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A preparação física auxiliando na diminuição
das lesões ligamentares no jiu-jitsu

La preparación física ayudando en la disminución de las lesiones de ligamentos en el jiu-jitsu

 

*Graduado em Educação Física, Pós graduado em Treinamento Desportivo

Especialista em Atividades Físicas para Grupos Especiais

**Belo Horizonte, Minas Gerais

(Brasil)

Rogério Loreto Quintão*

rogeriolquint@gmail.com

Renata Leite Novacoski**

renatanovacoski@ig.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O jiu-jítsu é uma arte marcial milenar e possui várias características semelhantes com o esporte olímpico judô. Ações de “pegada”, “projeção”, “deslocamento”, “estrangulamento” e “chave em articulações” são bastante comuns nesse esporte. Birrer demonstrou um risco significativo de ocorrência de lesões em artes marciais, determinando como fatores identificáveis de risco: falha no uso de equipamento protetor, falta de experiência do atleta. As situações de raspagens, em que o atleta de jiu-jítsu se encontra por baixo do adversário e através de determinada técnica procura desequilibrar o oponente para assumir a posição sobre o mesmo, empregam muitas vezes a extensão do joelho contra uma carga equivalente ao peso do lutador. A dor é o principal sintoma manifestado pelos atletas. A localização da dor nos atletas deve ser minuciosamente avaliada. Os atletas muitas vezes apresentam clínica de dor anterolateral sugestiva de síndrome do impacto, mas esta pode ser secundária à instabilidade glenoumeral.

          Unitermos: Jiu-jitsu. Preparação física. Lesoes ligamentares.

 

Abstract

          The jiu-jitsu is an ancient martial art and has many similar characteristics with the Olympic sport judo. Actions "footprint", "projection", "offset", "choke" and "key joints" are quite common in this sport. Birrer showed a significant risk of injury in martial arts, determining how identifiable risk factors: failure to use protective equipment, lack of experience of the athlete. The situations of sweeps in which the athlete is jiu-jitsu under the opponent and by a particular technique tries to unbalance the opponent to take a position on it, often employ knee extension against a load equivalent to the weight of fighter. Pain is the main symptom manifested by athletes. The location of pain in athletes should be thoroughly evaluated. Athletes often have pain clinic suggestive of anterolateral impingement syndrome, but this may be secondary to glenohumeral instability.

          Keywords: Jiu-jitsu. Physical training. Ligamentous injuries.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 174, Noviembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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    O presente trabalho tem o objetivo de demonstrar a importância da preparação física na prevenção de lesões articulares em atletas de jiu-jítsu e despertar o interesse por essa preparação em atletas e treinadores dessa modalidade.

    As artes marciais asiáticas chegaram à China a partir do Tibet e da Índia segundo registros de 2000 A.C., migrando posteriormente para o Japão, onde foram aprimoradas por seus praticantes. Um grande número de sistemas de luta que se desenvolveu no Japão ficou conhecido pelo termo genérico de jiu-jítsu. Dentre estes sistemas, havia dezenas de estilos e centenas de sub-estilos diferentes. O Dr. Jigoro Kano, em 1880, fez uma síntese das técnicas existentes nos diversos estilos praticados no Japão até então, criando duas categorias novas de luta: uma centrada em técnicas de queda e imobilização, que deu origem ao judô olímpico de hoje; e outra categoria que foi baseada em técnicas de golpear com mãos e pés, e combinação de agarramentos e chaves para imobilização, com ênfase na defesa pessoal, que permaneceu com a nomenclatura de jiu-jítsu.

    Na época da I Guerra Mundial, o jiu-jítsu foi introduzido no Brasil, pelo conde japonês Maeda Koma (Conde Koma), acolhido em Belém do Pará pelo brasileiro Gastão Gracie. Os ensinamentos da arte marcial foram passados ao filho de Gastão, Carlos Gracie. A partir daí, o jiu-jítsu foi sendo desenvolvido e adaptado, com ênfase nas técnicas de luta no solo, agarramento, imobilização e chaves com movimentos em alavanca, sem o uso de golpes diretos com mãos, pés, ou outras partes do corpo. Este novo estilo foi, inicialmente, difundido pelas lições dos faixas-preta da família Gracie, e a seguir pelos novos graduados, tanto nacional como internacionalmente. Hoje, o jiu-jítsu brasileiro é praticado por cerca de 350.000 atletas no país.

    O jiu-jítsu é uma arte marcial milenar e possui várias características semelhantes com o esporte olímpico judô. Ações de “pegada”, “projeção”, “deslocamento”, “estrangulamento” e “chave em articulações” são bastante comuns nesse esporte. Entretanto, poucos estudos têm como foco o jiu-jítsu, principalmente em relação aos aspectos físicos, sendo mais comuns trabalhos envolvendo o judô, por essa razão reuniremos diversos estudos onde às características dos golpes e movimentos se assemelhem com a execução dos movimentos do jiu-jitsu.

    Estudos publicados na literatura médica sobre o perfil do jiu-jítsu como esporte e sobre as características das lesões que seus praticantes sofrem durante treinamento ou competição, não são comuns. Buschbacher e Shay descrevem o jiu-jítsu como arte marcial similar ao Aikidô, na medida em que utiliza manipulações articulares para imobilizar e controlar o oponente, ocasionando lesões por quedas ou entorses articulares. Os autores não estimam a freqüência em que essas lesões ocorrem. Na literatura são encontrados trabalhos que apontam uma alta freqüência de lesões em praticantes de outras artes marciais, inclusive em atletas de judô.

    Birrer demonstrou um risco significativo de ocorrência de lesões em artes marciais, determinando como fatores identificáveis de risco: falha no uso de equipamento protetor, falta de experiência do atleta. Sugeriu ainda que a qualificação, a supervisão e a atitude dos treinadores e árbitros, assim como a presença de um ambiente de treinamento ou competições seguros e regulamentos rígidos em competições são fatores críticos na epidemiologia de lesões nas artes marciais. Vemos também como fatores determinantes para essas lesões a sobrecarga de treinamento que gera cansaço e assim uma aplicação errada das técnicas específicas, a competição interna entre membros da mesma equipe de treinamento que gera disputa dentro do treino e falta de preparo de alguns instrutores e professores que não observam nem limitam a aplicação das técnicas nos treinos.

    Segundo Suzinéa Tezotto Menegue Soares, estudos demonstram pouco interesse dos atletas em um programa de preparação física específico, que vise à prevenção de lesões no esporte, mas que aqueles que participaram obtiveram bons resultados. A preparação específica tem o objetivo de fortalecer os grupos musculares dando maior apoio, suporte e flexibilidade e consequentemente maior proteção para as articulações que sofrem as aplicação das técnicas. Constatou-se a pouca importância dada pelos atletas e treinadores a trabalhos de prevenção no jiu-jítsu e em outros esportes. Assim com a realização de mais pesquisas na área, divulgação dos resultados e apresentação dos mesmos a treinadores e atletas o quadro poderia ser modificado, fazendo com que a prevenção passasse a fazer parte da rotina de treinamentos.

    Stanlei define o esporte como um aperfeiçoamento físico do indivíduo por meio de técnicas e exercícios musculares; o aquecimento antes dos treinos e competições é considerado muito importante para evitar estiramentos, torções ou lesões mais graves, visto que no judô têm-se muitas quedas, rolamentos, pegada, etc., às quais se não bem desenvolvidas podem também levar a uma lesão muscular ou óssea. O jiu-jitsu da mesma forma sobrecarrega o ombro pelas técnicas de projeção e torções que visão direta ou indiretamente a articulação do ombro. Um programa de preparação física preventivo, preparado diante de um estudo anatômico e biomecânico do complexo da cintura escapular e das lesões que a atingem pode auxiliar na prevenção e diminuição de lesões da mesma.

    Ide & Padilha apresentam um tipo de lesão que não está associada a nenhuma técnica especifica, e sim as características do esporte que exigem muito contato corporal, essa lesão é chamada hematoma auricular. Segundo os autores, essa lesão está presente em 40% dos lutadores.

    João Caetano Carpeggiani em estudo realizado aponta, o ombro como região anatômica mais lesada por lesões articulares no jiu-jítsu. Outros autores relatam que o ombro também é a área do corpo mais freqüentemente lesada no judô, o que pode ser justificado pela maior carga de treinamento em posição ortostática com 18 golpes que utilizam o membro superior como alavanca para ocasionar queda do oponente. Este tipo de abordagem de luta não é o mais freqüente no jiu-jítsu, modalidade na qual prevalecem os combates no solo, em posições não ortostáticas, e que exerceriam relativamente menor trauma de forma repetida à cintura escapular do oponente, tanto no inicio, quanto no desfecho do golpe. As situações de raspagens, em que o atleta de jiu-jítsu se encontra por baixo do adversário e através de determinada técnica procura desequilibrar o oponente para assumir a posição sobre o mesmo, empregam muitas vezes a extensão do joelho contra uma carga equivalente ao peso do lutador. Ainda, posições dos lutadores observadas em treinamentos e descritas em manuais práticos de jiu-jítsu, poderiam estar relacionadas à maior freqüência de lesões ocorridas sobre esta articulação, como o trauma direto sobre a face lateral do joelho causado por quedas quando os rolamentos são mal realizados, o trauma repetido da face frontal do joelho contra o solo quando o atleta se encontra sobre o oponente, assim como a hiperflexão da articulação do joelho pelo atleta quando se encontra na chamada guarda do adversário, as manobras de estrangulamento como o triângulo, que utilizam o joelho em flexão e rotação interna contra a força do oponente, e finalmente as chaves de perna sofridas pelo praticante de jiu-jítsu.

    O ombro em particular está propenso a lesões por manter um precário equilíbrio entre movimento, estabilidade, sobrecarga e impacto, os quais podem estar envolvidos na causa de incapacidade em certos atletas. (SOARES, SUZINÉA TEZOTTO e MENEGUEL)

    Os mecanismos de lesões no ombro do atleta ocorrem por meio atraumático e traumático. Os movimentos repetitivos são responsáveis por grande número de lesões atraumáticas (CAVALLO e SPEER). Os traumas diretos ou indiretos ocorrem principalmente nos esportes que priorizam o contato físico, como jiu-jítsu (BURKART, MORGAN e KIBLER).

    O ombro é um conjunto funcional que permite unir o membro superior ao tórax, com duas funções: uma mobilização com grande amplitude do braço e uma boa estabilidade no caso em que o membro superior necessitará de força, como manejar objetos pesados. Visando à redução de lesões, a Fisioterapia deve-se utilizar da prática da prevenção como regra e não como exceção. Técnicas específicas de prevenção de lesões poderão levar os atletas amadores a desenvolverem-se melhor nos treinos e competições. (SOARES, SUZINÉA, TEZOTTO e MENEGUEL).

    A dor é o principal sintoma manifestado pelos atletas. A localização da dor nos atletas deve ser minuciosamente avaliada. Os atletas muitas vezes apresentam clínica de dor anterolateral sugestiva de síndrome do impacto, mas esta pode ser secundária à instabilidade glenoumeral. O ombro doloroso afeta não só o atleta de alto nível como também o atleta amador e recreacional.

    Dentro deste contexto, Guimarães e Guimarães, compreende que a flexibilidade, sem dúvida, é uma das qualidades físicas extremamente importante, reforçado por Ducan, que apresenta entre as que as qualidades físicas inerentes à prática do karatê, a capacidade cardiorrespiratória, força muscular, resistência muscular localizada e a flexibilidade. Da mesma forma, Gracie e Gracie, afirma ainda que, para a prática de artes marciais a flexibilidade, força e velocidade são pré-requisitos absolutamente indispensáveis.

    O mesmo autor afirma que, no jiu-Jitsu, o praticante aprende técnicas baseadas nas leis da física, como alavanca, inércia, centro de gravidade, sendo necessário treinamento nos requisitos força e flexibilidade.

    O jiu-jitsu tem na defesa pessoal sua principal essência, baseada no equilíbrio, momento de força, flexibilidade, alavanca, inércia, centro de gravidade.

    Tubino lembra que a identificação das qualidades físicas dos esportes deve ser compreendida como o passo fundamental para a eficácia da preparação física. No caso do karatê e jiu-jitsu, a flexibilidade é uma das capacidades específicas.

    Para Marins e Giannichi, a flexibilidade, na maioria das modalidades esportivas, representa elemento importante para compor programa de treinamento.

    Atualmente, poucos professores formados ou em fase de formação nos cursos de Educação Física estão atuando na área das artes marciais, e é grande a escassez de recursos e bibliografias relevantes nessa área, Tendo em vista o crescimento das artes marciais, e sabendo-se que a flexibilidade é uma aptidão física muito importante para realização de movimentos articulares; apesar de nem sempre ser analisada e desenvolvida de forma específica, levando-se em consideração a modalidade esportiva e tipo de treinamento que desenvolvem. O objetivo deste estudo foi comparar os níveis de flexibilidade entre atletas de karatê e Jiu-Jitsu, com idade de 18 a 30 anos, da cidade de Montes Claros- MG, Minas Gerais, Brasil.

Conclusão

    Durante a prática do Jiu-jitsu ocorre uma exigência muito grande das articulações do ombro e do joelho, o índice de lesões nessas articulações é alarmante e provoca em muitos casos o abandono do esporte pelo atleta pelo longo tempo de recuperação e seqüelas dessas lesões.

    Um trabalho muscular para ganho de força, melhora da estabilidade articular e aumento da flexibilidade das articulações dos atletas previne e diminui a gravidade dessas lesões. Para isso é necessário que os professores de jiu-jitsu ou procurem formação superior em Educação física ou procurem apoio em um profissional para preparação das aulas e desenvolvimento dessas habilidades, focando em um treino específico para essas valências.

Referencias bibliográficas

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  • BURKART S.S., MORGAN C.D., KIBLER W.B.: Shoulder injuries in overhead athletes: the “dead arm” revisited. 19: 125-158, 2000.

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  • SOARES, Suzinéa Tezotto Meneguel. Trabalho preventivo para lesões de ombro e cintura escapular em atletas amadores de judô, Rev. Bras. Ciên. e Mov. Brasília v. 11 n. 1 p. 07-12 janeiro 2003

  • STANLEI, V. A Arte do Judô. Campinas. Papirus. 1986. p. 162.

  • TUBINO Manoel José Gomes (2003). Metodologia científica do treinamento desportivo.13ºed. Rio de Janeiro : Shape, 2003.

  • VETTER, Tanise Dornelles, ARAUJO, Júlio César de Oliveira - Atuação Fisioterapêutica Junto A Equipe De Judô Unisul / Acref No Período De Março À Outubro de 2006.

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