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Ensino médio no período noturno. Um estudo
da Educação Física como componente curricular

Escuela Secundaria en el turno de la noche. Un estudio sobre la Educación Física como componente curricular

Evening high school. A study of Physical Education as a curriculum component

 

*Graduado em Educação Física pela Faculdade Adventista de Hortolândia

**Doutora pela Unicamp

**Professora Titular na Faculdade Adventista de Hortolândia

***Professora nas Faculdades Network
(Brasil)

Kátia da Silva Silvério*

Lilian Maria Blumer*

Helena Brandão Viana**

Magda Jaciara Andrade de Barros***

hbviana2@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O estudo desenvolvido teve como problemática principal a desvalorização da educação física no período noturno e sua facultatividade, que é possibilitada pela própria LDB e muitas vezes também incentivada pela direção acadêmica. O objetivo deste trabalho foi analisar o interesse dos alunos que freqüentam o ensino noturno pelas aulas de Educação Física, levantar quais atividades eles preferem e suas sugestões para tornar as aulas motivadoras e proveitosas. Para isso foi aplicado aos alunos das escolas estaduais da cidade de Hortolândia um questionário. A partir das respostas foi possível verificar a percepção e o interesse dos alunos em relação às aulas de educação física, além de suas limitações de acesso a tais conteúdos causados pela facultatividade possibilitada pela LDB.

          Unitermos: Educação Física. Ensino noturno. Facultatividade.

 

Resumen

          El tema de este estudio fue la falta de importancia dada a la Educación Física en los programas nocturnos, clase opcional permitida por la LDB y muchas veces incentivada por la dirección académica de las escuelas. El objetivo de este estudio fue analizar el interés de los estudiantes que asisten a la escuela nocturna en las clases de Educación Física, evaluar las actividades de su preferencia y sus sugerencias para que las clases sean más motivadoras y útiles. Se aplicó una encuesta entre los estudiantes de escuelas públicas en la ciudad de Hortolandia para comprobar la motivación de los estudiantes que asisten a la escuela nocturna en relación con las clases de Educación Física. Desde sus respuestas, fue posible evaluar la percepción e interés de los estudiantes en relación la disciplina Educación Física y su acceso restringido a tales contenidos, debido a la ausencia de obligatoriedad del programa de la LDB.

          Palabras clave: Educación Física. Escuela nocturna. No obligatoriedad.

 

Abstract

          The theme of this study was the lack of importance given to Physical Education in the night programs, optional credit allowed by the LDB and many times encouraged by the schools’ academic direction. The objective of this study was to analyze the interest of students who attend night school in the physical education classes, assess which activities they prefer and their suggestions to make the classes motivating and useful. A questionnaire was applied among the students of state schools in the city of Hortolandia to verify the motivation of students who attend night school related to Physical Education classes. From their responses, it was possible to evaluate the students' perception and interest regarding in the discipline of physical education and their restricted access to such content due to the program electiveness allowed by the LDB.

          Keywords: Physical Education. Night school. Electiveness.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 174, Noviembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Hoje no Brasil e no mundo vemos uma busca por qualidade de vida, por uma boa alimentação, acesso à atividade física dirigida, lazer, educação entre outros. Mas a situação que nos é apresentada atualmente são crianças e adolescentes crescendo sem possibilidades de alcançar esses princípios para uma vida mais saudável. Muitos jovens já estão no mercado de trabalho para ajudar a família financeiramente e com isso vem a necessidade de uma troca de turno do período escolar.

    Conforme Oliveira (2000), os perfis dos alunos do período noturno estão enquadrados no relatório das pesquisas educacionais no país como trabalhadores assalariados, sem nenhum tempo para o lazer muitas vezes e o pior sem esperança de uma educação de qualidade, apenas com uma idéia como da maioria de que é possível se igualar socialmente com a mínima quantidade de horas estudadas em sala de aula.

    A educação física com sua proposta pedagógica de educar a criança, o adolescente e o adulto e proporcionar o aumento da qualidade de vida, trabalhando como suporte para o crescimento do aluno no âmbito físico e cultural, é inibida através da Lei 9394/96 no artigo 26 que descreve a educação física como facultativa no período noturno deixando a escolha da escola em oferecer ou não a disciplina. Com isso alunos são privados de tais conhecimentos que lhe ofereceriam oportunidades de desenvolvimento escolar, pessoal e até mesmo profissional.

    Oliveira e Lisboa (2000) questionam: Por que os alunos trabalhadores infelizmente são privados de um conhecimento considerado fundamental para o seu desenvolvimento corporal e cultural? E continuam dizendo: Permitir que a educação física seja facultativa é o mesmo que impedir os alunos de um aperfeiçoamento sobre o seu próprio corpo e suas possibilidades.

    A dispensa das aulas de educação física não é o único limitador de um conhecimento fundamental para os alunos, não há nenhum tipo de avaliação por parte dos professores como: a entrega de um trabalho relacionado ao tema do bimestre, seminários ou até mesmo uma prova escrita, já que os mesmos estão privados das atividades práticas da disciplina.

    Queremos com esse trabalho apresentar aos professores e instituições de ensino a importância da presença da disciplina de educação física no período noturno.

Ensino Noturno e Educação Física: desafios e possibilidades

    O estudo a ser desenvolvido tem como problemática principal a desvalorização da educação física no período noturno, e sua facultatividade que são embasadas pela própria LDB. Mas antes mesmo de relacionarmos esse assunto é importante relatar os motivos pelo qual levaram o ensino médio noturno a ter tamanha defasagem de estrutura para o seu melhor desenvolvimento. O ensino médio noturno apresenta muitas lacunas. Zibas (1991) relata que a expansão do curso noturno de 2º grau atendeu de maneira extremante precária, alunos que estudam e trabalham modificando profundamente o perfil do ensino secundário bem como desafiando estudiosos da área a adequar às necessidades e expectativas de seus alunos – jovens trabalhadores. E Oliveira (2000), complementa dizendo que desde o início dos cursos noturnos nota-se que nada foi elaborado com foco em adaptar o ensino aos alunos trabalhadores e usufruir de seus conhecimentos e suas vivências.

    Conforme Oliveira e Lisboa (2000), o ensino noturno é visto como uma terceira jornada de trabalho, e entende-se que sua realização é um “sacrifício” da direção, dos professores e alunos. Porém, até hoje não se nota uma atenção especial vinda de órgãos públicos responsáveis por essa causa.

    Uma série de fatores nos leva a entender as mudanças ocorridas no período noturno, prejudicando de forma direta o desenvolvimento da disciplina de educação física, pois com isso a disciplina passa a ser ministrada em períodos diferentes, e a LDB estipula a lei nº 10.793, de 01/12/2003 e Parecer CEE 526 / 99 ( Brasil, 2003) que nos diz:

    A Educação Física, integrada à Proposta Pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação básica, sendo sua prática facultativa ao aluno:

  1. que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a 06 horas;

  2. maior de 30 anos de idade;

  3. que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em situação similar, estiver obrigado à prática da educação física;

  4. amparado pelo Decreto-Lei nº 1.044, de 21 de outubro de 1969;

  5. aluna que tenha prole.

    (PORTAL DA EDUCAÇÃO, 2011).

    Compreendendo que a educação física se torna facultativa para o ensino noturno, alunos acostumados a não freqüentarem as aulas de educação física, apresentam, segundo Souza Junior e Darido (2009) inúmeros motivos para justificarem sua ausência. Alguns motivos apresentados pelos alunos são:

  1. o fato de a educação física ser realizada em horário diferente das demais disciplinas;

  2. a inexistência de notas bimestrais para os alunos dispensados (os alunos dispensados tem sua ausência abonada com um atestado médico e nenhum método é realizado para avaliar esse aluno, simplesmente a disciplina não existe para tais alunos);

  3. com freqüência é aceita em alguns colégios atestados de academias, escolinhas de esportes, clubes como aproveitamento das aulas de educação física;

  4. Quem está no 3° ano do ensino médio precisa se dedicar ao vestibular.

    Essa falta de interesse de alguns alunos que estudam no período noturno, muitas vezes é reflexo do que ocorreu em sua trajetória escolar no ensino fundamental, muitos vêem a Educação Física como algo sem muita importância, apenas como repetição do que se fez anteriormente. Esse pensamento é corroborado por professores despreocupados em atualizar seus programas curriculares. Mas por outro lado, muitos alunos sentem falta das aulas (DARIDO, 2004 apud MILLEN NETO et al. 2010).

    Em pesquisa feita por Darido et al. (1999), os resultados indicaram que a maioria dos alunos entrevistados acreditam que a educação física na escola não cumpre o seu papel porque transmite pouco ou nenhum conhecimento, alguns alunos também se afastavam das aulas porque elas eram monótonas e sem continuidade, e outros porque professores privilegiavam os alunos mais habilidosos, o que estimulava os alunos a requisitarem dispensas.

    Portanto podemos observar que essas críticas ao desenvolvimento da disciplina explicam, porém não justificam o direito que a lei proporciona aos alunos insatisfeitos a pedirem dispensa das aulas. Neste caso se realizássemos pesquisas com outras disciplinas, quais resultados obteríamos?

    Souza Junior e Darido (2009, s/p) apresentam uma indagação bastante pertinente sobre o tema:

    Você já foi dispensado ou já conheceu alguém que já foi dispensado das aulas de educação física na escola? Você já foi dispensado ou já conheceu alguém que foi dispensado das aulas de alguma outra disciplina (qualquer outra que não seja a educação física) em toda a sua vida escolar?

    Os mesmos questionamentos são feitos por Coffani e Gomes (2008), que diz: a educação física no ensino médio noturno encontra-se numa situação constrangedora, parece não ser de fundamental importância a educação do aluno, pois o mesmo tem direito por lei de optar a freqüentá-la ou não. Mas por acaso alguma lei permite ao aluno o direito de optar por ter ou não aulas de Matemática, Português, Geografia?

    Ao refletirmos sobre estas questões podemos rapidamente encontrar suas respectivas respostas, são essas indagações que nos vem à tona ao analisarmos a educação física no contexto escolar noturno.

    Novos valores, ações, objetivos e reflexões para o trabalho com a educação física no ensino médio noturno vêm sendo proposta, com a idéia de melhoria e valorização de uma disciplina igual e tão importante quanto todas as outras disciplinas que compõem a grade escolar do ensino médio noturno.

    Conforme Oliveira e Lisboa (2000), poderíamos considerar que, se houvesse um trabalho qualificado por parte dos docentes junto aos alunos do ensino noturno, esse quadro poderia ser revertido, e os maiores interessados, no caso os alunos, poderiam ter argumentos suficientes para reivindicar tal direito.

    Sabemos que uma das condições para garantir a não exclusão dos alunos das aulas de educação física por meio das dispensas consiste na melhoria da qualidade destas aulas que não podem continuar a ser uma simples repetição dos processos de iniciação esportiva vivenciados pelos alunos durante o ensino fundamental, tão pouco o simples “rola bola” sem intervenção do professor (SOUSA JUNIOR e DARIDO, 2009).

    A facultatividade estipulada pela LDB à disciplina de educação física, está praticamente excluindo esta como componente curricular no ensino noturno (CARNEIRO, 2006).

    Todas as justificativas embasadas na lei, não limitam professores e direção acadêmica a dispensarem o aluno sem avaliá-los, alunos que não podem comparecer as aulas de educação física em horários alternativos, não devem estar impedidos de realizar qualquer atividade acadêmica dentro do contexto da educação física.

    Permitir que o aluno tenha nota por apenas apresentar um atestado, sem desenvolver avaliações em sala de aula ou domiciliar - se for o caso do aluno que realmente precisa da dispensa – é desmerecer a disciplina. Desenvolver resenhas, resumos, assistirem palestra voltada para o tema educação física, tudo isso pode fazer parte da avaliação da disciplina, mesmo para os alunos com dispensa da presença. A educação física precisa ser vista e entendida como qualquer outra disciplina (SZUBRIS e COFFANI, 2009).

    Souza Junior e Darido (2009) relatam que quando as escolas dão aos atestados médicos um critério melhor de análise e alunos dispensados realizam avaliações, os pedidos de dispensas tendem a diminuir drasticamente.

    O que se observa é que nada está sendo feito para tais melhorias, propostas não tem sido apresentadas para inovações, nem mudanças na metodologia de ensino. Falcão (1989) apud Chicati (2000) relatam que aprendizagem é uma modificação relativamente duradoura do comportamento, através de treino, experiências e observação. No entanto para que ocorra esta aprendizagem se faz necessário que o indivíduo esteja motivado, mas isso infelizmente não é uma realidade hoje nas escolas.

    Conforme pesquisa realizada por Chicati (2000) nas escolas municipais de Maringá, alunos que hoje freqüentam as aulas de educação física do ensino médio possuem uma carência de conteúdos, pois eles vêm tendo, desde o ensino fundamental o desporto como conteúdos, ou seja, dança e ginásticas que foram apontados pelos alunos como conteúdos interessantes para se ministrarem nas aulas, tem sido deixados num plano secundário e quase nem aparecem. Acredita-se que esse seja um dos grandes motivos para que os alunos do ensino médio se afastem das aulas dessa disciplina. E a autora complementa dizendo que sendo ministrados esses conteúdos continuamente, pode fazer com que os alunos percam interessam cada vez mais.

    Com isso podemos dizer que o esforço é valido por parte dos docentes em fazer sair da teoria, do papel, dos livros, dos HTPC’s, as proposta feitas por muitos autores para o melhor desenvolvimento da disciplina de educação física para o ensino médio noturno. Respostas são obtidas por professores que motivados por tais propostas realizam uma metodologia diferenciada, como podemos observar na pesquisa realizada por Darido et al. (1999) que em uma conversa informal com uma Professora de educação física relatou que o número de alunas que pediam dispensa das aulas foi reduzido pela metade, quando além do voleibol e basquetebol, podiam optar pelas aulas de ginástica aeróbica e step.

    Isso só evidencia que devemos experimentar outros conteúdos dentro do ambiente escolar, Chicati (2000) diz que a motivação não se demonstra na mesma intensidade em todas as pessoas, pois temos interesses diferenciados. Cabe ao professor o dever de estar consciente da busca por conteúdos diversificados e motivantes, para que se consiga atender aos interesses contidos nas turmas, fazendo com que essa falta de previsão que a motivação manifesta, não venha lhe causar dúvidas no que diz respeito a motivação de seus alunos.

    De acordo com Oliveira (2000), os perfis dos alunos do período noturno estão enquadrados no relatório das pesquisas educacionais no país como trabalhadores assalariados, com famílias constituídas, sem nenhum tempo para o lazer muitas vezes, e sem esperança de uma educação de qualidade, apenas com uma idéia de que é possível se igualar socialmente com a mínima quantidade de horas estudadas em sala de aula.

    A educação física é de suma importância principalmente para esse grupo de alunos, e a diversidade de conteúdos se faz ainda mais necessário, para que os alunos entendam que vale a pena o esforço deles em permanecer nas aulas, participar, ou até mesmo realizar as tarefas indicadas pelo professor para que se obtenha a nota do bimestre, porque são conteúdos relevantes e que vão fazer parte do seu dia-a-dia beneficiando-os em suas atividades diárias, sua qualidade de vida e seus interesses educacionais.

Metodologia

Delineamento

    Essa pesquisa teve caráter qualitativo descritivo, onde a qualidade dos dados torna-se mais importante do que a quantidade, e a amostra escolhida é proposital para atender aos objetivos da pesquisa. Essa pesquisa foi submetida e aprovada pelo comitê de ética da UNICAMP, sob o número 418/2011, CAAE: 0361.0.146.000-11.

Casuística

    Os dados foram coletados em nove escolas da rede estadual no município de Hortolândia, sendo que 12 escolas possuem ensino noturno, porém três delas, não autorizaram a realização da pesquisa. Em cada escola foi solicitado aos diretores, que escolhessem cinco alunos de 1º ao 3º ano do ensino médio para responderem as perguntas. Em algumas escolas vieram mais do que cinco alunos e no total foram entrevistados 56 alunos que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Instrumentos utilizados

    Para essa pesquisa foi elaborado um questionário para ser aplicado com os alunos para verificação de interesse nas atividades desenvolvidas nas aulas de educação física. As perguntas elaboradas são:

  1. Qual seu interesse pelas aulas de Educação Física?

  2. Que tipo de conteúdo que você mais gosta na aula de Educação Física?

  3. Que tipo de conteúdo que você menos gosta na aula de Educação Física?

  4. Quais atividades você sugere para tornar as aulas de Educação Física mais interessantes?

  5. Como é a sua participação nas aulas de Educação Física?

Resultados e discussão

    Serão apresentados a seguir os resultados da pesquisa realizada com os alunos. Na questão número um (1) as opções de respostas eram: muito forte, forte, regular, fraco, muito fraco e não tem interesse.

Figura 1. Primeira pergunta questionário alunos

    Como se pode notar mais de 90% dos alunos tem interesse nas aulas de educação física, sendo assim acredita-se que o professor de educação física deva criar estratégias para que os alunos possam ter acesso aos conteúdos desenvolvidos, já que os mesmos não tem condições de participarem das aulas que são ministradas em horários opostos aos do período noturno.

Figura 2. Segunda pergunta questionário alunos

    Observa-se um maior interesse pelo desporto e isso pode ser atribuído a diversos fatores, tais como o incentivo da mídia televisiva esportiva que na maior parte do tempo transmite somente esportes em detrimento de outras atividades físicas, a influência dos pais por incentivarem a participar de uma modalidade, ou até mesmo as aulas de educação física que tem o esporte como a atividade mais ministrada nas aulas (CHICATE, 2000).

Figura 3. Terceira pergunta questionário alunos

    Os motivos que podem levar os alunos a não se interessarem pelas aulas teóricas, talvez seja o fato dessas aulas, muitas vezes serem ministradas dentro de sala de aula e até mesmo com conteúdos que não provocam interesse ou estímulo para se obter um conhecimento diferenciado, e que os levem à prática da sua criatividade e seus conhecimentos também.

Figura 4. Quarta pergunta questionário alunos

    Como se pode notar, a dança é um dos conteúdos preferidos pelos alunos, isso nos mostra que é possível desenvolver atividades diferenciadas na escola para assim atrair e provocar um interesse ainda maior nos alunos, incentivando-os a não pedirem dispensas das aulas sem precisarem realmente da dispensa.

Discussão

    A análise feita dos questionários aplicados para alunos do ensino médio do período noturno trouxe perspectivas positivas quanto à idéia da prática da educação física para os alunos desse período. Os alunos que não praticam nenhuma atividade física extracurriculares, tem no momento da aula talvez a única oportunidade de se envolver com a atividade física e outros conteúdos relacionados ao corpo e suas funções, que promovem a saúde e o bem estar tanto físico quanto psicológico do indivíduo.

    Foi possível observar o interesse dos alunos e grande motivação, que no início do trabalho imaginava-se não existir, pois professores e diretores acadêmicos relatavam que os mesmos chegavam para as aulas cansados de seus trabalhos e não tinham condições de realizar as atividades propostas pela disciplina de educação física. Durante a pesquisa pode-se ouvir diretores com seguintes relatos: “...os alunos coitadinhos, chegam cansados, como vão fazer educação física, não dá...” , “...como dar aula de educação física, se não sobra nenhum horário, e os alunos chegam cansados, não tem condições...”

    Tais falas mostram que um dos motivos pelos quais alunos são privados de um conteúdo fundamental para o seu desenvolvimento, que é a educação física, é a atitude dos diretores das escolas. Durante a pesquisa junto aos alunos não foi constatado tal desinteresse relatado, pelo contrário alunos afirmaram que participariam regularmente das aulas, se as mesmas fossem realizadas no seu período de estudo, como mostra os relatos de alguns alunos: F.M.P. de 17 anos: “Não participo devido a dispensa do trabalho. Porém se estivesse no período noturno seria bom, porque isso é uma matéria que basicamente é muito saudável”. M.C.O. de 17 anos: “Não participo pois tenho dispensa, se houvesse aula no noturno participaria sim sem menor problema, pois isso estaria ajudando cada vez mais meu desenvolvimento corporal e claro minha saúde”.

    Muitos relatos como esses foram encontrados durante a pesquisa, com isso surge a seguinte pergunta: Qual alternativa o aluno tem para obter o conteúdo desenvolvido pela disciplina de educação física, se o mesmo tem total interesse e é privado dessa prática?

    Em apenas uma escola pesquisada foi verificado que a professora aplicava um trabalho teórico como método avaliativo e também como forma de incluir o aluno aos conteúdos desenvolvidos com os demais alunos que podem participar das aulas práticas no período oposto. Nas demais escolas todos os alunos são dispensados e obtêm notas sem ao menos ter conhecimento sobre o conteúdo desenvolvido pelo professor.

    Em conversa informal com uma das alunas das escolas pesquisadas, a aluna relata que o diretor pediu que obtivesse uma declaração de trabalho, mesmo não trabalhando, para que ela fosse dispensada das aulas de educação física.

    O que foi detectado é que a disciplina de Educação Física é pouco valorizada pela direção nas escolas pesquisadas, o que foi comprovado através dos relatos dos alunos. Os próprios professores que muitas vezes vem desmotivados, e acabam por usar uma metodologia pouco diversificada, desmotivam também os alunos a prática da educação física.

Considerações finais

    Através desse estudo foi possível concluir que a desvalorização da disciplina de educação física fica evidente na maioria das escolas pesquisadas, e que desenvolver a disciplina de educação física no ensino noturno é uma questão possível desde que haja um reconhecimento da importância da disciplina. Hoje encontramos no ensino médio noturno uma desestruturação em relação às aulas. Alunos são dispensados por ausência de professores e o que se ouve como justificativas para não ter a educação física é que não existe horário na grade para a disciplina. Com isso professores desenvolvem a disciplina em horário alternativo ao das aulas normais com uma queda na participação desses nas aulas.

    Normalmente as aulas de educação física no ensino noturno tem sido ministradas em horário diferentes das aulas normais. Em algumas escolas ela ocorre logo antes da aulas, e eles a chamam de pré-aula. De acordo com os PCN’s todas as disciplinas são iguais em sua importância, e apenas a educação física tem sofrido essas alterações de horário, diminuindo a valorização dela como disciplina curricular. Porque não é feito um revezamento a cada semestre de alternância das disciplinas que serão ministradas na pré-aula, para que a Educação Física possa ocupar um lugar equitativo junto com as outras disciplinas?

    Conclui-se assim que a educação física no ensino médio noturno precisa de uma atenção vinda da direção da escola e também de seus professores que necessitam de motivação e de luta para que se reconheça a importância da disciplina que desenvolvem. Se os próprios professores não mostrarem esses valores e se acomodarem com os resultados negativos, que infelizmente tem sido realidade dentro das escolas estaduais, não apenas em Hortolândia, mas em toda a região, a educação física jamais será reconhecida como se deve.

    Segundo Chicati (2000), conteúdos e métodos precisam ser repensados, bem como o incentivo da própria escola em melhorar o local e os materiais para a Educação Física, além de oferecer cursos de capacitação aos professores.

    Uma limitação desse estudo é a pouca literatura encontrada sobre a temática. Parece não haver muitos pesquisadores desenvolvendo estudos nessa área. Não somente faltam pesquisas nessa área para levantamento das reais condições das escolas, como da motivação, tanto de alunos como dos professores que compõe o ensino noturno no Brasil.

Referências bibliográficas

  • CARNEIRO, E. B. Confrontos e Perspectivas da Educação Física escolar no ensino noturno. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 11 – N° 101, Octubre 2006. http://www.efdeportes.com/efd101/notur.htm

  • CARNEIRO, E. B. Planejamento Participativo nas aulas de Educação Física no ensino noturno: um relato de experiência. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 11 – N° 98, Julio 2006. http://www.efdeportes.com/efd98/noturno.htm

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  • SOUZA JÚNIOR, O. M.; DARIDO, S. C. Dispensa das aulas de educação física: apontando caminhos para minimizar efeitos da arcaica legislação. Revista Pensar a Prática v. 12, n. 2, p. 1-12, maio/ago. 2009.

  • SZUBRIS, W.; COFFANI, M. C. R. da S. Educação Física Escolar: Um estudo da prática pedagógica no ensino médio. Movimento & Percepção, Espirito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, p.180-192, jan/jun. 2009.

  • ZIBAS, D. M. L. Ensino Noturno de 2º grau: A Voz do Corpo Docente. Cad. Pesq., São Paulo, v. 78, p. 41-50, agosto 1991.

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