ação, podem-se estabelecer as demandas desses processamentos de informação em relação às exigências estrutural-funcionais que o ambiente da atividade solicita. No handebol, por exemplo, o jogador antes de responder com um ato motor passa por ter que analisar o ambiente, confrontar as informações recebidas com as já armazenadas anteriormente na memória e escolher a ação que irá tomar. De acordo com as características ambientais, a utilização e planificação desses mecanismos diferem.

    Esses mecanismos de processamentos de informação, para a orientação e realização da ação, são solicitados distintamente. As demandas cognitivas sobre o comportamento motor não são exigidas da mesma forma em todas as atividades. De acordo com a estrutura-funcional, a natureza intrínseca e, por conseguinte, a lógica interna presente nessas atividades em geral, a estrutura mental é solicitada diferentemente.

    Ao estabelecer a relação entre esses mecanismos, às características estrutural-funcionais e de participação dos sujeitos nas atividades, podemos evidenciar que “as habilidades técnicas têm maior afinidade com a execução, todavia, que a percepção e a decisão tem maior relevância na estratégia esportiva”8 (OLIVA, 1995, p.101). Isso quer dizer que, nessa relação, em linhas gerais, podemos dizer que nas atividades em que não há interação com o adversário, há uma preponderância maior de exigência sobre o mecanismo de execução. Por outro lado, nas atividades em que o fator interação está constantemente presente, colocam-se grandes exigências sobre os mecanismos da percepção e de tomada de decisão. Essa análise nos permitiu elaborar a seguinte figura.

Figura 1. Mecanismos e processos de regulação da ação e as demandas sobre

a atuação do jogador em determinadas atividades

    Como os JEC de invasão (o handebol é um destes) são caracterizados por serem de baixa padronização9 (PÉREZ; BAÑUELOS, 1997), que apresentam características funcionais, principalmente de aleatoriedade e imprevisibilidade, solicitam-se dos seus jogadores grandes exigências das suas capacidades cognitivas, ou seja, dos mecanismos de percepção (seleção e codificação da informação) e tomada de decisão (intervenção do pensamento sobre a ação). O jogador frente a esses jogos necessita constantemente recolher as múltiplas informações ambientais e tomar inúmeras decisões antes de por em prática a ação motora.

    Sendo os JEC de invasão, caracterizados pelas grandes exigências cognitivas, ocasionadas pela presença de oposição (confrontamento de objetivos), e sabendo que ato tático é “a atuação consciente e orientada par a solução de problemas surgidos a partir de situações de jogo, no marco do regulamento, que consta de um processo de percepção e análise da situação, decisão mental e solução motora” (MALHO, 1981 apud GONZALEZ, mimeo a, p.3), o desenvolvimento da capacidade tática surge como o elemento central e mais importante a ser desenvolvido nessa categoria de jogos. Os professores/ treinadores necessitam muito mais do que habilitar os seus jogadores a realizar um ato motor com eficiência, desenvolver a capacidade tática desses praticantes para responder com eficácia as situações-problema que emanam constantemente dentro desses jogos.

    Ao contrário das atividades em que somente é exigido realizar a ação motora o mais perfeitamente possível. Por exemplo, os esportes de pista e de campo no atletismo, onde o mecanismo de execução está sendo o mais solicitado.

    Como o número de decisões que os jogadores dos jogos com interação, aumentam e divergem em quantidade em relação aos praticantes dos jogos sem interação, pode-se complementar que “um comportamento nos esportes não é determinado somente pela força, pela velocidade ou pelas características corporais, e sim muito mais pelos processos psíquicos que o determinam” (GRECO, 1995; apud GONZALEZ, mimeo b, p.2). Portanto, é factível compreender que os JEC de invasão atribuem um papel fundamental aos processos psíquicos dos seus praticantes, principalmente no que tange à tomada de decisão e aos processos que estão relacionados a ela.

    No processo de elaborar e programar aulas para o EAT dos JEC de invasão (handebol), essas estruturas-funcionais e principalmente as cognitivas que estão sendo solicitadas pela lógica interna desses jogos necessitam serem consideradas. Se o jogo de handebol reclama ao praticante a necessidade de saber responder o que, porque e quando fazer, o professor não pode somente ensinar esse jogador a responder o como fazer.

    Esses jogos têm presente a intervenção da razão sobre a ação. O pensar antes de agir é o primeiro passo para se acelerar o desempenho do jogador. O fator inteligência10 assume grande centralidade devido a presença de interação.

    O processo cognitivo (principalmente o mecanismo de tomada de decisão) se torna o principal agente influenciador no comportamento tático do jogador. A capacidade cognitiva contribui efetivamente na tomada de decisão inteligente do jogador. Os professores/treinadores deveriam, então, estimular o desenvolvimento da capacidade tática dos seus jogadores. Por meio dos programas de EAT, um dos objetivos centrais seria o de tornar jogadores taticamente inteligentes com grandes capacidades de tomada de decisão (escolha da ação em um menor tempo possível).

Elementos do desempenho esportivo relacionado ao handebol

    Ao investigar e estabelecer os critérios que configuram a ação esportiva, objetivamos a partir desse momento, tentar diagnosticar e mapear os elementos que colaboram na atuação dos jogadores. Nesse sentido, encontramos alguns autores (GRECO, 1998; GRECO; CHAGAS, 1992; LASSIER; PONZ; DE ANDRÉS, 1993, LÓPEZ LEON, 1997; TEODORESCU, 1984; TUBINO, 1993; entre outros), que apresentam - cada um deles - um conjunto de subsídios que interferem diretamente no desempenho desses praticantes. São componentes que contribuem e afetam significativamente o rendimento esportivo, individual e coletivamente.

    Como o desempenho desses jogadores, no momento em que atuam, está condicionado a uma série de fatores que configuram o seu comportamento, o desenvolvimento e a estimulação desse conjunto de elementos, em larga media, irá definir a dimensão qualitativa/quantitativa da performance, enquanto eficiência e eficácia. Ao Verificar a importância desses elementos, na atuação do jogador, automaticamente eles passam a serem conteúdos que necessitam serem ensinados e trabalhados. Dessa forma, apresentamos a seguir o quadro 2, que descreve e conceitua os elementos do desempenho esportivo, relacionando-os ao esporte handebol.

    A apresentação desses elementos, descrevendo a forma operativa que acontece nos JEC de invasão (handebol), permite-nos apontarmos dois fatores que emergem dessa planificação. A primeira está centrada no campo de estabelecer os conteúdos didáticos a serem ensinados. Visto que, são esses os componentes que interferem na capacidade de jogo do praticante. O equilíbrio entre esses componentes permite dar condições favoráveis de rendimento positivo do jogador no ambiente esportivo.

    Do mesmo modo, o segundo fator se estabelece no campo da análise do desempenho. Na capacidade de realizar diagnósticos mais aproximados dos elementos que não estão sendo devidamente contemplados. Isso permite verificar onde o processo metodológico está deixando lacunas a serem preenchidas. Um dos grandes problemas enfrentados pelos professores/treinadores é na sua capacidade de análise do desempenho. É muito comum nas analises dos professores, estes detectarem que o erro está na habilidade técnica (execução do passe), quando na verdade o problema se encontra na dimensão da tática individual (escolha de para quem passar a bola e em que momento).

Quadro 2. Elementos do desempenho esportivo na modalidade handebol

Fontes: (BAYER, 1987; FILHO; GALLARDO, 2000; GONZÁLEZ, mimeo; GRECO, 1998; LASSIERRA et al. 1993; LÓPEZ LEON, 1997; MULLER et al. S/N; TEODORESCU, 1984; TUBINO, 1993)

    A apresentação desses elementos permite fazer essa análise em um sentido de inferência sobre os processos de intervenção nos programas de EAT dos JEC de invasão (handebol). O desafio aqui é tentar estabelecer uma sequencialização metodologia para o desenvolvimento desses conteúdos que seja apropriado e adequado a idade dos praticantes. Qual a razão teria de se dar prioridade para o desenvolvimento das capacidades físicas, enquanto preparação física, para as crianças até 14 anos?

Considerações finais

    O processo de planificação de um programa de EAT, além de ser o primeiro passo a ser efetuado, deve ser abordado como o ponto de contribuição principal para com o desempenho do jogador. Isso visto que, a maneira como o professore/treinador enxerga esse esporte e realiza essa estruturação, ou seja, esse mapeamento de conhecimento acerca dos fatores que estão presentes nesse esporte (elementos do desempenho esportivo envolvidos, estrutura-funcional, demandas sobre o mecanismo de processamento de informação, lógica interna, natureza intrínseca, classificação) e a forma como os interpreta, irá interferir diretamente na metodologia de intervenção a ser adotada por esse professor, para o ensino dessa prática motora.

    Como o rendimento do jogador é composto por inúmeros intervenientes, o planejamento elaborado de aulas/treinos assume grande importância, pois deve entrar em sincronismo com as solicitações e as demandadas que o esporte reclama aos seus jogadores e que são necessárias para consolidar a performance desses praticantes no momento em que atuam. No mesmo instante em que se buscou fazer esse mapeamento de conhecimento do esporte (no nosso caso o handebol), se estabelecer (indiretamente) grandes aproximações e elucidações da maneira sobre como deve ser ensinado esse esporte. Principalmente sobre os conteúdos que merecem estar na centralidade da elaboração das unidades didáticas.

    Do mesmo modo, instiga-se aos professores a possibilidade de ter um maior esclarecimento para diagnosticar quais os problemas que estão interrompendo e que acabam freando o rendimento do jogador. Se o problema está relacionado à capacidade física de resistência que se desenvolva aulas/treinos para conseguir superar essa deficiência. Por outro lado, se o problema está na tática individual, de nada adiante desenvolver unidades didáticas de EAT que tenham centralidade no desenvolvimento das habilidades técnicas.

    O professor/treinador ao se deparar com a perspectiva de ensinar um desses JECI deverá ter um conhecimento acerca dos fatores que constituem a prática desse esporte (handebol). Isso irá permitir a esses docentes fazer uma análise muito mais criteriosa sobre a modalidade esportiva. O que contribuirá significativamente na elaboração das unidades didáticas e na escolha do processo de intervenção metodológica a ser utilizado.

Notas

  1. Parlebas (2001) define lógica interna como sendo um sistema dos riscos pertinentes de uma situação motora e das conseqüências que se apresenta para a realização da ação motora correspondente.

  2. Para Bayer (1994) os princípios operacionais de ataque e defesa constituem o ponto de partida, pois representam a origem da ação, definindo assim as propriedades invariáveis que vai permitir elaborar a estrutura fundamental do desenvolvimento dos acontecimentos.

  3. “Ações que supõe um processo de raciocínio, de seleção e de combinações de processos técnicos específicos do jogo” (TEODORESCU, 1959 apud BAYER 1994, p. 48).

  4. De nossa parte não gostaríamos que fosse interpretado como algo palpável nem comercializado, mas sim como o resultado dessa intersecção entre esses dois fatores.

  5. Sobre esse assunto ver, entre outros, os estudos de Tavares (1991), Campos et. al. (1996), Araújo e Serpa (1998), Oliva e Ros (2000) e Costa et. al. (2002), ao qual manifestam que o processo de análise da informação já condiz com o resultado do desempenho.

  6. Adotar-se-á como situação problema àquela em que o jogador não possui espontaneamente a resposta à mesma, e sim deve lançar-se a um processo estratégico e tático de procura da solução para concretizar a ação (PÉREZ; BAÑUELOS, 1997).

  7. Adotar-se-á o conceito de mecanismo descrito por Ruiz (1994) citado por Gonzalez (mimeo b, p.1) como sendo “a estrutura, ou local, real ou hipotética, que parece estar ativo no sujeito, de maneira seqüencial ou paralela, para o tratamento das informações que permitam a realização de uma ação motora”.

  8. Entendo que estratégia esportiva, está presente em todas as categorias de jogos. Sejam eles com ou sem interação, porém faço a interpretação que o autor se refere somente aos jogos em que há o confrontamento direto de objetivos.

  9. Pérez e Bañuelos (1997) apontam que em uma atividade esportiva onde tudo está previsto, por exemplo o salto em distância, em que o atleta entra na pista, marca o local que seja mais ideal para começar a corrida, começa a corrida, depois, ao aproximar-se da tábua deve impulsionar-se, voar, realizar as ações precisas no ar e cair, (essa ordem é sempre a mesma e não se modifica), essa atividade possui um alto grau de padronização, porém de baixa demanda de tomada de decisão.

  10. Inteligência aqui é entendida como a capacidade que o jogador tem para administrar e utilizar as informações que são apresentadas, por meio do mecanismo perceptivo, e a partir dessas informações elaborar o(s) seu(s) projeto(s) de ação, levando em consideração uma série de fatores, objetivando o êxito na escolha da ação a ser enviada como produto final de saída, isso em um menor tempo possível.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 174 | Buenos Aires, Noviembre de 2012
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