Tecnologia: o atual adversário nos Jogos Olímpicos La tecnología: el oponente actual en los Juegos Olímpicos |
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Mestranda do Curso de Pós-Graduação em Educação Física, ESEF/UFPel Especialista em Educação Física Escolar, CEFD/UFSM Graduada em Educação Física – Licenciatura, CEFD/UFSM |
Evelize Dorneles Minuzzi (Brasil) |
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Resumo Neste texto pretendemos apresentar o estudo preliminar que está sendo realizado sobre a divulgação midiática do uso da tecnologia pelo esporte olímpico a partir do arranjo dos Jogos Olímpicos de 1992. Para a compreensão de tal temática prendemo-nos na pesquisa documental, via análise da mídia impressa e digital “Folha de S. Paulo”, sobretudo, entre o período de 1991 a 2011. Como procedimento de interpretação, utilizaremos análise de conteúdo. A pré-análise nos permitiu identificar que o esporte olímpico firmou a aliança com a tecnologia de ponta claramente a partir dos anos 90, a qual está sustentando a presente concepção de esporte na forma de espetáculo. Dessa forma, os Jogos Olímpicos têm sido palco da ótica tecnológica, que parece ter se acelerado mais nos anos de 1990, pois suas particularidades se associam com giro de capital de um modelo hegemônico. Unitermos: Jogos Olímpicos. Tecnologia. Mídia.
Abstract In this text we intend to present the preliminary study being conducted on the media dissemination the use of technology by Olympic sport from the arrangement of the 1992 Olympics Games. For the understanding of this theme we used on documentary research, through analysis of print and digital media "Folha de S. Paulo" especially between the period 1991 to 2011. As a procedure of interpretation, we used content analysis. The pre-analysis enabled us to identify that the Olympic sport signed the alliance with leading technology clearly from the 90s, which is holding this conception of sport as spectacle. Thus, the Olympic Games have been the scene of optical technology, which appears to have accelerated over in the years 1990 because its peculiarities are associated with turnover capital of a hegemonic model. Keywords: Olympic Games. Technology. Media.
Trabalho revisado e modificado. Publicado nos Anais XXX Simpósio Nacional de Educação Física, Pelotas, RS, 2011.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 173, Octubre de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Tecnologia e esporte: certa relação atual
A tecnologia não se explica por si só. É criada, oferece funcionalidades, ocupa lugar e pronto, assim, temos as tecnologias que merecemos. “Nossas tecnologias espelham a nossa sociedade. Elas reproduzem e dão corpo ao jogo complexo de vetores técnicos, econômicos e políticos” (BIJKER; LAW, 1997, p. 7). Entendemos que o esporte olímpico é uma expressiva representação simbólica da sociedade, que dinamiza elementos de diferentes circunstâncias em seu espaço temporal de prática, sendo um desses a tecnologia.
Partindo dos imperativos da acumulação moderna e do ponto de vista histórico de que a tecnologia é uma forma de dominação social, nos propomos a mobilizar um estudo preliminar com objetivo de identificar o aparecimento da tecnologia no esporte olímpico tendo como foco os Jogos Olímpicos a partir de 1992. Visto que, consideramos os Jogos de Barcelona o marco da nova ordem do esporte que se consagrou com a adesão da tecnologia devido à publicação da Carta Olímpica em 1991, a qual traz a deliberação da comercialização dos Jogos e da presença de atletas profissionais.
Após, o episódio da queda do muro de Berlim, o esporte olímpico passa a ter um sentido lucrativo com potencial comercial, apoiado pelo estado e disputado entre empresas, as quais financiam o espetáculo e direcionam o sentido do processo de comercialização do esporte olímpico a partir do uso da tecnologia. Sob esse aspecto que Marques (2007) demarca a mercadorização da prática como a principal particularidade do atual esporte, a qual toma proporções de produto a ser consumido internacionalmente.
As empresas avistaram no esporte olímpico um negócio volumosamente lucrativo, devido à tamanha condição de atrair e mobilizar multidões de espectadores e telespectadores e possibilidade de comparação direta de desempenho de resultados. Tal comercialização se daria por meio do mercado de artigos esportivos, dos meios de informação e imagem, ou, ainda, do esporte-espetáculo, difundindo, assim, uma cultura esportiva de consumo. Ademais, o consumidor de artigos esportivos não consome somente roupas, mas signos, valores e comportamentos embutidos no produto pelo sistema e difundidos pela mídia.
Nessa lógica de mudanças, os atletas começaram a alterar em menos de um ano os recordes mundiais e a promover outro entretenimento, mais atrativo, com demonstrações de ações com efeitos de heróis. Além do uso de trajes, a modificação dos materiais na construção dos espaços esportivos e a instalação de placares eletrônicos mais exatos e sensíveis, enfim, destacamos aqui algumas das invenções tecnológicas que estão reestruturando e redefinindo a nova configuração do esporte.
Definitivamente, a introdução da ciência e da tecnologia no esporte olímpico está diretamente relacionada com o processo de profissionalização, o qual exigiu um aperfeiçoamento o treinamento de atleta em laboratórios, consequentemente, uma produção de um atleta-máquina, extremamente, tecnológico.
Portanto, a partir dos Jogos de Barcelona de 1992 impingiu-se a definitiva transformação dos Jogos Olímpicos num evento de negócio dirigido pela lógica das novas tecnologias e determinado pelos interesses do mercado globalizado, consagrando a nova ordem esportiva mundial. Sinteticamente, o esporte olímpico com o uso da tecnologia tornou-se é um espetáculo esportivo, isto é, uma forma de entretenimento.
Os resultados
As matérias, sobre o uso da tecnologia pelo esporte nos Jogos Olímpicos, foram coletadas da cobertura impressa e digital do jornal “Folha de S. Paulo” publicada no caderno de esporte ao longo do mês anterior à data de abertura e do mês posterior à data de encerramento no ano do evento, nos cadernos especiais intitulados: Barcelona-92; Atlanta-96; Folha Sidney 2000; Atenas 2004; Pequim 2008.
A utilização do Jornal “Folha de S. Paulo” como dados de pesquisa passa a ser justificada pelo fato de apresentar a maior tiragem média do país1. E, além da larga circularidade do Jornal “Folha de S. Paulo”, tem um sistema on-line que disponibiliza suas matérias anteriores e atuais e uma variedade textual na cobertura publicada por nomes vinculados ou não à área esportiva, permitindo a exploração dos posicionamentos e estratégias políticas e econômicas relacionadas com um contexto histórico dos Jogos Olímpicos.
Foram encontradas 17 matérias, conforme a representatividade e a pertinência da natureza do conteúdo, considerando, primordialmente, aquelas que corporificassem o aparecimento do uso da tecnologia no esporte. A interpretação das matérias está seguindo as fases da Análise de Conteúdo de Bardin (2007), quais sejam: pré-análise, exploração do material, tratamento dos resultados, inferência e interpretação para desvendar o uso da tecnologia no esporte como um dos sentidos que corporificam a espetacularização olímpica de entretenimento.
Os resultados estão pautados na categoria temática, tecnologia, construída a posteriori. Isto é, estabelecida pelo agrupamento dos 03 temas, encontrados pela leitura flutuante das 16 matérias, quais sejam presentes ao longo do texto ou em uma frase: Comitê Olímpico Internacional, vestuário e equipamentos esportivos e atletas de laboratório.
Realizado o processo de categorização das matérias, ilustramos os resultados a partir da tabela (1) que especifica a presença da categoria nos Jogos Olímpicos de 1992, 1996, 2000, 2004 e 2008.
Tabela 1. Distribuição das categorias por percentual de presença nos Jogos OlímpicosDiante dos dados expostos pela tabela (1), identificamos que 44% da categoria Tecnologia centralizam-se na edição de Sydney (2000), 25% da mesma categoria apresenta-se na edição de Barcelona (92), 19% pode ser vista na edição de Atenas (2004) e 6% decorre tanto na edição de Atlanta (1996) quanto de Pequim (2008).
Breves apontamentos finais
A partir da pesquisa documental realizada até o momento, identificamos que a partir de 1991, identificamos, meticulosamente, que o esporte está próximo desde 1991 da tecnologia de ponta. Com isso, concluímos que os Jogos Olímpicos têm sido palco acelerador da ótica tecnológica, pois suas particularidades se associam com giro de capital de um modelo hegemônico.
Esta alteração faz com que os Jogos Olímpicos, em seu esplendor tem alienado o espectador em favor do objeto (esporte) contemplado, uma vez que quanto mais o espectador se entretém, menos vive. Quanto mais aceita reconhecer-se nas práticas dominantes de outrem, no caso dos atletas, menos compreende sua própria existência e seu próprio desejo.
Cabe-nos começar a constituir uma produção de conhecimento que para alertamos que o progresso tecnológico nada mais é do que o responsável pelo sistema de dominação da natureza e da própria consciência do sujeito nas sociedades industriais avançadas, pois nessa sociedade de domesticação pelo consumo, o pensamento do homem acompanha a evolução da máquina. Por isso, se faz necessário enunciarmos tal relação entre a tecnologia e o esporte, para conquistar espaços e traçarmos possíveis sentidos a luz do horizonte crítico para melhor entendermos que o uso do esporte olímpico está relacionado com os processos mais amplos e complexos de nossa vivência e de nossa inserção no mundo.
Nota
Segundo os dados do Instituto Verificador de Circulação (IVC), a tiragem média diária do Jornal “Folha de São Paulo” superou o número de 311 mil, isso representa 7,17% da participação no mercado. Disponível em www.folha.vol.com.br/folha/dinheiro. Acesso em 05 de julho de 2011.
Referencial bibliográfico
BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2007.
BIJKER, W; LAW, J. technology/Building society. Studies in Sociotechnical Change. Massachusetts: The MIT Press, 1997.
MARQUES, Renato Francisco Rodrigues. Esporte e Qualidade de Vida: reflexão sociológica (2007). Dissertação de mestrado. Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2007.
Jornal
Folha de S. Paulo - de 1991 a 2011.
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