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Habilidades motoras rudimentares na infância

Habilidades motoras rudimentarias en la infancia

 

Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano

Escola de Educação Física

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Prof. Dr. Guilherme Garcia Holderbaum

ghgarcia@ibest.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo desta resenha foi discutir questões relacionadas ao desenvolvimento das habilidades motoras rudimentares na infância, mais especificamente na seqüência em que estas habilidades se desenvolvem bem como nos tipos de habilidades que aparecem neste período. Esta revisão também pretende ampliar o conhecimento dos Professores de Educação Física que atuam na educação infantil uma vez que estes apresentam um papel fundamental no desenvolvimento das crianças. Esta discussão foi realizada a partir da visão dos autores GALLAHUE & OZMUN (2001), HAYWOOD & GETCHELL (2004) e PAYNE & ISAACS (1999) apontando os pontos de concordância e discordância entre os mesmos e tentando relacionar os fenômenos presentes neste tema com desenvolvimento das habilidades esportivas.

          Unitermos: Habilidades motoras rudimentares. Infância. Desenvolvimento.

          Resenha crítica realizada na disciplina de Desenvolvimento Motor do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano da ESEF, UFRGS, BRASIL. Disciplina Ministrada pela Profa. Dra. Nadia Valentini.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 173, Octubre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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    O conhecimento sobre o desenvolvimento motor torna-se fundamental para os profissionais de Educação Física, sobretudo, para àqueles que atuam dentro do ambiente escolar. De acordo com GALLAHUE & OZMUN (2001), é o conhecimento das experiências motoras precoces da primeira infância que torna possível uma melhor compreensão do desenvolvimento que ocorre antes das crianças entrarem na escola. Estes autores ainda reforçam que o estudo do desenvolvimento motor também permite uma maior compreensão sobre o conceito desenvolvimentista de como os humanos aprendem a mover-se.

    HAYWOOD & GETCHELL (2004) afirmam que os indivíduos, após o nascimento, devem aprender a refinar os seus movimentos por meio de experiências e mudanças em parâmetros físicos. GALLAHUE & OZMUN (2001) concordam com a afirmação realizada por HAYWOOD & GETCHELL (2004) e ainda complementam explicando que, ao nascer, o bebê é submetido a importantes tarefas desenvolvimentistas como: a obtenção do controle sobre a musculatura, o aprendizado de como lidar com a força da gravidade e o ato de movimentar-se de maneira controlada. Estes fatores correspondem às habilidades motoras rudimentares que surgem na primeira infância.

    Para GALLAHUE & OZMUN (2001) a seqüência de aquisição de habilidades motoras é constante na primeira infância e na infância, mas o ritmo de aquisição é diferenciado de uma criança para outra. Dessa forma, o início do desenvolvimento motor não se deve apenas à maturação neurológica, mas também a um sistema auto-organizado que envolve a tarefa, o ambiente e o indivíduo. Estes autores também afirmam que as habilidades motoras rudimentares do bebê são componentes indispensáveis para o desenvolvimento mais extenso das habilidades motoras fundamentais no início da infância e também, das habilidades motoras especializadas da infância posterior e além desta.

    Após o nascimento, o bebê passa a interagir com o meio ambiente lutando contra certas leis da física que restringem seus movimentos. Esta luta é necessária para este bebê possa viver neste meio e interagir de forma mais efetiva e eficiente com o mundo (GALLAHUE & OZMUN, 2001; HAYWOOD & GETCHELL, 2004). Para que esta interação ocorra de forma otimizada é necessário que o bebê domine três categorias básicas de movimento: (1) estabilidade, (2) locomoção e (3) manipulação.

    Para GALLAHUE & OZMUN (2001), a estabilidade é a primeira categoria básica que deve ser dominada pelo bebê para a sua sobrevivência. Esta consiste de uma constante luta do bebê contra a força da gravidade com o intuito de atingir e manter a postura ereta. Estes autores ainda reforçam que estabelecer controle sobre a musculatura em oposição à gravidade é um processo que obedece a uma seqüência previsível em todos os bebês. Esta seqüência inicia com a obtenção de controle sobre a cabeça e o pescoço e continuam para baixo em direção ao tronco e às pernas.

    GALLAHUE & OZMUN (2001) classificam a estabilidade como a mais básica das três categorias de movimento e justificam esta classificação em função de que todo movimento envolve um elemento de estabilidade. Estes autores também apresentam uma seqüência desenvolvimentista e a idade aproximada do aparecimento das habilidades rudimentares de estabilidade. O controle da cabeça e do pescoço é atingido pelo bebê, aproximadamente, no quinto mês sendo o mesmo, capaz de erguer a cabeça acima do colchão do berço, quando estiver deitado em posição de supinação. O controle do tronco é percebido no bebê, aproximadamente, no oitavo mês, pois este apresenta a capacidade de rolar de bruço para a posição de barriga para cima. O controle da habilidade de sentar sozinho torna-se aparente no bebê por volta do oitavo mês e o controle da tarefa de ficar de pé sozinho (sem apoio) é percebida, aproximadamente, no décimo segundo mês.

    PAYNE & ISAACS (1999) apresentam um posicionamento semelhante ao de GALLAHUE & OZMUN (2001) com relação ao controle da cabeça e do tronco. Já, HAYWOOD & GETCHELL (2004) afirmam que a estabilidade de um indivíduo está relacionada com a capacidade de resistir ao movimento ou à perturbação. Esta afirmação corrobora com a opinião de GALLAHUE & OZMUN (2001) de que existe uma constante luta do bebê contra a força da gravidade para atingir a postura ereta. No entanto, HAYWOOD & GETCHELL (2004), apresentam um posicionamento diferenciado com relação ao desenvolvimento do controle da musculatura para alcançar a estabilidade. HAYWOOD & GETCHELL (2004), utilizam, apenas, os princípios do movimento e seus conceitos de estabilidade para detectar e corrigir erros na técnica de determinada pessoa.

    Com relação à locomoção, GALLAHUE & OZMUN (2001), explicam que o movimento do bebê no espaço depende do surgimento das habilidades básicas para combater a força da gravidade, pois a locomoção não se desenvolve independente da estabilidade e sim com base nela. PAYNE & ISAACS (1999) corroboram com a explicação de GALLAHUE & OZMUN (2001) e afirmam que, na medida em que o bebê adquire o controle sobre o corpo, torna-se mais fácil o desenvolvimento de movimentos de locomoção. PAYNE & ISAACS (1999), ainda reforçam que o desenvolvimento da locomoção está diretamente relacionado com a habilidade do bebê em posicionar-se de forma equilibrada no espaço.

    HAYWOOD & GETCHELL (2004), definem locomoção como o ato ou a capacidade de mover-se de um lugar para outro. Embora esta definição seja de certa forma, simplista, as autoras deixam claro que se locomover de um lugar para outro é uma atividade extremamente complexa que envolve muitos sistemas e restrições que interagem entre si.

    HAYWOOD & GETCHELL (2004), também colocam que, normalmente, quando alguém pensa em locomoção, automaticamente, tem o pensamento remetido à forma humana de locomover-se, ou seja, sobre dois apoios. Entretanto, existem outras formas de locomoção que antecedem a forma bípede de deslocamento humano. A primeira delas citadas por HAYWOOD & GETCHELL (2004) é o ato de rastejar que significa mover-se com o apoio das mãos tocando o peito e o abdome no solo (rastejo de combate). A segunda é o ato de engatinhar que significa mover-se apenas com as mãos, joelhos e pés apoiados no solo. A etapa seguinte da locomoção humana na visão destas autoras é o ato de caminhar. Para este movimento é sugerido como uma fase de 50% entre uma perna e outra na fase adulta, mas apresenta-se bem diferente nos primeiros passos da criança. Os primeiros passos da criança são independentes, ou seja, sem uma seqüência ou sincronia com pequenas amplitudes de movimento na extensão da perna e quadril. Os pés são posicionados de forma afastada para favorecer o equilíbrio lateral e não são percebidas rotações do tronco. As autoras consideram que, o desenvolvimento do equilíbrio bem como da força nos músculos do tronco e nos músculos extensores do quadril e joelho, possibilitam a manutenção da postura ereta e permitem um maior controle na transferência de peso durante a caminhada.

    GALLAHUE & OZMUN (2001), assim como para as tarefas de estabilidade, apresentam uma seqüência desenvolvimentista para a tarefa de locomoção. Esta seqüência se assemelha em parte com as formas de locomoção apresentadas por HAYWOOD & GETCHELL (2004) e PAYNE & ISAACS (1999). Para GALLAHUE & OZMUN (2001), as tarefas locomotoras são as de arrastar, engatinhar e andar na postura ereta. O movimento de arrastar do bebê é a primeira tentativa de locomoção objetiva. Este surge por volta do sexto mês (podendo também aparecer no quarto mês) e evolui à medida que o bebê ganha controle nos músculos da cabeça, pescoço e tronco. Já o movimento de engatinhar é considerado como uma evolução do movimento de arrastar e freqüentemente desenvolve-se como uma forma altamente eficiente de locomoção do bebê. Esta habilidade surge entre o nono e décimo primeiro mês. O movimento de engatinhar difere do movimento de arrastar, pois o engatinhar ocorre a alternância ou oposição de braços e pernas entre si. A locomoção ereta depende da estabilidade do bebê, pois este deve ser primeiro capaz de controlar o corpo em pé, antes de dominar as mudanças posturais dinâmicas necessárias para esta locomoção. As primeiras tentativas de locomoção na postura ereta ocorrem entre o 10º e 15º mês e são caracterizadas por larga base de apoio. Os primeiros movimentos de caminhada são irregulares e hesitantes, ou seja, não são sincronizados e fluidos e sem o acompanhamento dos braços.

    GALLAHUE & OZMUN (2001) explicam que o ato de caminhar é influenciado por fatores ambientais e que uma criança não consegue movimentar-se no espaço sem que esteja prontamente desenvolvida. Dessa forma, torna-se difícil acelerar o processo de aprendizado da criança a não ser que, a musculatura e o sistema nervoso desta estejam em estágios avançados de desenvolvimento, possibilitando uma leve aceleração no processo de locomoção ereta mediante estímulos ambientais adicionais.

    As habilidades rudimentares de manipulação são abordadas de forma diferenciada por HAYWOOD & GETCHELL (2004) e GALLAHUE & OZMUN (2001). HAYWOOD & GETCHELL (2004) consideram como habilidades rudimentares de manipulação os atos de pegar e alcançar. O ato de pegar é apresentado de forma seqüencial relacionando os tipos de pegadas e a idade em semanas. Entre os tipos de pegada estão: (1) sem contato, que ocorre por volta da 16ª semana; (2) somente contato, que ocorre por volta da 20ª semana; (3) apertar primitivo, que ocorre por volta da 20ª semana; (4) pegada de pressão, que ocorre por volta da 24ª semana; (5) pegada da mão, que ocorre por volta da 28ª semana; (6) pegada palmar, que ocorre por volta da 28ª semana; (7) pegada palmar superior, que ocorre por volta da 32ª semana; (8) pegada inferior – dedo indicador, que ocorre por volta da 36ª semana; (9) pegada de indicador, que ocorre por volta da 52ª semana; (10) pegada superior – dedo indicador, que ocorre por volta da 52ª semana. O ato de alcançar, segundo estas mesmas autoras, é desenvolvido no primeiro ano de vida e é caracterizado por três fases: (1) pré-alcançar, (2) alcançar visualmente orientado e (3) alcançar visualmente evocado. A fase de pré-alcançar transcorre do nascimento até os quatro meses e consiste de movimentos de extensão disparados por um objeto, mas tipicamente não apurado o suficiente para contatá-lo. Já, a fase de alcançar visualmente orientado transcorre dos quatro aos oito meses e consiste de movimentos de braço em direção a um objeto no campo visual em que o indivíduo ajusta a mão, enxergando não apenas o objeto, como também, a própria mão. A fase de alcançar visualmente evocado inicia a partir dos nove meses e consiste de movimentos de braço em direção ao objeto estimulado por sua visão, sem exigi-la, contudo, na conclusão do movimento.

    GALLAHUE & OZMUN (2001) consideram como aspectos básicos da manipulação os movimentos de (1) alcançar, (2) segurar e (3) soltar. O movimento de alcançar é subdividido em três etapas distintas: (1) alcance globular ineficaz, ocorre do 1º ao 3º mês sendo que o bebê não produz movimentos direcionados para alcançar objetos, embora possa observá-los atentamente e realizar movimentos de envolvimento globular na direção do objeto; (2) alcance de procura definido, ocorre por volta do quarto mês sendo que o bebê começa a realizar os ajustes manuais e visuais refinados necessários para o contato com o objeto; (3) alcance controlado, ocorre a partir do 6º mês sendo que, nesta etapa, o bebê já é capaz de alcançar e fazer contato tátil com objetos do ambiente.

    O ato de pegar á abordado por GALLAHUE & OZMUN (2001) na forma de classificação, assim como a abordagem de HAYWOOD & GETCHELL (2004), relacionando os tipos de pegadas com a idade aproximada em meses. Entretanto, a classificação apresentada por GALLAHUE & OZMUN (2001) diverge com relação aos tipos de pegadas e idades aproximadas propostas por HAYWOOD & GETCHELL (2004). Entre os tipos de pegadas propostos por GALLAHUE & OZMUN (2001) estão: (1) pegadura reflexiva, que ocorre ao nascimento; (2) pegadura voluntária, que ocorre por volta do 3º mês; (3) pegadura palmar com duas mãos, ocorre por volta do 3º mês; (4) pegadura palmar com uma mão, ocorre por volta do 5º mês (5) pegadura de pinça, que ocorre por volta do 9º mês; (6) pegadura controlada, ocorre por volta do 14º mês e (7) ato de comer sem ajuda, que ocorre por volta do 18º mês.

    Com relação ao ato de soltar, GALLAHUE & OZMUN (2001), consideram dois movimentos básicos: (1) soltura básica e (2) soltura controlada. Os movimentos de soltura básica surgem entre o 12º e 14º mês sendo que, nesta etapa, a criança já domina os elementos rudimentares de soltar objetos da mão. Já, os movimentos de soltura controlada surgem por volta do 18º mês sendo que, nesta etapa, a criança já possui controle bem coordenado de todos os aspectos de soltar.

    Após a leitura e análise dos estudos sobre as habilidades motoras rudimentares foi possível perceber que, embora em alguns momentos as opiniões e considerações destes autores sejam divergentes, a importância do desenvolvimento destas habilidades para uma formação motora adequada, fica evidente em qualquer das três visões estudadas. Acredito que seja indispensável este conhecimento para os profissionais da área de Educação Física e áreas afins, pois sempre defendi a idéia de que, quanto maior for estimulação fornecida ao bebê, melhor será o seu desenvolvimento. Entretanto, é extremamente necessário conhecer as habilidades a serem adquiridas bem como os períodos ou etapas em que estas devem ser estimuladas e desenvolvidas.

    Meu posicionamento particular em relação ao conteúdo estudado é refletido, também, pela opinião de GALLAHUE & OZMUN (2001), no que se refere ao desenvolvimento das habilidades motoras rudimentares. Estes autores colocam que o desenvolvimento das habilidades de estabilidade, locomoção e manipulação são influenciados pela maturação e pelo aprendizado. Dessa forma, uma vez que se proporcione uma inter-relação destes dois fatores, o bebê poderá produzir e refinar as habilidades motoras rudimentares, que na verdade são estágios necessários para o desenvolvimento dos padrões motores fundamentais bem como de habilidades motoras especializadas.

Referências

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