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Atividade física para crianças autistas.
Reconstruindo a base sócio-familiar

La actividad física para niños autistas. Reconstruyendo la base socio-familiar

 

*Discente da graduação em Educação física da UCB, RJ

**Mestre em Ciências da Motricidade Humana. Professora da UCB, RJ

Graduada em Educação Física pela Universidade Gama Filho, RJ

(Brasil)

Guilherme Lopes de Souza*

Rosana Fachada**

parede@msn.com

 

 

 

 

Resumo

          A vida moderna faz com que as famílias percam um contato natural que vem de anos, hoje não há mais tempo para as reuniões, os almoços e as celebrações familiares, o rítimo de vida no mundo moderno está cada vez afastando mais as pessoas. Além desses fatores naturais, em alguns casos excepcionais os pais concebem um filho com algum problema especial, seja ele físico ou mental, e muitas vezes passam a ter um sentimento de culpa, de negação para com essa criança. O estudo objetivou analisar o nível de intervenção da Educação Física em Autistas e a influência da atividade física na reconstrução da base sócio-familiar. Metodologia: Realizamos uma pesquisa qualitativa usando um questionário fechado, com uma população de 11 pais de crianças autistas participantes do projeto PNS SPORTS realizado na UCB-RJ. Os resultados obtidos apontam a importância do Projeto PNE-SPORTS na região de Realengo e adjacências. Concluímos que após as crianças autistas integrarem o projeto ou participarem de projetos parecidos, houve uma significativa melhora na vida familiar dessas crianças, assim como relatos de seus pais sentirem seus filhos mais carinhosos e comunicativos.

          Unitermos: Família. Atividade física. Autismo.

 

Abstract

          Modern life makes families lose their natural bindings. Families have less and less time for celebrations, Sunday lunches - the pace of life of the "modern world" is making people apart. In addition, cases of special needs (physical or mental) children, parents might development rejection on them. Objective: This paper analyses the role of physical education in Autistic children and the influence of physical activity on the reconstruction of socio-familiar bonds. Method: Methods: We conducted a qualitative study using a closed questionnaire, with a population of 11 parents of autistic children participating in the project held at PNS SPORTS UCB-RJ. Results point out that PNE-SPORTS is important to Realengo and neighboring communities. Conclusions: After participating in such projects, a significant improvement in the quality of life of these children; also, parents reported that their children were more communicative and loving.

          Keywords: Family. Physical activity. Autism.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 173, Octubre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O médico psiquiatra austríaco Leo Kanner (1942) durante a Segunda Guerra Mundial definiu o autismo como um “distúrbio autístico do contato afetivo”. Para Salvador (2001) O uso do termo autismo pretendia mostrar a qualidade incomum e auto-concentrada do comportamento das crianças, mas também sugeria uma associação com a esquizofrenia, sendo até então o termo autismo referido a um quadro de esquizofrenia no adulto.

    Kanner, em sua observação clínica de algumas crianças que não se enquadravam em nenhuma das classificações psiquiátricas existentes na psiquiatria infantil: a demência precoce, a esquizofrenia infantil e a oligofrenia. Segundo afirmava, estas crianças eram inteligentes, possuíam uma excepicional capacidade de memorização, mas apresentavam uma incapacidade inata para estabelecerem contatos afetivos e sua linguagem, quando presente, era ecolálica, irrelevante e sem sentido, jamais utilizada para a comunicação. (CAVALCANTI, pág. 24, 2002).

    A organização mundial da saúde ou OMS (2000), define o autismo como; transtorno global do desenvolvimento definido pela presença de desenvolvimento anormal e/ou comprometido em todas as três áreas de interação social, comunicação e comportamento restrito e repetitivo.

    O autismo é um grave distúrbio no desenvolvimento do comportamento que não apresenta sinais neurológicos demonstráveis, nem uma neuropatia consistente, nem mudanças bioquímicas ou metabólicas e nem marcadores genéticos. Múltiplas etiologias relativas a condições pré-períneo natais associadas ao Autismo aplicam-se a um quarto de todos os casos. Fatores etiológicos potenciais não foram identificados para o restante dos casos, embora haja evidência de um subgrupo com um componente genético. (ORNITZ, p. 105, 1985)

    O autismo é um grande problema e gera um atraso excepcional no desenvolvimento motor, cognitivo e social da criança, quanto mais cedo for diagnosticado o autismo, mas rápida será a compreensão familiar e melhores chances de desenvolvimento terá a criança. Hoje o transtorno autista é diagnosticado através das normas internacionais do DSM – IV (Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais) e CID 10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde).

    A detecção de autismo e outros transtornos gerais do desenvolvimento em crianças muito pequenas é muito difíceis, já que atraso no desenvolvimento não pode ser identificado até que a criança é dada a oportunidade de interagir em ambientes sociais, exceto a definição de família. Além disso, nos níveis mais graves, o diagnóstico diferencial entre autismo e retardo mental é mais difícil, especialmente entre as crianças de idade pré-escolar. (MARTELETO Bras. Psiquiatria, vol. 27 nº 4)

    A criança autista tem muita dificuldade em se relacionar, em articular palavras e se expressar, entre inúmeros outros fatores que tendem a gerar um relacionamento deficitário em sua família, ainda hoje vemos claramente a dificuldade de educar uma criança autista, o preconceito que a população tem com essas famílias é muito forte, esses motivos levam a perda da identidade familiar, geram crises, brigas e falta de harmonia.

    “Metáforas terríveis que circunscrevem o imaginário teórico e clínico e que acompanha tanto os familiares quanto aqueles que trabalham com essas crianças: “tomadas desligadas”, “conchas”, “fortalezas vazias”, “carapaças”, “ovo”, buraco negro”, são as metáforas que geralmente definem o autismo. Definições pelo déficit, pela ausência de desejo, de fantasia, de relação com o mundo e com a vida, quase como um ser sem subjetividade, ou pelo menos sem semelhança de subjetividade que permita um mínimo de positividade. Como se dessas crianças só se pudesse dizer “o que não têm”. Mas o que elas têm? … (CAVALCANTI, pág. 24, 2002).

    A família tende a esconder seus filhos, fugindo da vida social, não os apresentam a sociedade, tentam preservá-los dos insultos, das artimanhas e preconceitos que a sociedade tende a ter com o “diferente”.

    Toda criança tem direito fundamental a educação, (…) possui características, interesses, habilidades e necessidades de aprendizagem que são únicas. (…) Todos os governos e demandados, (…) aprimorem seus sistemas educacionais no sentido de se tornarem aptos a incluírem todas as crianças, independentes de suas diferenças ou dificuldades individuais, etc. (Declaração de Salamanca, ONU, 1994)

    A vida moderna faz com que as famílias percam um contato natural que vem de anos, hoje não há mais tempo para as reuniões, os almoços e as celebrações familiares, o rítimo de vida do mundo moderno esta cada vez afastando mais as pessoas. Além desses fatores naturais, em alguns casos excepcionais os pais concebem um filho com algum problema especial, seja ele físico ou mental, e muitas vezes passam a ter um sentimento de culpa, de negação para com essa criança, a mãe por pura proteção esconde seu filho, mima-o demais, protegendo de tudo e de todos, se defende e acaba inibindo o desenvolvimento psico-motor e cognitivo de seu filho.

    Uma sobrecarga emocional é desencadeada pelo reconhecimento de uma deficiência física e/ou mental em um membro da família, que é defrontada com uma situação nova que desperta fantasia e, concomitantemente, a necessidade de conhecer os fatores precipitantes e a origem daquilo que coloca a criança como diferente das outras. (FÉVERO, 2005).

    Para Sprovieri e Assumpção Junior (2001), o autismo leva o contexto familiar a viver rupturas por interromper suas atividades sociais normais, transformando o clima emocional no qual vive. Aos pais de autistas resta uma dedicação quase que exclusiva a seus filhos doentes, adotando, com muito esforço, tratamentos em que não vêem progressos nas crianças e tendo que conviver com situações impossíveis de serem administradas no interior de seus lares, o que imortaliza a culpa e a vergonha desses pais, sentimentos profundamente prejudiciais a vida familiar e a própria evolução da criança autista. (AMY, pág. 8, 2001).

Atividade física para crianças autistas

    Estar na sociedade com limitações das mais variadas naturezas nos é proposto intermitentemente. Interpretações equivocadas, erros e aprendizagens são enfrentamentos comuns quando nos deparamos com limitações. A Educação Física como área de conhecimento, tem demonstrado na contemporaneidade, este enfrentamento acerca de sua história e do que está construindo como conhecimento a partir de então. (CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE e CONGRESSO INTERNACIONAL DE CIEÊNCIAS DO ESPORTE, 2009).

    Para Tomé (2007), cabe ao professor de educação física estabelecer um princípio básico de atividades, com aquecimento, atividade principal e relaxamento, impondo novos desafios como superação de limites.

    As atividades propostas devem além de melhorar o condicionamento físico da criança autista, melhorar a integração social, diminuir padrões estereotipados e melhorar a concentração. Introduzir uma criança autista em uma atividade física seja ela individual ou coletiva exige uma atenção especial do Professor de Educação Física.

    Segundo Oliveira (2004), entende-se que a Educação Física, como disciplina, pode atuar junto aos alunos que apresentam a síndrome Autista, realizando atividades coletivas ou individuais que potencializem a socialização e a interação social destes alunos, possibilitando-lhes o desenvolvimento da consciência corporal, a qual lhes permite a construção de si próprios como seres inseridos no mundo. Esta dimensão de atuação da referida disciplina é dada a partir da Lei de Diretrizes e bases da Educação nº 9.394/96, que lhe confere um papel pedagógico formativo e informativo junto às crianças, jovens e adolescentes, em que o papel formativo diz respeito às contribuições relativas ao desenvolvimento físico, social e psicológico e o papel informativo refere-se a “transmissão e produção do conhecimento, vinculado ao objeto de estudo da área – o desenvolvimento humano”.

PNE Sports – UCB, RJ

    O projeto PNE Sports é realizado na Universidade Castelo Branco campus Realengo, o projeto tem como objetivo atingir cerca de 200 pessoas portadoras de necessidades especiais da região de Realengo e a Zona Oeste do Rio de Janeiro e proporcionar atividades esportivas, ações socioculturais, palestras de assistência social. Os familiares também participarão recebendo o mesmo acompanhamento psicológico direcionado aos atendidos. Além desses serviços estarão disponíveis técnicas de relaxamento, exercícios de psicomotricidade, jogos, dinâmicas pedagógicas, entre outras. (UCB-RJ, 2011).

Metodologia

    Trata-se de uma pesquisa qualitativa, contendo um questionário fechado, aprovado por três Professores Mestres da Universidade Castelo Branco situada no Estado do Rio de Janeiro.

    Segundo Neves (1996) apud Maanem (1979) uma pesquisa qualitativa engloba um conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam a descrever e a decodificar os componentes de um sistema complexo de significados. Tendo como objetivo traduzir e expressar o sentido dos fenômenos sociais; trata-se de reduzir a distância entre indicador e indicado, entre teoria e dados, entre contexto e ação.

    O questionário contendo nove perguntas foi aplicado em forma de entrevista em uma amostra de 11 familiares (pais e mães) de crianças autistas participantes do Projeto social da Universidade Castelo Branco (PNE SPORTS), Situada na Avenida Santa Cruz nº. 1631 no bairro de Realengo do estado do Rio de janeiro. O questionário foi dividido em blocos conforme os objetivos específicos, as respostas obtidas informarão ao pesquisador como as atividades físicas propostas estão ajudando na reconstrução sócio-familiar dessas famílias.

Resultado e discussão

    Dos 11 familiares analisados, 10 afirmaram que seus filhos/as são freqüentadores assíduos do projeto ou quase nunca faltam e apenas um afirmou que falta às vezes, 5 familiares ou 45%, disseram que seu filho/a participa a menos de um ano no projeto ou em projetos semelhantes, 3 ou 27% participa entre 1 e 2 anos, 2 ou 18% entre 2 e 3 anos e apenas um familiar afirmou que seu filho/a participa a mais de 3 anos em projetos semelhantes. Sobre a família cumprir todas as recomendações que são passadas, principalmente para casa, 10 familiares afirmaram cumprir quase sempre e apenas 1 afirmou quase nunca cumprir as recomendações.

    Como vemos no gráfico abaixo, após o início das atividades propostas pelo projeto, 7 ou 63% dos pais afirmaram ter tido uma razoável ou muita melhora nos movimentos estereotipados de seus filhos, 8 ou 72% disseram ter notado razoável ou muita melhora na agressividade, 10 ou 91% afirmaram conseguir se comunicar melhor com seus filhos/as e 10 ou 91% perceberam seus filhos mais carinhosos.

    Quando perguntados sobre a base familiar, como eles se sentiam antes de seus filhos entrarem no projeto, 7 ou 63% afirmaram ter tido algum tipo de abalo ou sentiam que a família estava enfraquecida. E após a integração de seus filhos/as no projeto, 8 ou 72% responderam estar bem mais unidos hoje com seu filho/a, participando ativamente de um projeto voltado para portadores de necessidades especiais (PNEs).

Considerações finais

    A elaboração de um programa de atividade física para a criança autista deve ter como principal objetivo, socializar a criança e melhorar a base familiar. A dificuldade de socialização do autista deve ser vista como um grande desafio para o professor de educação física, sabendo que em muitos dos casos a criança preserva sua inteligência, cabe ao professor de educação física desenvolver atividades que estimulem a integração, cooperação e o trabalho em grupo.

    O professor de educação física para pessoas com autismo, esta envolvido no processo de aprendizagem e socialização, não somente deve priorizar questões de aprimoramento físico, mas auxiliar no vasto conjunto de interações sociais, comunicação e comportamento. (TOMÉ, 2007)

    Vale ressaltar a dedicação e iniciativa dos profissionais envolvidos no PNE SPORTS da Universidade Castelo Branco UCB-RJ, e quanto carente estamos de projetos como este em nosso país, mesmo sem dados estatísticos sólidos no Brasil sobre o percentual de crianças autistas na população, é nítida a carência de apoios privados ou governamentais para tais projetos.

Bibliografia

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