Os idosos e os fatores que predispõem às quedas Las personas mayores y los factores que predisponen a las caídas |
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*Enfermeira. Graduada pelas Faculdades Santo Agostinho de Montes Claros, Minas Gerais **Enfermeira. Mestranda em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Montes Claros Professora das Faculdades Unidas do Norte de Minas - Funorte, Minas Gerais ***Enfermeiro. Mestrando em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Montes Claros ****Enfermeira. Mestre em Ciências da Saúde. Doutoranda em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Minas Gerais Líder do Grupo de Pesquisa em Enfermagem das Faculdades Santo Agostinho de Montes Claros, Minas Gerais (Brasil) |
Weslaine da Fonseca Chaves* Camila Lobus Saraiva Freire* Mariza Alves Barbosa Teles** Thiago Luis de Andrade Barbosa*** Ludmila Mourão Xavier Gomes**** |
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Resumo As quedas representam um importante fator causal relacionado ao aumento da dependência do idoso por afetar, de forma significativa, sua capacidade funcional de realizar atividades de vida diária. Trata-se de uma pesquisa descritiva, transversal com abordagem quantitativa com o objetivo deste estudo é de avaliar os fatores predisponentes a quedas e sua ocorrência em idosos hospitalizados em um hospital escola do norte de Minas Gerais, Brasil. Foi utilizado um questionário constando estado clínico geral do paciente, dados relativos às medicações em uso, patologias presentes, avaliação do estado mental, equilíbrio e marcha. Os idosos que foram avaliados possuem vários riscos para vir sofrer a queda, como acuidade visual, mobilidade e equilíbrio diminuídos, ambiente inadequado e outras patologias. Os resultados relativos à avaliação do equilíbrio e da marcha apontaram o “equilíbrio sentado” anormal como o mais freqüente (55%) entre os idosos. De todos os idosos entrevistados apenas 10% praticam exercícios físicos regularmente, e 60% têm dificuldade de caminhar e/ou subir e descer da cama. Em suma, os fatores apontados no estudo conjugam para predisposição dos idosos às quedas, o que revela a necessidade de estudos cada vez mais complexos no sentido de reduzir e prevenir a ocorrência desse evento. unitermos: Idoso. Acidentes por quedas. Fatores de risco.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 173, Octubre de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O envelhecimento populacional vem ocorrendo de forma rápida e inesperada, principalmente em países em desenvolvimento como o Brasil. A demografia populacional vem sofrendo grandes mudanças, entre elas o crescimento do grupo etário de pessoas com idade superior a 60 anos que foi o que mais cresceu nos últimos 50 anos. Dentro de 25 anos o Brasil se colocará como a 6ª maior população de idosos no mundo (MACHADO et al., 2009).
Pessoas idosas passam pelo período de maturidade no envelhecimento que se caracteriza por um declínio das funções orgânicas, e devido a isso uma maior susceptibilidade ao aparecimento de doenças e fatores que levam o idoso a sofrer quedas, podendo levá-lo até a morte (NETTO; BRITO, 2006). Quando um paciente idoso sofre uma queda dentro de um ambiente hospitalar acarretará em inúmeras consequências tanto para ele próprio quanto para a instituição que ele se encontrar. O paciente pode ter traumas físicos e psicológicos, perda de independência e até risco de morte, quanto para a instituição, será em termo de custo, por exemplo, na ocupação de leitos hospitalares por muito tempo (MENEZES, BACHION, 2008).
Além do aumento de internação e o custo, a queda pode trazer para o paciente o desconforto e o ceticismo em relação aos cuidados de enfermagem. Por isso, vem ocorrendo a implementação de programas de prevenção em queda, que são compostos por três elementos: identificação do risco para queda, implementação de técnicas de prevenção e reavaliação do paciente para manter ou incluir novos fatores de risco. Com isso espera-se que haja diminuição nas taxas de quedas e com ligações decorrentes (DICCINI et al., (2008).
Segundo Fabrício et al. (2004), a queda traz para o idoso um aumento de dificuldade e de dependência para realização das atividades de vida diária (AVD’s) e as atividades que são mais prejudicadas após a queda são: deitar/levantar-se da cama, caminhar em superfície plana, tomar banho, caminhar fora de casa, cuidar de finanças, cortar unhas dos pés, realizar compras, usar transporte coletivo e subir escadas.
No caso de uma hospitalização, o risco de sofrer uma queda se intensifica, pois ele encontra-se mais vulnerável, devido às alterações fisiológicas que ocorrem no seu organismo e as alterações que ocorrem no meio em que vive, sendo esses intrínsecos e extrínsecos. Os fatores intrínsecos são decorrentes de alterações fisiológicas que ocorrem no do decorrer do envelhecimento, patologias e uso de fármacos. E os fatores extrínsecos são relacionados às alterações sociais e ambientais. (MACHADO et al., 2009). Nesse contexto o presente estudo objetiva em avaliar a ocorrência de quedas em idosos hospitalizados e identificar os fatores predisponentes.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa descritiva transversal com abordagem quantitativa realizada junto aos idosos internados na clínica médica do Hospital Universitário Clemente Faria em Montes Claros – MG. Participaram do estudo 20 idosos. Foram estabelecidos os seguintes critérios de inclusão: ter mais de 60 anos, estar verbalizando e consciente. Foram excluídos os idosos que não escutam, inconscientes, que não enxergam e que não quiseram participar da pesquisa. Para coleta de dados, foi utilizado um questionário com dados clínicos do estado geral do paciente. As variáveis estudadas envolveram tempo de internação do paciente, medicações em uso, patologias presentes, realização de exercício físico, dificuldade para deambular e levantar-se da cama, utilização de algum tipo de artefato para locomoção, se veio a sofrer queda durante a internação, ou antes, da mesma. Para análise do equilíbrio e marcha, utilizou-se a escala “Performance – Oriented Mobility Assessment” (POMA). A avaliação do estado mental foi realizada por meio do Mini Exame do Estado Mental (Mini-Mental).
Os idosos foram avaliados em seus respectivos leitos. A coleta de dados foi realizada somente pelas duas pesquisadoras em novembro de 2010. Inicialmente, foram coletados dados pessoais dos entrevistados, seguido de algumas perguntas sobre quedas. Posteriormente, foi aplicado o teste do sussurro, mini-mental e por último o POMA. Foi observado o ambiente em questão, quanto à iluminação e dispositivos de segurança para deambulação dos pacientes no quarto. Após a coleta de todos os dados necessários com o paciente, passou-se para a segunda etapa da pesquisa que foi encontrar nos prontuários as medicações em uso, patologias presentes e tempo de internação. Para analise dos dados foi utilizado procedimentos de estatística descritiva, através do Programa Statistical Package of Social Science versão 17.0.
A pesquisa foi analisada e aprovada pelo Comitê de ética em Pesquisa com Seres Humanos das Faculdades Unidas do Norte de Minas (nº 2246/10).
Resultados
Dos 20 idosos estudados 12 são do sexo masculino (60 %) e 8 são do sexo feminino (40%). A idade média dos idosos foi de 71 anos (DP= 9,5). Em relação à cor da pele autodeclarada, 12 (60%) se consideram brancos, 2 (10%) pardos, 5(25%) negros e 1 (5%) moreno. Quanto ao ambiente estudado todos os quartos possuem uma boa iluminação, porém, ausência de iluminação de vigília. Detectou-se a presença de lixeiras espalhadas em todos os quartos. Os banheiros eram desprovidos de piso antiderrapante e barras de proteção. Nos leitos, observou-se que apenas 7 (35%) possuíam grade de proteção. Dentre os idosos a média de dias de internação foi de 26,5 (DP: 26,08).
Todos os idosos fazem uso de algum tipo de medicação e possuem alguma patologia. De acordo com o Gráfico 1, as patologias mais frequentes foram problemas de visão (80%), doenças vasculares (65%) e diabetes (40%). Os medicamentos mais utilizados pelos idosos pertenciam às seguintes classes: analgésicos (90%), antieméticos (85%), antiulcerosos (60%) e anti-hipertensivos (50%).
Quanto à audição, 12 (60%) têm a audição afetada e nenhum desses fazem uso de algum tipo de aparelho de correção. De todos os idosos entrevistados apenas 2 (10%) praticam exercícios físicos regularmente, 12 (60%) têm dificuldade de caminhar e/ou subir e descer da cama. Em relação ao uso de artefatos, 4 (20%) idosos utilizam a cadeiras de rodas. Entre aqueles que têm dificuldade de se locomover, é solicitado auxilio da enfermagem, quando é necessário, para ajudar na locomoção. Quanto à avaliação da função cognitiva dos idosos, verificou-se uma média de 16,5 (DP= 5,44) no teste do “mini exame do estado mental”.
Os resultados relativos à avaliação do equilíbrio e da marcha, realizado por meio do POMA, estão descritos nas tabelas 1 e 2. Destaca-se os seguintes dados: o “equilíbrio sentado” anormal foi equivalente a 11 (55%) idosos e a “sustentação durante a marcha” anormal, equivalente a 8 (40%). Vale ressaltar que 8 (40%) dos entrevistados não tinham condições de realizar o POMA, então não entraram nos resultados nas tabelas.
Tabela 1. Avaliação do equilíbrio dos idosos internados no HUCF, Montes Claros, MG, 2010
Dos 20 idosos entrevistados 3 (15%) sofreram algum tipo de queda previamente e durante a internação resultando em lesões. Durante a pesquisa observou-se que o episódio de quedas que ocorreram no hospital durante a internação, foi de o idoso ter tido uma vertigem ao se levantar para ir ao banheiro. Destaca-se a não solicitação de auxílio da enfermagem pelos pacientes nessas circunstâncias. Vale lembrar que do total de idosos 16 (80%) já sofreram queda antes da internação e 4 (20%) ficaram com algum tipo de seqüela.
Discussão
As causas das quedas em ambiente hospitalar podem partir de alterações intrínsecas e/ou extrínsecas. Os fatores extrínsecos são aqueles que equivalem ao ambiente que o idoso se encontra. O idoso sofre quedas por realizar atividades rotineiras como um simples ato de ir ao banheiro, levantar-se da cama e caminhar em superfície plana (FABRÍCIO et al, 2008). No presente estudo o ambiente observado não possui, por exemplo, leitos com grade de proteção para todos os pacientes e em todos os banheiros encontrados desproviam de barras de proteção e piso antiderrapante.
As alterações intrínsecas são aquelas que advêm de alterações fisiológicas, como uso de medicações, idade, patologias presentes e mobilidade prejudicada. O surgimento de doenças em idosos faz com que haja uma queda no controle postural do indivíduo, fazendo que ele tenha maior dificuldade de se locomover sem auxílio. Doenças como cardiovasculares, neurológicas, endocrinológicas, osteomusculares, geniturinária, psiquiátricas e sensoriais são doenças que elevam o risco de queda do paciente, sendo que elas ocasionam um déficit sensorial no paciente (FABRÍCIO et. al, 2008). Cerca de 80% dos idosos entrevistados sofrem de problemas de visão, 65% de doenças vasculares, 40% de diabetes e 20% de artrite. Considerando que todos os idosos possuem algum tipo de patologia, todos tiveram um risco de vir a sofrer queda durante a internação, por estarem sofrendo alterações fisiológicas.
No presente estudo, a utilização de anti-hipertensivos e diuréticos esteve associada a três episódios de quedas. O risco de queda em idosos vem aumentado pelo fator “uso de medicamentos” que provocam sonolência, alteram o equilíbrio, a tonicidade muscular e/ou provocam hipotensão. Um exemplo é o uso de anti-hipertensivos que tem como efeito colateral a hipotensão postural ou mesmo tonturas, associando esse tipo de medicamento a outro como o diurético pode levar o paciente a se levantar a noite para urina facilitando assim que ocorra uma queda. (HAMRA et al, 2007). O uso de polifármacos apresenta-se como importante fator predisponente às quedas. Fabrício et. al (2001) afirma que as medicações como diuréticos, psicotrópicos, anti-hipertensivos e antiparkinsonianos podem ser considerados medicamentos que propiciam episódios de quedas. Isto muitas vezes ocorre porque essas drogas podem diminuir as funções motoras, causar fraqueza muscular, fadiga, vertigem ou hipotensão postural.
De acordo com Gonçalves et al (2008), a visão prejudicada pode estar fortemente ligada a fatores de risco para quedas, pois, o paciente pode tentar forçar a vista e ter uma vertigem e vir a cair. Esses dados corroboram com este estudo, visto que, os três idosos que sofreram quedas têm problemas visuais e não fazem uso de nenhum tipo de artefato para correção da mesma.
Com o envelhecimento, frequentemente ocorrem algumas alterações em diferentes áreas da cognição. Pessoas acima de 60 anos geralmente se queixam de dificuldades com a memória e outras habilidades cognitivas segundo Bottino et al (2005). Foi constatado que o baixo valor do minimental aplicado aos idosos deste estudo, o que indica limitações nas atividades diárias, predispondo aos eventos de quedas.
Os distúrbios de equilíbrio em idosos têm como principal complicação a queda. A falta de artefatos para auxilio no apoio para o idoso na realização dessas atividades configura-se como uma das causas (Fabrício et al 2004). A perda da força muscular pode prejudicar a mobilidade levando a dependência funcional o que classifica esse evento como um fator de risco para predispor a queda em idosos hospitalizados (MENEZES E BACHION 2008). Assinalou-se neste estudo que as quedas no período de internação ocorreram em idosos com dificuldades de marcha/deambulação.
Vale lembrar que quanto mais o fator de risco para queda aparece em idosos, maior será o risco de esse idoso sofrer uma queda. Vários autores referem que a queda é um fator preditório de algo errado com a saúde do idoso, podendo indicar a iminência de alguma doença (FABRÍCIO et. al, 2008). Então fica evidenciado que a enfermagem tem que estar presente durante todo o processo de internação dos seus pacientes para tentar minimizar esses riscos, lembrando também na falha dos processos nos hospitais que é existente.
Conclusão
O estudo evidenciou que os profissionais da saúde ainda não estão aptos para lidar como esse tipo de acontecimento, visto que o processo de envelhecimento é um evento novo que vem alterando toda a questão social do país.
Foi que a falta de estrutura dos hospitais ainda é muito grande, o exige atenção especial dos profissionais de saúde para com os idosos. É importante que os profissionais da saúde busquem maneiras de prevenir os eventos de queda no sentido de identificar os fatores que influenciam na sua mobilidade, quer sejam eles físicos, psicológicos, sócio-culturais ou ambientais, a fim de que possam realizar suas atividades diárias sem riscos de sofrerem lesões por quedas. Prevenção de quedas é uma situação que envolve cuidadores, familiares e profissionais de saúde. No tocante à enfermagem, considera-se que o risco a quedas representa um diagnóstico de enfermagem, isto é, uma situação que demanda intervenções de enfermagem.
Referências
DICCINI, S.; PINHO, P.G.; SILVA, O.S.. Avaliação de risco e incidência de queda em pacientes neurocirúrgicos. Revista Latino Americana de Enfermagem, v. 16, n. 4, Julho/agosto, 2008.
FABRÍCIO, S.C.C.; RODRIGUES, R.A.P.; JUNIOR, M.L.C.. Causas e conseqüências de quedas de idosos atendidos em hospital público. Revista de Saúde Pública, v. 38, n.1, p. 93-99, Fev. 2004.
GONÇALVES, L.G.; VIEIRA, S.T.; SIQUEIRA, F.V.; HALLAL, P.C.. Prevalência de quedas em idosos asilados do município de Rio Grande, RS. Revista de Saúde Pública, v. 42, n. 5, p. 938-45, 2008.
HAMRA, A.; RIBEIRO, M.B.; MIGUEL, O.F.. Correlação entre fratura por queda em idosos e uso prévio de medicamentos. Acta Ortopédica Brasileira, v.15, n.3, p. 143-45, 2007.
MACHADO, T.R.; OLIVEIRA, C.J.; COSTA, F.B.C.; ARAUJO, T.L.. Avaliação de presença de risco para queda em idosos. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 11, n. 1, p. 32-38, 2009.
MENEZES, R.; BACHION, M.M.. Estudo de presença de riscos intrínsecos para queda, em idosos institucionalizados. Ciência & Saúde Coletiva, v. 13, n. 4, p. 1209-1218, Julh/agos, 2008.
NETTO, M.P.; BRITO, F.C.. Urgência em geriatria. São Paulo: Atheneu, p. 323-334, 2006.
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