Associações entre níveis
auto-avaliados de motivação e desempenho Relaciones entre el niveles
autoevaluados de motivación y el rendimiento Associations between self-assessed
level of motivation and performance |
|||
* Aluna de Graduação em Psicologia da Universidade Regional de Blumenau **Aluna de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina *** Aluna do Mestrado em Educação da Universidade Regional de Blumenau **** Professor Doutor do Departamento de Psicologia da Universidade Regional de Blumenau (FURB) |
Mayara Montibeler* Gabriela Frischknecht** Fabiana Kuestner Gripa*** Carlos Roberto de Oliveira Nunes**** (Brasil) |
|
|
Resumo Este estudo identificou inter-relações entre auto-avaliações de desempenho esportivo e de motivação esportiva por atletas de um clube de Voleibol Feminino do Sul do Brasil. Participaram 39 atletas voluntárias, das categorias mirim, infantil, infanto-juvenil e adulta, que responderam, antes das sessões de treinamento, a inventários de auto-avaliação de desempenho esportivo e de motivação esportiva. As atletas das várias categorias apresentaram níveis muito próximos de respostas de auto-avaliação de desempenho esportivo e de motivação esportiva. No fator desempenho esportivo, as atletas se avaliaram, principalmente, como esforçadas, motivadas para jogar, alegres e integradas com o grupo. No fator motivação esportiva, foi destacado o desejo de serem vitoriosas, a confiança na equipe, a persistência e o desejo de serem treinadas e melhorarem suas capacidades. Conclui-se que a aprendizagem de identificação de critérios realistas de auto-avaliação esportiva podem se tornar alicerces para a organização de estilos de vida e de treinamento potencializadores do desenvolvimento esportivo. Unitermos: Voleibol. Desempenho esportivo. Motivação.
Abstract This study identified the interrelationships between Volleyball players sport performance self-ratings and motivation from a sport club of southern Brazil. 39 athletes from junior, infant, juvenile infant, juvenile and adult categories voluntarily participated, answered the self-assessment inventories of sport performance and sport motivation before the training sessions. Athletes from various categories had very close levels of answers about self-assessments, sport performance and sport motivation. Concerning sports performance, athletes are evaluated primarily as hardworking, motivated to play, happy and integrated with the group. About motivating sports, it was stressed the desire to be successful, the team confidence, persistence and desire to be trained and improve their capabilities. It follows that the learning realistic criteria identification of self-evaluation can become sports foundation for the lifestyle organization and training boosters of sports development. Keywords: Volleyball. Sports performance. Motivation.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 173, Octubre de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
1 / 1
Introdução
A motivação esportiva pode ser definida como a direção e a intensidade do esforço realizado por um atleta para o alcance de um objetivo (Weinberg e Gould, 2011). É considerada uma variável-chave para a aprendizagem e o desempenho, e pode afetar a seleção, a intensidade e a persistência do atleta na execução de treinamentos e competições (Rubio, 1999; Marouço, 2007). Deste modo, parece fundamental para a compreensão da participação do atleta nas atividades esportivas e de seu progresso de rendimento (Hernandez et al., 2004).
Os níveis de motivação podem variar de acordo com o momento vivido pelo atleta e/ou pela equipe. Por exemplo, em períodos de maior pressão, como em fases finais de campeonato, a motivação tende a elevar-se, enquanto em momentos em que a equipe se destaca e a motivação está elevada, jogos difíceis com situações de derrota podem refletir na sua diminuição (Deschamps e Rose Junior, 2006; Becker Junior e Samulski, 1998), talvez influenciando o desempenho esportivo subseqüente.
O desempenho esportivo pode ser entendido como a realização de rotinas ou procedimentos físicos específicos por uma pessoa treinada ou qualificada, e é influenciado por combinações de fatores fisiológicos, psicológicos e sócio-culturais (Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde, 2012). Portanto, é a ação esportiva, geradora de um resultado esportivo.
É esperado que o desempenho esportivo seja influenciado pelos hábitos e padrões de auto-avaliação realizados por atletas. Orlick e Partington (1988) descobriram que atletas de elite se avaliam mais freqüentemente e de forma mais detalhada do que atletas com menores históricos de vitórias esportivas, bem como, mais freqüentemente estabelecem objetivos específicos para as sessões de treinamento, especialmente voltadas às suas capacidades atuais menos desenvolvidas.
Este trabalho objetivou levantar e identificar inter-relações entre as auto-avaliações de (a) desempenho esportivo e (b) motivação esportiva entre atletas de Voleibol Feminino de um clube esportivo de uma cidade da região sul do Brasil.
Metodologia
Participantes
Participaram, voluntariamente, 39 atletas sexo feminino de uma cidade do sul do Brasil, com idades entre 13 e 28 anos (=16,8, s=2,8), pertencentes às equipes das categorias mirim (8 atletas), infantil (13 atletas), infanto-juvenil (9 atletas) e adulta (9 atletas).
O grupo de atletas informou apresentar experiência de prática continuada de Voleibol de 2 a 18 anos (= 6,58 ± s=3,35), com início, em média, com 10,44 anos de idade. A maioria delas (59%) jogou apenas pela equipe da cidade. A proporção restante jogou em dois (23,1%), quatro (7,7%), cinco (2,6%), seis (5,1%) e oito (2,6%) clubes diferentes.
Instrumentos
Foi apresentado um questionário de informações pessoais, no qual as atletas indicavam sua idade, em que categoria jogam, com que idade começaram a jogar, tempo de prática de voleibol, se joga “profissionalmente” e há quanto tempo, e em quantos clubes já jogou. De acordo com a metodologia empregada por Gaertner (2002), foram utilizados os inventários de Desempenho Esportivo e Motivação Esportiva.
O Inventário de Motivação Esportiva foi adaptado por Gaertner (2002) a partir do instrumento desenvolvido por Tutko, Ogilvie e Lyon (1969), e o Inventário de Auto-Avaliação de Desempenho Esportivo foi adaptado do Instrumento de Avaliação de Perfil Psicológico para Atletas de Brandão (1993).
Os dois inventários apresentam afirmações relacionadas aos construtos avaliados - juntamente com frases curtas de explicação destas afirmações -, para as quais os respondentes devem apresentar auto-avaliações dentro de uma escala que apresenta as graduações: 1, fraco; 2, regular; 3, bom; 4, muito bom; e 5, excelente. O Inventário de desempenho esportivo apresenta 25 afirmações, e o de motivação esportiva, 11 afirmações.
As alterações realizadas no Inventário de Motivação Esportiva são: 1. O inventário apresenta uma afirmação específica sobre autoconfiança, e na afirmação sobre agressividade, aparecem como explicações os termos “obstinada, autoconfiante, durona, toma iniciativas”. Optou-se pela retirada do termo “autoconfiante”, na explicação. 2. Há uma questão sobre “desenvolvimento consciente”, cuja explicação é “realiza tarefas com assertividade dentro das normas estabelecidas”. Optou-se pela retirada do texto “com assertividade”. 3. Há uma questão sobre força mental, cuja explicação é “objetiva, decidida, positiva”, cujo texto foi substituído por “otimista e decidida” No Inventário de Desempenho Esportivo, a expressão “Nível de assertividade na tomada de decisões” foi substituída por “Freqüência de acertos nas tomadas de decisões”.
A análise da consistência interna dos inventários após as alterações, realizada através do cálculo do Alfa de Cronbach, revelou valores de 0,8549, para o Inventário de Desempenho esportivo, e 0,7540, para o Inventário de Motivação Esportiva. Portanto, como os valores foram superiores a 0,7, os instrumentos mantêm consistência interna adequada para as avaliações (Cronbach, 1990).
Procedimentos
As coletas dos dados ocorreram antes das sessões de treinamento das equipes, ao lado das próprias quadras de Voleibol. Os pesquisadores agiram de forma padronizada, indicando realizar uma investigação em Psicologia sobre a auto-avaliação das atletas a respeito de seu desempenho esportivo e de sua motivação esportiva, sendo o objetivo da pesquisa identificar se há relação entre estes fatores.
Era solicitada a colaboração voluntária das participantes, e se afirmava que as informações pessoais seriam mantidas em sigilo durante todo processo. Os inventários eram entregues juntamente com um lápis, para cada atleta, e lidos por elas em silêncio. Depois se indicava que se alguma não quisesse participar, este seria o momento de devolver os instrumentos e se retirar, o que não aconteceu com nenhuma das atletas. A seguir era perguntado se havia alguma dúvida de compreensão dos instrumentos. Se houvesse, era respondido individualmente e de forma sucinta. As atletas respondiam os instrumentos, e os devolviam assim que encerravam a tarefa. Quando todas entregavam suas respostas, era realizado o agradecimento pela colaboração, e a indicação de que receberiam uma cópia do artigo produzido, quando estivesse pronto.
Para se evitar o efeito de ordem sobre as respostas dos inventários, todas as atletas receberam o questionário de informações pessoais como primeira folha, sendo que os dois outros eram entregues em ordem aleatória.
Uma vez que os instrumentos apresentam informações avaliadas em escalas nominal e ordinal, ferramentas estatísticas não paramétricas foram utilizadas para análise dos dados (Siegel e Castellan, 2006). Pela mesma razão, utilizaram-se a mediana, os quartis e a amplitude como medidas de tendência central e de dispersão (Levin, 1987), sendo que a média aritmética e o desvio padrão que seriam restritos a dados intervalares, foram utilizados quando facilitaram as interpretações dos resultados.
Resultados
Para fins de síntese dos resultados da aplicação dos inventários, foram somadas as respostas de cada atleta, para cada instrumento, constituindo dois vetores representativos das auto-avaliações gerais de desempenho esportivo e motivação esportiva.
Nos Box Plots (Gráfico 1), as caixas fechadas representam os espaços amostrais ocupados por 50% dos participantes, a linha central em negrito representa as medianas dos respectivos grupos, e as antenas mostram os valores máximos e mínimos apresentados pelos grupos. O gráfico 1 sintetiza as distribuições amostrais dos grupos Mirim (1.00 na abscissa), Infantil (2.00), Infanto-Juvenil (3.00) e Adulto (4.00), quanto aos critérios de auto-avaliação de desempenho esportivo e motivação esportiva.
A interpretação do Gráfico 1 sugere não haver diferenças significativas entre as equipes das quatro categorias quanto ao conjunto de respostas apresentadas a cada um dos dois inventários, visto que os níveis apresentados pelas medianas, quartis e amplitudes dos dados são similares. Os níveis de respostas dos grupos das quatro categorias para os resultados gerais dos inventários de auto-avaliação de desempenho esportivo, e de motivação esportiva foram comparados, dentro de cada inventário, através da prova de Kruskall-Wallis (Siegel e Castellan, 2006). O teste não indicou diferenças significantes entre os grupos para qualquer um dos fatores avaliados (respectivamente, p= 0,123 e p= 0,912), o que é coerente com as informações apresentadas no gráfico 1.
Gráfico 1. Somatórios de respostas apresentadas pelos participantes dos grupos Mirim, Infantil, Infanto-Juvenil e
Adulto nas escalas dos Inventários de Auto-avaliação de Desempenho Esportivo, e de Motivação Esportiva.
Foi realizada a comparação entre as respostas apresentadas pelas atletas dos quatro grupos para cada questão dos dois inventários, através da prova de Kruskall-Wallis. Houve diferenças estatisticamente significantes em quatro, das trinta e seis questões (p<0,05).
Pode ser observado (Tabela 1) que a equipe adulta apresentou níveis mais baixos do que outras equipes, para as auto-avaliações de energia positiva e determinação. A equipe infanto-juvenil apresentou os níveis mais baixos de motivação para ser vitoriosa e motivação para acreditar nas pessoas da equipe, mas os níveis mais altos de auto-avaliação de energia positiva e determinação. A equipe infantil apresentou os níveis mais altos de motivação para ser vitoriosa e para acreditar nas pessoas da equipe. Para análise dos resultados apresentados nesta tabela, a consideração das médias e desvios padrões pareceu ser mais informativa do que aquelas equivalentes não paramétricas.
Tabela 1. Níveis de respostas apresentadas pelas atletas das quatro categorias, nas questões que
apresentaram diferenças estatisticamente significantes, para auto-avaliação de desempenho esportivo
Dada a forte similaridade dos padrões de resposta apresentada pelas atletas das várias categorias, a partir daqui, consideraremos as quatro equipes como uma amostra única. Através da prova de Análise de Variância por Postos de Friedman (Siegel e Castellan, 2006) verificou-se que a amostra total de atletas (de todas as categorias, conjuntamente) respondeu diferentemente às várias questões, dentro de cada inventário. Os resultados foram estatisticamente significantes (p<0,001) para os dois instrumentos.
As comparações par a par entre os níveis de respostas que o conjunto de atletas apresentou às várias questões de cada inventário foram realizadas através do teste de Wilcoxon. Separou-se, a partir da linha próxima das medianas do conjunto de respostas das questões de cada inventário, o subgrupo com níveis mais altos de respostas do subgrupo com níveis mais baixos. A separação dos subgrupos foi estabelecida através da identificação da menor diferença significante entre a questão avaliada com menores pontuações do subgrupo superior, em relação à questão avaliada com maiores pontuações do subgrupo inferior.
A Tabela 2 mostra, em escala decrescente, os níveis de respostas apresentadas pelas atletas às questões do Inventário de Desempenho Esportivo. Esta tabela divide as questões em três grupos, separados por duas linhas horizontais. Os grupos foram separados segundo o critério de que os níveis de respostas de auto-avaliação de motivação para treinar não foram estatisticamente diferentes dos níveis de autoconfiança e rendimento nos jogos, mas foram (p<0,05) do de atenção e concentração, bem como das demais questões cujas atletas apresentaram auto-avaliações mais baixas.
Pode ser observado (Tabela 2), que as características que as atletas apresentaram níveis mais altos de auto-avaliação nas respostas ao Inventário de Desempenho Esportivo foram, em ordem decrescente, esforço, motivação para jogar, alegria, integração com o grupo, determinação, coragem, cooperação com o grupo, comunicação com o grupo, energia positiva e motivação para treinar. De outro lado, as características que elas apresentaram níveis mais baixos de auto-avaliação foram, em ordem crescente, estresse, flexibilidade, antecipações de ações, velocidade, explosão, freqüências de acertos nas tomadas de decisões, equilíbrio emocional, força, tempo de reação, desempenho técnico, aplicação tática, rendimento nos treinos e atenção e concentração.
Tabela 2. Níveis de respostas de auto-avaliação às questões do Inventário de Desempenho Esportivo
A Tabela 3, relativa às auto-avaliações de motivação esportiva, foi construída conforme a lógica de raciocínio utilizado para a produção da Tabela 2. As respostas para o “desejo de ser treinada e melhorar suas capacidades”, e as demais indicadas acima na tabela, foram estatisticamente superiores à motivação para “assumir as responsabilidades e aceitar as culpas individuais e do grupo”, assim como às outras questões que aparecem abaixo na tabela (p< 0,05). Pode ser observado (Tabela 3) que os itens de Motivação Esportiva auto-avaliados em níveis mais altos pelas atletas foram, em ordem decrescente: o “desejo de ser vitoriosa”, a “crença e aceitação das pessoas da equipe”, a “persistência”, e o “desejo de ser treinada e melhorar suas capacidades”. As questões com níveis mais baixos de resposta de auto-avaliação motivacional foram, em ordem decrescente, aquelas relativas à motivação para ser “obstinada, durona e tomar iniciativas”, apresentar “autocontrole emocional” e “assumir, tomar decisões e se encarregar dos outros”. Para este último grupo de respostas, as participantes apresentaram níveis de auto-avaliação estatisticamente inferiores, em relação a todas as outras questões do inventário (p<0,05).
Tabela 3. Níveis de respostas de auto-avaliação às questões do Inventário de Motivação Esportiva
Discussão
No que tange à auto-avaliação de desempenho esportivo, as atletas da amostra de Gaertner (2002), que eram participantes da principal competição de Voleibol do Brasil, apresentaram um valor médio de 4,00 pontos, com desvio padrão de 0,54, no conjunto das respostas ao respectivo inventário. Estes valores são muito próximos daqueles obtidos com a amostra desta pesquisa; isto é, média de 3,91, desvio padrão de 0,40. No mesmo sentido, o Gráfico 1 mostrou que as atletas deste estudo apresentaram, comparativamente entre as equipes, respostas similares à maioria das questões dos inventários. Houve diferenças apenas em quatro das trinta e seis questões avaliadas. Deste modo, apesar dos níveis de jogos destas equipes certamente não serem equivalentes, suas auto-avaliações de desempenho esportivo foram.
Este padrão de respostas é compatível com a noção de que as auto-avaliações dos níveis de eficiência são construídas de acordo com a percepção da existência de níveis ascendentes de habilidades esperadas a serem desenvolvidas por atletas, à medida que evoluem nas categorias esportivas. Ou seja, o que é entendido como bom nível técnico numa categoria, não necessariamente o será em outra categoria. Este resultado parece óbvio, mas o interessante é que se reflete nas auto-avaliações das atletas.
As atletas das diferentes equipes parecem não utilizar parâmetros objetivos comuns para se avaliarem, mas parâmetros provavelmente relacionados à idade e ao tempo de pratica esportiva, e possivelmente também relacionados aos níveis esperados das equipes adversárias da mesma categoria. Pode-se inferir que diferentes níveis de expectativas de auto-eficácia (Bandura, 1995) parecem influenciar os padrões de respostas apresentadas aos inventários de auto-avaliação de desempenho esportivo.
Neste sentido, pesquisas posteriores poderão mostrar quais seriam os níveis e qualidades de respostas esperados a serem apresentadas por atletas de Voleibol de diferentes categorias.
A maior parte das diferenças encontradas, entre as equipes, nos padrões de respostas aos inventários, parece ter relação com fatores situacionais vividos no período de coleta dos dados desta pesquisa.
A equipe adulta mostrou valores mais baixos do que as demais para os níveis de auto-avaliação de energia positiva e determinação. No período de coleta de dados, a equipe questionava condutas de comando do técnico a respeito da organização e dos níveis das sessões de treinamento.
A equipe infanto-juvenil apresentou níveis mais baixos de motivação para ser vitoriosa do que as demais. Este padrão de resultado provavelmente ocorreu visto que esta equipe foi a única, entre as quatro, que já havia disputado seu campeonato estadual, poucos dias antes da coleta de dados, tendo conquistado o título de campeã estadual. Portanto, este resultado pode ser explicado pelo estado de relaxamento. Do mesmo modo, este fato parece se associar aos altos níveis de energia positiva e determinação desta equipe infanto-juvenil.
As duas equipes mais jovens mostraram padrões mais altos de confiança nas pessoas da equipe do que as equipes mais velhas. Este resultado se associa, provavelmente, com a menor experiência competitiva daquelas equipes, bem como, com os menores níveis de cobrança adotados sobre elas, quando comparados às equipes mais velhas. Estas cobranças e responsabilidades podem se associar à geração de competições internas por posições entre os membros das próprias equipes.
Gaertner (2002) destacou cinco qualidades auto-avaliadas nos extremos de maiores e menores valores médios apresentados, nas respostas a cada um dos três inventários aplicados em sua pesquisa. No atual trabalho, o critério utilizado foi de se discriminar a partir das diferenças estatísticas significantes entre os valores extremos, de modo que o número de variáveis destacadas foi bem superior àquele apresentado por Gaertner.
Nas auto-avaliações de desempenho esportivo, as atletas de Gaertner (2002) indicaram maiores destaques, respectivamente, para motivação para jogar, esforço, nível de energia positiva, nível de cooperação com o grupo e determinação. As atletas da presente pesquisa se consideraram primordialmente como esforçadas, motivadas para jogar, alegres, integradas com o grupo, determinadas, corajosas, cooperadoras, comunicadoras, como tendo energia positiva, e como sendo motivadas para treinar.
Nos níveis mais baixos de respostas de auto-avaliação de desempenho esportivo, os fatores estresse, flexibilidade, antecipações de ações, velocidade, explosão, freqüências de acertos nas tomadas de decisão, equilíbrio emocional, força, tempo de reação, desempenho técnico, aplicação tática, rendimento nos treinos e atenção e concentração foram indicados em ordem crescente. Na pesquisa de Gaertner (2002), os fatores auto-avaliados com valores mais baixos foram, respectivamente, velocidade, estresse, explosão, antecipação das ações e desempenho técnico.
Houve diferenças entre as ordens dos itens de auto-avaliação, apesar de que todos os itens auto-avaliados com valores altos e baixos na pesquisa de Gaertner (2002), também o foram na atual. Possivelmente, as diferenças nas ordens dos fatores de auto-avaliação podem estar relacionadas à maior maturidade esportiva das atletas de Gaertner, cuja equipe disputava a Superliga Nacional de Voleibol, e cujos fatores auto-avaliados fortemente se direcionaram para o alto rendimento esportivo, enquanto a atual se mostrou paralelamente influenciada por fatores de coesão grupal.
Pesquisas posteriores poderão investigar os fatores determinantes do ordenamento dos itens de auto-avaliação de desempenho esportivo. Parece, de forma mais específica, haver um campo de pesquisa potencial sobre as associações entre o desempenho esportivo, levantado, por exemplo, através da aplicação do instrumento apresentado por Collet e colaboradores (2011), com fatores de auto-avaliação, de modo a se identificar, por exemplo, quais seriam os fatores de auto-avaliação que, se priorizados, potencializariam de forma mais eficaz as capacidades esportivas dos atletas.
No que tange à auto-avaliação de motivação esportiva, houve similaridade entre os padrões apresentados pelas atletas das diferentes equipes deste estudo. Isto é esperado, visto que todas as equipes são competitivas em nível amador estadual, com forte ênfase de participação em competições escolares e universitárias, e de participação continuada das atletas em suas respectivas atividades acadêmicas. Ou seja, as equipes operam com objetivos semelhantes, mas graduados às suas respectivas categorias.
Esta similaridade de níveis motivacionais entre atletas de diferentes categorias também foi constatada por Campos e colaboradores (2011), que só encontrou diferenças significantes entre níveis de motivação esportiva em uma dentre sete dimensões de motivação comparadas. No estudo de Campos e colaboradores (2011), os atletas da categoria Mirim apresentaram níveis mais altos de avaliação para o fator “Afiliação” do que os atletas mais velhos. Do mesmo modo, na presente pesquisa, as atletas Mirins indicaram confiar mais nas outras pessoas da equipe do que as atletas mais velhas.
A amostra de atletas de Gaertner (2002) apresentou um valor médio de 4,45, desvio padrão de 0,45, pontos nas respostas ao Inventário de Motivação Esportiva, enquanto a amostra atual apresentou um valor médio de 4,13, desvio padrão de 0,41, pontos na mesma escala. Estes dados sugerem que o grupo atual apresentava-se menos motivado para a prática esportiva de Voleibol do que o grupo de Gaertner (2002).
Novamente, deve ser considerado que este grupo era composto, em sua grande maioria, por atletas adultas (apenas duas com menos de 18 anos), de alto rendimento esportivo, e que provavelmente, tinham no Voleibol, seus meios de subsistência e “projetos de vida profissional”. O grupo da atual pesquisa é composto por atletas escolares e universitárias, cujas dependências dos rendimentos financeiros derivados da prática de Voleibol muito provavelmente são menores, bem como as cobranças de resultados.
No grupo atual da pesquisa, a auto-avaliação dos fatores de motivação esportiva mostrou ênfases nos desejos de vitoria, manter coesão grupal e de treinar e melhorar suas capacidades. De outro lado, as atletas mostraram-se menos motivadas para apresentar autocontrole emocional e para assumir posições de liderança. Na pesquisa de Gaertner (2002), os fatores mais acentuados de auto-avaliação de motivação esportiva foram, respectivamente, desejo de ser vitorioso, desejo de ser treinado e ampliação de capacidades, e determinação (persistência, vestir a camisa). Já os menos acentuados foram liderança, autocontrole emocional e autoconfiança (segurança em si mesmo em habilidades próprias). Em síntese, os dois grupos mostraram-se similares em relação aos fatores mais e menos avaliados de motivação esportiva.
O instrumento utilizado para avaliação de motivação esportiva, nesta pesquisa, priorizou os componentes de auto-avaliação dos níveis motivacionais para diferentes dimensões da prática esportiva. Os resultados aqui obtidos foram semelhantes àqueles apresentados por Campos e colaboradores (2011), no sentido de apontar fatores ligados às condições técnicas de jogo e participação em grupos, como os elementos motivadores. Na atual pesquisa, o fator “Saúde” não foi abordado no instrumento utilizado.
A monitoração das próprias habilidades e o estabelecimento de objetivos de treinamento são fatores diretamente relacionados ao desenvolvimento esportivo de atletas de elite (Orlick e Partington, 1988). Porém, para que os atletas possam realizar este monitoramento, precisam aprender a identificar e avaliar diferentes capacidades esportivas, bem como, a reorganizar suas ações, hábitos, e estados emocionais no sentido de expandir suas próprias capacidades, preferencialmente utilizando-se de estratégias auto-motivadoras.
Desta forma, quanto mais ampla e realista for a capacidade do atleta para discriminar os diferentes fatores técnicos, táticos, físicos e psicológicos envolvidos no desempenho esportivo, maior for sua prontidão para avaliar e compreender seu processo de evolução esportiva, e para apresentar uma organização de hábitos que potencialize seu desenvolvimento esportivo, maior deverá ser sua capacidade de apresentar alto rendimento esportivo.
Em tese, o desenvolvimento esportivo de um atleta será fortemente influenciado pela monitoração do desenvolvimento de suas próprias capacidades, por suas auto-avaliações, e pela identificação precisa das habilidades e condições de aptidão física que exigem priorização para aprimoramento. Estes fatores, podem se constituir alicerces para a organização de estilos de vida e de rotinas de treinamento potencializadores do desenvolvimento esportivo.
Agradecimentos
Projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina.
Referências
Bandura, A. (1995). Self-efficacy in changing societies. New York: Cambridge University Press.
Becker Junior, B.; Samulski, D. M. (1998). Manual de treinamento psicológico para o esporte. Novo Hamburgo: Feevale.
Brandão, M. R. (1993). Perfil psicológico: uma proposta para avaliar atletas. Revista Brasileira de Ciência e Movimento. 7(2), 16-27.
Campos, Lívia Tavares da Silva, Vigário, Patrícia dos Santos, & Lürdof, Sílvia Maria Agatti. (2011). Fatores motivacionais de jovens atletas de vôlei. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, 33(2), 303-317.
Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (2012). DECS. Desempenho Esportivo. Disponível em: http://decs.bvs.br/cgi-bin/wxis1660.exe/decsserver/?IsisScript=../cgi-bin/decsserver/decsserver.xis&interface_language=p&previous_page=homepage&previous_task=NULL&task=start . Acesso em 09 de agosto de 2012.
Collet, Carine, Nascimento, Juarez Vieira do, Ramos, Valmor, & Stefanello, Joice Mara Facco. (2011). Construção e validação do instrumento de avaliação do desempenho técnico-tático no voleibol. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano, 13(1), 43-51.
Cronbach, L.J. (1990). Essentials of psychological testing. 5ª ed. New York: Harper and Row.
Delaney, W., e Lee, C. (1996). Self-esteem and sex roles among male and female high school students: Their relationship to physical activity. Australian Psychologyst, 30(2), 84-87.
Deschamps, S. R.; Rose Junior, D. (2006). Os aspectos psicológicos da personalidade na motivação no voleibol masculino de alto rendimento. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, N° 74. http://www.efdeportes.com/efd92/motiv.htm
Gaertner, G. (2002) Psicologia Somática aplicada ao esporte de alto rendimento. Dissertação de Mestrado Não-Publicada, Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina.
Godoy, R. F. (2002). Benefícios do Exercício Físico sobre a Área Emocional. Movimento. 8(2), 7-16.
Hernandez, J. A. E.; Voser, R. C.; Lykawka, M. G. A. (2004). Motivação no esporte de elite: comparação das categorias do futsal e futebol. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 77. http://www.efdeportes.com/efd77/motiv.htm
Kirshton, J. M., e Dixon, A., C. (1995). Self-perception changes among sports camp participants. Journal of Social Psychology, 135(2), 135-141.
Levin, J. (1987) Estatística aplicada a ciências humanas. 2. ed. São Paulo: Harbra.
Morouço, P. (2007). Avaliação dos factores psicológicos inerentes ao rendimento: estudo realizado em nadadores cadetes do distrito de Leiria. O Portal dos Psicólogos Disponível em: http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0350.pdf Acesso em: 11 out 2011.
Moraes, A. (2006). Motivação para treinamento esportivo. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 94. http://www.efdeportes.com/efd94/motiv.htm
Moreno, R. M.; Dezan, F.; Duarte, L. R.; Schwartz, G. M. (2006). Persuasão e motivação: interveniências na atividade física e no esporte. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº103. http://www.efdeportes.com/efd103/motivacao.htm
Niedenthal, P. M., e Beike, D. R. (1997). Interrelated and isolated selfconcepts. Personality and Social Psychology Review, 1(2), 106-128.
Orlick, T. e Partington J. (1988). Mental links to excelence. The sport psychologist. 2, 105-130.
Platonov, V. N. (2004). Teoria Geral do Treinamento Desportivo Olímpico. Porto Alegre: Artmed.
Rubio, K. (1999). A psicologia do esporte: histórico e áreas de atuação e pesquisa. Psicol. cienc. prof. v.19, n.3.
Samulski, D, M. (1995) Psicologia do esporte: teoria e aplicação prática. Belo Horizonte: Imprensa Universitária.
Santos, J.; Moro, A. R.; Takase, E.; Xavier, A. J.; Alves, J. B. M.; Souza, G. M.; Benetti, G. M. F. (2005). Programa de auxílio cognitivo (PAC) para atletas. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 84. http://www.efdeportes.com/efd84/pac.htm
Siegel, S.; Castellan, N. J. (2006). Estatística não-paramétrica para as ciências do comportamento. 2. ed. Porto Alegre : Artmed.
Tamayo, A.; Campos, A. P. M.; Matos, D. R.; Mendes, G. R.; Santos, J. B.; Carvalho, N. T. (2001). A influência da atividade física regular sobre o autoconceito. Estudos de Psicologia. 6(2), 157-165.
Tomé, T. H. e Valentini, N. C. (2006). Benefícios da atividade física sistemática em parâmetros psicológicos do praticante: um estudo sobre ansiedade e agressividade. Revista da Educação Física/UEM. 17(2), 123-130.
Tutko, T. ; Lyon, L. P.; Ogilvie, B. C. (1969). Athletic motivation inventory. San José, CA : Institute for the study of athletic motivation.
Weinberg, R. S. e Gould, D. (2001) Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. 2ªed. Porto Alegre: Artmed
Yoshinaga, K. e Prodócimo, E. (2004). Análise da influência do vôlei no auto-conceito de adolescentes femininas. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, N° 74. http://www.efdeportes.com/efd74/conceito.htm
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista
Digital · Año 17 · N° 173 | Buenos Aires,
Octubre de 2012 |