Cinética do consumo de oxigénio
durante Cinética del consumo de oxígeno durante y después de una prueba de 200 metros crol |
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*Centro de Investigação, Formação, Inovação e Intervenção em Desporto Faculdade de Desporto, Universidade do Porto **Laboratório de Biomecânica do Porto, Universidade do Porto (Portugal) |
Ana Sousa* Pedro Figueiredo* Paulo Vilas-Boas* ** Ricardo Fernandes* ** |
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Resumo A cinética do consumo de oxigénio depende essencialmente da intensidade a que o exercício é realizado. Todavia, os estudos referentes a esta temática são tradicionalmente conduzidos a intensidades distintas daquelas a que o desempenho desportivo acontece. Oito nadadores de nível internacional realizaram 200 metros crol à máxima velocidade, durante e após os quais se procedeu à recolha de gases expirados respiração-a-respiração através de um analisador de gás portátil (K4b2, Cosmed, Itália) conectado ao nadador através de um tubo e válvula respiratórios de baixa resistência hidrodinâmica. Os nadadores mais rápidos foram aqueles que durante o teste atingiram níveis de amplitude da componente rápida de consumo de oxigénio mais elevados, maiores valores de consumo de oxigénio e valores de lactato sanguíneo máximo superiores, e como tal, necessitaram de mais tempo para recuperar do esforço (valores mais elevados da constante temporal da componente rápida na fase de recuperação). Verificou-se que 78% da energia necessária para realizar o esforço máximo resultou de fontes aeróbias e os restantes 22% de fontes anaeróbias, reflectindo o papel preponderante do metabolismo aeróbio mesmo em esforços de alta intensidade e duração ~ 2 minutos. Unitermos: Consumo de oxigénio. Nadadores. Crol.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 173, Octubre de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Os estudos referentes à cinética do consumo de oxigénio (VO2) são tradicionalmente conduzidos a intensidades baixas e distintas daquelas a que o desempenho desportivo acontece, não sendo uma excepção em natação. Não entanto, a magnitude e natureza da cinética deste parâmetro fisiológico depende da intensidade a que o esforço é realizado. Neste sentido, é fundamental o estudo da cinética do VO2 a intensidades que reproduzam o desempenho desportivo máximo e em condições tão próximas quanto possível da competição. O objectivo do presente trabalho foi analisar a cinética do VO2 durante a prova de 200m crol, e ulterior recuperação, a intensidades máximas e em condições tão próximas quanto possível das condições reais de competição.
Metodologia
Oito nadadores de nível internacional realizaram, numa piscina de 25m, 200m crol à máxima velocidade, sem partida de blocos e com viragens abertas. Durante, e após, os 200m procedeu-se à recolha de gases expirados respiração-a-respiração através de um analisador de gás portátil (K4b2, Cosmed, Itália), o qual foi conectado ao nadador através de um tubo e válvula respiratórios de baixa resistência hidrodinâmica (Baldari et al., in press, Figura 1). Este aparato experimental situava-se suspenso a uma altura de 2m da superfície da água num cabo de aço, o que possibilitou seguir o nadador ao longo da piscina, minimizando as perturbações criadas aos movimentos do executante (Figura 1). O valor mais elevado de VO2, registado em períodos médios de 5s (Sousa et al., 2010), foi considerado representativo do VO2pico. As concentrações máximas de lactato sanguíneo capilar ([La-]max) foram determinadas através de um analisador portátil (Lactate Pro analyser, Arcay, Inc), a partir do lóbulo da orelha no final dos 200m (1º, 3º, 5º e 7ºmin de recuperação).
Figura 1. Painel A. Tubo e válvula respiratórios de baixa resistência hidrodinâmica utilizados.
Painel B. Aparato experimental utilizado para a recolha dos gases respiratórios
Para análise da cinética, durante a fase de esforço (equação 1) e de recuperação (equação 2), as curvas de VO2 foram modeladas considerando uma aproximação mono-exponencial:
Onde t é o tempo (s), Vb é o valor de VO2 no inicio do exercício (ml.kg-1.min-1), Aon/ Aoff são as amplitudes da componente rápida do VO2 (ml.kg-1.min-1), TDon/ TDoff são os tempos de início da componente rápida do VO2 (s), e o as constantes temporais da componente rápida do VO2 (s), na fase de esforço e recuperação, respectivamente. As contribuições dos sistemas energéticos foram determinadas considerando os valores de VO2pico e [La-]max na determinação das contribuições aeróbias e anaeróbias, respectivamente (Lafite et al., 2004). Para a análise estatística foi utilizado o programa SPSS (regressão linear) tendo sido estabelecido um nível de significância de 0.05.
Resultados e discussão
Os valores mínimos e máximos da velocidade, parâmetros ventilatórios, metabólicos e cinéticos obtidos nos 200m, e respectiva recuperação, são apresentados na Tabela 1.
Tabela 1. Valores mínimos e máximos da v, VO2pico, [La-]max, Aon, Aoff, TDon, ton, toff obtidos nos 200m e respectiva recuperação
Na Figura 2 é apresentada uma curva ilustrativa da cinética do VO2 de um nadador, quer no que respeita à fase de exercício quer à fase de recuperação, e respectivas contribuições energéticas obtidas durante os 200m crol.
Figura 2. Exemplo de uma curva da cinética do VO2 durante e após os 200m crol, estando identificado o período
de exercício, o período de recuperação, o valor mais elevado obtido e as respectivas contribuições energéticas
Verifica-se que, após o início da prova, o nadador alcançou de forma rápida e exponencial valores elevados de VO2, os quais foram mantidos durante todo o exercício. De facto, tratando-se de um teste rectangular, observa-se, logo após o início da prova, uma elevada intensidade de exercício, tendo a necessidade de oxigénio nos músculos despoletado um aumento súbito inicial do VO2. Este é traduzido pelos baixos valores de ton, os quais indicam que os nadadores demoraram, em média, 11s até atingirem o equilíbrio no VO2. Complementarmente, os altos valores de Aon e de VO2pico (~ 68 ml.kg-1.min-1) reflectem valores de VO2 elevados durante o período de equilíbrio. Na generalidade, os valores de VO2 obtidos em exercício corroboram a literatura para nadadores de elevado rendimento desportivo (Fernandes et al., 2006; Fernandes et al., 2008; Reis et al., 2010). Na fase de recuperação, verifica-se um decréscimo súbito no VO2, até os valores basais serem novamente alcançados (depois dos 250s), facto demonstrado pelos valores reduzidos de toff. Em resultado da diminuição súbita e instantânea dos valores de VO2, TDoff foi assumido como sendo zero.
Adicionalmente verificou-se que 78% da energia necessária para realizar 200m crol máxima velocidade resultou de fontes aeróbias e os restantes 22% de fontes anaeróbias, reflectindo o papel preponderante do metabolismo aeróbio mesmo em esforços de alta intensidade e duração ≈ 2min. Os valores encontrados para o metabolismo aeróbio são superiores a alguns estudos reportados na literatura (e.g. Capelli et al., 1998; Zamparo et al., 2000) e inferiores a outros (e.e Reis et al., 2010), podendo as diferenças encontradas dever-se à metodologia utilizada na determinação das percentagens de participação dos sistemas energéticos.
Complementarmente, foram encontradas várias correlações significativas entre os parâmetros ventilatórios, metabólicos e cinéticos estudados (Tabela 2).
Os nadadores que atingiram maiores velocidades nos 200m crol foram também aqueles que atingiram níveis mais elevados de VO2 e de [La-]max, corroborando estudos anteriores (Rodriguez et al., 2008). No que concerne à cinética do VO2, os nadadores mais rápidos foram aqueles que durante o período de esforço atingiram níveis de Aon mais elevados, maiores valores de VO2pico e valores de [La-]max superiores, e como tal, necessitaram de mais tempo para recuperar do esforço (valores mais elevados de toff). Não obstante o referido, apenas uma correlação inversa foi encontrada
Conclusões
Os resultados do presente estudo permitem estabelecer as seguintes conclusões: (i) o VO2pico é um bom preditor do rendimento desportivo dos 200m crol; (ii) a cinética do VO2 em intensidades elevadas pode ser um bom indicador do desempenho dos 200m crol; (iii) os nadadores mais rápidos são aqueles que necessitam mais tempo para recuperar, provavelmente devido aos valores mais elevados de [La-]max e de VO2 que atingem durante o esforço; (iv) a contribuição aeróbia nos 200m crol é dominante, não obstante a importância da contribuição anaeróbia, e, (v) para a distância de 200m crol, o treino da potência aeróbia deverá assumir preponderância no planeamento do treino para esta distância.
Referências bibliográficas
Baldari C, Fernades RJ, Meucci M, Ribeiro J, Vilas-Boas JP, Guidetti L. (in press). Validity of a New AquaTrainer® Snorkel for Gas Exchange Measurements. Int J Sports Med.
Fernandes RJ, Billat VL, Cruz AC, Colaço PJ, Cardoso CS, Vilas-Boas JP. Does net energy cost of swimming affect time to exhaustion at the individual’s maximal oxygen consumption velocity? J Sports Med Phys Fitness 2006; 46: 373-380.
Fernandes RJ, Keskinen KL, Colaço P, Querido AJ, Machado LJ, Morais PA, Novais D, Marinho D, Vilas-Boas JP. Time limit at VO 2max velocity in elite crawl swimmers. Int J Sport Med 2008; 29: 145-150.
Lafite P, Vilas-Boas JP, Demarle A, Silva A, Fernandes RJ, Billat VL. Changes in physiological and stroke parameters during a maximal 400-m free swimming test in elite swimmers. Can J Appl Physiol 2004; 29 (Suppl.): 17-31.
Reis VM, Marinho D, Policarpo FB, Carneiro AL, Baldari C, Silva AJ. Examining the accumulated oxygen deficit method in front crawl swimming. Int J Sport Med 2010; 31: 421-427.
Rodríguez F, Keskinen K, Keskinen O. Oxygen uptake kinetics during front crawl swimming. Arch Med Sport 2008; 25: 128.
Sousa A, Figueiredo P, Oliveira N, Oliveira J, Keskinen KL, Vilas-Boas JP, Fernandes RJ. Comparison between VO2peak and VO2max at different time intervals. Open Sports Sci J 2010; 3: 22-24.
Zamparo P, Capelli C, Cautero M, Di Nino A. Energy cost of front-crawl swimming at supra-maximal speeds and underwater torque in young swimmers. Eur J Appl Physiol 2000; 83: 487-491.
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