Uso e abandono de tecnologia
assistiva por pessoas El uso y el abandono de la tecnología asistida por personas con discapacidades físicas en Brasil Use and abandonment of assistive technology for people with physical disabilities in Brazil |
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*Terapeuta Ocupacional, Mestre e Doutor em Educação Especial pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Especial da Universidade Federal de São Carlos-UFSCar, São Paulo. Docente do Departanento de Terapia Ocupacional da UFSCar **Terapeuta Ocupacional. Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo-USP. Docente do Departamento de Terapia Ocupacional e do Programa de Pós-Graduação em Terapia Ocupacional da UFSCar |
Daniel Marinho Cezar da Cruz* Maria Luísa Guillaumon Emmel** (Brasil) |
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Resumo Objetivo: identificar o uso e abandono de tecnologia assistiva por pessoas com deficiências físicas em uma cidade de médio porte do interior do Estado de São Paulo, Brasil. Método: A partir de uma pesquisa transversal, com amostra de conveniência, foram selecionados 91 sujeitos, com idades variando de 18 a 93 anos, cadastrados em Unidades de Saúde da Família, com algum tipo de deficiência física. Subdividiu-se a amostra em adultos (n=34) e idosos (n=57) a fim de comparação dos resultados entre os grupos. Resultados: identificou-se que os sujeitos apresentaram um repertório considerável de tecnologias, em sua maioria, adquiridas com recursos próprios ou por doações. Boa parte dessas tecnologias poderiam ser concedidas pelo programa de concessão do Governo Federal. Conclusão: São apontadas implicações, a fim de incrementar ações desenvolvidas no âmbito da saúde da pessoa com deficiência e no aprimoramento das políticas públicas voltadas para essa população. Unitermos: Terapia ocupacional. Equipamentos de autoajuda. Atividades cotidianas. Políticas públicas. Pessoas com deficiência. Autonomia pessoal. População de baixa renda.
Abstract Aim: to identify the use and abandonment of assistive technology for people with physical disabilities. Method: From a cross-sectional research, with a convenience sample, we selected 91 subjects, aged from 18 to 93 years, enrolled in Family Health Care Units, with some physical disability. The sample was divided in two groups: adults (n = 34) and elderly (n = 57) to compare the results between them. Results: we found that the participants showed a considerable repertoire of technologies, mostly acquired with their own funds or donations. Much of these technologies could be granted by the grant program of the Federal Government. Conclusion: From the data obtained, some implications are done in order to increase actions developed in the health care of people with disabilities and the improvement of public policies for this population. Keywords: Occupational therapy. Self-help devices. Activity of daily living. Public policies. Disabled persons. Personal autonomy. Poverty.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 173, Octubre de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A questão da deficiência preocupa diferentes países no tocante às ações de reabilitação da pessoa com deficiência. No ano de 2011, o recente Relatório Mundial sobre Deficiência, intitulado: “World Report on Disability”, da Organização Mundial de Saúde (OMS) em conjunto com o Banco Mundial (BM) revelou que cerca de 15% da população mundial, ou seja, mais de um bilhão de pessoas têm algum tipo de deficiência e que 20% destas enfrentam grandes dificuldades em sua vida cotidiana, sendo as necessidades especiais das pessoas uma preocupação mundial em face à tendência de crescimento para as próximas décadas (WHO, 2011).
No Brasil, em novembro de 2011, o IBGE publicou os resultados preliminares do Censo Demográfico de 2010 relacionados à deficiência. Considerando-se a população identificada em 2010 em sua totalidade, com 190.755.799 (100,0%), verificou-se que 45.623.910 (23,9%) tem ao menos uma das deficiências investigadas e 145.084.578 (76,1%), nenhuma dessas deficiências (IBGE, 2010).
Em 25 de agosto de 2009, o então Presidente da República do Brasil, Luís
Inácio Lula da Silva, a partir do Decreto 6949, no Art.3º e no uso da
atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da Constituição,
considerando a aprovação pelo Congresso Nacional por meio do Decreto
Legislativo no 186, de 9 de julho de 2008, conforme o procedimento do § 3º
do art. 5º da Constituição, aprovou a Convenção sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em New
York, em 30 de março de 2007, garantindo a execução e o cumprimento
integral em relação ao seu conteúdo (BRASIL, 2009).
Considera-se que essa convenção e sua aprovação no Brasil foram mais um avanço na garantia dos direitos das pessoas com deficiências. Nos 50 artigos que constituem o decreto, fica evidente o reconhecimento mundial, e também pelo Brasil, da importância do investimento em tecnologia assistiva como parte do processo de garantia aos direitos dessas pessoas. Dado o investimento em políticas que envolvem a tecnologia no Brasil, a pesquisa sobre suas problemáticas faz-se essencial para o aprimoramento de ações nessa direção (CRUZ, 2012). Nesse sentido, a presente pesquisa teve por objetivos identificar o uso e o abandono de tecnologia assistiva por pessoas com deficiências físicas.
Método
Trata-se de uma pesquisa transversal, descritiva, de associação, comparativa e de abordagem quantitativa, com amostra não-probabilística. O tipo de amostra não-probabilística escolhida foi a de conveniência.
O formulário desta pesquisa foi elaborado pelo pesquisador, com base na experiência de atuação na área, em serviços de reabilitação públicos e privados, com a população de adultos e idosos. Um recorte a partir de alguns equipamentos/ dispositivos de tecnologia assistiva foi disposto, a fim de traçar um panorama em relação às necessidades de aquisição de equipamentos de autoajuda pelas pessoas com deficiência.
Os dados foram analisados quantitativamente, com medidas de tendência central e dispersão.
Resultados
Dos sujeitos participantes (n=91), 34 eram adultos e 57 idosos, sendo 46 do sexo masculino e 45 do feminino. Em relação aos tipos de tecnologia, a Tabela 1 apresenta os auxílios possuídos pela amostra:
Tabela 1. Dispositivos e equipamentos assistivos adquiridos pelos sujeitos
Pelo Gráfico 1, pode-se identificar que dos 100% (n=199) dos recursos possuídos pela amostra, 40% (n=79) foram adquiridos com recursos próprios e 37% (n=75) a partir de doações. Apenas 10% (n=21) adquiriu a tecnologia pela concessão do Governo Federal:
Gráfico 1. Via de aquisição da tecnologia pelos sujeitos
Dos recursos adquiridos, 18% (n=35) dos recursos foram abandonados e os demais 82% (n=164) continuaram sendo utilizados. O Gráfico 2 abaixo ilustra as justificativas para o abandono da tecnologia assistiva:
Gráfico 2. Justificativas fornecidas pelos sujeitos em relação ao abandono dos recursos
A Tabela 2 dispõe a média de tecnologias entre adultos e idosos. Pode-se observar que não houve diferença significativa nas médias para a quantidade de consumo da tecnologia, sendo a média aproximada de 2 equipamentos por sujeito:
Tabela 2. Comparação da média de equipamentos por
sujeito, nos dois grupos: adultos (n=34) e idosos (n=57)
Discussão
Identificou-se um predomínio em relação aos auxílios de mobilidade, especialmente as bengalas. Isso pode ser explicado, em parte, pelo fato da amostra ter abarcado com maior prevalência a faixa etária de idosos, reservando-se os diagnósticos e os comprometimentos resultantes em alterações no aparelho locomotor. Esses resultados são similares aos encontrados por Mello (1999), que identificou em sua pesquisa 76 equipamentos em uso por idosos comunitários, e destes, 59,2% (n=45) eram recursos auxiliares para mobilidade, principalmente as bengalas, com 44,73% (n=34).
No que se refere aos motivos para o não uso das tecnologias possuídas pelos sujeitos da presente pesquisa, destaca-se que estes foram diferentes dos encontrados na literatura sobre esse assunto.
O abandono dos dispositivos assistivos tem sido atribuído às características individuais dos sujeitos e seu contexto e as mais evidentes são: a não aceitação da incapacidade e a depressão, a baixa qualidade de alguns produtos, o ambiente do indivíduo como um suporte social, as barreiras arquitetônicas e fatores relacionados à reabilitação (intervenção), tais como a inapropriada instrução e o treino para a aquisição dos produtos (WESSELS et al., 2003).
Outras causas de abandono reportadas na literatura são a não consideração do indivíduo durante o processo de escolha do dispositivo; o fácil acesso aos equipamentos, o que predispõe a falta de acompanhamento profissional no processo da tecnologia assistiva; o desempenho com o recurso não atender às necessidades do indivíduo; assim como alterações das necessidades e prioridades do mesmo (PHILLIPS; ZHAO, 1993).
Por outro lado, não se pode descartar a hipótese de que esses produtos não estejam sendo utilizados pela presente amostra por razões diversas além das supracitadas, dentre as quais, pelos sujeitos não acreditarem em seu benefício, por não saberem utilizá-lo corretamente, pelas questões estéticas, ou mesmo por necessitarem de um recurso mais seguro, dentre outras questões que são peculiares à análise de cada caso e ao contexto desses sujeitos. Por exemplo, os 37% (n=13) que afirmaram não utilizar o recurso por “não gostar” do mesmo sugere a necessidade de intervenções para o acompanhamento em relação ao desuso da tecnologia. Porém, isto requer profissionais que possam voltar-se para essas questões.
Conclusão
A partir dos dados obtidos pela presente pesquisa, algumas implicações podem ser apontadas, a fim de incrementar ações desenvolvidas no âmbito da saúde da pessoa com deficiência e no aprimoramento das políticas públicas voltadas para essa população, são elas: o mapeamento de tecnologias na comunidade, estudos para otimizar a tecnologia existente; o acompanhamento com um profissional especializado em tecnologia assistiva visando a redução do abandono e a utilização adequada da tecnologia.
Referências
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sinopse do Censo demográfico 2010. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/sinopse.pdf. Acesso em: 15.06.2011.
BRASIL. Decreto 6949, de 25 de agosto de 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D6949.htm. Acesso em: 01 Out 2009.
CRUZ, D.M.C. Papéis ocupacionais e pessoas com deficiências físicas: independência, tecnologia assistiva e poder aquisitivo. Tese [Doutorado]. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, 2012.
MELLO, M.A.F. A necessidade de equipamentos de auto-ajuda e adaptações ambientais de pessoas idosas dependentes vivendo na comunidade em São Paulo, Brasil. Tese [Doutorado]. Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, 1999.
PHILLIPS, B.; ZHAO, H. Predictors of Assistive Technology abandonment. Assistive Technology, 5, p.36-45, 1993.
WESSELS, R. et al. Non-use of provided assistive technology devices: a literature overview. Technology and Disability, Dec; v. 15, n. 4, p. 231-238, 2003.
WHO - World Health Organization. World Report on Disability. World Health Organization, The World Bank, 2011, 349 p. Disponível em: http://www.who.int. Acesso em: 12.06.2011.
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