O comportamento da freqüência
cardíaca durante uma El comportamiento de la frecuencia cardíaca durante una clase de gimnasia localizada en mujeres físicamente activas |
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*Graduação em Educação Física pela FESBH **Mestre e Docente da FESBH (Brasil) |
Juliana Maria Rocha* Viviane Angélica Ferreira de Araújo* Alessandra Cavalieri Carneiro** |
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Resumo O objetivo do presente estudo foi comparar o comportamento da freqüência cardíaca (FC) durante uma aula específica de ginástica localizada, utilizando cadências musicais distintas de 100 e 125 batidas por minuto. A amostra foi composta por 11 mulheres fisicamente ativas com idade entre 20 e 57 anos (35 ± 12,7). Os dados foram analisados através do teste T-Student para as variáveis dependentes e o nível de significância de 5%. Verificou-se que os valores médios da freqüência cardíaca alcançada (FC: 101,8 ± 11,7 bpm) durante a aula de ginástica localizada utilizando a cadência musical de 125 batidas por minuto foram significativamente maiores do que os valores alcançados (FC: 96,1 ± 12,7 bpm) durante a aula utilizando a cadência musical de 100 batidas por minuto. Os resultados mostraram que o aumento na cadência musical de 25 batidas por minuto foi suficiente para ocasionar um aumento significativo na intensidade dos exercícios na amostra estudada, alterando, conseqüentemente, a freqüência cardíaca. Unitermos: Freqüência cardíaca. Intensidade. Cadência. Ginástica localizada.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 173, Octubre de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Introdução
A modalidade ginástica localizada (GL), atualmente, é uma das atividades mais procuradas pelo público feminino nas academias de ginástica, devido, principalmente, a sua estrutura, variação das aulas (NOVAES; NOVAES; FILHO, 2002) e a motivação (NALIN, 2008; AMANTÉA, 2003) advinda da variedade de ritmos musicais. A grande variação na escolha do ritmo musical, ou também conhecido como cadência musical, interfere diretamente na velocidade de execução dos movimentos. Como conseqüência dessa variação, pode haver um aumento ou diminuição na intensidade do esforço físico quando se altera a cadência musical nas aulas de ginástica localizada pois, através da sua cadência retratada em batidas por minuto (BPM), a velocidade de execução dos movimentos pode aumentar ou diminuir (VOIGT, 2006).
Para melhor compreensão do texto, trataremos aqui Cadência/Ritmo musical em Batidas por Minuto (BPM) e Freqüência Cardíaca em Batimentos Cardíacos por Minuto (bcpm).
Moreira e Cavalieri-Carneiro (2008) compararam o comportamento da freqüência cardíaca (FC) durante uma aula específica de step (mesmo tempo e coreografia), utilizando plataformas de diferentes alturas (12cm e 16cm) em mulheres fisicamente ativas. Os resultados revelaram que um incremento de 4 cm de altura da plataforma acarretou numa elevação significativa da FC (12cm: 146 ± 10,9 bcpm; 16cm: 155,5 ± 11,9 bcpm) e na intensidade do exercício da amostra testada.
Monteiro et al (1999) avaliaram a resposta da FC com andamento/cadência musical de 130, 140 e 150 BPM em 37 voluntárias praticantes de ginástica aeróbica. Neste estudo foram estimados três níveis de aptidão cardiorrespiratória: baixo, médio e alto. A intensidade da aula foi determinada através do andamento musical. Os resultados mostraram diferenças significativas na FC entre a intensidade do exercício e aptidão dos grupos. No entanto, as diferenças encontradas na FC entre os grupos foram observadas somente entre os grupos com alta e baixa aptidão cardiorrespiratória.
Segundo Moreira (1996), em treinamento desportivo o “volume” refere-se à quantidade e duração do trabalho realizado e a intensidade refere-se à velocidade de execução do movimento e a potência (carga) utilizada. De acordo com Guiselini (2007), a freqüência cardíaca é um bom indicador para verificar a intensidade do exercício físico, pois a magnitude da aceleração da FC está diretamente relacionada à intensidade e duração da atividade física (GUISELINI, 2007).
Desta maneira, o objetivo do presente estudo foi comparar o comportamento da freqüência cardíaca de mulheres fisicamente ativas durante uma aula específica de GL com cadências musicais diferentes.
2. Materiais e métodos
A amostra foi composta por 11 mulheres entre 20 e 57 anos de idade e obedeceu aos seguintes critérios de inclusão: serem praticantes da modalidade em questão à no mínimo 3 meses, serem consideradas sadias de acordo com o questionário PAR-Q (ACMS, 1996) e não usuárias de nenhum medicamento. Este estudo respeitou todas as normas estabelecidas pelo conselho nacional em saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1996) e foi aprovado pelo comitê de ética e pesquisa da Faculdade Estácio de Sá de Belo Horizonte -FESBH.
Foram realizadas medidas antropométricas de massa corporal e estatura, além da estimativa do consumo máximo de oxigênio através do protocolo de McArdle, previamente aos tratamentos experimentais.
2.1. Tratamento experimental
Os procedimentos foram realizados em dois dias. No primeiro dia utilizou-se a cadência musical de 100 BPM e no segundo a cadência musical de 125 BPM. Os exercícios aplicados nas aulas foram os mesmos para as duas cadências musicais citadas.
As voluntárias usaram cardiofreqüencímetros durante as aulas para medição e registro da FC a cada 5 minutos. A aula foi composta por três fases: a) Exercícios preparatórios: Movimentos de alongamento para membros superiores e inferiores com aproximadamente 5 minutos de duração; b) Fase específica: Foi à aula propriamente dita (quadro A) com exercícios para membros superiores e inferiores sem utilização de nenhuma carga (peso); c) Volta à calma: Diminuição do esforço físico, utilizado movimentos lentos de alongamento por aproximadamente 5 minutos de duração.
Quadro A. Fase específica
Exercícios |
Series x repetições |
Duração das fases Concêntrica e excêntrica |
Flexão de ombros. |
1 x 16 |
2 x 2 |
Abdução de ombros. |
1 x 16 |
2 x 2 |
Extensão de joelhos e quadril unilateral. |
1 x 8 (perna direita) 1 x 8 (perna esquerda) |
2 x 2 |
Extensão de joelhos e quadril com os pés afastados e abduzidos. |
1 x 16 |
2 x 2 |
Extensão de joelhos e quadril com os pés paralelos. |
1 x 16 |
2 x 2 |
Abdução de ombros e flexão de cotovelos. |
1 x 16 |
2 x 2 |
Abdução horizontal de ombro. |
1 x 16 |
2 x 2 |
Extensão de cotovelo com o tronco inclinado. |
1 x 16 |
2 x 2 |
Flexão de tronco em decúbito dorsal. |
1 x 16 |
2 x 2 |
Extensão de joelhos em decúbito dorsal |
1 x 16 |
2 x 2 |
Elevação de quadril em decúbito dorsal. |
1 x 16 |
2 x 2 |
Extensão de quadril com joelhos flexionados |
1 x 8 (perna direita) 1 x 8 (perna esquerda |
2 x 2 |
Adução de quadril em decúbito dorsal com as pernas estendidas. |
1 x 16 |
2 x 2 |
Adução de quadril em decúbito dorsal com joelhos fletidos em 90º. |
1 x 16 |
2 x 2 |
Flexão de quadril com extensão de joelhos e abdução de quadril em decúbito lateral. |
1 x 8 (perna direita) 1 x 8 (perna esquerda |
2 x 2 |
Flexão lateral de tronco em decúbito lateral. |
1 x 16 |
2 x 2 |
Elevação de quadril com joelhos flexionados em decúbito dorsal. |
1 x 16 |
2 x 2 |
Extensão de tronco em decúbito ventral com alternância de braços e pernas. |
1 x 16 |
2 x 2 |
Adução horizontal de ombros e extensão de cotovelo com joelhos apoiados no solo |
1 x 16 |
2 x 2 |
Adução de perna em decúbito lateral |
1 x 8 (perna direita) 1 x 8 (perna esquerda |
2 x 2 |
Flexão de quadril em decúbito dorsal |
1 x 16 |
2 x 2 |
Flexão de tronco em decúbito dorsal com braços estendidos com as mãos sobrepostas e entre as pernas. |
1 x 16 |
2 x 2 |
Flexão de quadril e extensão e joelhos. (em pé). |
1 x 8 (perna direita) 1 x 8 (perna esquerda) |
2 x 2 |
Para a análise dos dados foi utilizado o teste T-Student para as variáveis dependentes. No teste foi considerado um nível de significância de 5% (p<0,05).
3. Resultados e discussão
A tabela 1 mostra os resultados das características antropométricas da amostra estudada, bem como os valores de consumo máximo de oxigênio estimado (VO2max).
Tabela 1. Características da amostra e estimativa do consumo máximo de oxigênio
Na tabela 2 pode ser verificado que os valores médios da FC alcançados durante a aula utilizando a cadência musical de 125 batidas por minuto (FC: 101,8 ± 11,7 bcpm) foram significativamente maiores do que os valores alcançados durante a aula utilizando a cadência musical de 100 batidas por minuto (FC: 96,1 ± 12,7 bcpm).
Tabela 2. Alteração da freqüência cardíaca nas diferentes cadências musicais
Os dados do presente estudo estão de acordo com os dados encontrados no estudo de Monteiro et al (1999) que avaliaram a resposta da FC durante uma aula de ginástica aeróbica com andamento musical variando de 130, 140 e 150 batidas por minuto. Os resultados mostraram diferenças significativas na FC entre as intensidades de exercício. Porém, as diferenças encontradas foram observadas somente entre os grupos de alta e baixa aptidão cardiorrespiratória. Estes resultados encontrados no estudo de Monteiro et. al (1999) indicam que a aptidão cardiorrespiratória pode influenciar na freqüência cardíaca, sendo um fator colaborador para o aumento da FC durante o esforço físico.
Outro fator a ser analisado no estudo citado acima e do presente estudo, é em relação à escolha do intervalo de variação do andamento musical que pode ser utilizado durante uma aula. As cadências musicais utilizadas no estudo de Monteiro et al (1999) e do presente estudo (130 a 150 BPM com intervalo variando de 10 BPM e 100 a 125 BPM com intervalo de 10 e 25 BPM, respectivamente) mostrou aumento na FC. De forma contrária, no estudo de Grier et al (2002) que avaliaram as respostas agudas metabólicas e cardiovasculares do step coreografado em plataformas de 15,2 e de 20,3 cm de altura e com diferentes cadências musicais de 125 e 130 BPM, não foram observadas diferenças significativas na freqüência cardíaca ao utilizarem as duas cadências musicais distintas, no entanto, foi observada diferença na freqüência cardíaca somente entre as duas alturas da plataforma utilizadas. Moreira e Cavalieri-Carneiro (2008), também encontraram diferenças significativas na FC utilizando plataforma de diferentes alturas, porém, com a mesma cadência musical. Neste, a cadência musical não foi usada como parâmetro efetivo para intensificar o exercício, e sim a altura das plataformas. Os resultados encontrados no estudo de Moreira e Cavalieri-Carneiro (2008) mostraram que o incremento de 4 cm na altura da plataforma acarretou numa elevação significativa da FC e da intensidade do exercício, indo de encontro com estudo de Grier et al (2002). Já o aumento de 5 batidas por minuto na cadência musical (125 para 130 utilizados no estudo de Grier et al (2002)) não foi o bastante para aumentar significativamente a FC.
Um fato importante a ser ressaltado é que mulheres ativas praticantes da modalidade de GL normalmente utilizam materiais como: halteres, caneleiras e barras, para aumentar a carga no movimento proposto, no entanto, no presente estudo, sem o uso destes implementos, as voluntárias apresentaram alterações significativas na FC durante a atividade. Estes resultados encontrados indicam que o ritmo de execução de cada exercício pode aumentar a intensidade do esforço na GL, proporcionando uma outra opção para a evolução do nível de treinamento das praticantes da modalidade, sem necessariamente haver o aumento da carga sustentada através de pesos (implementos).
Quanto à escolha da seqüência dos exercícios proposta pelas executantes desta pesquisa, sabe-se que a ordem e posição (em pé, deitado em decúbito ventral, dorsal ou lateral) dos exercícios também interferem na intensidade do treinamento, podendo obter resultados diferentes do esperado. Porém, justifica-se o uso desta seqüência para que o trabalho não fosse concentrado em um grupamento muscular específico.
Vários autores relatam que, para aumentar a intensidade do esforço físico, é necessário aplicar uma maior carga (peso) no treinamento ou aumentar a velocidade de execução do movimento (WILMORE; COSTIL, 2001; FOSS; KETEYAN; STEVEN, 2000). Na amostra estudada observou-se que o aumento na cadência musical de 100 para 125 bpm foi suficiente para aumentar a intensidade do exercício e, conseqüentemente, o aumento da FC.
De acordo com os resultados aqui apresentados, é importante ressaltar que o professor de Educação Física deverá ater-se à cadência musical durante a aula de GL, de forma que seja efetivamente viável a execução dos exercícios, para se obter um aumento e uma diminuição da FC, quando necessário.
4. Conclusão
Diante dos resultados obtidos, concluiu-se que a intensidade da aula variou de acordo com a cadência musical, implicando em um aumento significativo da FC. É também possível observar, por meio dos resultados, que o andamento/cadência musical mais acelerado pode interferir diretamente na velocidade de execução dos movimentos, podendo a música ser um incremento simples para o aumento da intensidade do exercício, e suficiente para elevar a freqüência cardíaca.
Referências bibliográficas
AMANTÉA, M. Step Force: A verdadeira aula de step. Jundiaí, SP: Fontoura, 2003.
AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. Guideliness for exercise testing and prescription. 6ª ed. Philadelphia: Lippincoutt Williams & Wilkins, 2000.
FOSS, L. MERLE; KETEYIAN, J. STEVEN. Bases fisiológicas do exercício e do esporte. Rio de Janeiro: 6ª ed. Guanabara 2000.
GRIER, T. D; LLOYD. L. S; WALKER, J. L; MURRAY, T. D. Metabolic cost of aerobic dance bench stepping at varying cadences and bench heights. Journal of Strength and Conditioning Research. 16 (2), maio, 2002.
GUISELINI, M. Exercícios aeróbicos: Teoria e pratica no treinamento personalizado e em grupos. São Paulo: Phorte, 2007.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Resolução n°. 196, de 10 de Outubro de 1996. Disponível em: http://www.conselho.saude.gov.br. Acesso em: 30 de agosto de 2009.
MONTEIRO, A. G; SILVA, S. G; MONTEIRO, G. A; ARRUDA, M. Efeito do andamento musical sobre a freqüência cardíaca em praticantes de ginástica aeróbica com diferentes níveis de aptidão cardiorrespiratória. Revista Brasileira de Atividade física e Saúde. São Paulo: vol.4, nº 2, pág. 30 a 38, 1999.
MOREIRA, J. L; SILVA, J. M; CAVALIERI-CARNEIRO, A. O comportamento da freqüência cardíaca de mulheres fisicamente ativas durante a aula de step. 3º Congresso de Educação Física de Jundiaí. Anais Jundiaí, São Paulo: ESEF, p. 59, 2008.
MOREIRA, S. B. Equacionando o treinamento: A matemática das provas longas. Rio de Janeiro, Ed. Shape, 1996.
NALIN, N. F. Acompanhamento musical em aulas de ginástica de academias – Uma revisão sobre as influências. 3º Congresso de Educação Física de Jundiaí. Anais Jundiaí: ESEF, p. 59, novembro 2008.
NOVAES, S. R. S; NOVAES, J. S; FILHO. J. F. Ginástica de academia: Comparação de efeitos da ginástica de academia (localizada) na zona alvo de treinamento de forma contínua e intervalada. Fit. & Perform. I.Vol.1 nº 5, setembro/outubro, 2002.
VOIGT, L. Ginástica localizada: Métodos e sistemas. Rio de Janeiro: Sprint, 2006.
WILMORE, JACK H.; DAVID L. COSTIL. Fisiologia do esporte e do exercício. Tradução. Dr. Marcos Ikeda. – 1ª ed. - Barueri São Paulo, 2001.
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