Inclusão escolar do aluno com
deficiência visual Inclusión escolar de un estudiante con discapacidad visual en las clases de Educación Física |
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*Professor de Educação Física na rede regular de ensino. **Docente do Departamento Estudos do Movimento Humano Universidade Estadual de Londrina (Brasil) |
José Luciano Mendes Sales* Nilton Munhoz Gomes** |
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Resumo O estudo tem como objetivo identificar como a aula de Educação Física vem sendo ministrada no ensino regular para inclusão de alunos com deficiência visual, levantar se as atividades nas aulas de Educação Física favorecem ou não a inclusão dos alunos, mostrar como acontece o auxílio aos alunos durante as aulas da rede municipal de educação de Londrina - PR. O presente estudo caracteriza-se como descritivo. Foram observados 4 alunos, sendo 2 cegos e 2 baixa visão, de ambos os sexos, com idade variando de 6 a 12 anos. Para coleta de dados foi utilizado uma Ficha de Observação proposta por Silva e Gomes (2007) com pequenas adaptações para o estudo. Os resultados mostram que as adaptações realizadas pelos professores durante as atividades propostas nas aulas de Educação Física eram feitas em certos momentos superficialmente, não contribuindo efetivamente para a inclusão dos alunos deficientes visuais. O auxilio durante a execução das atividades partia quase que totalmente dos colegas de classe. Verificou-se também que a formação dos professores quando os mesmos possuem alunos com necessidades educacionais especiais em suas aulas não contribuem na sua didática. Com isso, conclui-se que o professor de Educação Física deve ter consciência da responsabilidade social da sua profissão, é seu compromisso possibilitar aos alunos o desenvolvimento dos saberes práticos e teóricos. Assim, ele deve encontrar uma maneira de organizar o trabalho de forma a contribuir para a transformação de seu aluno em um cidadão crítico e para a construção de uma escola inclusiva. Unitermos: Deficiência visual. Educação Física. Inclusão.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 173, Octubre de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Atualmente um dos maiores desafios na área educacional é encontrar estratégias metodológicas para resolver questões relacionadas à inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais no ensino regular. Sendo assim, a partir da definição de Educação Especial, como modalidade de educação escolar, conforme especificado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB (Brasil, 1996), torna-se significativo uma reflexão da atuação do professor enquanto profissional mediador, informador e formador do processo educacional do aluno com necessidades educacionais especiais.
As escolas devem construir uma estrutura interna que possa atender os alunos com necessidades especiais adequadamente, conforme preconizado pela LBD, o modelo de inclusão prioriza que o atendimento às necessidades pedagógicas de todos os alunos se faça no mesmo contexto, com adaptações necessárias e que a aprendizagem desses alunos não dependa unicamente de um programa de ensino adequado, mas também da disponibilidade de recursos pedagógicos e mobiliários adaptados (MELLO; MANZINI, 2003).
Considerando o atual contexto sócio-educacional brasileiro, em que a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais em classes de ensino regular tem sido exigida e legitimada por políticas públicas nacionais e internacionais, a formação dos profissionais da educação e, mais especificamente da Educação Especial, tem sido uma questão importante que permeia os debates sobre inclusão.
Nesse contexto, é evidente e urgente que a prática pedagógica seja colocada como ponto de reflexão por parte dos pais, alunos e, sobretudo, professores, a fim de que o paradigma da inclusão possa ser concretizado. Ainda que a inclusão da criança com necessidades especiais esteja sendo discutida em uma diversidade de contextos (PEREIRA-SILVA; DESSEN, 2007; FONSECA; CUNHA, 2003), a escola pode ser considerada como o melhor local para promover a inclusão social e educacional destas crianças.
A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), considera alunos com necessidades especiais aqueles que tem impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, que em interação com diversas barreiras podem ter restringidas sua participação plena e efetiva na escola e na sociedade.
O documento destaca que as definições do público alvo devem ser contextualizadas e não se esgotam na mera categorização e especificações atribuídas a um quadro de deficiência, transtornos, distúrbios e aptidões. Considera-se que as pessoas se modificam continuamente transformando o contexto no qual se inserem. Esse dinamismo exige uma atuação pedagógica voltada para alterar a situação de exclusão, enfatizando a importância de ambientes heterogêneos que promovam a aprendizagem de todos os alunos.
É sabido que cada deficiência tem sua especificidade, sendo assim estratégias utilizadas com alunos com deficiência visual são diferentes das utilizadas com outras deficiências. Com isso, estudos devem ser feitos nas diferentes áreas de intervenção junto a alunos com necessidades educacionais especiais e professores no contexto escolar. Especificamente na área de Educação Física, estratégias devem ser discutidas, descobertas, reelaboradas objetivando uma intervenção efetiva na aceitação e participação dos alunos com necessidades educacionais especiais nas aulas de Educação Física.
Entretanto, para que a criança com necessidades educacionais especiais seja verdadeiramente incluída na Educação Física, não basta estar no mesmo espaço físico ou participar de algumas atividades, mas ela deve fazer parte do grupo e participar de todas as atividades desenvolvidas durante a aula, mesmo que necessite de ajuda e apoio do professor e/ou dos colegas. Porém este apoio, não deve fazer do aluno uma pessoa dependente da outra todo tempo, ao contrário, deve gradativamente dar-lhe condições de ser mais independente possível, caso isso não ocorra, este apoio ao invés de contribuir, tende a dificultar o processo de inclusão e de autonomia do aluno com deficiência visual.
Em meio a essas mudanças no contexto educacional, onde o aluno com deficiência visual frequenta a escola regular, o estudo voltasse na tentativa de responder algumas questões: as aulas de Educação Física no ensino regular estão favorecendo ou não a inclusão destes alunos? As intervenções/adaptações utilizadas pelo professor permitem que o aluno alcance os objetivos das aulas? Nos momentos de dificuldade, quem auxilia o aluno?
Considerando essas questões e a crescente importância do tema exposto, este estudo se justifica pela necessidade de observar como a Educação Física vem sendo trabalhada junto ao aluno com deficiência visual na escola regular, na tentativa de identificar se ela esta favorecendo ou não a inclusão desse aluno, bem como, levantar/apresentar possíveis estratégias utilizadas nas aulas pelo professor de Educação Física que tem este aluno incluído.
Com isso, o presente estudo tem como objetivos: identificar como a aula de Educação Física vem sendo desenvolvida no ensino regular para inclusão de alunos com deficiência visual; levantar se as atividades desenvolvidas nas aulas de Educação Física favorecem ou não a inclusão de alunos com deficiência visual e como acontece o auxílio a este aluno.
Metodologia
O presente estudo caracteriza-se como descritivo. Thomas e Nelson (2002, p. 280) afirmam que seu valor está baseado na premissa de que os problemas podem ser resolvidos e as práticas melhoradas por meio da observação, análise e descrição objetivas e completas.
Este procedimento é confirmado por Cervo e Bervian (2002) que dizem que a pesquisa descritiva observa, registra, analisa e correlaciona fatos e fenômenos sem manipulá-los, procurando descobrir, com a precisão possível a frequência com que um fenômeno ocorre, sua relação e conexão com outros, sua natureza e características.
Foram participantes desta pesquisa 4 alunos deficientes visuais matriculados no Ensino Fundamental em escolas regulares da rede pública municipal do município de Londrina, PR.
O critério para seleção dos alunos foi que apresentassem deficiência visual independente de idade e gênero, e que participassem ativamente das aulas de Educação Física junto aos demais alunos de sua turma (videntes).
A opção por escolas regulares da rede pública municipal se deu pelos seguintes motivos: pela pesquisa ter como enfoque a inclusão escolar de alunos com deficiência e pelas dificuldades que os professores do ensino regular relatam ter no processo inclusão destes alunos em suas aulas de Educação Física.
A coleta de dados aconteceu em dois momentos distintos. Inicialmente foi agendada uma visita a Secretaria de Educação do município de Londrina, responsável pelas escolas municipais. Este primeiro contato teve como objetivo levantar o número de alunos com deficiência visual inseridos no ensino regular, bem como em quais escolas estes estavam matriculados.
De posse desta relação, foi solicitado a Secretaria que indicassem 5 escolas para que fosse realizada a pesquisa, não apresentando a ela, critérios para a escolha. Entre as 5 escolas indicadas, somente 3 atenderam os critérios da pesquisa. A justificativa para a exclusão de 2 escolas se deu pelo fato de uma não ter mais alunos cegos matriculados (mudança de cidade) e a outra, o aluno apresentava múltiplas deficiência (DF e DV), não atendendo o objetivo desta pesquisa.
Com os nomes das escolas e dos respectivos alunos em mãos, foi feito uma visita a cada uma delas para levantamento de informações quanto a dia e horário das aulas de Educação Física que os alunos com deficiência visual participam.
Foi estabelecido como critério observar 5 aulas em sequência em cada escola porém, só foi possível alcançar este critério em 1 das 3 escolas, pois nas demais, houve falta dos alunos em uma das aulas, ficando nessas, a observação de 4 aulas.
Para observação das aulas de Educação Física foi utilizado uma Ficha de Observação proposta por Silva e Gomes (2007) com alguns ajustes para o estudo. Para cada atividade realizada nas aulas de Educação Física foi utilizada uma ficha de observação, por exemplo, caso a aula tenha 4 (quatro) atividades, foram preenchidas 4 fichas. Nestas aulas foram observados: como o professor de Educação Física elabora suas atividades com relação à existência ou não de adaptações quanto à condição/necessidade do aluno com deficiência visual, e como se processa a participação deste aluno na aula.
Os resultados serão apresentados em quadros e discutidos com a literatura e as observações registradas durante as observações das aulas na coleta de dados.
Resultados
Na escola 1 foram realizadas 5 visitas, porém observadas quatro aulas, pois em uma delas, os alunos faltaram. Nesta turma participavam dois alunos cegos. Considerando que suas participações foram iguais durante as atividades desenvolvidas, optou-se por fazer comentários e análises únicas quanto as suas participações nas aulas respectivamente.
A docente de Educação Física graduou-se na Universidade Estadual de Londrina no ano 1984, atuando em sala de aula desde então, ou seja, a 25 anos. O mesmo tempo tem com alunos em processo de inclusão, das mais variadas deficiências: física, visual e mental. Não possuindo cursos na área da Educação Especial.
Na escola 2 foram observadas quatro aulas. Nesta turma participava uma aluna com visão reduzida.
A docente de Educação Física graduou-se UNOPAR, na antiga FEFI no ano 1982, atuando em sala de aula a 28 anos. Atua com alunos em processo de inclusão, a 2 anos, de diferentes deficiências: física, visual e auditiva. Possui um único curso de Educação Física Adaptada ministrado pelo Núcleo Regional de Ensino.
Na escola 3 foram observadas cinco aulas. Nesta turma participava uma aluna com visão reduzida.
O docente de Educação Física graduou-se Universidade Estadual de Londrina, no ano 1997, atuando em sala de aula à 9 anos. O mesmo tempo possui atuando com alunos em processo de inclusão das mais variadas deficiências: física, visual, mental e auditiva. Não possuindo curso na área da Educação Especial.
Concluída as observações nas três escolas optamos por estabeler duas categorias: a primeira categoria tratando-se mais das questões sobre os alunos deficientes visuais e a segunda categoria abordando questões relacionados ao professsor.
Das cinco questões observadas duas estavam mais diretamente ligadas aos alunos com necessidades especiais. São elas: - Na atividade, o aluno com deficiência visual participou: T (totalmente), P (parcialmente), N.P (não participou) e a outra, - Se durante a execução da atividade, o aluno deficiência visual recebeu auxílio/apoio S (sim), N (não), P (parcialmente), N.N (não foi necessário) e de quem foi esta ajuda: Pr (professor), C.C (colega de classe).
As três questões mais pautadas no professor são: - O professor adaptou a atividade: S (sim) , N (não), N.N (não foi necessário), - O professor adaptou o ambiente: S (sim) , N (não), N.N (não foi necessário) e - O professor motivou o aluno deficiência visual a participar: S (sim) , N (não), N.N (não foi necessário).
Dos alunos deficientes visuais
Quadro 1
Concluída as observações das quatro aulas de Educação Física na escola 1. Ficou claro que a professora quando tem a sensiblidade de adaptar as atividade, a faz de maneira equivocada, não contribuindo para a efetiva inclusão dos alunos nas aulas. Percebe-se que a docente possui um certo receio em propor atividade novas e adequá-las. Nas quatro aulas observadas as atividades não variavam muito. Evidencia em suas aulas a falta de motivação em fazer os alunos deficientes visuais em participar das atividades.
Mesmo assim, os alunos deficientes visuais participam de todas a atividades, pois apresentam uma vontade fora do comum, independente de suas limitações, mas em sua maioria como meros figurantes, eles e seus guias. Os colegas de classe contribuem em muito para inclusão, demonstram ser bastante solidários com seus amigos com necessidades especias. Essa questão talvez deveria ser mais trabalhada pela professora com a classe, conscientizando-os sobre as limitações e possibilidades dos amigos com necessidades especiais.
Finalizada as observações das aulas de Educação Física na escola 2, ficou evidente que a aluna deficiente visual participa sempre em sua totalidade das atividades, com exceção de uma, que realizou parcialmente. Percebeu-se que a aluna demonstra uma vontade/motivação em participar das aulas cativante independente de suas limitações.
Nas observações verificou-se também que durante a execução das atividades, a aluna deficiente visual recebia auxílio tanto pelos colegas de classe como pela profesora de apoio, salvo uma atividade que não foi necessário ajuda à aluna. Essa questão merece atenção especial. É público e notório a vontade de ajudar dos demais colegas de classe, eles sempre se dispõem para servirem de guias. Não se importando com as possíveis diferenças. Em momento a excluíram das atividades. Em algumas aulas a aluna com necessidades especias teve apoio da profesora de apoio. Talvez seria interessante, que a professora explorasse em suas aulas assuntos relacinados a inclusão, acessibilidade entre outros.
Concluída as observações das aulas de Educação Física na escola 3, podemos inferir, ainda que, superficialmente, que a aluna deficiente visual por possuir visão reduzida não encontra muitas dificuldades na execução das atividades. Isto fica claro quando na maioria das atividades propostas pelo professor ela as realiza individualmente não necessitando de auxílio. A aluna demonstra uma vontade de querer participar independente, de suas limitações e da atividade. Ela realizou todas as atividades do começo ao fim.
O docente sempre teve a preocupação em variar as atividades, utilizando materiais diversificados. Fez uso de materias adaptados em duas atividades. No mais, em duas não foi necessário e nas outras nenhum ajuste foi feito. Com relação às adaptações do ambiente, percebeu-se que não houve necessidade de maiores ajustes, com exceção, de duas situações. A aluna, por ainda ter visão reduzida e usar lentes corretivas locomove-se com certa facilidade não exigindo, em alguns casos, adaptações por parte do professor.
Das questões relacionadas ao aluno com necessidades especiais, percebeu-se na primeira questão que o mesmo sempre participa integralmente das atividades propostas nas aulas de Educação Física, ou seja, incluído, independente de suas limitações.
Segundo Winnick (2004) o termo inclusão designa, basicamente, a educação dos alunos PNE em ambientes educacionais regulares, juntos com os não PNE, e que uma das disciplinas nas quais a inclusão pode ocorrer com mais frequência é a Educação Física.
Hoje a Educação Física adota em sua prática, o principio de inclusão, com o intuito de desenvolver a autonomia, cooperação e participação social de todos os alunos. (CASSIANO; GOMES, 2003, p. 126).
Pensar em uma sociedade para todos, na qual se respeite a diversidade da raça humana, atendendo às necessidades das maiorias e minorias é concretizar a realização da SOCIEDADE INCLUSIVA, na qual caberá à educação, a mediação deste processo. (PARANÁ, 1997, p.7)
Rosadas (1991) cita que as crianças com deficiência possuem as mesmas necessidades que as crianças ditas normais: necessidades afetivas, sociais, físicas e intelectuais. Para ele, os alunos com necessidades especiais também possuem um grande potencial a ser despertado e acreditado, precisando conviver em sociedade para desfrutar dos benefícios que o bem social proporciona ao homem.
Lopes (1999) afirma em seu estudo que a participação do aluno com necessidades especiais é mais efetiva nas atividades individualizadas e sinalizou para a necessidade da criação de espaços dentro da escola para a discussão e compreensão, pelos alunos, dos aspectos referentes à deficiência, pois isto, de certa forma, pode influenciar a participação do aluno portador de deficiência junto com os demais nas aulas de Educação Física.
Em contrapartida, Beaupré (1997, p. 163) ressalta as atividades em grupo afirmando que esta noção de grupo conduz à importância de se considerar a dimensão social entre os alunos. É necessário evitar que o aluno com deficiência seja rejeitado ou simplesmente negligenciado por seus pares ditos “normais”.
Evidenciou-se também, que quando foi preciso auxílio, este ocorreu frequentemente tanto pelo professor de classe, professor de apoio e colegas de classe, estes, em especial, contribuem em muito para inclusão, demonstram ser bastante solidários com seus amigos com necessidades especias. Essa questão talvez deveria ser mais trabalhada pela professora com a classe, conscientizando-os sobre as limitações e possibilidades dos amigos deficientes visuais, minimizando eventuais preconceitos.
O preconceito justifica nossas práticas de distanciamento dessas pessoas, devido às suas características pessoais (como também ocorre com outras minorias), que passam a ser o alvo de nosso descrédito e têm reduzidas as oportunidades de se fazerem conhecer e as possibilidades de conviverem com seus colegas de turma, sem deficiência. (MANTOAN, 2005, p. 27)
Pensando nisso, Maciel (2000) defende que é necessário que os professores e alunos das escolas inclusivas tenham conhecimento sobre o que é a deficiência do (s) aluno (s) incluído (s), quais são suas causas, características e as necessidades educativas especiais deste aluno. Através deste conhecimento acredita-se que as atividades possam ser mais propicias, evitando situações em que o aluno desista de realizar as atividades propostas por sentir dificuldade, dor ou até mesmo passar por situações de cobrança e preconceito dos demais alunos da turma.
“Neste caso, a sociedade é chamada a deixar de lado seus preconceitos e aceitar as pessoas com deficiência que realmente estejam preparadas para conviver nos sistemas sociais comuns” (SASSAKI, 2005, p. 22).
Acredita-se que, convivendo com a diferença do aluno com necessidades especiais, os demais alunos tornam-se pessoas mais solidárias, tolerantes, respeitosas e sem preconceitos (BRASIL, 2000).
Lopes (1999) ressalta a importância de conscientizar os demais alunos sobre a deficiência que o aluno incluído possui; esclarecer a importância em vivenciar, compartilhar e colaborar com a participação do aluno nas aulas de Educação Física. Maciel (2000) justifica esta conscientização ressaltando que esta leva os alunos de classes regulares a aceitarem e respeitarem os deficientes visuais, e isto é, um ato de cidadania.
Vale neste ponto da análise, salientar a presença de um professor auxiliar nas turmas em que são incluídas crianças com deficiência.
“É natural que se encare o trabalho em equipe entre o professor de apoio e o regular, dentro da sala de aula, como peça fundamental do sucesso da educação inclusiva”. (SANTOS; RODRIGUES, 2006, p. 163).
Neste mesmo sentido, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996 e a Declaração de Salamanca de 1994 esclarecem que, quando necessário, haverá serviços de apoio especializado nas escolas regulares com intuito de proporcionar atendimento às peculiaridades da clientela especial. Essas formas de apoio devem ser diversificadas para responder às necessidades educativas especiais utilizando as ajudas e os recursos técnicos necessários, tais como: instituições de formação, centro de recursos, escolas e devem ser chamados a exercer este apoio professores, consultores, psicólogos educacionais e terapeutas, cuja ação deve ser coordenada no local.
Em contrapartida, nas escolas onde não havia a presença de nenhuma auxiliar de apoio, notou-se uma grande preocupação dos professores de Educação Física, em relação à presença do pesquisador, o que provavelmente fez com que estes adotassem uma postura diferenciada do habitual. É fato também que em determinadas atividades não foi necessário nenhum auxílio, pois, o aluno a realizou sem dificuldades.
Dos professores de Educação Física
Quadro 2
Legenda:
T: totalmente P: parcialmente N.P: não participou S: sim |
Pr: professor(a) C.C: colega de classe N.N: não foi necessário N: não |
A professora da escola 1 tem 25 anos de formação e atuação. Nesses anos sempre teve alunos com necessidades especiais em suas aulas das mais variadas deficiências: deficiente físico, mental e visual. Durante toda sua docência nunca realizou um curso, especialização em Educação Especial. Talvez, decorra daí, o fato da dificuldade em trabalhar com alunos em processo de inclusão.
Com relação as adaptações das atividades por parte da professora da escola 2, apenas em duas atividades ela teve a preocupação em adaptá-las, adaptações esta, feitas de maneira superficial. Nas outras era preciso algum ajuste para facilitar a inclusão da aluna mas não foram realizadas. Já as adaptações no ambiente foram inexistentes. Verificou-se que a docente em nenhuma das aulas observadas realizou algum ajuste.
Quanto a motivação por parte da docente de Educação Física em relação à aluna deficiente visual, evidencia-se em suas aulas que em três oportunidades ela teve a preocupação em motivá-la com incentivos verbais. No mais não era realizada nenhuma motivação.
Em suma, é notório que a docente de Educação Física tentava ao máximo a inclusão da aluna com necesidade especiais. Mas a fazia de maneira superficial. Percebia que nas aulas a aluna estava pseudo incluída, ou seja, realizava as atividades como mera figurante. A aluna deficiente visual dotava de uma vontade de participar impressionante. Talvez, se a professora intervisse de forma mais significativa alcançaria uma inclusão mais efetiva.
Na escola 3 o professor evidencia em suas aulas que na maioria das vezes, tenta ao máximo motivar a aluna deficiente visual em participar das atividades.
Acredito que durante as aulas a aluna com necessidades especiais esteve realmente inclusa. Ficou nítido também que a mesma possui uma certa independência proporciona pela pouca visão que ainda tem. Com relação aos demais colegas de classe não percebeu-se nenhuma atitude de estranhamento.
O professor proporciona na medida do possível, através das atividades, que ela participasse totalmente das atividades. Apesar do pouco tempo de formação e atuação em sala de aula com alunos em processo de inclusão o docente demonstra uma sensibilidade elogiável. Esclarece sempre com os demais alunos sobre as limitações e possibilidade da colega com necessidades especiais.
Com relação às questões mais direcionadas ao professor de Educação Física, primeiro destacamos as possíveis adaptações nas atividades que o mesmo realizou. Nesta questão ficou claro a falta de maiores adaptações em determinadas atividades.
Os PCNs (BRASIL, 2000) enfatiza que as atividades propostas nas aulas de Educação Física devem ser adaptadas, permitindo a participação de todos de acordo com as suas possibilidades.
Merece atenção o fato, que quando o professor parecia possuir o conhecimento para adaptar as atividades a fazia de maneira equivocada. O aluno deficiente visual muitas vezes ficava apenas como mero figurante na aula. Salvo as situações que não era exigido nenhum ajuste.
É importante destacar que esta pode ser uma atitude que delimita os possíveis ganhos que a Educação Física pode proporcionar a esse aluno, e que em invés de estar incluído ele apenas está inserido em uma turma regular.
Preocupado com as atitudes dos professores de Educação Física que possuem um ou mais alunos com deficiência em sua turma regular, Carmo (2001) destaca o descaso destes profissionais em obter novos conhecimentos que envolvam jogos, brincadeiras e atividades físicas compatíveis com as possibilidades e realidades das diferentes formas em que se apresenta a diversidade humana.
Acredita-se que por ser a Educação Física uma disciplina do agrado dos alunos que apresentam alguma deficiência esta pode ser uma grande aliada para que a inclusão desses alunos ocorra com sucesso. Basta que sejam levadas em consideração às possibilidades de trabalho com essas pessoas e a eliminação das barreiras arquitetônicas, atitudinais e profissionais.
A Educação Física na escola se constitui em uma grande área de adaptação ao permitir, a participação de crianças e jovens em atividades físicas adequadas às suas possibilidades, proporcionando que sejam valorizados e se integrem num mesmo mundo. O Programa de Educação Física quando adaptada ao aluno portador de deficiência, possibilita ao mesmo a compreensão de suas limitações e capacidades, auxiliando-o na busca de uma melhor adaptação (Cidade; Freitas, 1997).
No que diz respeito às adaptações do ambiente podemos detectar que eram inexistentes por parte do professor. Percebeu-se claramente a falta de preparo do docente em realizar algum ajuste no ambiente escolar.
CIDADE; FREITAS (1997) destacam que no caso de deficiência visual assegure-se de que ele está familiarizado com o espaço físico, percursos, inclinações do terreno e diferenças de piso, estas informações são úteis, pois previnem acidentes, lesões e quedas. É importante que toda a instrução seja verbalizada, dando possibilidade para o que o aluno portador de deficiência visual entenda a atividade proposta. No banheiro ou vestiário mostre-lhe onde está o vaso sanitário, o papel, a pia, etc. Cuidados especiais com os alunos de visão subnormal, com patologia de deslocamento de retina, não deverão fazer atividade física onde haja possibilidade de traumatismo na cabeça.
VAYER; RONCIN (1989) em seus estudos afirmam que entender como a criança com necessidades especiais elabora e estrutura seu conhecimento sobre o mundo facilitará a aquisição de sua autonomia e independência, necessárias à sua inclusão. Devemos oferecer à criança oportunidades de aprendizado individual e coletivo que lhe permitam, nas ações perceptivo-motoras, reconhecer a si próprio, os elementos constitutivos do seu corpo e quais são suas possibilidades de ação diante do meio.
Costa (1988) diz que a estimulação deve consistir de atividades que visem a intensificar a interação do ambiente com a criança de maneira que seu desenvolvimento ocorra o mais próximo possível da idade cronológica. A estimulação deve basear-se em ações perceptivo-motoras, propostas em forma de jogos e/ou atividades ginásticas, com caráter socializador e, sempre que possível, também lúdico, tendo em vista atingir os objetivos de formar um indivíduo participativo, autônomo, independente e crítico.
O desenvolvimento da criança começa pelo reconhecimento de sua própria corporeidade, pois é via organização corporal que todo ser humano estabelece relações com os objetos e os indivíduos que fazem parte de seu ambiente.
Notou-se a pouca variedade de atividades de dois professores, das aulas observadas era visível que determinadas atividades eram repetidas de aula para aula.
Na escola, os educandos com deficiência leve e moderada podem participar de atividades dentro do programa de Educação Física, com algumas adaptações e cuidados. A realização de atividades com crianças, principalmente aquelas que envolvem jogos devem ter um caráter lúdico e favorecer situações onde a criança aprende a lidar com seus fracassos e seus êxitos. A variedade de atividades também prevê o esporte como um auxílio no aprimoramento da personalidade de pessoas portadoras de deficiência (Bueno e Resa, 1995). As crianças com algum nível de deficiência (auditiva, visual, física e mental) podem participar da maioria das atividades propostas.
Conclusão
Neste estudo foi possível verificar que as aulas de Educação Física no ensino regular de 1ª a 4ª séries com alunos em processo de inclusão e o professor por meio das atividades se esforçam ao máximo para contribuir na inclusão do aluno com necessidades educacionais especiais, mas muitas vezes a fazem de maneira equivocada. As adaptações realizadas eram feitas em certos momentos superficialmente, não contribuindo efetivamente para a inclusão dos mesmos. O auxilio, partia quase que totalmente, dos colegas de classe, que ajudavam, mas pelo fato de solidariedade, da amizade do que do entendimento que o amigo com necessidades especiais necessitava de adaptações para participar da aula, ponto este, que o professo poderia trabalhar mais nas suas aulas com os demais alunos.
Entretanto, fica a certeza da necessidade de uma administração pública mais efetiva quanto à aplicação da legislação educacional, quanto ao conhecimento das necessidades particulares de cada unidade escolar, quanto às necessidades dos docentes diante de um público diversificado e quanto às necessidades dos alunos diante do currículo educacional. Os cursos devem capacitar os professores a elaborarem uma metodologia coerente com as necessidades educacionais especiais dos alunos cegos nas classes comuns.
O professor de Educação Física deve ter consciência da responsabilidade social da sua profissão, é seu compromisso possibilitar aos alunos o desenvolvimento dos saberes práticos e teóricos. Assim, ele deve encontrar uma maneira de organizar o trabalho de forma a contribuir para a transformação de seu aluno em um cidadão crítico e para a construção de uma escola inclusiva.
A educação de qualidade para todos é uma tarefa ambiciosa e vai exigir empenho e mobilização de todos os membros da sociedade, mas, sem dúvida, é um passo importante na construção de uma sociedade mais respeitosa e solidária. Tendo em vista que a Educação Física é uma das disciplinas que mais exploram as atitudes de respeito e cooperação entre os alunos durante suas atividades, acredita-se que esta seja uma das disciplinas que melhor subsidia a inclusão escolar.
A partir desses dados relevantes, investigamos que há possibilidade de se trabalhar a educação inclusiva nas aulas de Educação Física, partindo do princípio que a escola deve estar disposta em receber e principalmente desenvolver esse novo sistema de inclusão. Cabe portanto a escola e ao professor de Educação Física, que visa uma formação global de seu aluno (corpo e mente), proporcionar oportunidades a esses alunos para eles participarem das aulas, visto que para eles é importante para o seu desenvolvimento social, físico, motor e principalmente afetivo.
Devemos pensar que enquanto criamos adaptações na educação, sem saber se elas serão necessárias ou não, é importante verificarmos se o grupo que está envolvido quer mudança ou não, porque senão iremos cair na divisão dos grupos, o que acaba gerando privilégio para alguns, onde teria que haver inclusão acabará tendo exclusão.
Espera-se como resultado da pesquisa apontar elementos que possam estar dificultando a inclusão de alunos deficientes visuais nas aulas de Educação Física em suas diferentes séries no ensino regular e mostrar possíveis estratégias utilizadas que estão facilitando este processo. Espera-se também, apresentar como o aluno deficiente visual percebe as aulas de Educação Física, informações estas, extremamente importantes para o professor conhecer como pensa, o que sente e o que necessita o aluno com necessidades educacionais especiais.
Esperamos ainda, que o estudo contribua para esclarecer alguns pontos que ainda estão confusos, quando se fala em inclusão escolar nas aulas de Educação Física. Talvez, em um futuro próximo o aprofundamento maior na pesuisa seria necessário para elucidar ainda mais, esse temática da inclusão escolar.
Acreditamos que professores não devem em hipótese alguma estacionar sua formação, mas sim, devem por meio de cursos, especializações, pós-graduações fomentar sua docência, seu processo ensino-aprendizagem. Para que possam ensinar com mais excelência ajudando na formação dos cidadãos.
É nisto que acreditamos: que a convivência entre indivíduos diferentes contribui para o desenvolvimento de todos os seres. A troca de experiências e o melhor de cada um contribuem diretamente para o melhor de todos!
Referências
BARDIM, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Ed.70, 2004
BEAUPRÉ, Pauline. O desafio da integração escolar: ênfase na aprendizagem acadêmica In: MANTOAN, Maria Teresa Eglér et al. A integração de pessoas com deficiência: contribuições para uma reflexão sobre o tema. São Paulo: SENAC, 1997, p. 162-166.
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