Mídia esportiva, Copa do Mundo de
Futebol e Medios de comunicación deportivos, Copa del Mundo de Fútbol y Educación Física escolar: posibilidades de diálogo |
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Graduanda na Universidade Federal de São Carlos Curso de Educação Física e Motricidade Humana (Brasil) |
Thaís Leonardo dos Santos |
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Resumo O trabalho foi desenvolvido na rede Pública de Ensino, em uma escola estadual da cidade de São Carlos, onde os/as alunos/as do 9º ano do Ensino Fundamental participaram de uma intervenção, que teve como objetivo compreender a forma com que interpretam o discurso da mídia esportiva em relação à cobertura de uma partida de futebol, comparando duas situações distintas: em uma delas os/as alunos/as assistiram a um fragmento de 25 minutos da Copa do mundo de Futebol de 2002 entre Brasil e Alemanha sem áudio, na outra eles/as assistiram ao mesmo vídeo, porém, nesse momento além das imagens havia também o áudio, com as falas dos envolvidos na cobertura esportiva. E, todos/as escreveram uma redação narrando os acontecimentos do jogo, e nesse momento pudemos notar que a forma de escrever deles/as é muito próxima ao “falar” sobre futebol utilizado pelos meios de comunicação. Unitermos: Mídia esportiva. Copa do Mundo de Futebol. Educação Física escolar.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 174, Noviembre de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Levando em consideração a Copa do Mundo de Futebol que aconteceu na África do Sul em 2010, surgiu á idéia de dialogar com os estudantes do ensino fundamental e entender como compreendem tal evento (em uma perspectiva midiática), visto que a escola em questão se preparou muito para o evento, desenhando bandeiras dos países pelo pátio e pelos muros e fazendo trabalhos relacionados ao tema durante as aulas de Educação Física.
Entendendo o futebol como esporte mais popular do Brasil e notando como recorrente a preferência estudantes por essa prática, acreditamos ser valido verificar se tal conteúdo influência a vida deles de forma consciente, em que os/as adolescentes entendem o significado do esporte que é mostrado pela mídia, bem como buscar a compreensão de como a mídia mostra o futebol e o que fala do mesmo, levando em consideração a Copa do Mundo.
A pesquisa tem natureza qualitativa, buscando compreender a forma como a mídia afeta ou não o entendimento dos estudantes acerca do tema em questão, realizando para tal, uma intervenção na escola com o auxilio de um vídeo com 25 minutos da final da Copa do Mundo de 2002 (que aconteceu na Alemanha) em que buscamos entender como os estudantes interpretam o discurso midiático em relação à cobertura de uma partida de futebol, comparando uma situação em que existam apenas as imagens do jogo e outra na qual além das imagens está incluído o áudio, com as falas de narrador, comentaristas e demais agentes da cobertura esportiva do evento. E para entender como isso acontece, todos foram convidados a escrever uma redação em que relataram o que ocorreu durante o jogo, como se estivessem contando para alguém que não o assistiu, porém, podemos ressaltar que uma das solicitações foi de que a atividade fosse feita individualmente, estimulando que escrevessem utilizando o seu entendimento sobre o jogo, pois o que realmente importa é a forma como aquele conteúdo os atinge.
1. Revisão
A Educação Física Escolar deve ser vista como um componente curricular com conteúdos próprios baseando-se na cultura corporal de movimento que “pode ser entendida como uma parte da cultura humana, definindo e sendo definida pela cultura geral numa relação dialética” (GALVÃO; RODRIGUES; SANCHES NETO, 2005, p. 28) utilizando para isso manifestações que caracterizam a área como: jogo, ginástica, dança, lutas e os esportes.
O esporte é aquela que possui maior destaque nas escolas, nos meios de comunicação de massa e nas atividades praticadas no tempo livre das pessoas. Para Helal (1990) “o esporte é uma das instituições sociais mais sólidas do mundo moderno”. Por esse motivo o esporte acaba por ser visto com uma variedade muito grande de definições. A seguir abordarei algumas, na perspectiva de re-significar o que já foi considerado e buscar a compreensão de esporte que será utilizada no estudo.
Adotaremos o conceito de esporte moderno diferenciando-o de outras concepções que identificam o esporte como prática presente na sociedade desde a Antiguidade e passando pela Idade Média, como sugere Helal (1990). Podemos dizer que o esporte moderno trilha dois caminhos que se cruzam constantemente, aquele que leva ao racional, ao lógico e outro que faz com que alguns acontecimentos não tenham uma explicação cientificam e sejam considerados místicos.
O esporte moderno nos remete a esportivização de elementos da cultura corporal de movimento que tem origem nas classes populares inglesas, que se inicia durante o XVIII, tendo seu apogeu ao final do século XIX e inicio do século XX. Tal fenômeno pode ser entendido se levarmos em consideração que com os processos de industrialização a população começou a se adaptar as novas condições de vida, onde os jogos populares não eram mais adequados, sendo descontextualizados de suas iniciais funções, que estavam muitas vezes relacionadas a comemorações. Os jogos populares foram diversas vezes oprimidos, como sugere Bracht (2003), que cita Inglaterra, onde os jogos eram considerados ameaças à propriedade e à ordem pública, e é lá que ocorrem as regulamentações que com o tempo vão adquirir as características do esporte moderno.
Podemos dizer, hoje, que “a cultura corporal de movimento esportivizou-se” (BRACHT, 2003, p. 11), pois ele se desenvolveu no interior da cultura e assumiu com isso algumas características, que Bracht organiza e dividi em dois grupos, que são:
Esporte de alto rendimento ou espetáculo
Esporte enquanto atividade de lazer
Em que ele sugere que não há uma nominação que é especificamente educacional, pois ela pode se dar em ambas perspectivas.
O esporte praticado no âmbito da instituição educacional, pode na verdade vincular-se a uma das duas perspectivas de esportes acima referidas, embora pareça predominar hoje, em maior ou menor grau, as características de rendimento (BRACHT, 2003, p. 12).
Aquele esporte que se aproxima de práticas de lazer é altamente influenciado por derivações do esporte de rendimento. Sendo na forma como é praticado ou entendido pelas pessoas. Para deixar claras as definições que abordarei neste momento, citarei Bracht (2003):
A expressão “esporte-espetáculo” complementa a expressão “alto rendimento”, porque entendemos que esta abriga a característica central desta manifestação hoje, ou melhor, sua tendência mais marcante, qual seja, a transformação do esporte em mercadoria veiculada pelos meios de comunicação de massa (p. 13).
Agora, buscando a compreensão de como acontece à relação entre essas formas de entendimento, é indispensável conhecê-las e compreender quais suas características sociais e como se dão em meio ao que queremos entender. Consideraremos o esporte espetáculo como aquele que está diretamente ligado ao consumo (como mercadoria), tendo como objetivo o lucro de quem vende o esporte e pelo esporte. Porém é essa forma de espetáculo que ainda fornece o modelo de atividades de lazer para a grande parte da população, Bracht (2003) diz que é dessa forma que se manifesta o esporte escolar, até quando levamos em consideração as instalações utilizadas para a pratica das atividades, porque, se procuramos dar um outro significado a esse esporte na escola, é recomendável que ele se manifeste em um ambiente diferenciado.
Visto isso, é muito difícil pensar em uma autonomia desse esporte enquanto atividade de lazer, porque muitas vezes, quando vemos atividades alternativas, que fogem ao padrão, as organizações procuram logo transformá-lo em práticas regulamentadas que passam a ser consideradas modalidades esportivas.
Quanto à função social, as duas manifestações circunscrevem-se no âmbito do lazer; por um lado enquanto produção e consumo de um produto no tempo livre, e, por outro, a prática no período de tempo livre (BRACHT, 2003, p. 15).
O esporte espetáculo, se insere no cotidiano do praticante quando se faz presente em atividades relacionadas ao trabalho dele, principalmente quando pensamos nos códigos que regem esse espetáculo, que são: maior rendimento, vitória a todo custo e racionalização. Já esporte praticado como lazer está mais ligado ao tempo livre, em que ele não está no ambiente de trabalho, em que outros códigos se fazem presentes, relacionados a preferências pessoais, podendo ser ligado à saúde, integração social, prazer, entre outros.
Betti (1998) utiliza o termo esporte espetáculo, dando um enfoque naquele esporte que passa na televisão, em que “a mediação efetuada pela câmera televisiva construiu uma nova modalidade de consumo para o grande público: o esporte espetáculo” (BETTI, 2001, p. 126). O esporte espetáculo, que exerce influência direta na sociedade dá uma grande ênfase ao rendimento e muitas vezes é apenas reproduzido no esporte-educação e no esporte-participação. Podemos notar uma apresentação maciça do esporte espetáculo nos meios de comunicação o que acaba por exercer uma enorme influência nas crianças, e na maioria dos casos a mídia valoriza a forma em detrimento ao conteúdo, utilizando para isso os avanços tecnológicos audiovisuais.
A mídia está presente no dia-a-dia de todas as pessoas, basta ligar a TV, o rádio, olhar os outdoors na rua ou ligar o computador, enfim é algo que não tem como se estar alheio visto que está cada vez mais interligado com o cotidiano e sempre relacionado a imagens, sons e palavras, que alimentam os desejos de cada um. Betti (2001) diz que: “é preciso considerar que muitas dessas informações possuem apenas a forma do espetáculo e do entretenimento, distante de preocupações educativas formais” (p. 125).
A Educação Física deve-se aproveitar dessa mídia e fazendo com que seja uma aliada, buscando entender o que cada um compreende daquilo que é mostrado nos meios de informação, educando os estudantes para uma reflexão critica, fazendo com que compreenda o que é mostrado e qual é a real intenção do que está sendo mostrado, estabelecendo algumas relações do que aparece na tela e a realidade em que vive. (BETTI, 2001)
Para Betti (2001) o professor, nesse contexto, deve exercer um papel de mediador entre estudantes e mídia, levando em conta toda a experiência que ele já teve. Buscando sempre uma posição em relação a essa mídia e a esse estudantes, livres de preconceitos, acima de tudo buscando qualidade naquilo que é exposto aos mesmos, até porque vivemos na chamada era da informação, onde temos cada vez mais informações sobre os mais variados assuntos, e se isso for usado para a educação, a favor dela, e não contra ela, essa pode ser uma geração que terá uma perspectiva critica e diversificada das informações.
Diante de tantas formas de expressão corporal que a televisão, as revistas e jornais nos mostram, a Educação Física deve tentar fazer com que os estudantes tenham uma postura crítica perante esses fenômenos, evitando uma reprodução do que é visto na TV, a partir do esporte espetáculo, e buscando adaptações desse esporte dentro da escola.
É necessário que essa intersecção esporte x escola seja feita a partir das dimensões: conceitual, procedimental e atitudinal, que de acordo com Darido e Souza Junior (2007) significa pensar em uma forma de combater o exclusivo “saber fazer”, pensando em algo que esteja relacionado com o além do fazer, dando bases e suportes para que os estudantes saibam a origem de determinado esporte, quais as possíveis formas de compreendê-lo, conhecer suas transformações, entendendo a forma como ele é mostrado nos dias atuais (dimensão conceitual). Vivenciar as mais diversas práticas corporais, dando assim uma diversidade enorme de movimentos corporais possíveis de serem utilizados em uma especificação (dimensão procedimental). Valorizar as atitudes diante do esporte, o respeito ao colega, resolver possíveis problemas utilizando o diálogo e não ser preconceituoso em relação a diferentes habilidades, sexo, religião e outras (dimensão atitudinal).
E é essa concepção que usaremos no presente estudo, associado à Educação Física Escolar, tentando descobrir e entender como esse fenômeno pode se inserir no contexto escolar, auxiliando no crescimento integral do estudante. Tentando dessa forma, torná-lo mais critico fazendo com que seja capaz de usufruir, reproduzir, criar e recriar aquilo que é mostrado nos meios de comunicação gerando com isso, autonomia.
2. Resultados
Foi relatado em diários de aula tudo o que foi feito durante a intervenção, o que possibilitou um maior entendimento dos fatos mais importantes que surgiram com a realização da atividade.
Para preservar a identidade dos/as participantes da pesquisa, fiz uso de legendas nas redações, dividindo-as da seguinte forma: “A” (Áudio) mais um número correspondente, por exemplo: A1, A2, A3, e assim por diante, o que significa que essas redações são aquelas que foram escritas pelos que assistiram ao vídeo com áudio, sendo que o número foi colocado aleatoriamente. A segunda legenda utilizada foi aquele em que coloquei “M” (Mudo) mais um número correspondente, por exemplo: M1, M2, M3, e assim sucessivamente, significando que essas redações foram escritas por aqueles que assistiram ao vídeo sem áudio, sendo que, assim como aqueles/as que assistiram ao vídeo com áudio, o número foi inserido aleatoriamente.
De acordo com Betti (1998) o jornalismo esportivo (comentaristas, narradores, etc.) é capaz de influenciar aqueles/as que assistem, fazendo com que aquilo que é dito torna-se muitas vezes uma verdade absoluta, e dessa forma algo incontestável. Partindo desta premissa, poderíamos assumir que os estudantes que assistiram ao vídeo com o áudio teriam maior probabilidade de serem influenciados pelo discurso da mídia, algo que iremos discutir ao longo deste capítulo.
Levando em conta que a fala do narrador, dessa forma, afetaria a compreensão dos estudantes acerca do evento que foi transmitido, podemos dizer que de uma forma ou de outra toda gente consome algum tipo de notícia advinda das mídias, e muitas vezes essas notícias são transmitidas por profissionais de forma sensacionalista (PASCHOAL; TATTO, 2008). Além do que, podemos dizer também, que, partindo do senso comum, a mídia se mostra detentora de grande conhecimento, conhecimento esse muitas vezes considerado incontestável.
O cidadão ouve e percebe o discurso da mídia como algo que vem de patamar superior, de quem sabe mais, muito mais, para quem sabe pouco ou nada. Nesse sentido a mídia, em qualquer de suas manifestações, apresenta-se como ente que detém poder em grau considerável (PASCHOAL; TATTO, p.s/p, 2008).
Entretanto, contrariando estas fontes e tendo como base as redações feitas pelos estudantes e a nossa própria compreensão do vídeo em questão, podemos analisar de uma nova forma esse mesmo acontecimento. As redações se mostraram muito parecidas por alguns possíveis motivos:
O discurso midiático está impregnado e incorporado ao cotidiano deles, visto que nas duas turmas a forma como descreveram o jogo foi muito semelhante ao discurso utilizado por programas esportivos e durante as partidas de futebol transmitidas pela televisão
A imagem, dessa vez, foi muito mais significava que a fala do narrador e comentaristas em questão.
Obviamente não podemos generalizar e dizer que nenhuma das redações teve algum comentário muito parecido com o que foi dito pelo narrador da partida, mas na grande maioria esse não foi o ponto de maior significância.
Considerando isso, para que pudéssemos analisar os dados obtidos, foram elencadas categorias de maior relevância criadas a partir da leitura das redações feitas pelos estudantes durante as intervenções. Foram selecionados trechos, que chamamos de unidades de significado, de tal forma que esses trechos serviram para justificar as categorias propostas. Em um primeiro momento foi feita a comparação das redações daqueles/as que assistiram ao vídeo sem áudio e aos/as que assistiram ao mesmo vídeo com áudio. Posteriormente, fizemos a análise das mesmas redações, mudando o foco de comparação para o entendimento que tive ao assistir o vídeo com e sem áudio.
Para que pudéssemos analisar as redações e buscamos nelas unidades de significado que auxiliassem na analise dos dados e para isso identificamos ao longo das redações algumas categorias, tais quais:
Jogo minuto a minuto: buscaram descrever o jogo usando como base o tempo que é constantemente mostrado no canto superior da tela. Esse fato foi recorrente em praticamente todas as redações, e dessa forma, essa foi à maneira que encontraram para descrever o jogo com mais facilidade e demonstrar todos os acontecimentos que consideravam importantes. Forma essa utilizada pela mídia esportiva para narrar jogos e também uma ferramenta de demonstrar os melhores momentos em programas esportivos.
Importância dada às substituições e lesões dos jogadores: a todo o momento que um jogador era substituído ou sofria alguma falta em que houvesse risco de lesão os estudantes mostraram-se muito atentos/as e em muitas redações esses acontecimentos eram destaques, muitas vezes apareciam mais enfatizados que o lance de gol. Um dos possíveis motivos para esse fato são os recursos de filmagem, como closes dos jogadores nesses momentos, slowmotion, entre outros. A mídia não influencia apenas pela linguagem verbal, mas faz grande uso de outras ferramentas como às imagens que são mostradas, sendo um recurso muito valorizado, e como podemos notar no jogo em questão a transmissão valorizou de forma significativa esses momentos.
Com emoção e sem emoção: essa categoria diz respeito à emoção demonstrada por alguns/as em detrimento da descrição automática do jogo que foi feita por outros/as. Em muitos momentos foi possível notar que alguns agiram como torcedores/as e demonstraram tudo o que estavam sentindo em relação ao lance que estava sendo descrito. Em contra partida, alguns buscaram apenas relatar o que estava acontecendo, sem demonstrara o que aqueles acontecimentos o faziam sentir.
Ao analisar as redações, podemos iniciar a discussão com a primeira categoria que diz respeito ao jogo minuto a minuto, em que em ambas as redações muitos procuraram descrever todos os fatos que consideravam relevantes utilizando o cronometro do jogo que se encontrava no lado superior da tela, e com isso, todos os acontecimento que relataram durante as redações vinha acompanhados do momento exato em que aconteceram:
Aos 22 minutos do segundo tempo o Brasil abre o placar [...] (M3); Aos 33 min. e 39 seg. Ronaldo Fenômeno faz mais um gol. 2 a 0 para o Brasil (M7); Aos 41 minutos a Alemanha faz boa jogada, chega a linha de fundo, então após o cruzamento o zagueiro brasileiro afastou a bola de lá (M8
Algo muito relevante, e que elencamos como outra categoria de análise é a importância dada às substituições e aos comentários a respeito dos jogadores que se lesionavam durante o jogo, muitas vezes uma importância maior que a dada no momento do gol. Esse fato pode ser explicado quando pensamos e notamos o número de câmeras que cobrem o espetáculo esportivo em questão. Esses programas contam com inúmeros recursos da linguagem audiovisual, dando grande destaque à imagem, somado a isso temos o grande avanço tecnológico, por exemplo, mini-cameras, slow-motion e closes nos atletas. (BETTI, 2001). Quando voltei a assistir ao jogo, notei que a câmera, nesses momentos, se aproximava do jogador e dava grande destaque a esses acontecimentos. Visto isso, pode-se dizer que esse fato deve ser ressaltado, pois se trata de momentos distintos, em que uma turma assistiu ao vídeo com áudio e a outra turma sem, e em ambos, esses mesmos momentos receberam grande destaque.
O jogador da Alemanha número 11 foi substituído pelo 20 (A1); Brasil faz sua substituição: Ronaldinho Gaucho por Juninho em 40, Ronaldo sai em 44 e é substituído pelo camisa 17 (M12);
Além disso, podemos notar diferenças entre as redações, e nesse momento não estou pontuando diferenças entre redações com áudio e sem áudio, até porque essas não foram tão significativas, estou descrevendo diferenças entre todas as redações, de forma geral, o que vem a ser uma nova categoria de analise que diz respeito à emoção ou falta dela transmitida pelas palavras dos estudantes. É notório que algumas redações apenas transmitiram de forma automática o que assistiram, outros, no entanto, demonstraram grande emoção, agindo não apenas como reprodutores de tudo aquilo que estava acontecendo, mas agindo como torcedores e em muitos momentos demonstrando também aquilo que estavam sentindo. Alguns trechos que demonstram um pouco da emoção sentida por eles.
Brasil tenta de novo, e é o Fenômeno de novo! É GOOOOOOL! Aos 33 minutos do segundo tempo. Sem palavras para o Ronaldo (A15); Alemanha vai entrando em desespero em imaginar a taça com o país rival (A12);
E agora, alguns trechos que, pelo contrario, demonstram a forma automática com que alguns escreveram sobre o jogo.
Aos 21 minutos o Brasil faz o gol depois que Ronaldo pega o rebote do goleiro (M1); Aos 21 minutos Ronaldo estava cara a cara com o goleiro e marcou (M6);
Notamos em praticamente todos os trechos destacados eles fizeram uso da denominação dos jogadores usada pela mídia, como por exemplo: Ronaldo Fenômeno, que é a forma como a mídia se refere ao jogador. Estas citações sinalizam que a influência do discurso da mídia vai muito além da narrativa apresentada no momento da partida, apoiando-se em uma memória das vivências destes estudantes relacionadas a outros jogos de futebol.
Depois de analisar todas as redações, e elencar as possíveis categorias, pude perceber que a hipótese inicial, no qual acreditei que a fala dos narradores e comentaristas influenciaria fortemente as redações daqueles que assistiram ao trecho da partida com áudio, acabou sendo frustrada. Minha hipótese inicial coincidia com o argumento de Toledo (2002) segundo o qual o papel primordial do narrador é aumentar os níveis de emoção e tensão da partida, como se convidasse os espectadores a observar mais fielmente as jogadas que ele dá maior destaque. Como essa hipótese acabou não se confirmando no contexto em questão, busquei uma nova perspectiva para interpretar os resultados e para isso comparei o que haviam escrito com a compreensão que tive do fragmento assistido, a opção por adotar a minha análise do vídeo como parâmetro para compreender a indiferenciação entre os dois grupos de redação deve-se a possibilidade de poder retomar todas as narrativas de caráter mais sensacionalista que não foram contempladas pelos estudantes.
Primeiramente reavaliei a forma com que iniciei a explicação de como o trabalho deveria ser feito bem como as orientações dadas para a realização do mesmo. Um dos pontos que podemos destacar é o pedido que fiz no inicio da intervenção, quando solicitei que escrevessem as redações contando o jogo para pessoas que não haviam assistido. Esse pode ter sido um possível motivo que fez com que a imagem prevalecesse em detrimento do que estava sendo falado pelo narrador e comentaristas (para aqueles que assistiram ao vídeo com áudio), fazendo com que eles não fossem influenciados pelo que estava sendo dito, acabando por descrever o que acontecia dentro de campo, de acordo com as imagens que estavam sendo mostradas pelas câmeras que faziam a cobertura do jogo.
Um fato a ser destacado é o foco constante das câmeras no jogador Ronaldo, e a intenção é mostrar o quando ele é insubstituível, acabando por compor o herói da seleção brasileira, principalmente quando levamos em consideração essa copa do mundo de 2002, esse sim, foi um dos nomes que apareceu na maioria das redações, independente da forma com que assistiram. Contudo ao rever o jogo, depois de ler as redações, pude perceber algo que merece destaque. No momento do primeiro gol do Brasil o narrador diz: “Que Oliver Kahn que nada, bateu roupa o goleiro alemão. Ronaldinho meteu pro gol, 1x0 Brasil. Ele provocou, provocou e falhou”. Nesse momento “a expressão "que Oliver Kahn, que nada" é claramente um julgamento do locutor e que revela ainda seu sentimento de torcedor satisfeito com a falha do adversário” (CARVALHO, 2009). Se surgissem comentários inseridos nas redações em que escrevessem que houve falha do goleiro, em certa medida poderíamos considerar que a fala do narrador e dos comentaristas do jogo em questão afetaram a percepção dos mesmos, pois conforme sinaliza Toledo “Ao narrar, o locutor disciplina o olhar e ouvir dos torcedores no acompanhamento das jogadas” (2002, p. 200). Porém, em certa medida, os estudantes foram convidados a serem os narradores, e com isso fizeram uso de todo o conhecimento que tinham a respeito de futebol, narrando os acontecimentos utilizando a forma de “falar” futebol empregada na mídia.
3. Considerações finais
Quando iniciamos a leitura das redações feitas pelos estudantes após as intervenções junto ao 9º ano do Ensino Fundamental pude perceber que a forma com que busquei explicar o que deveria ser feito aos estudantes fez toda a diferença, pois uma simples frase muda o entendimento e o foco que se dá ao que está sendo transmitido. Com isso, quando pedi para que contassem o jogo para alguém que não havia assistido, acredito que acabei por direcionar a compreensão deles para o visual tornando as informações auditivas do jogo que estava sendo televisionado, de certa forma, irrelevantes.
Neste sentido, foi criada uma nova categoria de análise, segundo a qual, buscamos comparar as narrativas dos estudantes com a análise das falas do narrador e dos comentaristas do ponto de vista da pesquisadora, com a intenção de identificar os fragmentos mais enfatizados por estes jornalistas que passaram despercebidos.
Pode-se dizer então que eles não foram, ou foram muito pouco influenciados pela fala dos narradores e comentaristas do jogo Brasil e Alemanha, em contrapartida, as imagens se mostraram-se de grande impacto nas redações, adquirindo grande destaque, visto que a câmera muitas vezes focava as lesões e substituições que aconteciam durante o fragmento exibido, com isso boa parte dos estudantes procurou discorrer sobre esses acontecimentos, muitas vezes dando uma maior ênfase a esses lances, quando comparados aos lances em que o gol acontecia. Contudo a vivência que eles tem do esporte fez com que o discurso midiático, a forma como se analisa o futebol na televisão, seus jargões, os apelidos dados aos jogadores, o fato de se estabelecer uma análise seqüencial dos fatos ocorridos na partida e outros aspectos fossem incorporados nas redações.
Podemos destacar como o desprendimento que tiveram dessa narrativa, acabou por auxiliar na construção de uma interpretação de análise própria. Nesse sentido é importante valorizar esse trabalho enquanto um processo e não apenas como resultado final, visto que não é comum os estudantes fazerem redações durante as aulas de Educação Física, e mais do que isso, não é habitual usar essas redações para entender um pouco do sentido que eles dão à mídia, levando-os a refletir criticamente em relação à influência deste agente em nossa sociedade.
Dessa forma podemos considerar que se a mediação da mídia em relação aos estudantes, feita pelo professor, buscando tratá-la didaticamente para a construção dos conhecimentos se fizer presente, podemos conseguir que esse recurso torne-se uma ferramenta de aprendizagem. Uma das vantagens da utilização desse tipo de abordagem é que muitas vezes ela serve como uma forma de seduzi-los e iniciar diálogos sobre os mais variados temas da cultura corporal de movimento, desde que a mídia seja usada como meio e não como fim na escolha dos conteúdos. Portanto, utilizar a mídia nestas condições, permite trabalhar os conteúdos de forma mais efetiva e inclusiva, buscando também uma reflexão crítica e uma apropriação de grande parte dos conteúdos da Educação Física.
Referencias
BETTI, Mauro. A janela de vidro: esporte, televisão e educação física. Campinas: Papirus, 1998. 159 p.
BETTI, Mauro. Mídias: aliadas ou inimigas da educação física escolar? Motriz, Rio Claro, v. 7, n. 2, p.125-129, 2001. Semestral.
BRACHT, V. Sociologia crítica do esporte: uma introdução. 2. ed. Ijuí: Unijuí, 2003.
GALVÃO, Zenaide; RODRIGUES, Luiz Henrique; SANCHES NETO, Luiz. Cultura Corporal de Movimento. In: DARIDO, Suraya Cristina; RANGEL, Irene Conceição Andrade. Educação física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. 312 p.
HELAL, Ronaldo. O que é sociologia do esporte. São Paulo: Brasiliense, 1990. 77 p.
MINAYO, M. C. de S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 7. ed. São Paulo: Hucitec, 2000. 269 p.
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