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Estudo comparativo das atividades desempenhadas
por pacientes hansenianos

Estudio comparativo de las actividades que realizan enfermos de lepra

 

Graduada em Enfermagem pela Universidade Professor Antônio Carlos (UNIPAC) Ubá

Mestre pela Facultad de Cultura Física de Matanzas, Cuba.

**Graduado em Fisioterapia pela Universidade Católica de Petrópolis

Especialista em ergonomia pela Universidade Gama Filho

Mestre pela Facultad de Cultura Física de Matanzas, Cuba

Nádia Aparecida Soares Diogo*

Andrês Valente Chiapeta**

andreschiapeta@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A hanseníase é doença infecciosa, causada pelo Mycobacterium leprae, um parasita intracelular obrigatório. Esta doença pode se manifestar sob amplo espectro clínico e possui alto potencial incapacitante afetando principalmente a pele, mucosas e nervos. As incapacidades na hanseníase refletem na qualidade de vida (QV) e no desempenho funcional (DF) dos acometidos pela patologia e para isso, faz-se necessário, uma avaliação das atividades desempenhadas na vida diária. Como subsídio foi utilizado a Escala SALSA – Triagem de Limitações de Atividades e Consciência de Risco, instrumento desenvolvido para ser aplicado a portadores de neuropatias periféricas. A partir da aplicação sistematizada deste instrumento, é possível observar as limitações encontradas para realizar as atividades do cotidiano e assim, propor intervenções direcionadas para evitar a progressão da incapacidade, o que reflete em uma restrição social e deficiente qualidade de vida.

          Unitermos: Hanseníase. Escala SALSA. Qualidade de vida.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 173, Octubre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A hanseníase é uma enfermidade de importância nacional, colocando o Brasil em segundo lugar no mundo pelos elevados coeficientes de incidência e prevalência acarretando prejuízos físicos, psicológicos e principalmente sociais, levando a temidos preconceitos por suas deformidades e incapacidades. É uma doença infecto-contagiosa crônica e curável, causada pelo Micobacterium leprae ou bacilo de Hasen que possui alto potencial incapacitante afetando principalmente a pele, mucosas e nervos (ARAÚJO, 2003).

    Em relação ao tratamento, os pacientes são classificados em dois grupos: Paucibacilares e Multibacilares, devendo receber o tratamento adequado.

    Conforme citado pelo Ministério da Saúde - BR (2002) a principal forma de contágio da hanseníase é através da relação inter-humana, de contato próximo como na convivência familiar e destaca-se que a principal via de eliminação dos bacilos é a via aérea superior, sendo também a mais provável via de entrada do agente etiológico.

    Por ser a hanseníase, uma patologia marcada por suas deformidades incapacitantes, nos leva conceituar “Incapacidades”. Para Gonçalves (1979) “incapacidades se revelam como todas as alterações anatômicas ou fisiológicas num indivíduo, que impede ou dificulta, total ou parcialmente, de modo permanente ou temporário, uma atividade e/ou convivência social normal”.

    Neste contexto, a abordagem sobre as incapacidades na hanseníase reflete na qualidade de vida (QV) e no desempenho funcional (DF) dos acometidos pela patologia.

    É certo que o DF declina-se com a progressão da idade. Essa perda progressiva de funcionalidade sem intervenções adequadas pode gerar limitações que afetam não somente o indivíduo, mas, também, a sua família e os serviços de atenção à saúde.

    Considerando o processo de perda das capacidades físicas, dos pacientes de hanseníase, a QV é uma importante medida para tomada de decisão clínica e avaliação da eficácia de tratamentos.

    Segundo Campos (2008) não existe um consenso sobre a definição de qualidade de vida. Numa tentativa de descrevê-la, a qualidade de vida se insere em um conceito genérico, sendo este, portador de uma acepção mais ampla, aparentemente influenciada por estudos sociológicos, sem fazer referências a disfunções ou agravos. Em contrapartida, a qualidade de vida é descrita numa segunda tendência, esta por sua vez, ligada à saúde e neste caso engloba dimensões mais específicas, retratando a concepção do indivíduo em sua posição de vida, no contexto da cultura, dos valores em que vive, suas expectativas, padrões e percepções.

    Martins (2009) citando a OMS (1993) revela a natureza multifatorial da qualidade de vida, a partir de cinco domínios: saúde física; saúde psicológica; nível de independência (em aspectos de mobilidade, atividades diárias, dependência de autocuidados e de capacidade laboral); relações sociais e meio ambiente.

    Dessa forma, a qualidade de vida dos pacientes hansenianos merece atenção por parte dos profissionais de saúde. Avaliar tanto as habilidades preservadas quanto os níveis de incapacidades já instaladas ajudam a determinar ações que poderão ser tomadas pela equipe de saúde em benefício destes pacientes.

    Uma das formas de se intervir no declínio do DF e da percepção de QV que acompanham a hanseníase e principalmente os que envelhecem com as seqüelas da patologia, podem estar presentes a prática regular dos exercícios físicos para ganhos de força muscular, melhora do equilíbrio e do desempenho na marcha, aumento da flexibilidade; uso de órteses; cuidados pessoais de hidratação e lubrificação das mãos, dentre outros. Estes são fatores que proporcionam uma maior independência aos indivíduos para realizar suas atividades de vida diárias. Também é de consenso os seus benefícios psicológicos, como melhora da auto-estima e da auto-confiança, repercutindo numa melhora da QV.

    Pensando nisso, a proposta do trabalho envolve a avaliação de atividades desempenhadas na vida diária dos pacientes hansenianos, através da Escala SALSA – Triagem de Limitações de Atividades e Consciência de Risco.

    A escala SALSA, desenvolvida para ser aplicada a portadores de neuropatias periféricas é um instrumento padronizado que fornece um escore total para limitação de atividade. Consiste em 20 itens, que avaliam presença de limitações dentre os domínios de mobilidade, auto cuidado, trabalho e destreza. A soma dos valores obtidos resulta em um escore, que varia de 10 a 75. Um escore baixo indica pouca dificuldade relacionada a atividades da vida diária, enquanto escores mais altos indicam níveis crescentes de limitação de atividade.

    Para o estudo, nos interessaram apenas as atividades que avaliam o autocuidado, trabalho e destreza das mãos, atividades 6 a 20. Este interesse se dá pelo fato da mão como órgão, ser o espelho de nossas respostas, das mais sutis às mais operantes; apresenta anatomia de preensão, de movimentos finos e discricionários, revela o homem em seu estado emocional, físico e social. Com suas funções neurais preservadas, elas se destacam como protagonistas de trabalhos rotineiros que integram o homem à sociedade e o torna produtivo.

    Contudo, a escala foi aplicada à pacientes hansenianos com comprometimentos (leve, moderado e grave) já instalados em membros superiores, justificando a necessidade de uma intervenção preventiva reabilitadora, a fim de manter ou reintegrar estes pacientes às atividades diárias.

    O estudo tem por objetivo avaliar através da escala SALSA, a limitação de atividades manuais em pacientes hansenianos no decorrer de um ano. Tais pacientes, não se submeteram a intervenções para melhoria destas habilidades durante este período.

Material e métodos

Caracterização da amostra

    Para a realização deste estudo foram avaliados 35 pacientes ex-hansenianos, inteiramente voluntários, com incapacidades instaladas em membros superiores/mãos, com idade de 50 a 81 anos, sendo 20 homens e 15 mulheres pertencentes a um Centro de Atendimento Domiciliar, na cidade de Ubá, Minas Gerais.

    Como procedimento foi realizado uma primeira avaliação utilizando a escala SALSA, no mês de abril do ano 2009, abordando as atividades como o auto cuidado, trabalho e destreza manuais, correspondendo às perguntas 06 a 20. No ano de 2010, no mês de maio, foram entrevistados os mesmos 35 pacientes ressaltando as mesmas atividades da escala SALSA abordadas anteriormente, a fim de correlacionar o primeiro momento com o segundo.

    Para análise dos dados, foi utilizado da estatística descritiva e analítica. As variáveis refletem dimensões qualitativas em uma escala quantitativa; foram descritas em função de sua média e desvio padrão.

Resultados e discussão

    Os resultados obtidos mostraram que, a carência de intervenções para reabilitação ou prevenção de incapacidades motoras, acarretou em um aumento das restrições ao realizar as atividades rotineiras para a maioria dos pacientes (valor p < 0,001). O observado é exposto:

Tabela 1. Avaliação em um primeiro momento (2009) e em um segundo momento (2010) – (n=35)

    As intervenções sistematizadas têm sido apontadas, como fator essencial considerando as condições físicas do paciente acometido pela hanseníase, o que é permitido avaliar, através da escala adotada para o estudo. As intervenções tratam-se, de um intermédio para a aquisição de funcionalidades e precaução das deformidades, principalmente, quando aliadas ao tratamento adequado e diagnostico precoce.

    Para Costa et al (2006), a escala SALSA avalia aspectos como mobilidade, auto cuidado, destreza e trabalho manual. Todos esses domínios envolvem atividades rotineiras e, em sua maioria, exigem funções neurais preservadas. Neste contexto, abordar a involução da capacidade produtiva dos pacientes foi significante para alertar aos profissionais cuidadores da saúde, a estarem atuando através de intervenções conduzidas para melhora da funcionalidade e qualidade de vida destes pacientes.

    O estudo sobre as possíveis intervenções, para melhoria da capacidade funcional motora dos pacientes hansenianos com foco na prevenção de incapacidades é um desafio e torna-se imprescindível estudá-lo em seus vários aspectos, com o propósito de direcionar programas de prevenção e conseqüentemente melhorar sua qualidade de vida destes pacientes.

Conclusão

    O uso da escala SALSA neste estudo foi de fácil aplicação, bem aceita pelos pacientes e pode ser utilizada não apenas em situações de pós-alta medicamentosa, mas também de modo sistemático ao longo do tratamento específico com a poliquimioterapia (PQT). Essa abordagem daria subsídio para identificar a necessidade da realização de uma avaliação da limitação funcional com maior periodicidade, gerando assim, intervenções direcionadas.

    Considerando os objetivos que se propôs esta pesquisa, através da escala SALSA, pode-se evidenciar que as insuficiências de intervenções sistematizadas conduzem à progressão da limitação física, o que reflete em uma restrição social e deficiente qualidade de vida.

    Os resultados deste estudo confirmam a estatística esperada e reforçam a necessidade de tratar com mais seriedade o assunto sobre prevenção de incapacidades e reabilitação em hanseníase, principalmente se tratando do contexto qualidade de vida e autonomia nas atividades da vida diária. O que implica na observação que, a ausência destas práticas leva o portador de hanseníase a ser um sujeito mutável, de habilitado a desabilitado; autoconfiante a abdicado de sua dignidade; inserido na sociedade a excluído da mesma.

Bibliografia

  • Araújo, M.G. Hanseníase no Brasil Rev. Soc. Bras. Med. Trop. vol.36 nº.3 , Uberaba . May/June, 2003.

  • Campos, M.O.; Neto, J.F.R. Qualidade de Vida: Um instrumento para promoção da saúde. Rev.Baiana de Saúde Púbica; v.32, p.232-240, maio/agosto, 2008.

  • Costa, F.A.; Guerreiro, J.P.; Duggan, C. Um exame à qualidade de vida dependente da diabetes (ADQoL) em Portugal: avaliação da validade e confiabilidade. Pharm Pract. 2006.

  • Gonçalves, A. Incapacidades em Hanseníase. Hansen. Int. 4(1) pag.27, 1979.

  • Martins, M.A. Qualidade de Vida em Portadores de Hanseníase. Universidade Católica Dom Bosco, Tese de Mestrado em Psicologia. Campo Grande/MS,2009.

  • Ministério da Saúde (BR). Guia brasileiro de vigilância epidemiológica. Brasília;Ministério da Saúde, 2002.

  • Sampaio, R.F.; Mancini, M.C.; Gonçalves, G.G.P.; Bittencourt, N.F.N.; Miranda, A.D.; Fonseca, S.T. Aplicação da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) na prática clínica do fisioterapeuta. Rev. Bras. Fisioter. 9:129-36,2005.

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