Educação em valores e o currículo do Estado de São Paulo La educación en valores y el currículo del Estado de Sao Paulo Values education and the curriculum of the State of São Paulo in Brazil |
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Graduada em Educação Física. Licenciatura Plena Faculdades Integradas de Santo André Pós Graduação em Educação Física Escolar, FEFISA Mestranda em Educação Física pela Universidade São Judas Tadeu Instrutora de Atividades Físicas no SESC |
Luciana Lopes Giannocoro (Brasil) |
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Resumo É sabido que a escola é um instrumento valioso de promoção à formação de sujeitos autônomos, críticos e com valores desenvolvidos e apreendidos. O objetivo desse estudo seria detectar a forma pela qual o Currículo do Estado de São Paulo aborda a educação em valores e, mais especificamente, no que tange à Disciplina de Educação Física que oferta um espaço muito rico para promoção de discussões e reflexões dos conflitos de valores que acontecem no cotidiano escolar. Unitermos: Currículo do Estado de São Paulo. Valores. Educação Física.
Abstract It is known that the school is a valuable instrument for promoting the formation of autonomous subjects, critics and with developed values and confiscated. The goal of this study would be traced back to the manner in which the curriculum of the State of São Paulo discusses the values education and, more specifically, with respect to the discipline of physical education that offer a very rich to promote discussions and reflections of conflicts of values that occur in daily life at school. Keywords: Curriculum in the State of São Paulo. Values. Physical Education.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 174, Noviembre de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Introdução
Priorizar o desenvolvimento dos valores nos alunos durante o período escolar torna-se necessário para prevenir e minimizar os problemas da sociedade. Nesse contexto, a disciplina de Educação Física ocupa papel importante por possibilitar um ambiente em que as interações sociais ocorrem nas situações de competição, disputa e confronto, facilitando, dessa forma, o desenvolvimento dos conteúdos na dimensão atitudinal, na qual os valores se encontram.
Com relação ao Currículo do Estado de São Paulo surgem alguns questionamentos: essa proposta aborda os valores? Esse documento destaca a importância de promoção de conteúdos que desenvolvam os valores nos discentes? Será que os Professores não oferecem estímulos suficientes porque desconhecem o assunto?
O objetivo deste trabalho seria então analisar o conteúdo abordado no Currículo do Estado de São Paulo acerca do tema dos valores, ao mesmo tempo em que visa demonstrar a importância do desenvolvimento desse tema na construção da autonomia das crianças, a fim de contribuir para a formação integral do aluno.
2. Conceitos básicos. Educação em valores
É notória a crise de valores pela qual a sociedade atravessa nos tempos atuais. Nós, enquanto educadores e pesquisadores, preocupados com o desenvolvimento integral dos sujeitos, temos que refletir e construir conhecimentos acerca do tema dos valores para podermos lutar e proporcionar uma mudança sobre esse problema, que deve ser iniciada no espaço escolar.
Segundo Abbagnano (1998), valor, em geral, é o que deve ser objeto de preferência ou de escolha. Um povo na idade médica (estóicos) introduziu o termo no domínio da ética e designou de V. os objetos de escolha moral, acreditando no bem em sentido subjetivo, podendo assim considerar os bens (talento, arte, progresso, saúde, riqueza, fama, etc.) e suas relações hierárquicas como objetos de preferência ou de escolha. O autor afirma que V. significa estar em conformidade com a natureza e, portanto, torna-se digno de escolha.
Valor é uma palavra de origem grega e os valores são tão antigos quanto à existência da humanidade. A escala de valores inicia-se a partir do momento em que o homem atribui valor, dá valoração ou demonstra preferência por algo (ALVES, 2009).
Rokeach (1973) define valor como uma crença duradoura em um modelo específico de conduta ou estado de existência, que é pessoal ou socialmente adotado, e que está embasado em uma conduta preexistente. Os valores podem expressar os sentimentos e o propósito de nossas vidas, tornando-se muitas vezes a base de nossas lutas e dos nossos compromissos. Para esse autor, a cultura, a sociedade e a personalidade antecedem os nossos valores e as nossas atitudes, sendo nosso comportamento a sua maior conseqüência.
Chauí (2003) defende que um conjunto de valores constitui uma moral e indica o que deve ser considerado bom ou mau na comunidade. Define qual é o comportamento necessário, adequado, permitido ou proibido.
3. Educação em valores na escola
Pensar na promoção de situações que visem uma educação em valores humanos corrobora para a diminuição das desigualdades sociais, violência e outros problemas que afligem a sociedade. A educação em valores auxilia na evolução de relacionamentos mais pacíficos e cooperativos em uma sociedade cada vez mais competitiva e caótica.
Grau e Prat (2003) afirmam que o estudo em valores adquiriu caráter relevante na atualidade devido à preocupação por uma educação que foque e entenda o sujeito de forma global.
Pode-se complementar a ideia acima recorrendo à Silva (2005) que aponta que possuir uma visão global do homem não significa simplesmente em unir todas as suas partes, numa tentativa de superar o pensamento cartesiano da ciência tradicional. Faz-se necessário entender o sujeito como um todo dinâmico, no qual o corpo, a mente, o espírito, a razão e a emoção interagem e exercem influências mútuas entre si e no contexto em que o sujeito está inserido.
Partindo desse pressuposto, pode-se afirmar que professor e aluno interagem entre si e tornam-se autores da prática educacional que ocorre na escola. A missão educacional deveria possibilitar que o aluno apreenda conhecimentos integrados na cultura através de uma educação pautada nos valores éticos e morais, ambos promotores da formação do caráter justo e honesto, valores estes aclamados e urgentes na sociedade atual.
4. Proposta curricular do Estado de São Paulo
A proposta curricular do Estado de São Paulo abrange os Ciclo Fundamental II e Ensino Médio e surge com o objetivo de dar subsídios aos profissionais que atuam na rede para que se aprimorem sua prática educacional diária.
As apostilas no formato de cartilhas foram enviadas a todas as escolas da rede e apresentam um conteúdo específico e pré-determinado, trazendo possibilidades, sugestões e formas de serem aplicadas e avaliadas.
As habilidades de leitura e produção de textos serão privilegiadas nas disciplinas Língua Portuguesa, Língua Estrangeira Moderna, Arte, Educação Física, História e Filosofia, não excluindo o desenvolvimento de outras habilidades (SEE/SP, 2008).
A Proposta Curricular foi dividida em áreas: Ciências da Natureza e suas Tecnologias; Biologia, Química e Física, Matemática e Ciências Humanas e suas Tecnologias; História, Geografia, Filosofia, Sociologia e Psicologia e Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; Língua Portuguesa, Língua Estrangeira Moderna, Arte e Educação Física.
Essa Proposta está dividida em dois tópicos: Uma educação à altura dos desafios contemporâneos e Princípios para um currículo comprometido com o seu tempo. O objetivo norteador do documento seria:
”[...] garantir a todos uma base comum de conhecimentos e competências, para que nossas escolas funcionem de fato como uma rede [...], priorizando a competência de leitura e escrita [...]” (SEE/SP, 2008, p.8).
Em relação à construção de valores, a Proposta destaca que:
Construir identidade, agir com autonomia e em relação com o outro, e incorporar a diversidade são as bases para a construção de valores de pertencimento e responsabilidade, essenciais para a inserção cidadã nas dimensões sociais e produtivas (SEE/SP, 2008, p.6).
No processo de construção de valores é preciso focar não somente o potencial cognitivo, mas também fatores sociais e afetivos, buscando associar os conteúdos a elementos da realidade do aluno, pois essa contextualização ajuda a imprimir significado e relevância aos conteúdos escolares (SEE/SP, 2008).
Sob a ótica dos campos sociais e afetivos, almeja-se desenvolver no adolescente a capacidade de enfrentar e assumir as consequências de suas ações, a criticar e respeitar as normas da sociedade, considerar suas escolhas em uma escala de valores e tecer seus sonhos de transformação do mundo e atuação crítica na vida contemporânea (SEE/SP, 2008).
“Em síntese, a prioridade do trabalho na educação básica assume dois sentidos complementares: como valor, que imprime importância ao trabalho e cultiva o respeito que lhe é devido na sociedade [...]” (SEE/SP, 2008, p.19).
5. Proposta curricular do Estado de São Paulo para a disciplina de Educação Física
O Currículo do Estado de São Paulo está organizado em áreas, e Educação Física pertence à área de Linguagens, Códigos e suas tecnologias. O foco da proposta para essa disciplina é dado à Cultura do Movimento, isto é a cultura relacionada aos aspectos corporais por meio de jogos, esportes, ginástica, atividades rítmicas e lutas (SEE/SP, 2008).
A linguagem ocupa papel central na proposta, uma vez que as linguagens são utilizadas como meios para o conhecimento. O homem conhece o mundo por meio da linguagem e de seus símbolos. À medida que ele se torna mais competente nas diferentes linguagens, torna-se mais capaz de conhecer a si mesmo, a cultura e o mundo em que vive (SEE/SP, 2008, grifo nosso).
Esse processo exige que o aluno analise, interprete e utilize os recursos expressivos da linguagem, relacionando textos com seus contextos, confrontando opiniões e pontos de vista e respeitando as diferentes manifestações da linguagem utilizadas por diversos grupos sociais em suas esferas de socialização. Fazer uso da linguagem é saber se colocar como protagonista do processo de produção/recepção. É também entender os princípios das tecnologias da comunicação e da informação, associando-os aos conhecimentos científicos e às outras linguagens que lhes dão suporte (SEE/SP, 2008).
Outro aspecto relevante para a compreensão do Currículo do Estado é lembrar que os conteúdos sofreram variações ao longo do tempo, influenciados pelas mudanças socioeconômicas e culturais dos diferentes períodos da história. Mudanças nos espaços urbanos, nos hábitos e comportamentos, novos procedimentos decorrentes dos avanços científicos e tecnológicos, ampliação da influência e aprimoramento das mídias são algumas das variáveis que influenciam nas demandas do se-movimentar das novas gerações (SEE/SP, 2008).
A partir do exposto, a proposta defende a necessidade de tratar os eixos de conteúdo, no Ensino Fundamental II, associados a temas como, por exemplo, organismo humano, movimento e saúde. Na perspectiva do desenvolvimento da autonomia crítica e autocrítica do aluno, essa relação e reflexão se ampliam no Ensino Médio, quando serão associados aos eixos de conteúdo os seguintes eixos temáticos: mídias; lazer e trabalho; contemporaneidade; corpo, saúde e beleza (SEE/SP, 2008).
A proposta vai tecendo explicações acerca da forma como os eixos de conteúdo devem se relacionar com os eixos temáticos através de exemplos que abordam as manifestações da cultura do movimento.
Parece-nos importante situar que após o trato dos eixos temáticos e eixos de conteúdo, a proposta pontua recomendações mais específicas, dividida em ciclos: Ensino Fundamental II (sexto a nono ano) e Ensino Médio. O objetivo central do Ensino Fundamental II é:
[...] diversificar, sistematizar e aprofundar as experiências do Se Movimentar no âmbito das culturas lúdica, esportiva, gímnica, das lutas e rítmica, tanto no sentido de proporcionar novas experiências de Se Movimentar, permitindo aos alunos estabelecer novas significações, bem como re-significar experiências já vivenciadas (SEE/SP, 2008, p.45).
Sobre o objetivo do Ensino Médio, é enfatizada a necessidade de tornar a Educação Física mais relevante para os discentes, com o objetivo de auxiliá-los a desenvolver a criticidade na compreensão e intervenção do mundo e no contexto em que estão inseridos (SEE/SP, 2008).
Em suma, os objetivos da Educação Física no ensino médio são:
[...] a compreensão do jogo, esporte, ginástica, luta e atividade rítmica como fenômenos sócio culturais, em sintonia com os temas do nosso tempo e das vidas dos alunos, ampliando os conhecimentos no âmbito da cultura de movimento; e o alargamento das possibilidades de Se Movimentar e dos significados/sentidos das experiências de Se Movimentar no jogo, esporte, ginástica, luta e atividade rítmica, rumo à construção de uma autonomia crítica e autocrítica (SEE/SP, 2008, p.46).
De uma forma geral, a Educação Física na escola deve proporcionar aos discentes a ampliação do Se Movimentar humano, relacionando-os com as outras disciplinas, ao mesmo tempo em que visa ocupar um papel decisivo na vida dos alunos (SEE/SP, 2008).
6. Considerações finais
A partir do exposto, é indicativo considerar que a Proposta Curricular apresentada para todas as disciplinas e todos os ciclos aborda a temática de valores quando é destacada a necessidade do desenvolvimento da autonomia, da construção da identidade dos alunos e da incorporação da diversidade existente na pluralidade das relações.
Almeja-se também o desenvolvimento da capacidade crítica ao refletir sobre as normas da sociedade e de enfrentar e assumir as conseqüências das próprias ações.
Porém, parece-nos importante situar que todos os objetivos delimitados na Proposta Geral não corroboram com as expectativas relacionadas à Disciplina de Educação Física, existindo uma dicotomia entre essas duas Propostas, uma vez que o desenvolvimento dos valores não é abordado de forma satisfatória na Proposta dessa Disciplina.
Não podemos esperar que o professor de Educação Física elabore estratégias pedagógicas, a fim de desenvolver os valores em seus alunos, se a Proposta apresentada para a Disciplina não trata desse assunto de forma adequada.
Considerando que a educação em valores é fundamental quando se almeja a formação global do sujeito, pode-se afirmar que este objetivo deveria ocupar importância equivalente às competências leitores e escritoras que o documento elenca. Nesse contexto, a Proposta vinculada à disciplina de Educação Física, deveria dar mais ênfase à educação em valores, uma vez que, é sabido que a dinâmica das aulas dessa disciplina favorece a relação entre os sujeitos diferentemente das outras.
É preciso que visualizemos a Educação Física como uma proposta global na qual possamos desenvolver tudo o que abrange o ser humano, composto por aspectos físicos, cognitivos e afetivos (ANDERÁOS, GiANNOCORO, 2009).
Referências bibliográficas
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
ALVES, M.D.F. Favorecendo a inclusão pelos caminhos do coração: complexidade, pensamento ecossistêmico e transdisciplinaridade. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2009.
ANDERÁOS, M. GIANNOCORO, L.L. Julgamento Moral: o professor de Educação Física desenvolve esse conceito em crianças de 0 a 6 anos? Corpoconsciência: revista do curso de Educação Física, Santo André, SP: FEFISA, v.13, n.2 p.79-111, jul. a dez. 2009.
CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2003.
GRAU, M. PRAT, S. Actitudes, valores y normas en la educación física y el deporte: reflexiones y propuestas didácticas. Zaragoza: INDE, 2003.
ROKEACH, M. The nature of human values. New York: The Free Press, 1973.
SEE/SP. Secretaria de Estado da Educação de São Paulo. Proposta Curricular do Estado de São Paulo: SEE. 2008.
SILVA, S.A.P.S. Liberdade e autonomia como valores norteadores de programas para o desenvolvimento da motricidade humana. Revista Integração. São Paulo, ano XI, n.41, p. 141-146, abr/mai/jun, 2005.
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