O Olimpismo e a CBD no Nacional
Desenvolvimentismo El Olimpismo y la CBD en el Nacional Desarrollismo brasileño: análisis y consideraciones Olympism and the CBD National Developmentalism Brazil: analysis and considerations |
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*Pós Graduado em Psicologia Política com aplicação à Atividade Física pela USP Graduando em Ciências da Atividade Física pela USP Mestrando em Participação Política pela USP **Professor Doutor pela Universidade de São Paulo (Brasil) |
Eduardo Mosna Xavier* Marco Antonio Bettine de Almeida** |
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Resumo O Olimpismo, ou Movimento Olímpico, apesar de disseminado na década de 1970, foi concebido pelo Barão de Coubertin em meados do seculo XX. O “fair play”, o amadorismo, além de outros princípios envolvidos nos Jogos atraíram a atenção de vários países, entre eles, o Brasil. Entretanto, em nosso território, as políticas públicas existentes para a formação de atletas ainda eram precoces, sendo considerado o maior celeiro de atletas as próprias Universidades e os Clubes Poliesportivos. A Confederação Brasileira dos Desportos (CBD) reforçava esse paradigma, valorizando apenas algumas modalidades coletivas em detrimento ao exponencial campo para o desenvolvimento de esportes individuais e coletivos no Brasil. Unitermos: Nacional Desenvolvimentismo. Olimpismo. Confederação Brasileira dos Desportos.
Abstract Olympism, the Olympic Movement and, although widespread in the 1970s, was designed by Baron de Coubertin in the middle of 'the twentieth century. The "fair play", amateurism, and other principles involved in the Games have attracted the attention of several countries, among them Brazil. However, in our territory, existing public policies for the training of athletes were still early, being considered the greatest athletes of his own barn and University Clubs Poliesportivos. The Brazilian Confederation of Sports (CBD) reinforced this paradigm, valuing only some modalities collective detriment to the exponential field for the development of individual and team sports in Brazil. Keywords: National Developmentalism. Olympism. Brazilian Confederation of Sports.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 173, Octubre de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Os fundamentos e princípios do Olimpismo e seus reflexos no Nacional Desenvolvimentismo
O termo “Olimpismo” constitui um neologismo recente, oriundo na década de 1970 e baseado nos trabalhos realizados pelo Barão Pierre de Coubertin. O idealizador dos Jogos Olímpicos Modernos também vislumbrou no esporte uma importante ferramenta pedagógica que, se corretamente utilizada, poderia se transformar num verdadeiro recurso de ensino de valores e princípios morais.
Denominado também de “Educação Olímpica”, os preceitos pedagógicos ilustrados pelo citado nobre francês, vislumbrava na realização dos jogos uma importante oportunidade de interação entre seres humanos. Estes contatos sociais resultariam numa importante interpretação atual destes conceitos de Coubertin, onde o esporte resultaria numa forma educativa multidisciplinar e transversal que, além de permear várias formas do conhecimento, também possibilitava a multiplicação de princípios que extravazam o campo de jogo, alcançando as relações humanas, como o próprio “fair play” e o “internacionalismo”[1].
Entretanto, estes dogmas educativos propostos pelo “Barão dos Jogos” se perderam no tempo, sobretudo, pela interferência política e midiática na realização das competições olímpicas, afastando os princípios em prol da competição em busca dos resultados. Desta forma, o esporte não era considerado como um meio de se praticar uma atividade física, mas uma forma de se alcançar um propósito que se afastava da busca pela saúde e pela qualidade de vida. Assim postulou WACKER (2009):
O “Olimpismo” não está conectado exclusivamente com a temática dos Jogos Olímpicos. Os Jogos Olímpicos podem ser um dos conteúdos da Educação Olímpica, mas não seu objetivo exclusivo (...). Outra abordagem tem conectado e Educação Olímpica com a Educação Física ou até com a atividade física. No entanto, ambas só podem ser caracterizar como Educação Olímpica quando tiverem o esporte como meio, e não como fim de suas atividades (pág. 30).
Assim, a concepção dogmática de Coubertin ultrapassou os propósitos políticos e comerciais de realização de competições entre Nações. Sua pedagogia tinha como escopo se tornar o contraponto ao predominante e massificado Sistema Francês de Educação Física, majoritário durante toda a primeira metade do século XX. A modernidade abstraída da realização de jogos possibilitava uma nova possibilidade de se conceber a atividade física como uma ação prazerosa, sobretudo, quando feita em grupo. Esta alternativa poderia ser uma contra mediada contra os rigorosos, sistemáticos e tradicionais exercícios físicos e ginásticos, realizados de forma reiterada e, sobretudo individual, preconizados pela Escola Francesa.
A perene busca do equilíbrio entre o corpo x a mente, o físico x o espiritual e o individual x o social erma os principais elementos que diferenciavam o “olimpismo” do Método Frances. O resgate da construção social e psicológica do ser humano, através dos benefícios direitos e indiretos proporcionados pelos jogos (oriundas das Olimpíadas da Antiguidade), transformaria estas competições em verdadeiros meios de educação, ecoando valores e princípios doravante excludentes na metodologia predominante naquele período.
Entretanto, a correta interpretação destes axiomas foi tardia: começou a ocorrer apenas após a realização dos primeiros Jogos Olímpicos. Cabe a tentativa de entender como ocorreu esta brusca mudança conceitual e, com base neste estudo, vislumbrar o conceito do “Olimpismo” no Nacional Desenvolvimentismo.
O Esporte Moderno, praticado a partir do início do século XX, foi baseado na utilização política das competições, sobretudo, quando estas ocorriam sobre os holofotes e vitrinas das Olimpíadas. A interferência política dos jogos ocorre em virtude de sua fácil instrumentalização pelo Estado, que através da fácil compreensão das regras, acrescidas da natural tensão emocional, oferta aos membros de sua pátria não apenas uma possibilidade de identificação com o coletivo, como também a formação de uma ideologia que pode, inclusive, funcionar como um elemento alienador, como postulava SIGOLLI & JUNIOR (2004):
O Esporte é uma atividade com regras de fácil compreensão, sendo utilizado como elemento de comunicação de massa, portador de uma linguagem simples. O Estado utiliza o elemento de tensão emocional do Esporte para veicular seus objetivos e ideologias, oferecendo à população a possibilidade de identificação com o coletivo e coma as aspirações patrióticas, transformando-se num elemento alienador que permite ao espectador a compensação para as tensões e aflições da vida (pág. 113).
O “Olimpismo”, como resultado de seu uso político, passa a utilizar o atleta como um representante do próprio sistema vigente. Suas vitórias ultrapassam a sua competência individual, transformando-se na materialização de uma superioridade do próprio Estado vencedor em relação aos outros Estados vencidos.
Esta interpretação do “Olimpismo” possui contundente uso durante os períodos do Estado Noivo e da ditadura Militar. Entretanto, podemos vislumbrar elementos importantes desta visão durante o transcorrer do Nacional Desenvolvimentismo, não que a mesma repercussão e contundência do período anterior (divulgação midiática das políticas de Educação Física Escolar por parte do Governo Vargas) e da visibilidade externa do período posterior (divulgação midiática da Copa do Mundo de 1970 e seu uso político para a criação de um apelo popular), mas com características típicas e marcantes encontradas nestes 03 momentos históricos, qual seja, o uso do esporte para o reforço do nacionalismo dentro e fora do território brasileiro.
O “Olimpismo” também deixou marcas profundas na formação e preparação dos atletas brasileiros. Basicamente, o ciclo de treinamento começou a ser planejado no Nacional Desenvolvimentismo de forma que o competidor alcançasse sua máxima performance durante os Jogos Olímpicos. A preocupação estatal com a constante melhora do rendimento brasileiro nas Olimpíadas poder ser exemplifica pela edição do Decreto nº 49.131, de 20 de outubro de 1960, que criou a “Comissão de Preparação Olímpica para os Jogos Olímpicos de Pequim”, iniciativa inédita de intervenção até aquele momento histórico.
2. Conselho Nacional dos Desportos: o embrião das Federações Esportivas no Brasil
O caráter ideológico de reafirmação dos sentimentos de nacionalismo e da demonstração de força cultural através do esporte já era uma estratégia peculiar utilizada por Getúlio Vargas durante o Nacional Desenvolvimentismo. O já citado Decreto Lei nº 3.199/41, que criou a Conselho Nacional dos Desportos, vislumbrava uma necessidade de pensamento organizado e sistemático para o fomento e a preparação de atletas. O referido diploma legal foi o precursor na criação das primeiras Confederações Esportivas, como claro propósito de preparar competidores que refletissem numa performance de lata visibilidade, principalmente em competições internacionais.
As primeiras Confederações Esportivas, entretanto, possuíam uma organização voltada para o desempenho atlético internacional (qual seja, a possibilidade de vitórias), não levando em consideração o apreço e a afinidade dos brasileiros pelos Esportes. Tal afirmação pode ser endossada pelo fato de que o futebol foi incluso na Confederação Brasileira de Desportos, juntamente com outros esportes que não possuíam classe ou organização dirigente previamente formada. Assim eram organizadas as Confederações:
Art. 15. Consideram-se, desde logo, constituídas, para todos os efeitos, as seguintes confederações:
I – Confederação Brasileira de Desportos.
Il – Confederação Brasileira de Basket-ball (sic).
III – Confederação Brasileira de Pugilismo.
IV – Confederação Brasileira de Vela e Motor.
V – Confederação Brasileira de Esgrima.
VI – Confederação Brasileira de Xadrez.
Parágrafo único. A Confederação Brasileira de Desportos, compreenderá o foot-ball (sic), o tênis (sic), o atletismo, o remo, a natação, os saltos, o water-polo (sic), o volley-ball (sic) o hand-ball (sic), e bem assim quaisquer outros desportos que não entrem a ser dirigidos por outra confederação especializada ou eclética ou não estejam vinculados a qualquer entidade de natureza especial nos termos do art. 10 deste decreto-lei; as demais confederações mencionadas no presente artigo teem (sic) a sua competência desportiva determinada na própria denominação.
A necessidade de controle na participação das competições também era uma importância fundamental para o Conselho Nacional dos Desportos. Todos os Jogos determinados pelo Conselho para que uma determinada confederação viesse competir eram classificados como “obrigatórios”, impassíveis de ausência pela organização que recebeu a determinação. Apesar do incentivo para a formação de atletas e a participação em competições, qualquer atividade programada pelas Federações deveria ter a anuência do CND, para que fosse plena de regularidade e legalidade, conforme disciplina o artigo 27 e 28 do diploma legal analisado:
Art. 27. Nenhuma entidade desportiva nacional poderá, sem prévia autorização do Conselho Nacional de Desportos, participar de qualquer competição internacional.
Art. 28. Resolvida, pelo Conselho Nacional de Desportos, a participação do país em competição internacional, não poderão as confederações nem as entidades que lhes sejam direta ou indiretamente filiadas, se convocadas, dela abster-se.
O CND também foi conhecido como o primeiro gestor técnico e, sobretudo, científico na área da formação do futuro atleta. Através da emissão da Portaria nº 76, de 29 de maio de 1959, foi criado o primeiro “Grupo de Estudo e de Pesquisas sobre o Treinamento Esportivo”. Subordinado ao Conselho Nacional de Desportos, o pioneiro grupo passou a produzir um conhecimento até então inédito para o Brasil, já que até aquele momento, toda a técnica de treinamento e de estudos nesta área eram, meramente, traduções de metodologias de Escolas Estrangeiras.
Além disto, o CND também se esmerou em, profissionalizar a função de Técnico e Treinador Esportivo, até então considerado, apenas, uma ocupação remunerada de caráter não laborioso. A edição do Decreto nº 47.978, de 2 de abril de 1960, criou o “Registro de Técnicos Desportivos”, proporcionado não apenas uma garantia de direitos a esta classe, como o próprio reconhecimento de sua função, garantindo a dedicação exclusiva destes profissionais na prestação deste serviço especializado.
Nota
Termo utilizado por Coubertin e substituído posteriormente por “multiculturalismo”: possibilidade de se estabelecer e de se criar novos laços através do sincretismo e inter relação entre as mais diversas culturas.
Referências bibliográficas
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OLIVEIRA, Vitor Marinho de. O que é Educação física. Editora Brasiliense, 2ª Edição. São Paulo/SP, 1979.
TUBINO, Manoel. Educação Física e Esporte: da teoria pedagógica ao pressuposto do direito. Editora Ática. São Paulo/SP, 2002.
RAMALHO, Cláudia Martins. Lazer, Ócio, Tempo Livre e Recreação: em busca de um entendimento. Editora Rocca. Camboriú/SC, 2000.
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WARDE, Mirian Jorge. Cultura e educação: o americanismo e a fabricação do homem: Projeto de pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo/SP, 2001.
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