Síndrome de burnout e esporte: uma revisão bibliográfica sistêmica El síndrome de burnout y el deporte: una revisión bibliográfica sistémica Burnout syndrome and sports: a systemic literature review |
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*Grupo de Estudos Corpo e Diversidade Humana (CNPq) Faculdade de Educação Física e Desportos. Universidade Federal de Juiz de Fora **Grupo de pesquisa de Psicofisiologia do Esporte e das Atividades Físicas, Treinamento Desportivo, Medidas e Avaliação. Universidade Federal de Juiz de Fora ***Departamento de Nutrição e Saúde, Grupo de pesquisa em Segurança Alimentar em Unidades de Alimentação e Nutrição. Universidade Federal de Viçosa (Brasil) |
Valter Paulo Neves Miranda* Márcio Vidigal Miranda Júnior** Thiago Pereira de Aguiar** Andrés Valente Chiapeta*** Maria Elisa Caputo Ferreira* Ângela Maria Campos Santana*** |
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Resumo Objetivou-se neste estudo analisar sistematicamente as principais pesquisas que avaliaram o Burnout no ambiente esportivo atualmente. Foram utilizados termos Descritores em Ciência da Saúde: “Burnout” AND “Sport” ou “Burnout” AND “Athletes” e selecionadas as bases de dados Scopus e PubMed, limitados em relação aos anos de 2007 à 2011. Foram encontrados 121 artigos, 37 com relação ao esporte. Constatou-se que a síndrome de Burnout é uma variável multidimensional desencadeada em treinadores inexperientes. A motivação autodeterminada a principal estratégia relatada para amenizar incidências. Foram poucas pesquisas realizadas com atletas brasileiros e especificamente com mulheres, isso mostra que as pesquisas que avaliam a síndrome de Burnout devem ser incentivadas. Unitermos: Burnout. Esportes. Atletas.
Abstract This paper aimed to make a systemic analysis of the main studies assessing Burnout in the sports today. The methodology was the document analysis with the following descriptors in the Health Sciences: "Burnout" AND "Sport" or "Burnout" AND "Athletes". The Scopus and PubMed, restricted to the years 2007 to 2011. One hundred twenty-one articles were found - 37 regarding sports. It can be concluded that the Burnout syndrome is a multidimensional variable triggered mainly by inexperienced coaches, and the autodetermined motivation is the main strategy reported to decrease the incidence. Few studies with Brazilian athletes were found, specially about women. That shows that there are not enough studies on the matter, and that must be fomented. Keywords: Burnout. Sports. Athletes.
Este trabalho foi apresentado em forma de resumo no I Congresso Internacional de Psicologia do Esporte e do Exercício, Maringá, PR, Brasil; sendo publicado nos anais.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 173, Octubre de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O treinamento desportivo é um processo que se constitui de uma fonte causadora de estresse com consequentes alterações psicofisiológicas fundamentais para a maximização do desempenho (KENTTÃ; HASSMÉN, 1998; SILVA; SANTHIAGO; GOBATTO, 2006). Uma das condições primordiais no treinamento é o contínuo desequilíbrio da homeostase seguida por recuperação apropriada, possibilitando assim que a supercompensação ocorra, caracterizando-se como um estresse positivo (WEINBERG; GOULD, 2008; SILVA, 1990). O equilíbrio entre treinamento desejável e excessivo é bastante tênue, sendo comum que o atleta seja exigido além do que sua capacidade de resposta permite (GARET et al., 2004).
Quando as cargas de treinamento impostas ao atleta não produzem efeitos positivos, mas sim negativos, ele passa a demonstrar falta de capacidade de adaptar-se às demandas do estresse do treinamento, ocasionando uma adaptação negativa (KENTTÃ; HASSMÉN; RAGLIN, 2001). Persistindo o treinamento inadequado com altas cargas estressoras sem uma recuperação adequada o atleta passa a vivenciar uma fadiga crônica, o que pode causar uma adaptação negativa inicial do organismo, com um esgotamento psicofisiológico caracterizado pela desmotivação em relação à atividade (MIRANDA; BARA FILHO, 2008), alguns pesquisadores denominam esta síndrome como Burnout (MIRANDA; BARA FILHO, 2008; SALMULSKI, 2001; SILVA; 1990). Dentre as principais consequências desta síndrome, encontra-se a perda progressiva de idealismo, que esta associada a um fraco desempenho no trabalho e ao comprometimento da saúde, podendo ocorrer o aparecimento de dores de cabeça, hipertensão, ansiedade e depressão (DE MEIS et al., 2003).
O Burnout é uma síndrome, fundamentada em três dimensões: exaustão emocional (caracterizada por sentimentos de extrema fadiga); despersonalização (representada por atitudes e sentimentos negativos em relação a outras pessoas do meio, sendo ilustrada por um comportamento impessoal, de desligamento e descuido em relação aos mesmos); e, finalmente, reduzida satisfação profissional (reflete avaliações negativas sobre si mesmo, particularmente com referência a habilidade de obter sucesso em sua atividade) (RAEDEKE; SMITH, 2001). A maior parte dos trabalhos publicados utiliza a definição de burnout proposta por Maslach (que consiste na tríade Exaustão, Despersonalização/Cinismo e baixa Realização Pessoal/Ineficácia (VIEIRA, 2010).
A síndrome de burnout tem recebido destaque em recentes pesquisas por representar não apenas um agravo à saúde do profissional, mas também um risco aos indivíduos por ele assistidos, principalmente em atividades nas quais o contato humano é um componente preponderante (MAIA; SILVA; MENDES, 2011). Em relação aos atletas, essa definição mostra a presença de características como à despersonalização e a pouca satisfação pessoal, fatores comprometedores de um rendimento máximo de qualidade e que muitas vezes leva o indivíduo ao abandono de treinamentos e competições de forma precoce (FEJGIN; TALMOR; ERLICH, 2005). Entende-se que as cargas excessivas de treinamento causam não somente uma adaptação negativa no organismo dos atletas, mas principalmente pode levar ao detrimento de outros fatores sociais, como a família, amigos, escola (PIRES; BRANDÃO; SILVA, 2006). Esse estado de esgotamento psicofisiológico pode ser identificado por meio de algumas características às quais o treinador ou professor devem ficar atentos: distanciamento emocional e social do atleta em relação ao grupo que pertence, insatisfação com o esporte competitivo, busca frequente de motivos para evitar treinamentos e competições e demonstração de desejo de abandonar o esporte (WEINBERG; GOULD, 2008).
Quando o atleta apresenta sinais de Burnout, a satisfação, vontade em realizar a atividade, já não está presente da mesma forma. Este fenômeno caracteriza-se como a adaptação negativa do organismo, em consequência, o indivíduo poderá atingir o último estágio da adaptação negativa da síndrome do estresse no treinamento: o abandono ao esporte, também conhecido como Drop-out (KENTTÃ; HASSMÉN; RAGLIN, 2001).
Percebe-se que há uma carência de investigações científicas sobre o Burnout no ambiente esportivo brasileiro (PIRES et al., 2012), principalmente em relação aos efeitos psicofisiológicos negativos desta síndrome no processo de treinamento de atletas de diversas modalidades esportivas. A partir dessas definições objetivou-se analisar sistematicamente, por meio de uma revisão bibliográfica as principais pesquisas atuais que avaliaram a síndrome de Burnout no ambiente esportivo em base de dados internacionais.
Material e métodos
Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa revisão bibliográfica sistemática na qual se buscou investigar o “estado da arte” sobre os estudos que avaliam a síndrome de Burnout no ambiente esportivo. Para tanto, optou-se pela estratégia de análise documental, na qual há a reunião e classificação da produção científica de um tema específico (PIRES; BRANDÃO; MACHADO, 2006).
Para a definição dos termos de busca, realizou-se uma consulta aos descritores em ciência da saúde (DeCS). Para o descritor correspondente as palavras-chave entre Burnout, atletas e esporte foram utilizadas duas combinações de palavras: “Burnout” AND “Sport” ou “Burnout” AND “Athletes”.
As duas bases de dados selecionadas foram: Scopus e PubMed, em virtude de trazerem indexados um número de artigos com boa qualificação na webqualis que tratam de artigos referentes a assuntos envolvendo a psicologia do esporte.
Os resultados foram limitados àqueles que tratassem da avaliação da síndrome de Burnout com esporte nos últimos cinco anos, de 2007 a 2011. Foram excluídas teses e dissertações, livros, bem como os próprios protocolos, sendo analisados apenas os artigos científicos que tratassem sobre o assunto definido.
Em seguida, foi realizada uma leitura dos abstracts e dos artigos completos disponibilizados (MINAYO, 2007), principalmente de seu objetivo e da metodologia, a fim de identificar alguns itens importantes que pudessem caracterizar a realização das pesquisas que avaliaram a síndrome de Burnout com esportistas e/ou atletas. Foram analisados os seguintes itens: ano de publicação, autores, título, revista, número amostral, característica da amostra, localidade, delineamento da pesquisa, instrumentos e métodos de análise, palavras-chave, resultados e conclusão. A partir dessas observações, foi realizada uma análise de frequência dos dados com o intuito de conhecer as particularidades e principais características de cada pesquisa.
Finalmente, os itens tirados de cada pesquisa foram analisados e a partir disso criado categorias das respostas mais prevalentes em cada item. Sendo assim, realizou-se uma análise de frequência relativa e absoluta das categorias encontradas nos itens avaliados.
Para as análises estatísticas utilizou-se o software SPSS 17.0, e as mesmas se basearam em análise de frequência relativa e absoluta.
Resultados e discussões
Na busca realizada nas bases de dados Scopus e Pubmed foram encontrados 81 e 40 artigos científicos, respectivamente. Realizou-se leitura dos artigos pré-selecionados e constatou-se que 37 artigos relacionavam o Burnout com o esporte, sendo 47,5% dos 81 artigos originais encontrados nas bases de dados e somente estes envolvendo essas duas temáticas conjuntamente foram utilizados para as análises. Um fator importante a ser considerado é que 43,2% dos títulos dos artigos não citavam as palavras “sport’ e nem “athlets”, sendo 32,4% traziam os termos “Burnout” e “athletes” e 24,3% traziam os termos “Burnout” e “esporte”. Os pesquisadores com maior número de publicação foram Lonsdale, Hodge e Gustafsson.
Os artigos científicos estudados nesta pesquisa adotaram, em sua maioria, o delineamento transversal em suas pesquisas, sendo 51,4% do total. Em segundo lugar, com 18,9%, apareceram os estudos de validação e adaptação transcultural de instrumentos que avaliam a síndrome de Burnout em atletas. Posteriormente, 10,8% dos artigos, foram com uma coorte e longitudinal e também com 10,8% estudos com métodos qualitativos. Por fim, 8,1% foram de pesquisa de revisão que abordavam aspectos relacionados ao Burnout no esporte (Figura 1). Em relação ao número de publicação nos últimos anos, observou-se que o ano de 2009 foi o ano com o maior número de publicações com 29,7% das publicações (Figura 1). Estes resultados estão de acordos com as informações trazidas por Vieira (2011) em relação a maioria dos artigos sobre burnout na saúde ocupacional também apresentarem o delineamento transversal.
Figura 1. Gráficos quantitativos relacionados ao tipo de delineamento dos estudos. (Gráfico A) e aos anos de publicação (Gráfico B).
Gráfico A. 1,00: estudos transversais; 2,00: estudos longitudinais; 3,00: estudos de revisão; estudos de validação; 5,00: estudos qualitativos.
Gráfico B. 1,00: 2007; 2,00: 2008; 3,00: 2009; 4,00: 2010; 5,00: 2011.
O Journal of Sport and Exercise Psychology foi a revista com o maior número de publicações referentes a avaliação de burnout no esporte nos últimos cinco anos com 16,2% das publicações, esse periódico possui qualis capes A1 para educação física e A2 para a psicologia, possuindo um fator de impacto de 2,823. Em seguida vem o Journal Athletic Training, com 13,5% dos artigos encontrados, por ser um periódico relativamente novo não possui qualis capes para nenhuma área, porém, possui um fator de impacto de 1,993.
O terceiro periódico com maior número de publicações foi o Psychology of Sport and Exercise com 12,4% das publicações, possuindo uma classificação qualis capes de B1 para educação física e um fator de impacto de 2,213. Este fator significa o número de vezes que cada artigo/resenha do periódico publicado no ano citado Journal Citation Reporte (JCR) é citado nos dois anos anteriores da publicação no JCR.
A Europa foi o continente com o maior número de pesquisas publicadas referentes o Burnout no esporte com 48,6% das pesquisas, o continente americano aparece em segundo com 29,7% e os demais continentes juntos somaram 21,6%. Em se tratando de país, os Estados Unidos foi aquele com maior prevalência, sendo 27,6%. Vale ressaltar que em nenhum dos 37 artigos científicos investigados ocorreu uma pesquisa com atletas ou esportistas brasileiros.
A maioria das pesquisas investigou a prevalência da síndrome de Burnout em atletas adultos (47,1%), observou-se também um grande número de pesquisas com atletas adolescentes (38,2%). Quanto ao sexo, 58,8% das pesquisas analisadas avaliaram indivíduos de ambos os sexos, 41,2% pesquisaram apenas esportistas do sexo masculino. Nenhuma pesquisa avaliou especificamente a relação Burnout/esporte em atletas do sexo feminino. Percebeu-se que 58,2% das amostras praticavam várias modalidades esportivas, sendo o rugby e o futebol as modalidades com maior número de pesquisas com Burnout, 14,7% cada modalidade (Quadro 1).
Quadro 1. Freqüência relativa da característica amostral dos artigos em relação à fase da vida, sexo e esportes praticados. *Freqüência Relativa dos dados.
Numa pesquisa longitudinal fez-se um estudo de intervenção com o programa mindfulness em atletas que foram classificados com Burnout pelo ABQ (RAEDEKE; SMITH, 2001). Percebeu-se que o programa teve relação positiva nas três dimensões do ABQ: exaustão emocional, desvalorização da modalidade esportiva e baixa satisfação com o rendimento esportivo.
Analisando os instrumentos utilizados pelos pesquisadores percebeu-se que a maioria dos artigos fizeram uso de três métodos para análise e interpretação de Burnout em atletas. O instrumento utilizado por 41,2% dos artigos foi o “Athlete Burnout Questionnaire” (ABQ) (RAEDEKE; SMITH, 2001). Já existe uma versão adaptada e validada transculturalmente do ABQ para a população brasileira (PIRES; BRANDÃO; SILVA, 2006). Tal questionário é composto por quinze itens que avaliam a frequência de sentimentos relativos ao Burnout. Cada item se refere a uma subescala ou construto da manifestação de Burnout em atletas (RAEDEKE; SMITH, 2001): exaustão física e emocional; reduzido senso de realização esportiva e desvalorização da modalidade esportiva. As respostas são dadas em uma escala do tipo Likert, com cinco possibilidades de respostas, variando de que “Quase nunca” a “Quase sempre”, sendo as frequências intermediarias as seguintes: “Raramente”, “Algumas vezes” e “Frequentemente”.
Os resultados são atribuídos a cada subescala, obtidos a partir da media aritmética das respostas dadas aos cinco itens correspondentes a cada dimensão, e a um valor de Burnout total calculado pela media aritmética de todos os quinze itens do instrumento. A interpretação dos escores se da através da utilização da variação de freqüência de sentimentos. Isso significa que, caso um atleta obtenha uma media de 2,5 para a dimensão exaustão física e emocional, considera-se que esse individuo apresenta sentimentos relacionados a tal subescala com frequência de raramente a algumas vezes. Tanto o método de obtenção dos resultados através das medias dos itens como a interpretação de tais valores foram propostos pelos autores do instrumento psicrométrico (RAEDEKE; SMITH, 2001).
O segundo instrumento utilizado com maior frequência foi o Maslach Burnout Inventory-Educators Survey - MBI (MASLACH; JACKSON, 2006) com 17,6%. Assim como o ABQ o MBI também já possui uma versão validada e adaptada para o português (MELO; GOMES; CRUZ, 1999), porém não adaptado transculturalmente para a população brasileira. O MBI é um instrumento de auto-registro com vinte e dois itens acerca de sentimentos relacionados com o trabalho e distribuídos por três escalas: a) exaustão emocional - pretende analisar sentimentos de sobrecarga emocional e a incapacidade para dar respostas às exigências interpessoais do trabalho (nove itens); b) despersonalização - pretende medir “respostas frias”, impessoais ou mesmo negativas dirigidas para aqueles a quem se prestam serviços (cinco itens); e c) realização pessoal - usada para avaliar sentimentos de incompetência e falta de realização (oito itens). A frequência com que cada sentimento ocorre é avaliada numa escala tipo Likert de sete pontos, variando entre o mínimo de zero (Nunca) e o máximo de seis (Todos os dias).
Os estudos qualitativos tiveram frequência de 10,8% nos artigos selecionados, sendo contatado que em todos esses utilizaram entrevistas semi-estruturadas com questionamentos de algumas variáveis que permeavam a incidência da síndrome do Burnout em esportistas. A análise de conteúdo proposta por Bardin foi utilizada também em todos os estudos que trabalharam com entrevistas. Vale ressaltar que a análise de conteúdo é “uma técnica de investigação que através de uma descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto das comunicações, tem por finalidade a interpretação destas mesmas comunicações” (BARDIN, 1977). Consiste em um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que visa obter, por processos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não), a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens.
Segundo Gustafsson e colaboradores (GUSTAFSSON; HASSMÉM; PODLOG, 2010) avaliaram o processo de Burnout em atletas de endurance usando pesquisa qualitativa e entrevistas semi-estruturadas, sendo criadas categorias com as respostas dos atletas que se relacionavam com o Burnout. Os resultados mostraram que a perda da identidade do atleta, perda da autoestima e esforços exaustivos tiveram maior associação com o Burnout.
Observando os resultados e as conclusões dos artigos selecionados, percebeu-se que 72,2% das pesquisas obtiveram resultados significativos e de acordo com a hipótese levantada. Por outro lado, 13,5% dos artigos tiveram resultados que não foram de acordo com a hipótese e também não significativos. A maioria dos estudos investigou a prevalência do Burnout e dos fatores relacionados a essa síndrome em atletas (GUSTAFSSON; GORAN; JOHANSSONE, 2008; HILL; HALL, 2010; GUSTAFSSON; HASSMÉM; PODLOG, 2010; GRYLLS; SPITTLE, 2008).
A síndrome de Burnout é desencadeada por um processo multidimensional. Falta de recuperação, objetivos perfeccionistas, unidade atlética unidimensional, baixa autoestima e interação complexa de múltiplos estressores contribuem para a prevalência de Burnout nos atletas. Formas exageradas e inadequadas de perfeccionismo no esporte podem contribuir para o desenvolvimento de Burnout (GUSTAFSSON; GORAN; JOHANSSONE, 2008; HILL; HALL, 2010)
A ausência de motivação autodeterminada e indicadores de overtraining foram os principais fatores relacionados com ao Burnout nos atletas e também o número de lesões pode aumentar a incidência desta síndrome (GRYLLS; SPITTLE, 2008). Pesquisadores sugerem um trabalho na abordagem motivacional nos atletas para prevenir a síndrome, atividades físicas planejadas e adequadas, treinamento das habilidades psicológicas e um foco bem determinado dos objetivos alcançáveis (LONSDALE; HODGE; ROSE, 2009; LEMYRE; ROBERTS; STRAY-GUNDERSEN, 2007).
Segundo Soltaniyan e colaboradores (2009), em pesquisa realizada com trabalhadores praticantes e não praticantes de atividade física, concluiu que a exaustão emocional, um dos indicadores de Burnout foi maior em trabalhadores não praticantes. Ainda para esses autores, o esporte e a atividade física podem criar situações de enfrentamento ao estresse no ambiente de trabalho.
Outro fator observado foi que treinadores com mais experiência tiveram menor risco de desenvolver Burnout do que treinadores com menos experiência e, portanto estes, especialmente, necessitam desenvolver melhores estratégias de enfrentamento ao estresse para prevenir as prevalências de Burnout (GROBBELAAR et al., 2010; WALTER et al., 2010).
Entretanto, a partir das definições conceituais da síndrome (MASLACH; JACKSON, 1981; RAEDEKE, 1997), nas quais o Burnout é descrito em termos de esgotamento emocional, físico e mental, despersonalização e reduzida realização pessoal, percebeu-se que tais elementos não eram específicos apenas dos contextos organizacionais, mas também do sistema esportivo, pois a realidade esportiva exige diferentes estratégias de enfrentamento do forte componente emocional característico da síndrome (GARCÉS DE LOS FAYOS; VIVES BENEDICTO, 2002; PIRES; BRANDÃO; MACHADO, 2005).
Desse modo, profissionais como os professores de Educação Física, treinadores, preparadores físicos, atletas e árbitros tornaram-se indivíduos vulneráveis a aquisição dessa síndrome. Tal propensão se desenvolve a medida que os profissionais da área lidam com constantes relações interpessoais, sejam elas com os alunos, diretores de escola, membros de suas equipes técnicas, equipe de arbitragem, dirigentes, imprensa, amigos e familiares, e são vivenciados sentimentos de cobranças, criticas, cansaço e estresse.
Conclusão
Com esta pesquisa pode-se concluir que treinadores inexperientes estiveram mais propícios a desenvolverem síndrome de Burnout e que a utilização da motivação autodeterminada foi a principal estratégia relatada nos estudos para amenizar as incidências de dessa síndrome em atletas. Observou-se que algumas pesquisas sugeriram técnicas do aumento da motivação e orientação aos treinadores, visando definir juntamente com seus atletas formas de treinamentos saudáveis claros e atingíveis. Também foi possível constatar a escassez de pesquisas publicadas nas bases dados internacionais relacionadas com a síndrome do Burnout realizadas nos atletas brasileiros e nas mulheres.
Constatou-se a importância de analisar as características das pesquisas atuais relacionadas com a síndrome de Burnout no ambiente esportivo, ficando evidente a necessidade de outros trabalhos científicos avaliarem os fatores relacionados a esta síndrome, bem como as formas de intervenção para amenizar os efeitos negativos durantes os procedimentos de treinamento desportivo em atletas de diversas modalidades esportivas com características biológicas e psicossociais diferenciadas.
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