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Força de reação do solo e taxa de aplicação
de força no sapateado americano

La fuerza de reacción del suelo y la tasa de la aplicación de la fuerza en el zapateo americano

Ground reaction force and application rate in tap dance

 

*Graduada. Universidade Federal do Rio Grande do Sul

**Mestre. Universidade Federal do Rio Grande do Sul

(Brasil)

Gabriela Castro dos Santos*

gabr.cs@gmail.com

Luis Felipe Silveira**

luisfelipe.silveira@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O Sapateado Americano envolve a exploração de sons por meio de batidas dos pés no chão. Esta prática expõe as articulações às forças de reação com o solo que, dependendo da magnitude e da freqüência, podem gerar lesões. O objetivo deste estudo foi analisar os picos máximos de força de reação do solo e a taxa de aplicação de força de cinco elementos técnicos do Sapateado Americano. A partir dos resultados, podemos inferir que o pico máximo de força de reação do solo depende da intensidade expressa pelo sapateador e que a taxa de aplicação de força depende da técnica de execução.

          Unitermos: Sapateado americano. Biomecânica. Força de reação do solo. Taxa de aplicação de força.

 

Resumen

          El zapateo americano utiliza la exploración de sonidos por medio de golpes de los pies contra el suelo. Esta práctica expone las articulaciones a las fuerzas de reacción del suelo que, dependiendo de la magnitud y de la frecuencia, pueden generar lesiones. El objetivo de este estudio fue analizar los picos máximos de fuerza de reacción del suelo y la tasa de aplicación de la fuerza de cinco elementos técnicos del zapateo americano. De los resultados podemos inferir que el pico máximo de fuerza de reacción del suelo depende de la intensidad expresada por el zapateador y que la tasa de aplicación de fuerza depende de la técnica de ejecución.

          Palabras llave: Zapateo americano. Biomecánica. Fuerza de reacción del suelo. Tasa de aplicación de la fuerza.

 

Abstract

          The Tap Dance uses the exploration of sounds through the tapping of feet. This practice exposes the joints to the ground reaction forces that, depending on the magnitude and the frequency, can cause injuries. The aim of this study was to analyze the ground reaction force’s highest peaks and the application rate of five technical elements of Tap Dance. According to the results, we can infer that the ground reaction force’s highest peak depends on the intensity expressed by the tap dancer and the application rate depends on the technique of execution.

          Keywords: Tap dance. Biomechanics. Ground reaction force. Application rate.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 173, Octubre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A dinamometria é um método biomecânico que permite mensurar as diversas forças atuantes em um movimento. Santos et al. (2007) definem que a dinamometria é um dos mais conhecidos e amplamente utilizados métodos de medição que permite registrar forças dinâmicas atuantes no movimento. No processo de investigação biomecânica do movimento humano, a força de reação do solo (FRS) é uma das forças atuantes no movimento. É uma medida indireta que representa as cargas articulares internas e que corresponde às reações opostas ao esforço necessário para executar um movimento, registradas a partir do contato com o solo (AMADIO, 2000).

    A FRS é utilizada como componente primário na descrição de sobrecargas no aparelho locomotor, pois reflete o somatório dos produtos da aceleração e massa dos segmentos corporais (WIECZORECK; DUARTE; AMADIO, 1997). A FRS representa a aceleração de todo o centro de gravidade (DIXON; COLLOP; BATT, 2000) e pode ser dividida em suas componentes horizontais (antero-posterior e médio-lateral) e vertical, destacando-se essa última pela sua magnitude (SANTOS et al. 2007; AMADIO; DUARTE, 1996).

    A taxa de aplicação de força tem sido considerada um melhor indicador de absorção de carga mecânica do que o pico de força de impacto (DIXON; COLLOP; BATT, 2000), ela representa a aplicação da FRS em função do tempo, sendo influenciada por essas duas variáveis. Tanto grandes valores de FRS como de taxa de aplicação desta FRS aumentam o risco de ocorrerem lesões, segundo Blazevich (2004). A taxa de aplicação de força é mensurada através da divisão do pico máximo de FRS pelo tempo em que esta força é aplicada.

    O estudo da taxa de aplicação de força é relevante para mensurar as sobrecargas geradas nas articulações pela FRS em função do tempo. Quanto mais eficiente for a absorção dos impactos, melhor distribuída será a FRS ao longo do tempo.

    Devido a inexistência de estudos que verifiquem a FRS e a taxa de aplicação de força durante a realização de elementos técnicos do sapateado americano e sabendo da relevância desta informação para o professor desta modalidade, o objetivo deste estudo foi analisar os picos máximos de força de reação do solo e a taxa de aplicação de força de cinco elementos técnicos do Sapateado Americano.

Procedimentos e métodos

    A amostra deste estudo foi composta por dez sapateadores, sendo oito do sexo feminino e dois do sexo masculino. Os indivíduos da amostra praticavam Sapateado Americano regularmente há 9,4 (± 4,5) anos. A média dos participantes era de 22,5 (± 5,3) anos de idade, com uma estatura média de 1,668 (± 0,071) m e um peso médio de 605,2 (± 95,6) N. Nenhuma alteração de saúde capaz de comprometer a prática do Sapateado Americano foi identificada na anamnese.

    Os cinco elementos técnicos estudados foram divididos em dois grupos: os que partem de um salto (dois elementos - G1) e os que mantêm o contanto dos pés com o solo (três elementos - G2) subdivididos ainda em execuções de alta intensidade (G2a) e de baixa intensidade (G2b) de maneira subjetiva. Segue abaixo a divisão e descrição dos cinco elementos técnicos estudados:

Grupo 1 (G1)

    Pullback (Pb): elemento técnico complexo que parte de um salto com peso nas duas pernas, executando uma batida com as tapitas anteriores simultaneamente através de uma flexão plantar do tornozelo e, em seguida, aterrissando também com ambas as pernas, momento de maior pico de força vertical (NOBRE; MACHADO, 2003).

 

Elemento técnico Pullback (Pb)

    PullbackChange (Pb C): elemento técnico complexo que parte de um salto com peso em uma das pernas, executando uma batida com a tapita anterior através de uma flexão plantar do tornozelo e, em seguida, aterrissando sobre a outra perna, momento de maior pico de força vertical (NOBRE; MACHADO, 2003).

 

Elemento técnico PullbackChange (Pb C)

Grupo 2 (G2)

    Ball (B): elemento técnico básico que mantém o contato dos pés com o solo, elevando o terço distal do pé (através de uma flexão dorsal) e deixando-o cair executando uma batida contra o solo com a tapita anterior por meio da flexão plantar do tornozelo (NOBRE; MACHADO, 2003).

 

Elemento técnico Ball (B)

    Heel (H): elemento técnico básico que mantém o contato dos pés com o solo, elevando o terço proximal do pé (através de uma flexão plantar) e deixando-o cair executando uma batida com a tapita posterior através da flexão dorsal do tornozelo (MARTIN, 1999).

 

Elemento técnico Heel (H)

    Toe (T): elemento técnico básico que mantém o contato de um pé com o solo enquanto o outro pé está executando uma batida com a parte mais distal da tapita anterior através da extensão do joelho (NOBRE; MACHADO, 2003).

 

Elemento técnico Toe (T)

    Para os elementos técnicos do grupo G2 foram realizadas 10 repetições em alta intensidade (AI) e outras 10 em baixa intensidade (BI).

    Para a coleta dos dados, foi utilizada uma plataforma de força triaxial AMTI modelo OR6 com 46,4 x 50,8cm de dimensão que mensurou em Voltz a FRS atuante sobre ela através de transdutores de força com taxa de amostragem de 500 Hz. A plataforma de força foi conectada a um microcomputador Pentium III, 900 Mhz, através de um condicionador de sinais e um conversor analógico-digital de 16 bits (Computer-boards). Os elementos técnicos foram executados com os sapatos de Sapateado Americano próprios de cada sapateador.

    Para aquisição dos dados, os sapateadores foram orientados a treinar os elementos técnicos de acordo com sua prática cotidiana, com seus próprios sapatos de Sapateado Americano e sobre a plataforma de força, objetivando a coleta de resultados mais condizentes com a realidade. Segundo Brennecke, Amadio e Serrão (2005), a prática sobre a superfície de medição anterior à coleta proporciona a familiarização com o ambiente.

    Em seguida, os sapateadores foram orientados a executar 10 repetições de cada uma das oito situações estudadas: dois elementos técnicos que partem de um salto, três elementos técnicos que mantém o contato dos pés com o solo em alta intensidade e os mesmos três elementos técnicos que mantém o contato dos pés com o solo em baixa intensidade (G1, G2a e G2b). A velocidade das execuções foi monitorada com o auxilio de um metrônomo a 60 bpm e as diferentes intensidades, quando existentes, foram realizadas subjetivamente pelos sapateadores por meio da sugestão do pesquisador.

    Neste estudo, foi considerada como FRS a força mensurada somente no eixo vertical (eixo Z) devido à sua magnitude, não sendo analisadas as FRS nos eixos médio-lateral e antero-posterior (eixos X e Y).

    Os resultados obtidos pela plataforma de força foram adquiridos pelo sistema de aquisição de dados SAD 32 (Software Computer-basedOscillographand Data Aquisition System – CODAS (DATAQ instrumentsinc.Ohio, USA)). O processamento dos dados foi realizado através do software MATLAB 5.3. Uma primeira rotina converteu as curvas de FRS vertical de Voltz x Segundos para Newtons x Segundos, outra rotina identificou os picos máximos de força vertical, permitiu o agrupamento dos dados através da normalização pelo peso corporal dos indivíduos e calculou a taxa de aplicação de força a partir dos dados de FRS coletados.

    Para os elementos técnicos que partem de um salto (G1), o pico máximo de FRS vertical considerado foi o que representa a aterrissagem do indivíduo no solo. Este pico foi escolhido em contrapartida ao pico máximo de FRS vertical produzido pela batida executada com a(s) tapita(s) anterior(es) ainda no ar, pela sua magnitude. Como os dois elementos deste grupo são executados administrando a força gravitacional, sendo um deles executado com as duas pernas simultaneamente, não foram comparadas as repetições realizadas pela perna direita ou esquerda.

    Para os elementos técnicos que mantém o contato dos pés sobre o solo (G2), o pico máximo de FRS vertical considerado foi o que representa a única batida executada contra o solo para cada repetição. Este grupo ainda teve, para os três elementos técnicos que o compõem, suas repetições divididas nas que foram realizadas com a perna direita e com a esquerda, visando detectar possíveis diferenças.

    Cada situação foi caracterizada por dois valores médios: o pico máximo de FRS vertical e seu respectivo desvio padrão, e a taxa de aplicação de força e seu respectivo desvio padrão. Os valores médios calculados foram extraídos das 10 repetições executadas por cada um dos 10 indivíduos para cada diferente elemento técnico e intensidade. Os três elementos técnicos do G2, que foram executados em duas intensidades diferentes (G2a – alta e G2b - baixa), tiveram seis valores médios considerados para sua representação, três para cada intensidade. O pico máximo de FRS vertical foi expresso em percentuais do peso corporal e a taxa de aplicação de força foi expressa em percentuais do peso corporal por segundo. Assim, as análises realizadas neste estudo partem de 800 valores de FRS vertical (8 elementos técnicos diferentes x 10 repetições x 10 indivíduos).

    O tratamento estatístico foi uma análise de variância (ANOVA) com os fatores elementos técnicos, indivíduos e lado para verificar se haviam diferenças significativas. Foi utilizado o Post Hoc Bonferroni para verificar entre quais elementos técnicos e indivíduos ocorriam essas diferenças.

Resultados

Picos máximos de força de reação com o solo

    Os valores dos picos máximos de FRS vertical dos cinco elementos técnicos mensurados neste estudo são apresentados pela tabela 1 e figura 1 a seguir, normalizados pelo peso corporal dos indivíduos. São apresentadas também as diferenças estatisticamente significativas encontradas entre os valores dos diferentes elementos técnicos, sendo que letras diferentes representam elementos técnicos diferentes significativamente.

Tabela 1. Média dos picos máximos de força de reação do solo normalizado pelo peso corporal

 

Figura 1. Força de reação com o solo

    Não foi encontrada diferença significativa na FRS vertical para as execuções realizadas com o lado direito ou esquerdo (p>0,05). Diferenças estatisticamente significativas foram diagnosticadas entre os picos máximos de FRS vertical de diferentes elementos técnicos, com exceção do “Heel” e do “Toe” quando executados em baixa intensidade (BI) para p>0,05. Diferenças estatisticamente significativas também foram diagnosticadas entre as diferentes intensidades e entre o mesmo elemento executado por indivíduos diferentes (p<0,05).

Taxa de aplicação de força

    Os valores da taxa de aplicação de força dos cinco elementos técnicos mensurados neste estudo são apresentados pela tabela 2 e figura 2 a seguir, normalizados pelo peso corporal dos indivíduos em função do tempo. São apresentadas também as diferenças estatisticamente significativas encontradas entre os valores dos diferentes elementos técnicos, sendo que letras diferentes representam elementos técnicos diferentes significativamente:

Tabela 2. Médias das taxas de aplicação de força normalizada pelo peso corporal em função do tempo

 

Figura 2. Taxa de aplicação de força

    Não foi encontrada diferença significativa na taxa de aplicação de força para execuções realizadas com o lado direito ou esquerdo (p>0,05). Diferenças estatisticamente significativa foram diagnosticadas entre a taxa de aplicação de força de diferentes elementos técnicos, sendo que “Ball AI”, “Heel AI” e “Toe AI” (todos os elementos do G2a) não apresentaram diferenças entre si, “HeelBI”, “Ball BI” e “Pullback” não apresentaram diferenças entre si, “Ball BI”, “Pullback” e “PullbackChange” não apresentaram diferenças entre si e “Toe BI” é diferente significativamente de todos os outros elementos. Diferenças estatisticamente significativa também foram diagnosticadas entre as diferentes intensidades (p<0,05). Entre o mesmo elemento técnico executado por indivíduos diferentes, não foi diagnosticada diferença significativa (p>0,05).

Discussão

Picos máximos de força de reação do solo

    Os resultados dos elementos técnicos do G1 apresentaram valores médios dos picos máximos de FRS vertical de 2,3 (± 0,3) vezes o peso corporal para o “Pullback” e 2,1 (± 0,3) vezes o peso corporal para o “PullbackChange”, valores inferiores aos encontrados para o “sauté” em primeira posição, salto vertical máximo executado no Ballet Clássico (PICON et al., 2002) e aos encontrados para o salto vertical máximo de atletas de voleibol, basquete e não-atletas (FANTINI; MENZEL, 2001). Essa diferença nos resultados mostra que, para executar esses dois elementos técnicos do Sapateado Americano, o pico máximo de FRS vertical na aterrissagem não corresponde ao do salto vertical máximo, de acordo com a literatura. Podemos afirmar então, que o salto para executar o “Pullback” e o “PullbackChange” corresponde à impulsão necessária para a elevação do centro de gravidade que permita a execução de determinadas batidas ainda com os pés fora do chão, e não à impulsão máxima.

    Os valores médios dos picos máximos de FRS vertical de G1 encontrados são semelhantes aos encontrados para a corrida à 5m/s (MUNRO, MILLER; FUGLEVAND, 1987) e para a virada com rolamento do nado Crawl (ARAUJO et al., 2001).

    Os elementos técnicos do G2, quando realizados em alta intensidade (G2a), apresentaram valores médios dos picos máximos de FRS vertical de 1,6 (± 0,3) vezes o peso corporal para o “Ball”, 2,6 (± 0,4) vezes o peso corporal para o “Heel” e 1,4 (± 0,4) vezes o peso corporal para o “Toe”, semelhantes aos encontrados para a descida de degraus com 60 cm de altura (MARTINS et al. 2002) e para a corrida (MUNRO, MILLER; FUGLEVAND, 1987).

    Os elementos técnicos do G2, quando realizados em baixa intensidade (G2b), apresentaram valores médios dos picos máximos de FRS vertical de 1,2 (± 0,1) vezes o peso corporal para o “Ball”, 1,4 (± 0,1) vezes o peso corporal para o “Heel” e 1,3 (± 0,2) vezes o peso corporal para o “Toe”, semelhantes aos encontrados para a marcha normal à 6Km/h (SANTOS et al.; 2007). A tabela abaixo mostra valores encontrados na literatura para a FRS vertical em diferentes atividades:

Tabela 3. Valores de FRS vertical encontrados na literatura para diferentes atividades

    Os dados da tabela, se comparados aos encontrados para o Sapateado Americano neste estudo, apresentam alguns valores de picos máximos de FRS vertical inferiores como, por exemplo, na hidroginástica (KRUEL et al., 2005) e na marcha a 4km/h (SANTOS et al., 2007). Apresentam também alguns valores superiores como, por exemplo, no movimento básico do Jump (SCHIEHLL, 2007), no salto vertical máximo (FANTINI e MENZEL, 2001) e no parafuso da capoeira (BRENNECKE, AMADIO; SERRÃO, 2005).

    Segundo Piconet al. (2002), os valores de pico máximo de FRS vertical encontrado para o “sauté” (salto vertical máximo executado no Ballet Clássico) são considerados acima do limite de tolerância para integridade do tecido biológico, considerando a estrutura e a anatomia do pé. Dizem ainda, baseados em Muller (1992), que poderiam ocorrer lesões tegumentares para esses valores de FRS vertical. Fantini e Menzel (2001) concordam, afirmando que impactos acima de cinco vezes o peso corporal significam um aumento do risco de lesão através da possibilidade de microtraumatismos. Para o Sapateado Americano, não foram encontrados valores de picos máximos de FRS vertical dessa magnitude.

    Movimentos da Ginástica Aeróbica classificados como de baixo impacto apresentaram valores de pico máximo de FRS vertical de 1,2 x PC e movimentos classificados como de alto impacto apresentaram valores de pico máximo de FRS vertical de 3,5 x PC (AVIA, 1992; SANTOS, 1994 apud SCHIEHLL, 2007). Neste caso, os elementos técnicos do Sapateado Americano do G1 e do G2a podem ser classificados como de impacto intermediário e os elementos técnicos do G2b podem ser classificados como de baixo impacto. Nenhum dos elementos técnicos estudados atingiu o pico máximo de FRS vertical de 3,5 x PC, sendo que o maior valor atingido foi de aproximadamente 3 x PC para o “Heel” executado em alta intensidade.

    Analisando o pico máximo de FRS vertical, não foi diagnosticada diferença estatisticamente significativa entre os elementos técnicos executados pelos lados direito e esquerdo (p>0,05). Concorda com esse resultado um estudo desenvolvido por Stephens, Lawson e Reiser (2005), que não encontrou diferença significativa na simetria da FRS em homens entre saltos com perna dominante e não dominante, mesmo quando os mesmos expressavam maior capacidade de saltar com a perna dominante. Já Karaharju-Huismanet al. (2001) apud Schiehll (2007) dizem que a dominância nos membros pode afetar a simetria.

    As diferentes intensidades e os diferentes elementos técnicos executados apresentaram diferenças estatisticamente significativas quando comparados entre si os picos máximos de FRS vertical (p<0,05). Pode-se afirmar que os elementos técnicos do G2 mantiveram o mesmo ordenamento para as duas intensidades. O valor de FRS vertical encontrado para o “Heel” é maior do que o encontrado para o “Toe” que é maior do que o encontrado para o “Ball” nas duas diferentes situações.

    O mesmo elemento técnico quando executado por indivíduos diferentes apresentou diferença significativa (p<0,05). Assim, podemos inferir que o pico máximo de FRS vertical depende da intensidade expressa por cada sapateador.

Taxa de aplicação de força

    Os resultados dos elementos técnicos do G1 apresentaram média da taxa de aplicação de força de 26,4 (± 9,5) x PC/s para o “Pullback” e 24,2 (± 10,2) x PC/s para o “PullbackChange”, valores inferiores aos encontrados para a corrida (MUNRO; MILLER; FUGLEVAND, 1987; DIXON; COLLOP; BATT, 2000; SCHAFFNER et al., 2005 apud FUJARCZUK; WINIARSKI; RUTKOWSKA-KUCHRSKA, 2006).

    Os elementos técnicos do G2, quando realizados em alta intensidade (G2a), apresentaram valores médios de taxa de aplicação de força de 228,07 (± 206,3) x PC/s para o “Ball”, 317,2 (± 124,0) x PC/s para o “Heel” e 319,8 (± 225,9) x PC/s para o “Toe”, valores muito superiores aos encontrados na literatura para a taxa de aplicação de força em diferentes atividades.

    Os elementos técnicos do G2, quando realizados em baixa intensidade (G2b), apresentaram valores médios de taxa de aplicação de força de 73,4 (± 63,7) x PC/s para o “Ball”, 82,0 (± 39,6) x PC/s para o “Heel” e 204,7 (± 177,7) x PC/s para o “Toe”, valores semelhantes aos encontrados para a corrida (MUNRO; MILLER; FUGLEVAND, 1987). A tabela a seguir mostra valores encontrados na literatura para a taxa de aplicação de força em diferentes atividades:

Tabela 4. Taxa de aplicação de força em diferentes atividades

    Os dados da tabela, se comparados aos encontrados para os elementos técnicos do Sapateado Americano do G1, apresentam alguns valores de taxa de aplicação de força inferiores como, por exemplo, na descida de degraus (STACOFF et al. 2005; CHRISTINA; CAVANAGH, 2002 apud FUJARCZUK et al., 2006 p.116) e na marcha (SCHAFFNER et al., 2005; McCRORI et al. 2001 apud FUJARCZUK; WINIARSKI; RUTKOWSKA-KUCHRSKA, 2006 p.116). Apresentam também alguns valores superiores como, por exemplo, no dropjump executado a uma altura de 40cm (CAULFIELD; GARRETT, 2004) e no movimento básico do Jump (SCHIEHLL, 2007).

    Se comparados aos dados encontrados para os elementos técnicos do Sapateado Americano do G2, os dados da tabela que mais se aproximam são os encontrados para a corrida (MUNRO; MILLER; FUGLEVAND, 1987), ainda assim, são muito inferiores aos encontrados para os elementos técnicos realizados em alta intensidade. Serve como justificativa das taxas encontradas para os elementos técnicos do G2a serem mais expressivas do que as taxas encontradas para os mesmos elementos executados em baixa intensidade (G2b), a necessidade do aumento da força aplicada para executar a alta intensidade.

    Já os elementos técnicos do G1, apesar de apresentarem altos valores para os picos máximos de FRS vertical, produziram baixas taxas de aplicação de força. Assim, pode-se afirmar que a distribuição da sobrecarga ao longo do tempo é eficiente na técnica para execução desses elementos técnicos. A absorção da força vertical depende da capacidade dos músculos de reduzir a transmissão das cargas externas para as articulações dos membros inferiores durante os movimentos (COLE et al.,1996).

    Schiehll (2007) classificou os movimentos do Jump Fit quanto à taxa de aplicação de força. Foram considerados de baixo impacto os movimentos que apresentaram valores de taxa de aplicação de força inferiores a 20 x PC/s, de impacto moderado os valores entre 20 e 40 x PC/s e de alto impacto os valores acima de 40 x PC/s. De acordo com essa classificação, os elementos técnicos do Sapateado Americano que partem de um salto (G1) são considerados de impacto moderado e os elementos técnicos que mantém o contato dos pés com o solo (G2) são considerados de alto impacto.

    Segundo Whiting e Zernicke (2001) apud Schiehll (2007), se a força é aplicada com altas taxas, é mais provável que estruturas como os ligamentos e tendões sejam afetados, enquanto ossos possuem maior tendência a serem lesados quando a taxa de aplicação de força é baixa. Por isto, é recomendado prever uma progressão dos elementos técnicos estudados, classificando-os por meio da taxa de aplicação de força, para proteger as estruturas articulares de uma possível lesão por desgaste.

    Analisando a taxa de aplicação de força, não foi diagnosticada diferença estatisticamente significativa entre os elementos técnicos executados pelos lados direito e esquerdo (p>0,05).

    As diferentes intensidades e os diferentes elementos técnicos executados apresentaram diferenças estatisticamente significativas quando comparadas entre si (p<0,05). Os elementos técnicos do G2, quando executados em alta intensidade, apresentaram taxas de aplicação de força que não diferem significativamente, então pode-se dizer que quando os elementos técnicos estudados mantém o contato dos pés com o solo e são executados sob essas condições, a taxa de aplicação de força encontrada neste estudo é sempre superior às encontradas para os outros grupos. Os elementos técnicos do G1 apresentaram taxas de aplicação de força que não diferem significativamente, então pode-se dizer que quando os elementos técnicos partem de um salto, a taxa de aplicação de força encontrada neste estudo é sempre de impacto moderado.

    O “Toe”, quando realizado em baixa intensidade, apresentou valores para a taxa de aplicação de força significativamente maiores do que os outros dois elementos técnicos executados sob a mesma condição. Esses dois elementos técnicos, por sua vez, não diferiram significativamente do “Pullback” (elemento técnico que parte de um salto), que apresentou valores moderados de taxa de aplicação de força. O “Ball”, quando realizado em baixa intensidade, também não diferiu do “PullbackChange”, a menor taxa de aplicação encontrada.

    A partir dos resultados verificamos que os elementos técnicos do G2 mantiveram o mesmo ordenamento para as duas intensidades. O valor de taxa de aplicação de força encontrado para o “Toe” é maior do que o encontrado para o “Heel” que é maior do que o encontrado para o “Ball” nas duas situações diferentes. Este ordenamento foi diferente para a FRS vertical, ou seja, o elemento técnico que apresenta maior FRS vertical, não necessariamente apresenta uma taxa de aplicação de força mais elevada. O mesmo aconteceu com os elementos técnicos do G1, que apresentaram duas das mais altas FRS verticais e as duas mais baixas taxas de aplicação de força. Isso acontece devido à técnica do elemento executado, pois em alguns elementos técnicos é possível distribuir melhor a FRS vertical do que em outros.

    O mesmo elemento técnico quando executado por indivíduos diferentes não se mostrou significativamente diferente entre si (p>0,05). Isso indica que os sapateadores utilizaram técnicas semelhantes para a execução dos elementos técnicos estudados. Como o tempo de prática da modalidade da amostra era grande e os indivíduos não apresentaram valores diferentes significativamente, é provável que a técnica utilizada seja eficiente na execução de cada um dos elementos técnicos. Técnicas apropriadas aperfeiçoam a absorção dos impactos (FANTINI; MENZEL, 2001). Assim como o treinamento pode ter um efeito relevante nas condições internas de absorção de impactos, principalmente pela adaptação dos tecidos articulares (COLE et al., 1996). Assim, podemos inferir que a taxa de aplicação de força depende da técnica de execução. Esse resultado é relevante para conscientizar professores e sapateadores que o aprimoramento da técnica de execução é importante na preservação osteoarticular.

Considerações finais

    Acredita-se que este estudo possa colaborar para o melhor entendimento dos elementos técnicos do Sapateado Americano. Entendendo que o pico máximo de FRS vertical depende da intensidade expressa pelo sapateador enquanto a taxa de aplicação de força depende do elemento técnico executado.

    Os resultados sugerem uma progressão para o ensino e treinamento dos elementos técnicos estudados. Elementos técnicos cujas exigências mecânicas e motoras são maiores poderiam ser inseridos posteriormente no ensino e treinamento dos sapateadores, pois, assim, permitiriam que adaptações articulares fossem adquiridas para melhor suporte dessas exigências.

    Os elementos técnicos do G2 são mais simples, poderiam ser praticados por sapateadores iniciantes a avançados e, de acordo com os valores de picos máximos de FRS vertical e de taxa de aplicação de força encontrados, é recomendado que altas intensidades de execução sejam preteridas em relação a baixas intensidades. Já os elementos técnicos do G1 são mais complexos e deveriam ser praticados somente por sapateadores intermediários ou avançados. De acordo com os valores de picos máximos de FRS vertical e de taxa de aplicação de força encontrados, é recomendado que sejam inseridos posteriormente no ensino e treinamento dos sapateadores, pois, como a taxa de aplicação depende da técnica, seria importante a otimização desta para melhor distribuir a FRS vertical produzindo, assim, menos sobrecarga ao aparelho locomotor.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 173 | Buenos Aires, Octubre de 2012
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