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O feedback pedagógico em Educação Física. Análise do
comportamento de feedback evidenciado por professores
preparados por modelos distintos

El feedback pedagógico en Educación Física. Análisis del comportamiento
de feedback evidenciado por profesores formados por modelos distintos

 

Doutorado em Educação Física e Desporto, Professor Coordenador da Escola

Superior de Educação do Instituto Politécnico de Castelo Branco

Director do Mestrado em Actividade Física

João Manuel Petrica

j.petrica@ipcb.pt

(Portugal)

 

 

 

 

Resumo

          A procura do sucesso pedagógico tem levado ao desenvolvimento e à adopção de metodologias, estratégias, modelos, experiências ou programas de formação de professores que possam contribuir para melhorar as habilidades de ensino e a competência para ensinar. Aplicamos esses modelos sem conhecer bem os resultados da sua utilização, nem a curto, nem a médio prazo. No sentido de procurar contribuir para o conhecimento desta problemática, a presente pesquisa concorre com um conjunto de outras, de forma a tentar encontrar os motivos que justifiquem a preferência por alguma daquelas práticas. Pretendíamos saber se a aplicação de distintos processos de preparação de professores para a prática docente tinha tradução, mais tarde, durante a prática pedagógica ou estágio, em diferenças significativas no comportamento de feedback evidenciado pelos professores a eles submetidos. Para isso, decidimos preparar os participantes através de quatro processos, perfeitamente tipificados, relacionados com o que é prática comum em algumas das instituições de formação, como o ensino com pares, o microensino com colegas, o microensino com alunos reais, e uma preparação clássica sem a utilização de qualquer um destes modelos, e, mais tarde, durante a sua prática pedagógica (estágio), efectuar a análise de ensino que nos permitisse encontrar as respostas pretendidas. A análise objectiva das cento e quarenta e quatro aulas que os quarenta e oito professores de Educação Física, em situação de prática pedagógica do estágio para professores do segundo ciclo do ensino Básico, leccionaram a mil cento e dezassete alunos, durante o primeiro período do ano lectivo, foi efectuada à base do FEED/ULG, tendo-nos permitido conhecer as taxas e as frequências médias de emissão do feedback por cada um dos grupos de professores, bem como o objectivo, a forma, a direcção, o contexto e o momento da sua emissão. O estudo colocou em evidência que as diferenças nos aspectos quantitativos do feedback emitido pelos professores preparados pelos distintos procedimentos não são suficientemente grandes para poderem ser consideradas de significativas, tal não acontecendo, no entanto, com a maioria dos seus aspectos qualitativos, permitindo-nos concluir que a opção por um modelo de preparação prévia de professores, traz, mais tarde, significativas diferenças ao nível do objectivo, da forma e do contexto da prestação comportamental de reagir à prestação motora dos alunos.

          Unitermos: Análise de ensino. Supervisão. Feedback pedagógico.

 

Abstract

          The pursuit of educational success has led to the development and adoption of methodologies, strategies, models, experiments or programs of teacher training that could help to improve teaching skills and competence to teach. We apply these models without knowing well the results from its use, either in the short or the medium term. In seeking to contribute to the knowledge of this issue, this research competes with a number of others, trying to find reasons to justify the preference for some of those practices. We wanted to know whether the application of different forms, methods, or processes of preparing teachers for teaching practice was translated later, during teaching practice or internship, in significant differences in the feedback behavior evidenced by teachers submitted to them. For this, we decided to prepare participants through four processes, perfectly typified, related to what is common practice in some of the training institutions such as peer teaching, microteaching with peers, microteaching with real students, and a classic preparation without the use of any of these models, and later, during their practice (stage) perform the analysis of teaching which would enable us to find the answers desired. The objective analysis of one hundred forty-four lessons that the forty-eight physical education teachers in teaching practice for teachers, taught to one thousand one hundred and seventeen students, was made with the FEED / ULG, and allowed us to know the rates and frequencies average of emission of feedback for each group of teachers, as well as the purpose, shape, direction, context and timing of issue. The study has highlighted that the differences in quantitative feedback emitted by teachers prepared by different procedures are not sufficiently big to be considered significant, this did not occurred, however, with most of its qualitative appreciation, allowing us to conclude that the choice of a model of preparedness of teachers, can brings later, significant differences in the feedback given by teachers.

          Keywords: Analysis of teaching. Supervision. Pedagogical feedback.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 174, Noviembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A procura do sucesso pedagógico tem levado ao desenvolvimento e à adopção de metodologias, estratégias, modelos, experiências ou programas de formação de professores que possam contribuir para melhorar as habilidades de ensino e a competência para ensinar.

    Na verdade, as instituições de formação no âmbito das Ciências do Desporto têm apostado em modelos de supervisão (Petrica, 1997), numa lógica defendida há muito por Siedentop (1998) de aprender a ensinar através de modelos simplificados, por se pensar conseguir, assim, que os seus formandos aprendessem melhor a desenvolver as suas habilidades de ensino e aperfeiçoassem a competência para ensinar.

    Dos modelos mais utilizados, salientamos o ensino e o microensino com pares, por serem modelos muito acessíveis, e o microensino com alunos reais, que, apesar de menos acessível, aproximava mais a experiencia à situação real.

    Complementarmente, a investigação sobre o sucesso pedagógico, com particular atenção para o sucesso pedagógico em Educação Física (Carreiro da Costa, 1995), permitiu identificar alguns factores de sucesso no ensino das actividades físicas, que se assumiam como objectivos a alcançar pelo futuro professor no sentido de uma acção mais eficaz. Entre tais factores, salientamos o empenhamento motor dos alunos (Pieron, 1996), uma Instrução clara precisa e concisa, frequentemente apoiada pela demonstração (Carreiro da Costa,1995), o clima da aula, particularmente o positivo (Siedentop, 1998) e o feedback pedagógico.

    A grande maioria daqueles que têm por função a preparação de professores de Educação Física ou que desenvolvem a sua acção no âmbito da Pedagogia do Desporto, acreditam que este último factor, especialmente no domínio do ensino das actividades físicas, mas com maior relevo ao nível do ensino das técnicas desportivas, assume um papel crucial na preparação dos futuros profissionais, porque, para além da carga afectiva que transporta e que ajuda muito a melhorar o clima da aula, permite oferecer ao praticante uma informação sobre a sua própria prestação que se torna indispensável para conseguir alcançar níveis mais elevados de execução.

    Ora, aplicavam-se esses modelos sem conhecer bem os resultados da sua utilização, nem a curto, nem a médio prazo.

    No sentido de procurar contribuir para o conhecimento desta problemática, a presente pesquisa concorre com um conjunto de outras para o esclarecimento dessa importante questão de forma a tentar encontrar os motivos que justifiquem a preferência por alguma daquelas práticas.

Problema

    Na verdade, importa perceber se, de facto, essas práticas têm tradução, mais tarde, aquando da prática pedagógica real, na manifestação comportamental pretendida, justificando assim a aposta nelas.

    Com o presente estudo, pretendíamos saber se a aplicação de distintas formas, métodos ou processos de preparação de professores para a prática docente tinha como resultado um melhor e mais frequente recurso à competência comportamental de emissão de feedback, quer nos seus aspectos quantitativos, quer no que respeita à sua qualidade, e se eram observadas diferenças significativas no comportamento evidenciado pelos professores a eles submetidos.

Procedimentos

    Para isso, decidimos preparar quarenta e oito estudantes de Educação Física, na disciplina de Metodologia e Didáctica do ensino da Educação Física, distribuídos em grupos de doze, através de quatro processos, perfeitamente tipificados, três deles relacionados com o que é prática comum em algumas das instituições de formação, como o ensino com pares, o microensino com colegas, o microensino com alunos reais, e um outro, que serviu como uma espécie de grupo de controlo, que foi alvo de uma preparação clássica sem a utilização de qualquer um daqueles modelos, e, mais tarde, durante a sua prática pedagógica (estágio), efectuar a análise de ensino que nos permitisse encontrar as respostas pretendidas.

    Para a análise de ensino foram registadas em vídeo com microfone sem fios, três aulas leccionadas por cada um dos participantes, num total de cento e quarenta e quatro aulas leccionadas a mil cento e dezassete alunos, durante o primeiro período do ano lectivo, sobre a mesma temática, jogos pré-desportivos e iniciação aos desportos colectivos, para posterior observação.

    A análise objectiva das aulas foi efectuada através do recurso a um sistema de análise multidimensional do feedback, uma adaptação do FEED/ULG (Pieron, 1986, Petrica, 2003), tendo-nos permitido conhecer as taxas e as frequências médias de emissão do feedback por cada um dos grupos de professores, bem como o objectivo, a forma, a direcção, o contexto e o momento de emissão.

    Para a comparação dos dados utilizámos a Análise da Variância, One-Way ANOVA (Levin, 1985; Pestana e Gageiro, 2000), ou a sua alternativa não-paramétrica o H de Kruskal-Wallis (Siegel, 1975).

Resultados

    Utilizando os conceitos de ocorrência, taxa e de frequência (Pieron, 1996; Rodrigues, 1990; Rosado, 1995, 1997), para que possamos ficar com uma primeira ideia, em termos quantitativos, de quantas intervenções deste tipo os professores emitem por aula, por minuto ou, por outro lado, de quanto em quanto tempo é que reagem à prestação motora dos alunos, em média, foram emitidos 82,3 feedbacks por aula, que correspondiam a uma taxa média de 3,6 feedbacks por minuto ou, de outra maneira, os professores davam um feedback aos seus alunos, de 16,9 em 16,9 segundos.

Quadro 1. Valores médios do número de intervenções, taxa e frequência do feedback

emitido pelos professores de Educação Física em cada aula leccionada

    Passando a analisar os valores obtidos para estes parâmetros pelo professores dos diferentes grupos, como podemos ver pelo quadro 2, é o grupo de professores que não foi alvo de preparação prévia especial, aquele que regista os maiores valores de ocorrência e de taxa de feedback, o que não deixa de ser estranho, uma vez que os processos especiais de preparação de professores apontam para a consecução de metas ao nível da elevação da quantidade e da qualidade do feedback pedagógico (Petrica, 1997, 2001). Se verificarmos que é o grupo preparado através do microensino com pares, aquele que regista menores valores de feedback por minuto, e o grupo preparado através da leccionação do microensino a alunos reais, o que obteve menor número de ocorrências por aula, não deixa de ser mais difícil ainda adiantar qualquer tentativa de explicação.

Quadro 2. Valores médios do número de intervenções, taxa e frequência

do feedback para cada grupo de professores observado.

    Passando agora a efectuar uma análise mais sobre o ponto de vista qualitativo, isto é, mais sobre a perspectiva das dimensões utilizadas no presente estudo, como sejam, o objectivo que tem a reacção à prestação, a sua forma, a quem se dirige, o contexto em que ocorre e o momento em que é emitida, vamos começar exactamente pelo objectivo do feedback.

    Como podemos observar pelos diagramas de barras horizontais constantes da figura 1, os professores preferiram dar indicações aos seus alunos sobre o que, ou como, deveriam realizar as suas prestações, ou seja, optaram por dar feedbacks prescritivos ou então, mas já significando uma preferência muito menor, avaliar-lhes a prestação motora, dando-lhes feedbacks avaliativos. A opção por descrever o que os alunos estão a fazer, dando-lhes assim uma informação, por vezes tão necessária, sobre o que ou como estão a fazer, fornecendo feedbacks descritivos, não foi muito escolhida, e muito menos o foi, a escolha da interrogação para fazer os alunos reflectir sobre o que estavam, ou estiveram, a fazer, e portanto, o feedback interrogativo. Isto quer dizer claramente que, a opção recaiu pela prescrição através da indicação do caminho a seguir e pela avaliação do que os alunos estavam a fazer, mais do que sobre a reflexão acerca do que estiveram a fazer e sobre o que terão que fazer.

Figura 1. Distribuição percentual do Objectivo do Feedback

emitido pelos professores dos grupos A, B, C, e D

    O grupo de professores preparado através do ensino aos seus colegas foi o que registou a maior média de feedback com o objectivo avaliativo (31,1%), o grupo de professores sem qualquer preparação especial anterior obteve a maior média de feedbacks prescritivos (67,8%), os professores preparados pela leccionação de microensino a alunos reais conseguiu a maior média de feedback descritivo (8,6%) e os docentes que leccionaram microensino aos seus pares mostraram a maior média de feedback interrogativo (8,1%).

    Se considerarmos que os feedbacks descritivos e os feedbacks interrogativos são conotados com um maior valor qualitativo no ensino das actividades físicas (Cloes, Moreau e Pieron, 1990; Costa, 1991; Marques da Costa, 1991; Marques dos Santos, 1992; Rodrigues, 1995; Rosado, 1995), assumindo maior valor formativo, por apelarem à interiorização e reflexão dos alunos, e sendo os professores formados através do recurso a práticas de microensino, os que obtiveram, em média, os maiores valores percentuais nestas categorias, isso poderá querer dizer que aquelas práticas têm com resultado um incremento dos hábitos de emissão daquele tipo de feedbacks.

    A maior tendência para recorrer à emissão de feedbacks avaliativos foi registada pelos professores preparados através do ensino aos seus pares (31,1%), que representou quase um terço do total de feedbacks emitidos e, atendendo ao baixo valor dos coeficientes de variação registados, pode querer significar que aquelas práticas provocam uma tendência para o incremento daquele tipo de feedback.

    Os professores que não tiveram qualquer tipo de preparação prévia especial evidenciaram tendência para se refugiar na emissão de feedback com objectivo prescritivo e avaliativo, que representou 91,5% da totalidade de feedback emitido por este grupo de professores.

    Passando agora para a análise de outra dimensão, para procurar conhecer a forma do feedback emitidos pelos diferentes grupos em estudo, elaborámos um gráfico que nos permita visualizar melhor as diferenças do feedback emitido pelos diferentes grupos de professores (figura 2).

Figura 2. Distribuição percentual da Forma do Feedback

emitido pelos professores dos grupos A, B, C, e D

    Como podemos observar, os professores preparados através da prática de actividades de microensino com os seus pares foram os que revelaram os maiores valores de feedback emitido verbalmente, para que os seus alunos ouvissem, quase não utilizando outra forma de emissão de feedback. Por seu lado, foram os professores preparados pela leccionação de aulas completas aos seus colegas que registaram a maior tendência para dispersar a forma do feedback emitido, com 89,4% de feedbacks auditivos, 1,1% de feedbacks visuais e 9,5% de feedbacks mistos. Os professores preparados através da leccionação do microensino com alunos reais aproximaram-se muito destes últimos, ao registar 90,5%, 1% e 8,5%, respectivamente, para o feedback auditivo, visual e misto.

    Os valores observados assumem algumas diferenças, particularmente notórias ao nível da importância dos valores do feedback de forma mista, que revela valores médios desde os 1,4%, observados nos professores preparados com base no microensino com pares, até aos 8,5 e 9,5%, registados junto dos professores preparados com recurso ao microensino com alunos reais e ao ensino com os seus colegas.

    Mas se essas diferenças parecem evidentes, já encontrar uma possibilidade de explicação para elas se torna muito mais complicado, pois os professores preparados com recurso ao microensino revelam valores tão dispares que não parece ser a prática de microensino o factor de aproximação, e a única lógica observável, é a de que foi no ensino com pares, seja o microensino, seja do ensino de aulas completas, que revelou os valores médios de feedback auditivo, e misto, mais próximos, com particular destaque para o facto de terem sido os professores preparados através de processos de leccionação aos seus pares, aqueles que revelaram valores mais elevados de feedback misto.

    Passando agora a abordar a dimensão comportamental que se refere a quem se dirige o feedback emitido pelos professores, como podemos observar pela figura 3, os professores preparados através da prática de actividades de microensino com os seus pares foram os que revelaram os maiores valores de feedback dirigido a um aluno (72,9%), os que viveram o microensino com alunos reais conseguiram os melhores valores de feedback dirigido a toda a classe (18,3%), e os que não tiveram qualquer preparação prévia especial registaram os maiores valores de reacções à prestação dirigidas a um grupo de alunos (21,3%).

    Aparentemente, as diferenças na direcção do feedback emitido pelos grupos não parece assumir grande relevância, no entanto, uma observação mais atenta permite verificar um afastamento, para baixo, dos valores médios do feedback dirigido individualmente, a cada aluno, pelos professores preparados através do recurso a práticas de microensino com alunos reais (65,4%), dos valores médios dos restantes grupos de professores para esta categoria (todos acima dos 71%).

Figura 3. Distribuição percentual da Direcção do Feedback

emitido pelos professores dos grupos A, B, C, e D

    Mas se depois da observação mais atenta essas diferenças parecem evidentes, já fazer uma tentativa de explicação para elas se torna, também aqui, um pouco complicado, pois os professores preparados com recurso a modelos especiais revelam valores tão dispares, como próximos. Os professores preparados através do microensino também. Apenas os professores preparados através da leccionação aos seus pares, seja através ensino ou do microensino, revelam valores muito aproximados para esta dimensão comportamental, mas com uma inversão na ordem de importância do feedback dirigido a toda a classe e do feedback dirigido a um grupo de alunos.

    Dirigindo a nossa atenção para a dimensão relativa ao contexto em que cada feedback aconteceu, isto é, se a reacção era uma manifestação comportamental isolada ou acontecia em conjunto com outros feedbacks diferentes, mas consequentes, como podemos observar pela figura 4, os professores preparados através do recurso a práticas com pares revelam valores quase idênticos, com 62 e 61,1% de feedback simples e 38 e 38,9% de feedback múltiplo, respectivamente, para os que foram preparados através do recurso ao microensino, ou sem o recurso a esta técnica.

Figura 4. Distribuição percentual do Contexto do Feedback

emitido pelos professores dos grupos A, B, C, e D

    Por outro lado, a diferença de 18,3%, entre as médias observadas para grupos de professores preparados através do microensino com alunos reais e os que foram preparados pelo ensino de aulas completas aos pares, relativamente à reacção à prestação motora emitida isoladamente, ou em conjunto com outras reacções com objectivo diferente, parece ser o presságio para a confirmação das hipóteses que adiantámos para esta dimensão comportamental.

    Finalmente, passando a analisar a dimensão relativa ao momento de emissão do feedback, ou seja, se a reacção à prestação aconteceu durante a execução, imediatamente após a execução ou suficientemente depois da execução, para que lhe possamos chamar de retardado, a análise dos nossos dados permitiu-nos elaborar a figura 5 para que melhor pudéssemos dar conta das diferenças entre os grupos, e até da amplitude que assumem essas mesmas diferenças.

Figura 5. Distribuição percentual do Momento do Feedbac

emitido pelos professores dos grupos A, B, C, e D

    A observação dos gráficos revela-nos que o grupo de professores preparados através do microensino com pares foi o que mostrou maior tendência para recorrer à reacção à prestação durante a execução da acção por parte dos seus alunos (76,9%), e foram os docentes preparados com aulas aos seus pares que registaram menores médias desta categoria comportamental (59,6%), isto quer dizer que, para esta dimensão comportamental, as diferenças encontradas não têm a ver com o facto da preparação ter sido efectuada com a leccionação aos seus colegas.

    Praticamente, só o grupo de professores preparado através do ensino aos seus colegas revelou valores médios com alguma importância quantitativa para os feedbacks emitidos algum tempo após a execução das actividades pelos alunos (3,5%), e foi também este grupo de professores que registou os maiores valores médios de feedback emitido imediatamente após a execução (36,9%).

    Após a apresentação descritiva importava passar a efectuar a análise que nos permitisse saber se as diferenças observadas eram significativas. Para tal, após a verificação da normalidade das amostras em jogo, para saber se aplicaríamos a análise da variância ou a prova de Kruskal-Wallis, para efectuar o tratamento estatístico, resumimos os resultados ao quadro que apresentamos em seguida (Quadro 3).

    Como podemos ver, da probabilidade associada ao valor da razão F da análise da variância e das probabilidades associadas aos valores dos H de Kruskal-Wallis, obtidas para cada um dos aspectos quantitativos em análise, todas superaram o do nível de significância adoptado, pelo que, de acordo com Siegel (1975), Levin (1985), ou Pestana e Gageiro (2000), não há evidência que justifique a rejeição da hipótese nula, logo, não são significativas as diferenças verificadas entre os quatro grupos de professores.

Quadro 3. Significância das diferenças do feedback emitido pelos diferentes grupos de professores, 

em função das probabilidades associadas aos valores obtidos para a prova estatística utilizada

    Isto quer dizer que os aspectos quantitativos do feedback, seja o número absoluto, seja a frequência com que ocorre, ou a taxa de emissão, não são significativamente diferentes nos grupos de professores observados, e portanto, parece que, se quisermos formar professores com elevados desempenhos quantitativos de feedback, o modelo de preparação utilizado não mostra ser relevante.

    Esta evidência, acrescida ao facto de terem sido os professores sem qualquer tipo de preparação prévia especial a obter os maiores valores quantitativos, não deixa de ser surpreendente e de contradizer a ideia global a retirar do estudo desenvolvido por Cloes, Premuzak e Pieron (1995), sobre os programas de treino dos professores, pois, de acordo com os presentes resultados, os efeitos, a algum prazo, desses programas, não parecem ser os desejados.

    No que se refere ao estudo dos seus aspectos qualitativos, com excepção para os feedbacks com o objectivo prescritivo, com forma visual, dirigidos a um grupo de alunos ou a um aluno de cada vez, e emitidos durante ou imediatamente após a prestação motora dos alunos, para os quais não se verificaram diferenças significativas entre os grupos de professores preparados de forma diferente, em todas as outras categorias das dimensões comportamentais de análise, as diferenças encontradas revelaram-se estatisticamente significativas.

    E portanto, pensamos poder dizer, com alguma confiança, que há diferenças significativas nos comportamentos de reacção à prestação motora dos alunos, no que respeita a aspectos qualitativos relativos ao objectivo, à forma e ao contexto, evidenciados nas aulas de prática pedagógica do estágio do 2º ciclo do Ensino Básico por professores de Educação Física preparados por modelos distintos.

Conclusões

    Para que melhor possamos fazer o apanhado das conclusões apuradas para esta perspectiva de análise comportamental, vamos sintetizar aquilo que se observou para cada uma da incidências utilizadas, e depois, resumir as conclusões em relação ao seu conjunto.

    Começando por procurar sintetizar aquilo que observámos, pudemos constatar que os professores de Educação Física, em situação de prática pedagógica do estágio para professor do ensino Básico, emitiam cerca de 82 feedbacks por aula, a uma taxa aproximada de 3,6 reacções por minuto do tempo que disponibilizavam para a prática, isto é, um comportamento de reacção à prestação motora dos seus alunos de 16,9 em 16,9 segundos.

    Esses feedbacks, quanto ao seu objectivo, eram predominantemente prescritivos (64,3%) e avaliativos (25,5%), e muito menos descritivos (5,6%), ou interrogativos (4,6%). Quanto à forma como eram recebidos, 93% eram auditivos, 6% eram recebidos por mais do que um sentido, ao mesmo tempo, e apenas 1% eram visuais. Em relação a quem era dirigido, observou-se que 71% das reacções eram dirigidas apenas a um aluno, enquanto que 16% eram dirigidas a um grupo de alunos e 13% dirigidos a toda a classe, ao mesmo tempo. Quanto ao contexto em que era emitido, verificou-se que era maioritariamente simples (69%) e só algumas vezes emitido em conjunto com outras reacções (31%). E quanto ao momento de emissão, era quase sempre emitido durante a execução (70%), ou imediatamente após a prestação (29%), e quase nunca retardado.

    Do ponto de vista da análise quantitativa do feedback, não se verificaram diferenças significativas entre os grupos de professores preparados pelos diferentes modelos, já no que se refere ao estudo dos seus aspectos qualitativos, com algumas excepções, as diferenças encontradas revelaram-se estatisticamente significativas.

    Por isso, apoiados na lógica maioritária, pensamos poder dizer, com alguma confiança, que há diferenças significativas nos comportamentos de reacção à prestação motora dos alunos, no que respeita a aspectos qualitativos relativos ao objectivo, à forma e ao contexto, evidenciados nas aulas de prática pedagógica do estágio do 2º ciclo do Ensino Básico por professores de Educação Física preparados por modelos distintos.

    Isto quer dizer que, tal como supúnhamos, a opção por um modelo de preparação prévia de professores, como um dos que utilizámos na presente pesquisa, traz, mais tarde, significativas diferenças ao nível da prestação comportamental de reagir à prestação motora dos alunos, com o objectivo avaliativo, descritivo e interrogativo, com a forma auditiva e mista, dirigida a toda a classe, emitida num contexto simples ou múltiplo e retardada em relação ao momento de emissão, aconselhando, por conseguinte, ao nível da formação de professores de Educação Física, a adopção dos modelos que os favoreçam.

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